Quinta, 30 de novembro de 2017

(Rm 10,9-18; Sl 18[19A]; Mt 4,18-22) 
Santo André, apóstolo. 

Neste último dia do mês de novembro encerramos a introdução geral que fizemos dos salmos e passamos a nos concentrar nos salmos que ainda não foram comentados ou algum texto da nossa liturgia. Espero que tenha ajudado a compreender a importância dos mesmos para a nossa liturgia e para a nossa oração pessoal.

O nosso salmo de hoje já foi comentado nas outras festas dos apóstolos, onde é recorrente (cf. São Mateus e São Simão e Judas Tadeu). Apesar do nome de Pedro aparecer por primeiro na lista dos escolhidos, foi o André o primeiro a ser chamado, que apresentou Pedro a Jesus. “Precisamente por essa razão a liturgia da Igreja bizantina o honra com o título de Protóklitos, que significa justamente ‘o primeiro chamado’. E por causa da relação fraterna entre Pedro e André, a Igreja de Roma e de Constantinopla se sentem irmanadas de forma especial. [...] O apóstolo André, portanto, nos ensina a seguir Jesus com prontidão (cf. Mt 4,20; Mc 1,18), a falar com entusiasmo d’Ele aos que encontrarmos e, especialmente, a cultivar com Ele uma relação de verdadeira familiaridade, sabedores de que só nele podemos encontrar o sentido último de nossa vida e de nossa morte” (Bento XVI – Os Apóstolos e os Primeiros Discípulos de Jesus – Planeta) 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 29 de novembro de 2017

 (Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28; Sl Dn 3,62-67; Lc 21,12-19) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Nos salmos rivalizam a beleza e a doutrina: são ao mesmo tempo um canto que deleita e um texto que instrui. Neles eu leio: ‘Cântico para ser amado’, e me inflamo em santos desejos de amor; neles vou meditando o dom da revelação, o anúncio profético da ressurreição, os bens prometidos; neles aprendo a evitar o pecado e a sentir arrependimento e vergonha pelos delitos cometidos. Que mais é o Saltério, senão o instrumento espiritual com que o homem inspirado faz repercutir na terra a doçura das melodias celestiais, como quem pulsa a lira do Espírito Santo?” (Santo Ambrósio in Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

“Através de um processo poético de personificação das realidades inanimadas, o convite a bendizer o Senhor é dirigido primeiro aos astros do céu (‘sol, lua, estrelas’, vv. 62-63), e depois a todos os elementos que são de particular importância para o homem e influenciam a sua vida (‘chuvas, orvalhos, ventos, fogo, calor, frio e geada’, vv. 64-67)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de novembro de 2017

(Dn 2,31-45; Sl Dn 3,57-61; Lc 21,5-11) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Que coisa poderia ser mais agradável que os salmos? Como diz maravilhosamente o próprio salmista, ‘louvai ao Senhor, que salmos são bons, nosso Deus merece um louvor harmonioso’. E com razão, porque os salmos são a bênção do povo, o louvor de Deus, elogio dos fiéis, o aplauso de todos, a linguagem universal, a voz da Igreja, a profissão harmoniosa de nossa fé, a expressão de nossa entrega total, a alegria de nossa liberdade, o clamor de nossa alegria transbordante. Eles acalmam nossa ira, afastam nossas preocupações e nos confortam em nossas tristezas. De noite são uma arma, de dia um ensinamento; no perigo são nossa defesa, nas festividades nossa alegria; expressam a tranquilidade de nosso espírito, são uma prenda de paz e de concórdia; são como a cítara, que une em um único cântico as vozes mais diversas e díspares. Com os salmos celebramos o nascimento do dia e cantamos seu ocaso” (Santo Ambrósio in Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

“Continuando o seu cântico a Deus, os três jovens hebreus salvos do fogo convidam as criaturas da terra ao louvor e à ação de graças. O pedido de ‘bênção’ estende-se a todas as ‘obras do Senhor’ (vv. 58-61), indicados sucessivamente como ‘sol e lua, estrelas do céu’ (vv. 62.63). É evidente a relação com a narração de Gn 1,14-16” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 27 de novembro de 2017

(Dn 1,1-6.8-20; Sl Dn 3; Lc 21,1-4) 
34ª Semana do Tempo Comum.

