Terça, 28 de fevereiro de 2017

(Eclo 35,1-15; Sl 49[50]; Mc 10,28-31) 
8ª Semana do Tempo Comum.

O texto que nos é apresentado nos ajuda a fazer algumas considerações sobre a atitude do jovem rico do evangelho de ontem. Ele foi educado nessa escola da observância dos mandamentos e certamente da atenção às necessidades dos outros que torna o sacrifício oferecido no templo agradável a Deus.  Seu único problema foi não ser capaz de seguir o seu coração que queria dar à sua vida um sentido maior.

É desse sentido que Jesus tenta iluminar o coração dos seus discípulos que foram educados nessa mesma concepção e que passam a confiar na providência de Deus. Ela se manifestará nas milhares de pessoas e situações que farão parte de suas vidas para perceberem que o pouco que deixaram se multiplicou, mesmo com dificuldades no caminho, sem ter que prender a essas coisas o seu coração. Há riquezas que desconhecemos ou não percebemos porque prendemos o coração em outras. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de fevereiro de 2017

(Eclo 17,20-28; Sl 31[32]; Mc 10,17-27) 
8ª Semana do Tempo Comum.

Esse belo texto da 1ª leitura já nos coloca na esteira do tempo quaresmal que se aproxima. Um convite a distanciar-se do pecado e retornar a Deus que é misericordioso. Isso suscita um louvor contínuo que dá sentido a própria existência e ao mesmo tempo recorda a brevidade da existência humana que ainda não conhece um ‘além-túmulo’. O texto é um convite a abrir-nos humildemente ao mistério do amor de Deus, tema que perpassa a quaresma.

A recomendação de Jesus no evangelho de ontem cai como uma luva sobre o evangelho de hoje: o caminho do discipulado ou do seguimento supõe desapego e partilha. A exclusividade de Deus proposta por Jesus ao jovem já havia sido ocupada pela riqueza. Ao falar que são felizes os pobres, Jesus coloca em cheque toda uma tradição que considerava a riqueza uma bênção e a pobreza um castigo. Com essa cena Jesus ensina aos seus discípulos e a nós não somente a questão do desapego, mas de que cada encontro com Ele ecoa em nossa vida de um modo pessoal e desafiador.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

8ª Semana do Tempo Comum – Ano A

(Is 49,14-15; Sl 61[62]; 1Cor 4,1-5; Mt 6,24-34).

1. Depois de um discurso carregado de uma certa radicalidade, a liturgia nos apresenta textos quase poéticos para nos comunicarem o ser de Deus e injetar confiança em nós em tempos sempre mais difíceis. Esse pequeno trecho de Isaias traz a lembrança de uma situação de abandono vivida de modo pessoal e geral por Israel.

2. Deus seria como o ser humano, capaz de abandonar seu povo por causa de seus pecados? Para responder a tal indagação, ele recorre a imagem mais expressiva de um amor incondicional: o amor materno. Ainda assim, existindo mães que possam abandonar seus filhos, Deus jamais o faria, porque Ele é Deus e não age como os seres humanos. 

3. Encerramos a leitura da Carta aos Coríntios com o lembrete de Paulo que todo pregador do evangelho é apenas um servo de Cristo. Que a comunidade não se apegue demais a ele para que se conserve nele a liberdade de pregar o evangelho, consciente de que será julgado por Deus mesmo quanto a sua fidelidade.

4. Para falar do exercício da confiança em Deus, primeiramente Mateus recomenda não apegar-se demasiadamente ao dinheiro, pois este transforma o homem, seja ele rico ou pobre. É sempre possível que este roube o lugar de Deus, concentrando nossa atenção e nossa busca numa certa demanda de prazeres.

5. O mais grave para Mateus não é só a perda da confiança em Deus, é o esquecimento do pobre, do necessitado. Não se fala de esmola, mas de partilha. Esses dois senhores não convivem bem.

6. O restante do texto é quase poético num refrão que nos convida a não ficarmos aflitos, não nos inquietarmos, mas isso não significa quietismo, acomodação, preguiça. Em meio à busca de sobreviver, não permitamos que a angústia acabe por piorar a situação nos roubando a paz e a certeza de que a nossa vida está nas mãos de Deus.

7. Se é verdade que a criação traz a marca do seu Criador, então contemplemos as aves dos céus e os lírios do campo. Esses pequenos seres estão incluídos nos cuidados divino. Se assim o é para eles, muito mais será para o ser humano, pois Deus tem particular olhar para nós. A natureza traz em si o equilíbrio próprio da criação. Nós interferimos nesse equilíbrio. Por vezes a ganância de alguns gera a fome e o sofrimento de outros. Mateus é o evangelista que nos recorda que Deus está conosco. Assim podemos rezar com o salmista: só em Deus a nossa alma tem repouso; abramos diante dele o nosso coração.



 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de fevereiro de 2017

(Eclo 17, 1-13; Sl 102[103]; Mc 10,13-16) 
7ª Semana do Tempo Comum.

De cara o nosso texto lembra a nossa frágil condição de retorno à terra de onde viemos com seus ‘dias contados e tempo determinado’. Mas faz um grande elogio a sabedoria divina em tudo que deu ao ser humano no seu ato criador: um exercício de senhorio sobre a criação em semelhança ao do próprio Criador. Mas deu acima de tudo a Sua Palavra para que assim possuísse sabedoria de bem contar os seus dias. 

