Dia de Finados – 2017

(Jó 19,1.23-27a; Sl 26[27]; Rm 5,5-11; Jo 6,37-40).

1. A liturgia da Palavra para o dia de Finados permite uma certa liberdade na escolha dos textos motivadores da reflexão desse dia. Nós seguimos o esquema proposto pelo subsídio litúrgico “O Domingo”.

2. A nossa reflexão tem por base a força da Ressurreição. São as palavras de Jesus no evangelho que nos convida a seguir confiantes os caminhos da vida. Esta palavra nova faz-nos saber que o peso da morte já passou, e que já não pode apagar, como uma esponja, a vida que vamos construindo com o amor novo que nos vem do Ressuscitado.

3. Mesmo quando o sofrimento cai sobre nós como uma avalanche, transformando a nossa vida num insuportável pesadelo, como sucedeu a Jó; Seremos ainda levados a descobrir que não é Deus que nos persegue e fustiga, pois Ele permanece ao nosso lado, dado que Ele é o nosso familiar mais próximo; que é o nosso Redentor, como a dizer que a ele cabe o dever, a obrigação, de velar sempre por nós em todas as situações difíceis da vida.

4. O salmo 27 quer nos deixar nos braços de Deus, cantando e decantando a luz e a confiança que de Deus recebemos.

5. Paulo quer tirar de nós essa apreensão que nos acompanha sobre sermos dignos dessa salvação que Deus nos oferece em Cristo Jesus. Carta que estamos acompanhando na liturgia semanal. Paulo afirma que nossa esperança não deve estar alicerçada no conjunto das nossas boas obras, das nossas capacidades ou até mesmo da nossa fidelidade.

6. O que nos alegra e motiva é o amor incondicional de Deus. Quando ele tomou a iniciativa de nos salvar, ele não se deixa intimidar pelos obstáculos que criamos. Deus nos salvou quando ainda éramos seus inimigos.

7. Colocada um pouco de lado a questão da morte, que a ressurreição de Cristo dá significado e sentido, a preocupação das pessoas que hoje frequentam as igrejas ou visitam os cemitérios pode ser outra. Muitos carregam consigo questões que têm mais a ver com a situação daqueles que a morte separou de nós: O que permanece da relação que tínhamos com eles? O que permanece, sobretudo da amizade, do amor, do carinho que se partilhava quando eles ainda estavam conosco? Haverá alguma maneira, alguma possibilidade de lhe permanecermos fiéis? Poderemos, por ventura, fazer algo mais do que colocar estas flores sobre o túmulo?

8. No romance “Médico de homens e de almas” sobre a história de São Lucas, quando o adolescente Lucas perde seu pai, Diodoro, um dos personagens criados pela autora, bate-lhe no ombro, afetuosamente, e lhe diz: “Nós nos censuramos quando os que amamos nos são levados. Mas, se meditarmos, conseguiremos ver como podem inspirar nossas vidas e fazer nossos anos mais significativos, pelas suas lições”. E acrescento, tenham sido elas positivas ou negativas.

9. Sim, rezamos pelos fiéis defuntos, na certeza de que Deus, em Sua misericórdia, é maior que nossos juízos, mas como diz Agostinho, essa celebração serve mais a nós mesmos que precisamos ser convencidos desse amor divino e alertados sobre a brevidade de nossa existência, onde somente o amor será a impressão dos nossos passos deixados e a única moeda de troca que podemos oferecer nessa travessia.


 Pe. João Bosco Vieira Leite