“Nascemos com este livro nas entranhas. Um pequeno livro? Cento e cinquenta poemas, cento e cinquenta escadas erguidas entre a vida e a morte, cento e cinquenta espelhos de nossas rebeliões e infidelidades, de nossas agonias e ressurreições. Mais que um livro: um ser vivo que fala – que fala com você -, que sofre, geme e morre, que ressuscita e canta, no dintel, e nos apanha, nos arrasta, a nós e aos séculos dos séculos, desde o começo até o fim... Encerra um mistério, pelo que as sucessivas eras não cessam de voltar uma vez e outra mais a este canto, de purificar-se nesta fonte, de interrogar cada versículo, cada palavra da antiga oração, como se seus ritmos fizessem bater forte o pulso dos mundos” (André Chouraqui in  Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Nesses dias que seguem teremos o Cântico de Daniel (vv. 52-53) como salmo. Rezado na Liturgia das Horas, ele faz parte da festas e solenidades, enfatizando o louvor das criaturas ao Senhor, seu Criador. “É o cântico dos três jovens hebreus que, no Livro de Daniel, se recusaram a adorar a estátua de ouro. A ‘bênção’ marca este hino-oração dirigido ao Senhor, denominado ‘Deus de nossos pais’ (v. 52), cuja santidade e realeza celebra. O templo no qual Deus habita é o templo celeste: Ele ‘está sentado sobre os anjos’ (as figuras aladas colocadas sobre a Arca) e daí ‘domina as profundidades’ (v. 55), porque conhece todas as coisas” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

34ª Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Ez 34,11-12.15-17; Sl 22[23]; 1Cor 15,20-26.28; Mt 25,31-46) 
Cristo Rei.

1. A solenidade que encerra o ano litúrgico traz esse ar de realeza, mas em seus textos contempla a Deus e ao Cristo como pastor. Por trás do texto da 1ª Leitura. Está a dispersão provocada pela invasão babilônica e toda ordem de desmandos. O profeta diz que Deus mesmo agirá em favor do seu povo, particularmente dos oprimidos.

2. O texto de Paulo, que vê a vinda de Cristo entre nós como uma espécie de reinado, vê na sua ressurreição um sinal de vitória que aponta para a destruição da morte. Não a morte em si, enquanto condição criatural, mas de fazer dessa uma passagem para uma vida plena e definitiva. O reino de Deus pregado por Ele está em atuação, em todos aqueles que lutam contra tudo aquilo que diminui a dignidade do ser humano.

3. Sabemos que as parábolas de Jesus nos revelam o mistério do reino, mas também da sua pessoa e do próprio Deus a quem aprendemos a chamar de Pai. Mas algumas parábolas nos deixam embaraçados em seus juízos ou conclusões que chegamos a nos perguntar até que ponto, de fato, elas revelam o mistério divino?

4. Como nas parábolas anteriores, Jesus se serve de uma imagem do seu cotidiano: o pastor recolhe as ovelhas e os cabritos ao cair da tarde, e as separa e as acomoda, de acordo com a resistência de cada um ao tempo. Através dessa narrativa se apresenta uma espécie de juízo final bem ao gosto dos pregadores e ouvintes da época, bem estruturada e de fácil compreensão em sua mensagem.

5. Para alguns pode ser um cenário aterrador, para outros uma grande fantasia, mas resguardemo-nos de prestar atenção a mensagem central. A importância do tempo que nos é dado a viver e o que conta para o futuro que nos espera. Sobre que valores estamos alicerçando a nossa vida?