Esse episódio das crianças que desejam se aproximar de Jesus nos provoca uma certa comoção pelo seu gesto. Muitos tentam compreender o porquê dessa narrativa ter importância no olhar de Marcos. Talvez o grande ensinamento esteja no que o próprio Jesus diz a respeito do Reino: esse só pode ser acolhido numa atitude de abertura destituída de pré-conceitos. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de fevereiro de 2017

(Eclo 6,5-17; Sl 118[119]; Mc 10,1-12) 
7ª Semana do Tempo Comum.

Como é tênue essa linha divisória que traçamos na existência sobre quem é amigo e quem é inimigo. A vida nos convida a um discernimento constante, ‘as desilusões estão à esquina da rua’. Aqui somos convidados pelo nosso autor a perceber situações que revelam o amigo e ao mesmo tempo a perceber o valor de uma amizade: ‘uma boa amizade protege mais que o telhado de uma casa’. Ela exige honestidade e sinceridade das partes no cultivo da mesma.

Marcos é mais incisivo que Mateus no pensamento de Cristo sobre a realidade do divórcio, não admitindo exceção. Se a lei do divórcio (cf. Dt 24,1) veio por causa da dureza do coração dos israelitas, é hora de rever essa posição e resgatar o que Deus desde sempre desejou: a unidade do homem e da mulher num projeto comum de vida com papel específico e direito igual.  Tanto na amizade como no matrimônio é necessário pedir a Deus a graça da constância e da fidelidade.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de fevereiro de 2017

(Eclo 5,1-10; Sl 01; Mc 9,41-50) 
7ª Semana do Tempo Comum.

O autor sagrado chama a atenção sobre o pecado da presunção ou autossuficiência que a riqueza pode produzir no coração humano a ponto de abusar até da própria misericórdia divina, achando que Deus vai perdoando tudo sem discernir se houve da nossa parte algum esforço de conversão. Confiar em Deus e caminhar na Sua presença, é o que nos sugere o salmista. 

Na atitude de acolher, evangelho da terça, pequenos gestos têm um valor que desconhecemos, diz Jesus, tanto quanto o cuidado de não criar empecilhos com nosso comportamento à fé do outro. Segue-se uma sequência que já ouvimos no Sermão da Montanha, do que pode ser instrumento do escândalo que queremos evitar. Aquele que se decide pelo Reino tem que agir cada vez mais de acordo com a sua escolha. Nesse processo é preciso estar atento a si mesmo, pois o sal tem que ser na medida.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de fevereiro de 2017

(1Pd 5,1-4; Sl 22[23]; Mt 16,13-19) 
Cátedra de São Pedro.

A nossa liturgia da palavra segue uma linha pensamento que tem a Deus como pastor do seu povo. O próprio Pedro, diz Jesus, fala sob sua inspiração reconhecendo-o como Messias e Filho de Deus. É Deus quem nos guia nessa fé em Jesus. O Filho se deixa guiar pelos sinais que o Pai oferece para dar a Pedro a preeminência sobre os demais. Quando Pedro escreve a sua carta, pede aos responsáveis pelas comunidades que cuidem do rebanho a eles confiados por Deus, ainda que isso gere algum sofrimento, pois olhando para o futuro nos lançamos na certeza de que não caminhamos sós. É Deus que vai guiando o seu rebanho (mais elementos sobre essa festa, ver o ano anterior clicando aqui).
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de fevereiro de 2017

(Eclo 2,1-13; Sl 36[37]; Mc 9,30-37) 
7ª Semana do Tempo Comum.

O autor sagrado alerta os seus ouvintes para provação que deve passar todo aquele que se decide a caminhar com Deus: manter-se firme nos momentos difíceis da vida. Ao mesmo tempo deve combater a tentação de deixar de lado essa fidelidade a Deus. Ele dá alguns conselhos práticos para momentos assim. Ao mesmo tempo convida-nos a apreciar a fé dos antepassados que se mantiveram firmes nessa confiança.

Uma segunda vez Jesus anuncia aos seus discípulos a paixão que virá, mas estes, distraídos, discutem quem era o mais importante. Jesus os adverte que o mais importante será aquele que tem consciência da responsabilidade que lhe foi confiada no exercício de sua missão e que sabe acolher. Quando sabemos servir de fato, criamos espaço para o acolhimento do outro na gratuidade de uma existência que encontra o seu sentido.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de fevereiro de 2017

(Eclo 1,1-10; Sl 92[93]; Mc 9,14-29) 
7ª Semana do Tempo Comum.

Estas duas semanas que antecedem a quaresma nos trazem trechos do livro do Eclesiástico como primeira leitura. Não faz parte da bíblia hebraica nem protestante pela forte influência do pensamento grego neste escrito. Seu autor apresenta-se como um sábio que dedicou toda a vida ao estudo da Torá (Lei) e das tradições de Israel. Ele resolve deixar para a posteridade os seus ensinamentos.  No texto de hoje se afirma que a sabedoria de Deus é o dom que Ele concede aos que o temem e buscam viver retamente, não resultado do esforço humano.