6. Retornamos às chamadas obras de misericórdia. O que Jesus propõe não é refletir sobre o fim, mas sobre o que fazemos no momento presente. O amor ao ser humano corresponde ao amor a Deus. A capacidade de cuidar, respeitar, solidarizar-se, e outras coisas mais significam ou traduzem nossa capacidade de amar o outro.

7. Mas isso não se faz ou se vive numa espécie de contabilização de quantidade, mas num estilo de vida que adotou para si uma atenção ao outro sem esperar recompensa.

8. Deus não é o castigador da história, Ele apenas recolhe o que foi plantado e devolve ao cultivador e lhe permite avaliar a própria história.

9. Jesus deixa-nos um rosto divino revestido de juiz, mas ao mesmo tempo revelou-nos a sua profunda misericórdia. Ninguém é perfeito, resta-nos a confiança e a esperança que a misericórdia prevaleça sobre o juízo, como retrata Suassuna no “Auto da Compadecida”. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 25 de novembro de 2017

(1Mc 6,1-13; Sl 9A[9]; Lc 20,27-40) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Que vozes te dei, Deus meu, quando, ainda noviço em teu verdadeiro amor e sendo catecúmeno, lia descansando na quinta os salmos de Davi – cânticos de fé, sons de piedade, que excluem todo espírito orgulhoso – em companhia de Alípio, também catecúmeno, e de minha mãe, que se juntara a nós com roupa de mulher, fé de homem, segurança de pessoa idosa, caridade de mãe e piedade cristã! Que vozes, sim, eu te dava naqueles salmos, e como me inflamava em ti com eles e me acendia a vontade de recitá-los, se me fosse possível, ao mundo inteiro, contra a soberba do gênero humano!” (Santo Agostinho - Confissões).

A doença de Antíoco, que não conseguiu derrotar mais uma cidade, o faz refletir sobre o sofrimento infligido a Jerusalém, tomando tal sofrimento como consequência de seus atos. Enquanto isso o salmista dá graças a Deus que o livrou dos seus inimigos: Sl 9 (vv. 2-4.6.16.19).  “Davi estava terrivelmente em apuros – pelo menos é o que parece nesses primeiros salmos. Seu próprio filho rebelou-se contra ele e o pôs para fora de Jerusalém; outros inimigos atacavam Davi e davam falso testemunho dele; nações vizinhas testavam a força de Davi. É o bastante para fazer uma pessoa... orar. Que melhor momento para escrever um salmo quando estamos em apuros! Quando todos os nossos planos falham, quando fizemos uma confusão e não há saída, clamamos a Deus como um filho que corre para o pai. Davi não correu à presença de Deus apenas para pedir-lhe ajuda. Ele foi a Deus com certeza e louvor, confiante de que Deus operaria poderosamente naquela situação. ‘Senhor, quero dar-te graças de todo o coração’ (v. 1). Não há nada de apático na exaltação e alegria de Davi diante do Senhor. Ele estava feliz por estar lá” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos- Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de novembro de 2017

(1Mc 4,36-37.52-59; Sl 1Cr 29; Lc 19,45-48) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Contudo, os salmos não encerram mais que uma sombra daquela plenitude dos tempos que se revelou em Cristo, Nosso Senhor e da qual se alimenta a oração da Igreja. Por isso, embora todos os fiéis cristãos estejam de acordo em terem elevada estima aos salmos, não é de estranhar que surja, por vezes alguma dificuldade, quando alguém na oração procura fazer seus aqueles poemas venerandos. O Espírito Santo, sob cuja inspiração os salmistas cantaram, assiste sempre com sua graça aqueles que de boa vontade, salmodiando com fé, proferem esses poemas. Mas, por outro lado, é necessário que ‘adquiram formação bíblica, a mais rica possível, sobretudo quanto aos salmos’ (SC 90), cada qual segundo suas possibilidades, e assim compreendam de que modo e com que método poderá orar corretamente quem se revê dos salmos” (Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 102-103).