Nessa longa e rica narrativa, Jesus aparece como um verdadeiro exorcista em sua luta contra o mal. Depois de cavar fundo na fé do pai do menino possesso, Ele o liberta e o devolve ao pai. Os discípulos não compreendem porque não conseguiram realizar tal cura. Jesus fala da oração lembrando-lhes que por ela se mantém aberto o canal para que a força do próprio Jesus possa atuar nesse processo. Sem Ele é impossível uma real libertação do mal.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

7º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Lv 19,1-2.17-18; Sl 102[103]; 1Cor 3,16-23; Mt 5,38-48)

1. Santidade e perfeição se misturam em nossa liturgia da Palavra para lembra-nos o nosso compromisso de buscar viver na presença de Deus. O que se entendia no passado sobre santidade como separado, isolado dos outros, na concepção de Israel, Jesus traduz como um modo de viver e pensar diferente em meio ao mundo que lhe cerca.

2. O nosso texto da 1ª leitura já mostra uma certa evolução onde a santidade se traduz em um modo de viver, mas dentro de um povo. Jesus transcende essa visão limitada e pede aos seus discípulos que sejam sal e luz do mundo.

3. Antes de chegarmos ao evangelho encerramos essa sessão da carta de Paulo sobre a sabedoria do mundo e sabedoria de Deus. Esse seguir a sabedoria do mundo tem gerado discórdias e divisões dentro da comunidade. A loucura do evangelho, diz Paulo pode nos ajudar a encontrar equilíbrio nesse mundo em desarmonia.

4. Ouvimos as quatro antíteses no domingo anterior e hoje as duas últimas. Elas soam altas e exigentes, para fazer pensar. Se ódio gera ódio, gentileza gera gentileza. Mas a premissa do Antigo Testamento de onde parte Jesus, já era uma evolução, pois reprimia um castigo desproporcional a quem errou.

5. Jesus parte de situações concretas de experiência dos ouvintes na prática da justiça, na busca dos seus direitos. Um texto que não pode ser tomado ao pé da letra. Mas exige uma disposição interior de sofrer injustiças, de aceitar a humilhação para romper um ciclo demoníaco de ofensa-violência através do perdão.

6. ‘Olho por olho, dente por dente’ sempre fez parte do nosso cardápio, só uma atitude diferente pode romper esse ciclo.
* É como se o texto nos dissesse: ‘que posso fazer para acabar com esse sofrimento que se arrasta?’.

7. Para os seus discípulos, Jesus propõe um amor parecido com aquele de Deus, que faz chover sobre bons e maus, que não vê ao outro como inimigo. Talvez como alguém com quem eu tenha que aprender a lidar, para que evitemos todo recurso à violência, salvo aquilo que diz o Catecismo, quando se trata de defender a própria vida.  

8. As palavras de Jesus continuaram soando como uma loucura, particularmente nesse nosso tempo que alimenta o ódio, o medo do diferente, a violência. Como dizia Mahatma Gandhi, ‘nessa lei do olho por olho, nós vamos acabar cegos’. Talvez o ditado popular nos ajude a entender a palavra de Jesus: ‘em terra de cego quem tem um olho é rei’. A Palavra provoca a nossa reflexão e a nossa identificação cristã enquanto filhos e filhas de Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 18 de fevereiro de 2017

(Hb 11,1-7; Sl 144[145]; Mc 9,2-13) 
6ª Semana do Tempo Comum.

A leitura dos primeiros capítulos do Gênesis se encerra com esse trecho da carta aos Hebreus cujos versículos inicias já tínhamos visto ao final de janeiro quando da leitura orante da mesma. Parece querer ‘fechar’ de modo sintético e reflexivo o movimento desses possíveis primeiros antepassados, salientando a fé que os moveu na confiança em uma Palavra divina.

É sobre essa mesma confiança na Palavra de Deus que os três apóstolos que acompanharam Jesus ao monte Tabor e viram sua transfiguração, podem descer do monte de modo mais confiante para reconhecer, depois, que a cruz de Jesus não foi um acidente de percurso, mas um modo de convencimento de Seu amor pelo mundo.  Que esse projeto divino está em continuidade com a história do Antigo Testamento e que a ressurreição é a palavra final. Algo a ser conservado no coração, na perspectiva da fé e da experiência do caminho que estão fazendo. “Ó Deus, que na ressurreição do vosso Filho abristes para a humanidade a passagem da morte para a vida, concedei-nos experimentar no nosso morrer dia-a-dia o poder da Sua ressurreição” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de fevereiro de 2017

(Gn 11,1-9; Sl 32[33]; Mc 8,34—9,1) 
6ª Semana do Tempo Comum.

Essa narrativa da torre de Babel serve a muitas interpretações, talvez não seja uma resposta para diversidade das línguas, mas sim para a tentativa humana de unificação e criação de uma forma de poder que não respeitasse a diversidade pensada pelo Criador. O futuro continua  ‘duvidoso’, mas Deus permanece atento a todos os projetos que ameaçam a diversidade de sua criação.

“Quem decidiu em seu coração que vale a pena ser cristão até o fim, aprende à sua custa a verdade que o Senhor lhe propõe. Assim experimenta a fadiga de colocar Jesus e a sua Palavra no centro da sua vida, dizendo ‘não’ decididos e radicais às ideias e projetos próprios, mesmo à custa de passar por alguém que renega o bom senso aceito pela maioria (8,3.38). Não se trata de abraçar a Cruz, porque é bonita em si mesma (é de resto um instrumento de morte), mas de manter-se fiel às opções próprias de vida, até às mais extremas consequências. Será a História que as indicará a cada crente. Com efeito, Jesus não diz: ‘Tome a minha Cruz’, mas ‘a sua’, aquela que de cada vez as situações lhe apresentarão. Pode acontecer que o ‘preço a pagar’ seja perder as seguranças econômicas e sociais (8,35) ou o confessar, mesmo com custo da própria vida, que só Jesus de Nazaré é o Messias e o Salvador do mundo (8,38). Através destes sinais, de fraqueza para o mundo, passa o poder fecundante do Reino de Deus (9,1; cf. 1Cor 1,25-31; 2Cor 12,7-10)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de fevereiro de 2017

(Gn 9,1-13; Sl 101[102]; Mc 8,27-33) 
6ª Semana do Tempo Comum.

A criação parece ganhar nova direção a partir do fim do dilúvio. De fato, o homem se tornou ‘objeto de medo e terror para todos os animais da terra... ’ Há uma entrega e não uma recomendação de cuidar. Justifica-se o não comer animais sufocados. Salienta-se o valor da vida e as consequências da violência.  Mas nesse cenário um tanto diferente do início, é o próprio Deus que estabelece uma aliança, assumindo o compromisso de manter a sua criação.

Bem no centro de sua narrativa Marcos insere essa parada de Jesus para uma espécie de balanço com os seus discípulos. A pergunta que tantas vezes a multidão faz sobre Jesus, é a mesma que ele lança aos seus discípulos. As respostas dos discípulos parecem apontar para uma falta de clareza da multidão, como se Jesus fosse mais um no cenário da história de Israel. A resposta pessoal traduzida por Pedro revela um olhar um pouco além, mas não de todo completo, pois não contempla o mistério da cruz. Senhor, “Que o vosso Espírito nos ajude a crer de todo o coração e a confessar com as obras que Jesus é o Cristo, para vivermos segundo a sua Palavra e exemplo, certos de que salvaremos a nossa vida somente quando tivermos a coragem de perdê-la” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 15 de fevereiro de 2017

(Gn 8,6-13.20-22; Sl 115[116b]; Mc 8,22-26) 
6ª Semana do Tempo Comum.

Temos a conclusão do dilúvio com o retorno à terra firme, oferecimento de sacrifício e conclusão por parte de Deus de que, por causa do ser humano, não há porque amaldiçoar a terra, ‘pois as inclinações do seu coração são más desde a juventude’. Uma conclusão nada positiva do autor sagrado, mas que aponta para a gratuidade do perdão divino que não está condicionado pelas opções erradas do ser humano.

O milagre do cego do evangelho de hoje está em estreita relação com os fatos acontecidos anteriormente, onde Jesus salientava que, apesar de terem olhos, os discípulos não enxergavam. A cura feita por etapa parece apontar para essa graduação do crescimento espiritual ou reconhecimento de quem é Jesus. Percebemos que a cegueira não era de nascença, pois ele distingue as árvores. Os discípulos também precisam ser curados dessa cegueira que os acompanha e não lhe permite compreender quem é Jesus. Risco comum a todo discípulo é manter-se na superficialidade de sua fé. É preciso deixar-se conduzir por Jesus para fora desse lugar comum e se deixar inundar por sua luz para vermos mais claramente todas as coisas.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de fevereiro de 2017

(Gn 6,5-8; 7,1-5.10; Sl 28[29]; Mc 8,14-21) 
6ª Semana do Tempo Comum.

A ‘história’ de Noé tem como base uma antiga inundação que tinha destruído uma vasta região e que o autor sagrado deu amplitude universal. Tudo isso para refletir sobre as consequências do pecado na vida do ser humano e de toda a Criação. Noé é a esperança surgida em meio ao caos. Alguma coisa dessa narrativa tem a ver com o tempo em que vivemos, dessa crescente onda de violência, de injustiças, de doenças e de catástrofes naturais ou não, mas que encontra sempre na prepotência humana suas raízes.

Que fermento seria esse dos fariseus? Falta de fé? Os discípulos são tomados de surpresa. Na realidade Jesus chama a atenção dos seus discípulos para a falta de compreensão do sentido profundo dos milagres realizados por Ele. Tudo aponta para uma outra realidade que culminará com o Seu sacrifico na cruz. Eles estão tão voltados para as opiniões alheias que se esquecem de aprofundar seu olhar em Jesus e recolher, de tudo que realiza e diz, o sinal oferecido por Deus: Jesus Salvador. “Deus, a vossa Palavra é luz verdadeira para os nossos passos; concedei que, iluminados pelo vosso Espírito, a acolhamos com fé viva, para descobrirmos na escuridão dos acontecimentos humanos os sinais da Vossa presença” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 13 de fevereiro de 2017

(Gn 4,1-15.25; Sl 49[50]; Mc 8,11-13) 
6ª Semana do Tempo Comum.

O chamado ‘pecado de Adão e Eva’ parece estender-se sobre sua família trazendo à tona esse conflito entre irmãos de sangue. O texto não é muito claro em sua reflexão, pois não responde um monte de perguntas que ele mesmo levanta em sua narrativa, como, por exemplo, por que Deus acolheu o sacrifício de Abel e não o de Caim? Mas em meio a toda essa confusão Deus manifesta a sua misericórdia para com Caim e nos lembra a responsabilidade que temos para com a vida do outro.