Para cantar a vitória de Deus sobre os inimigos o restabelecimento do culto, a oração da nossa liturgia vem do primeiro Livro das Crônicas onde “O rei Davi, na oração feita por ocasião da oferenda dos dons ao Templo, que o filho Salomão deveria construir, exalta o domínio do Deus de Israel sobre todas as coisas, no céu e na terra. A grandeza da glória e do poder de Deus está personificada na imagem de sua ‘mão’”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 23 de novembro de 2017

(1Mc 2,15-29; Sl 49[50]; Lc 19,41-44) 
33ª Semana do Tempo Comum.

“Na Liturgia das Horas, a Igreja, para rezar, serve-se em grande parte daqueles esplêndidos poemas que os autores sagrados do Antigo Testamento compuseram sob a inspiração do Espírito Santo. Em razão desta sua origem, os salmos têm a virtude de elevar até Deus a mente das pessoas, despertar nelas piedosos e santos afetos, ajuda-las maravilhosamente a agradecer na prosperidade e dar-lhes, na adversidade, consolo e fortaleza de ânimo” (Instrução Geral sobre a Liturgia das Horas, n. 100).

Da resistência e rebelião de Matatias na primeira leitura, o salmo 50 (vv. 1-2.5-6.14-15) justifica recordando a aliança estabelecida entre Deus e o seu povo. Atribuído a Asafe. “Parece que Deus convocou o Universo inteiro como testemunha, mas também está claro que Deus desceu para julgar seu próprio povo. Israel era o povo da aliança no Antigo Testamento, assim como os cristãos são o povo de Deus hoje. Uma vez que temos um relacionamento especial com Deus e temos sua Palavra e seu Espírito para nos guiar, Deus coloca em nós uma maior responsabilidade de vivermos em fiel obediência a ele. Deus não se agrada apenas de um ritual externo de adoração; ele olha para o coração” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 22 de novembro de 2017

(2Mc 7,1.20-31; Sl 16[17]; Lc 19,11-28) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Um testemunho do Pe. J. Y. Congar sobre a força dos salmos, para seus irmãos sacerdotes: “Aquele que escreve as páginas que seguem tem uma consciência bastante clara de como dirigir-se aos homens, seus irmãos, que se encontram no meio de sofrimentos e dificuldades algumas vezes extremas, enquanto ele se encontra seguro, mergulhado em trabalho interessante, louvado por outros homens, respeitado como se já tivesse conseguido o triunfo. No entanto, aquele que escreve lhes entrega a sinceridade absoluta de sua alma. Ele também conheceu horas difíceis, a oposição, a desconfiança, a solidão e inclusive o desterro. Experimentou a tentação de acreditar que a noite jamais acabaria. Só conseguiu ‘manter-se de pé’ pela invencível esperança que a oração dos salmos colocava a cada dia em seu coração, e sobre seus lábios. Em última instância, só conseguiu sair da noite pela misericórdia de Deus, depois de ter aceito ser reduzido a nada, não sobressair em coisa alguma” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Para expressar, como oração, o martírio relatado na primeira leitura, a liturgia nos oferece o salmo Sl 17 (vv. 1.5-6.8-9.15). Os inimigos de Davi se fortaleceram e então ele eleva sua oração, já que nem tudo depende dele. “Davi pede a Deus ação, não apenas palavras. Ele queria que seus inimigos fossem removidos. Davi orou com fé de que Deus ouviria e efetivamente interviria em seu favor. Quando foi a última vez que você orou dessa forma? Se você mantiver sua vida pura e honesta, inimigos se levantarão e tentarão derrubá-lo. Não se vingue. Fale deles para Deus e, então, veja a justiça divina em ação” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 21 de novembro de 2017

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 
Apresentação de Nossa Senhora.