Jesus tem seus motivos para irritar-se com os fariseus que pedem um sinal. O que exatamente estão buscando? Não bastam as curas realizadas? A liberdade dada? O perdão oferecido? Para crer é necessário que haja sinal, milagre ou coisa parecida? Não nos basta a fé em Jesus? Não parecemos, às vezes, um pouco ‘fariseu’ exigindo de Deus algum sinal?


 Pe. João Bosco Vieira Leite

6º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Eclo 15,16-21; Sl 118[119]; 1Cor 2,6-10; Mt 5,17-37)

1. Na vida não há como correr das escolhas que temos que fazer. Alguns caminhos nos conduzem à vida e outros à morte. Assim, diz o autor sagrado da 1ª leitura, nos são propostos os mandamentos divinos como um caminho de vida. Mas para isso é necessário crer em sua sabedoria; que Ele deseja o nosso bem. Que cuida de nós.

2. Paulo fala dessa sabedoria como um mistério que ao longo da história foi se desenvolvendo e se revelou em Jesus Cristo. A vida cristã traz consigo a possibilidade de encontrar a felicidade no que Ele nos diz. Paulo convida a um olhar mais longo e reflexivo do modo como Deus age e como vai tecendo sua história salvífica; a dar o voto de confiança e saber que só no fim compreenderemos tudo isso.

3. Ao dar prosseguimento ao seu discurso, e para não ser mal compreendido, Jesus deixa claro que em suas palavras, o que foi dito anteriormente por Deus encontra sua ressonância. Se ele age de um modo novo e desconcertante é para que saibam que Deus não se repete, mas surpreende no modo em que realiza a suas promessas.

4. Assim Jesus interpreta de modo mais amplo e profundo quatro elementos da lei divina. Primeiramente condena qualquer tipo de homicídio. Ele transcende o campo físico para nos falar de tantas outras que matamos com nosso julgamento, com nossa difamação ou mesmo indiferença.

5. O nosso sacrifício a ser apresentado a Deus seria uma constante revisão dessas situações de morte que fomos criando ao longo do caminho. Um sacrifício que purifica de fato.

6. Ao falar do adultério ele vai às raízes mais profundas do desejo humano, pois deixar-se conduzir pelos próprios instintos pode trazer dissabores para si, para a família e para outros que estão envolvidos nessa trama. Ele convida seus discípulos a aprender a cortar rente, mesmo que isso gere algum sofrimento a si. Um coração puro exige não se entreter com o perigo.

7. Jesus reafirma o valor do matrimônio, sabe quanto esse é exigente, mas nem por isso condenou aqueles cuja escolha não deu certo.

8. Por fim ele fala da sinceridade que deveria reinar entre os cristãos. Pois ter que jurar, deixa uma margem para a desconfiança recíproca. Alguns juramentos, no passado vinham acompanhados de algum tipo de castigo divino. Jesus pede para deixa-lo de fora. Deus não negocia com castigos, mas considera a liberdade do ser humano de fazer escolhas erradas.

9. Abrir os ouvidos e o coração para acolher a palavra de Deus, meditar sobre seus conselhos, essa é a proposta de Jesus. A questão não está em meramente cumprir os mandamentos, mas descobrir a sabedoria de vida que eles escondem e saber-se feliz por compreender tudo isso. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de fevereiro de 2017

(Gn 3,9-24; Sl 89[90]; Mc 8,1-10) 
5ª Semana do Tempo Comum.

O nosso texto se reveste de ares de um processo judicial para chamar o homem e a mulher ao centro da cena e perceberem a quebra da harmonia efetuada por ambos. “A Bíblia não descarrega a culpa nos outros, mas devolve o problema e coloca o homem diante da sua consciência. Ela quer que cada um descubra em si o Adão e a Eva e reconheça: “Eu faço isto! Eu é que estou comendo a fruta proibida! Portanto, eu sou responsável e corresponsável pelo mal que existe!’ ela não é saudosista: ‘Era bom antigamente, no paraíso!’ a Bíblia quer que os homens acordem, tomem consciência da situação e enfrentem o mal, começando por extirpar a raiz do mal dentro de si mesmos e da sociedade. E é possível vencê-lo, porque Deus continua querendo o paraíso. Esta vontade segura de Deus é a garantia que a Bíblia nos dá com absoluta certeza. Do contrário, sem tal garantia, não adiantaria conscientizar os outros. Seria um crime, pois serviria apenas para provocar o desespero, a revolta e o desânimo. Agora, provoca o arrependimento, a fé, a coragem, a resistência positiva e a esperança” (Carlos Mesters - Paraiso terrestre, saudade ou esperança? -  Vozes).

O coração de Jesus se revela ainda maior na sua compaixão pela multidão que o segue, desta vez em território pagão, distribuído para eles também o alimento necessário. Muitos autores vislumbram aqui um sinal eucarístico e universal do desejo do próprio Jesus de chegar a todos. De fato, muitos cristãos têm levado o pão da Palavra e da Eucaristia a povos distantes e desconhecidos então da família cristã. Para além dessa realidade missionária, o gesto nos convida a entramos em contato com a realidade que nos cerca, a envolver-nos com as alegrias e dramas que envolvem a vida humana, compartilhar e ajudar.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de fevereiro de 2017

(Gn 3,1-8; Sl 31[32]; Mc 7,31-37) 
5ª Semana do Tempo Comum.

Eis que a tranquilidade do paraíso é afetada com o surgimento de um novo personagem. Começa aqui uma narrativa que tenta compreender a existência do mal no mundo, já que tudo que Deus criou é bom. A serpente personifica, grosso modo e de maneira simplificada, toda ordem de coisas que se tornam verdadeiras armadilhas ao ser humano com relação a vivência de sua fé, pois distorce sua compreensão de Deus. Uma vez que seus olhos se abrem sobre si mesmos, descobrem sua nudez, não no plano sexual, mas da fragilidade que tentam esconder a qualquer custo. Seu erro foi querer acertar retirando Deus dessa somatória de fatores da vida que podem trazer a felicidade.

A cura do surdo-mudo no evangelho de hoje parece querer caracterizar a situação em que viviam os que habitavam aquela região. Não conheciam o evangelho de Jesus. A força da oração faz o Filho entrar em comunhão com o Pai para mudar aquela situação. Rezemos hoje por todos aqueles que ainda não conhecem a Palavra do Senhor. Que a nossa oração não só suscite novos evangelizadores, mas que meu testemunho proclame que a fé e a escuta de Jesus é essencial, pois por ela sou capaz de vencer a ação do mal que nos rodeia e envolve. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 9 de fevereiro de 2017

(Gn 2,18-25; Sl 127[128]; Mc 7,24-30) 
5ª Semana do Tempo Comum.

Algo se revela sobre o ser humano nessa narrativa da criação da mulher. Ele é convidado a sair do seu isolamento, que gera morte, para o diálogo com o outro, na igualdade da natureza e dignidade, permitindo perceber ou descobrir a própria identidade, acolhendo a diversidade, o outro, como obra também da criação.

Marcos traz a narrativa da mulher estrangeira que implora cura da filha em um outro contexto, em casa e não no caminho. O episódio serve para reforçar a ideia de que Jesus veio para todos e que mesmo encontrando a oposição dos chefes do seu povo, a bondade de Deus se manifesta a outros povos. O texto quer destacar a coragem, a humildade e a perseverança com que muitos se aproximam de Deus para alcançar o que desejam e para tomarmos consciência dos tantos males que esse mundo padece e nos somarmos aos que clamam noite e dia pela misericórdia do Senhor, que Ele os escute e tenha presente as tantas necessidades desse mundo.  


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 8 de fevereiro de 2017

(Gn 2,4-9.15-17; Sl 103[104]; Mc 7,14-23) 
5ª Semana do Tempo Comum.

Outra narrativa da criação do ser humano aparece no nosso livro com ‘orientações’ mais específicas, tendo o cuidado com a vida sob sua colaboração. Em tudo existem limites que devem ser respeitados, mesmo com toda capacidade criadora que nos é oferecida. Não respeitar certos limites pode gerar um desequilíbrio na vida, como veremos mais adiante.

Jesus dá ao povo e a seus discípulos uma orientação sobre uma discussão do seu tempo sobre o que era puro e o que era impuro, para trazer um pouco de luz sobre a vida de seus contemporâneos. Lançando um olhar para dentro do ser humano, Jesus deixa claro de onde vêm as situações desastrosas que torna a vida impossível em sua plenitude (perceba como o sentido casa com a 1ª leitura). Ao cristianismo nascente interessa mais a conversão do coração, desse voltar-se para a Palavra de Jesus, do que novas práticas externas que nos diferenciariam dos demais.  “Senhor nosso Deus, fonte de alegria para quem caminha no Vosso louvor, dai-nos um coração simples e dócil, à imagem do vosso Filho, para nos tornarmos discípulos da sabedoria e fazermos só e tudo o que Vos agrada” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 7 de fevereiro de 2017

(Gn 1,20—2,4; Sl 8; Mc 7,1-13) 
5ª Semana do Tempo Comum.

Segue-se o hino da criação chegando à sua conclusão com a criação do ser humano e com o dia do descanso, da contemplação do mistério criador de Deus. Essa palavra deve produzir em quem escuta, na experiência pós-exílica, o sopro renovador da vida e da esperança. Deus, desde sempre, tem cuidado da vida e deseja compartilhar com o ser humano Suas dádivas e o Seu cuidado. Parar, pensar, refletir, pode ser o momento justo que necessitamos a cada semana para retomar o caminho, reerguer-nos do cansaço e avançar na vida sob a bênção de Deus. Assim deveria ser o nosso ‘dia do Senhor’, dia da ressurreição. Mais das vezes enveredamos por um sugar todas as possibilidades de lazer ‘embriagando-nos’ para não tomarmos pé da vida, dos problemas e de nossa responsabilidade em tudo isso. 

Jesus faz uma oposição entre a Palavra de Deus e as tradições religiosas do seu tempo, mostrando o risco dessas tornarem-se mais importantes que a Palavra. Nosso tempo sofre do mesmo mal em termos de vivência da fé. É claro que a observação de Jesus vai de encontro a todos quanto têm a responsabilidade de interpretar a Palavra e de vivê-la sem permitir que as tradições acabem nos afastando da comunhão real com Deus que a Palavra gera. Permitamos ao Senhor refazer-nos constantemente com sua Palavra criadora, reconhecendo os nossos limites e fragilidades, mas sabendo objeto do seu amor e cuidados, conforme reza o nosso salmo 8.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 6 de fevereiro de 2017

(Gn 1,1-19; Sl 103[104]; Mc 6,53-56) 
5ª Semana do Tempo Comum.

Nossa liturgia da Palavra nos coloca nessa semana e na próxima no começo de tudo. Acompanharemos alguns textos dos capítulos 1º ao 11º do Gênesis. Não esqueçamos que não se tratam de narrativas históricas, mas de histórias que tentam responder perguntas sobre a vida: quem sou eu? De onde venho? Para onde vou? E sobre determinados problemas da vida: a existência do mal, o sofrimento, a morte violenta etc. não se sabe ao certo se essas narrativas foram escritas antes ou depois do exílio babilônico, mas se sabe que elas foram reunidas no pós exílio: “com a finalidade de conscientizar o povo hebreu da sua vocação entre as nações: testemunhar o rosto de Deus, Criador (de todas as formas de vida) e Libertador (de todas as escravidões, de que a do Egito é paradigma permanente), e de suscitar em todos (hebreus e não só) o sentido de responsabilidade perante os problemas da existência humana” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).

Essa abertura do livro funciona como uma espécie de hino ao Deus criador, que ressalta a eficácia da Palavra divina, colocando em ordem o caos, o deserto e o vazio. Tudo tem seu lugar e seu valor na criação. O salmo nos convida a alegrar-nos com todo o criado e vislumbrar a manifestação da sabedoria divina em todas elas.

Independente do anúncio de seu próprio destino ao narrar a morte de João Batista, Jesus chegue adiante, fazendo o bem, curando a muitos. Para além das coisas e ritos determinados pela lei judaica, está a fé simples dos que o buscam e tocam a sua pessoa, mesmo com um certo ‘sabor de superstição’. Há muitos que chegam a fé por essa via, outros ficam presos nelas. Aos discípulos de todos os tempos Jesus lembra que é necessário acolhê-las também. “Pai de graça e de misericórdia, colocastes o vosso Filho Unigênito como princípio e fim de todas as coisas, e quereis que no Seu corpo vivo se recolha em unidade a multidão das gentes: a Sua humanidade gloriosa continue a aproximar-se, com seu poder salvífico, de todos os que sofrem no corpo e na alma, para que sobre a morte triunfe a vida, sobre as forças desagregadoras do mal reina a força radiosa do amor, sobre todas as lágrimas de dor, hoje e sempre brilhe a plenitude da alegria” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


5º Domingo do Tempo Comum - Ano A

(Is 58,7-10; Sl 111[112]; 1Cor 2,1-5; Mt 5,13-16)

1. Esse texto da 1ª leitura tem um tom profundamente quaresmal. Ele trata de uma nova forma de jejuar que agrada a Deus: voltar-se para a necessidade do outro. Tem sacrifício maior? Israel pensava que seu culto, sua liturgia solene, seus sacrifícios seriam o grande chamariz do povo escolhido. O profeta vai dizer que o que atrai o olhar humano são as obras de amor.

2. Paulo já havia falado de como as escolhas de Deus fogem da sabedoria humana, o maior exemplo é ele mesmo, pois crê que a palavra de Deus tem força em si mesma. Nosso tempo cria superestruturas de espetáculo para falar de Deus e transmitir a Palavra, quando o maior testemunho deveria ser uma vida transformada pelo poder do Espírito.

3. Duas pequenas alegorias dão continuidade ao sermão da montanha. Os bem-aventurados serão como sal e luz no mundo, como foi o próprio Jesus.

4. O símbolo do sal, tão exorcizado em nosso tempo, traz consigo uma gama de significados culturais e práticos. Para Jesus o cristão é alguém que busca, pela sabedoria do evangelho, dar sabor ao mundo. O verdadeiro sentido de nossa vida estaria em tão somente gozar o momento presente sem nos darmos contas de outras realidades que nos desafiam como as dores e as injustiças humanas?

5. O cristão se envolve com a realidade que o cerca para dar o devido equilíbrio que impede a humanidade de se corromper. Sal não deixa de ser sal, quimicamente falando, mas um cristão pode perder-se em não levar a sério a palavra e o testemunho do próprio Jesus e sua vida não ter nada a nos dizer ou acrescentar.

6. A 2ª comparação vem reforçar a 1ª. Uma cidade no topo da montanha não passa despercebida. Toda luz deve estar num lugar alto, que ilumine a todos, como num poste. Jesus não está chamando ninguém para ser destaque de escola de samba, usando uma linguagem desse nosso fevereiro.

7. Ninguém  fixa o olhar na luz, mas percebe o que ela ilumina. O bem deixa seus rastros. Se alguém deve ser elogiado é o próprio Deus que nos inspirou que nos deu o dom e a capacidade de realiza-lo.

8. Quando Jesus pede a Madre Teresa de Calcutá que seja luz d’Ele e para Ele, ela deixa atrás de si um rastro de luz que questiona sua escolha de viver dessa forma. Sua vida ilumina o evangelho de Cristo, mesmo tendo este luz própria. Jesus propõe aos seus discípulos permitir que essa palavra se concretize de alguma forma em seu modo de viver.

9. Se é verdade que as palavras convencem e os exemplos arrastam, é possível que nossa forma de viver leve outros a viverem a fé ou desistir dela. Há muita forma de vida cristã carregada de sombras que não atraem e perturbam nossa forma de compreender o cristianismo.

10. Ainda que muitos não façam a opção do caminho de fé que fizemos, não podemos esconder o que verdadeiramente cremos, não pelo convencimento do outro, mas por aquilo que praticamos.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 04 de fevereiro de 2017

(Hb 13,15-17.20-21; Sl 22[23]; Mc 6,30-34) 
4ª Semana do tempo Comum.

Se a proposta do autor de nossa carta era apresentar a Jesus como sumo sacerdote e ao mesmo tempo como sacrifício pela nossa salvação, nada mais desejável que cada cristão faça de sua vida uma oferta a Deus. A vida de oração e a vida fraterna fazem parte desse culto espiritual que se torna a vida cristã, transformando-a numa liturgia ininterrupta.

A proposta de Jesus, ‘o grande pastor das ovelhas’, de um breve descanso com seus discípulos, resultou no tempo de uma travessia do lago. Todos os pastores sabem o que é isso a partir de sua própria experiência. A vida de Jesus e dos discípulos em sua missão compreende essa atenção para com as necessidades do rebanho que se apresentam nem sempre no horário previsto.  Isso requer uma comunhão de coração com a realidade que Jesus contempla. Rezemos por todos os nossos pastores, para que apesar do cansaço, encontrem no coração de Jesus, o descanso necessário, pois seu fardo é leve e seu jugo é suave. “Senhor Deus onipotente, Pai misericordioso, olhai com bondade para os povos que ainda esperam o Salvador, e enviai para a Vossa messe os operários que anunciam Cristo: a Vossa sabedoria resplandeça na sua pobreza, o Vosso poder na sua dedicação incansável, a Vossa solicitude paterna no dom do seu serviço pastoral” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 03 de fevereiro de 2017

(Hb 13,1-8; Sl 26[27]; Mc 6,14-29) 
4ª Semana do Tempo Comum.

Chegando ao fim de nossa leitura da carta aos Hebreus, temos dois textos, hoje e amanhã, carregados de recomendações práticas para o sentido de comunhão que a vida cristã deve ter com todos e com todas as realidades que fazem parte do tecido da vida. Mais que uma mera adesão intelectual, o cristianismo é um estilo de vida, um modo de ser, uma luta contínua contra o fechamento sobre si mesmo diante das realidades que nos desafiam.

A narrativa de Marcos que hoje culmina com a morte de João Batista está profundamente relacionada à identidade de Jesus e consequentemente da Sua morte, pois vem na esteira da rejeição de uma Palavra que se sabe ‘salvadora’, mas que se rejeita diante da imagem que construímos de nós mesmos, falsa, em sua maioria. O nosso mundo tende a sufocar em nós a capacidade de escuta sincera da nossa própria consciência, se formada por valores evangélicos. Herodes, em parte, é vítima da própria armadilha, mesmo tendo consciência do exagero no pedido da dançarina, não pode deixar de continuar ‘vendendo’ a imagem de si mesmo. Não podendo romper com esse ciclo vicioso, perde-se a si mesmo. “Senhor Deus onipotente, alegria dos humildes e salvação dos pecadores, olhai para aqueles que, pelo vosso Filho Jesus Cristo, sofrem ainda perseguição, violência e injustiça: fazei que o poder do amor rompa as cadeias do egoísmo, a força do Espírito triunfe sobre os mecanismos da carne, o milagre da vida nova infunda comunhão e esperança onde parece impossível, devido à dureza dos homens: que em tudo triunfe o Vosso amor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 02 de fevereiro de 2017

(Ml 3,1-4; Sl 23[24]; Lc 2,22-40) 
Festa da Apresentação do Senhor.

Nosso texto da 1ª leitura é a resposta de Deus a uma situação crítica vivida pelo Seu povo no tempo de Malaquias. Deus virá ao seu Templo para purificar o seu povo e renovar sua aliança. Não nos é difícil vislumbrar nesse quadro a proposta do Evangelho de Lucas. Quando as coisas não vão bem, que nos resta se não esperar uma intervenção divina? Mas sabemos que a intenção de Deus não é castigar, mas salvar, recuperar, renovar. O Deus que agora entra no Templo nos braços de Maria traz um novo recomeço e o sacrifício necessário para purificar o povo: sua entrega total ao Pai. Como reza o nosso salmo, abramos também o nosso coração, para que o rei da glória possa entrar, aplainemos suas veredas.

Lucas nos entretém com essa cena em que José e Maria cumprem os rituais previstos pela Lei com relação ao Menino e a Mãe. Mas tantos detalhes acabam por nos entregar a sua intenção. Ele lê todos esses fatos à luz do mistério da morte e ressurreição de Jesus. Os três se apresentam dentro dessa dinâmica de pobreza material e espiritual que nos indicava o evangelho desse domingo. Uma pobreza que a todos enriquece. Uma luz, a de Jesus, que a todos ilumina. Uma entrega ao Pai a ser imitada por todos quantos se deixarem iluminar por Sua palavra. Peçamos o mesmo Espírito que moveu Simeão e Ana a encontrarem o Menino e a todos anunciar essa feliz esperança em meio ao caminho que fazemos marcados por muitas sombras. Que a sua Luz penetre os vazios de nossos corações. “Deus eterno e todo poderoso, ouvi as nossas súplicas. Assim como o vosso Filho único, revestido da nossa humanidade, foi hoje apresentado no templo, fazei que nos apresentemos diante de vós com os corações purificados” (Oração de Coleta da missa de hoje).

 Pe. João Bosco Vieira Leite