“Com toda razão se tem destacado, nos movimentos ou grupos de oração, que a oração não deve ser meramente interessada, e sim aberta à ação de graças e ao louvor. Mas, quando se põe na presença de Deus, o homem não pode prescindir da súplica. O contrário seria desconhecer nossa condição de criaturas indigentes e dependentes; seria de certo modo pretender tornar-se igual a Deus. Diante da divina presença, a atitude própria do homem é a adoração e a súplica. Há um ditado popular que diz que ‘pedir não deixa ninguém pobre’, mas, na oração, pedir nos torna pobres, e precisamos sê-lo. Poderíamos repassar todo o Saltério e veríamos que ele foi feito quase todo de súplicas, umas mais puras e espirituais, outras mais interessadas ou humanas. Não devemos ter medo de tantos pedidos. O imperfeito não é pedir, porque o próprio Jesus também pediu e suplicou angustiadamente”  (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Uma antiga memória nos recorda a provável apresentação de nossa Senhora no Templo e de sua consagração a Deus que consequentemente permitirá ao próprio Deus habitar entre nós por Jesus, Seu Filho, vindo de Maria. Dessa escolha e consagração brota o canto do magnificat que nos é oferecido como salmo de meditação.  Para aprofundarmos um pouco mais veja os anos anteriores. (Para ler a reflexão de 2016, clique aqui.  Já para ler a reflexão de 2015, clique aqui).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de novembro de 2017

(1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64; Sl 118[119]; Lc 18,35-43) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Jesus ensinou seus discípulos a rezar, a pedido dos mesmos, mas Ele mesmo, com todo judeu, fez sua experiência de oração com os salmos e certamente deu-lhes um novo sentido: “Um bom exercício para progredir na salmodia cristã é procurar imaginar, a propósito de um salmo concreto, o que aquele salmo dizia a Jesus quando o rezava, e, inversamente, o que Jesus lhe acrescentava. Se no meio de nós, em uma mesma assembleia litúrgica, as disposições e as problemáticas particulares de cada um fazem com que as próprias palavras rezadas ou cantadas conjuntamente provoquem os mais variados sentimentos e atitudes, no caso de Jesus, mais ainda, a oração secular de Israel adquiria vida nova” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Encaminhando-nos para o fim de mais um ano, os textos falam de perseverar em meio as dificuldades da vida, como menciona o texto do 1º livro de Macabeus, para ilustrar esse momento em que Israel esqueceu de sua aliança, se nos oferece o salmo 119 (vv. 53.61.134.150.155.159). “O suplicante sente-se perseguido e oprimido pelos ímpios, por aqueles que abandonaram a Lei do Senhor. Reafirmando a sua fidelidade e a sua obediência aos Mandamentos de Deus, o salmista pede proteção e auxílio” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum - Ano A

(Pr 31,10-13.19-20.30-31; Sl 127[128]; 1Ts 5,1-6; Mt 25,14-30)

1. O mundo bíblico, culturalmente falando, é machista e sexista, com poucas exceções encontramos textos que ressaltem as qualidades femininas. A 1ª leitura descreve, a partir de sua compreensão, a mulher ideal, ainda que alguns movimentos feministas possam não ver tal descrição de modo positivo.

2. Mas aqui trata-se de preparar o texto do evangelho que nos fala de talentos, da administração dos dons que nos são confiados, para não restringirmos demais nossa compreensão.

3. Ainda na esteira do tema da volta do Senhor iniciado no domingo anterior, acompanhamos a palavra de Paulo que se identifica com as orientações dadas por Jesus no evangelho. Não há como saber quando, tudo virá de surpresa. E para não sermos surpreendidos em demasia, convém uma vigilância constante, particularmente para não perdermos nossa identidade de filhos da luz.

4. É a partir da compreensão desse tempo de espera que podemos ler a parábola que nos é proposta. Um tempo que é de todos e particularmente da Igreja que conserva essa fé na volta de Cristo. A ela foi confiado o evangelho, os sacramentos, o cuidado para com os que sofrem... Num primeiro plano é preciso compreender os talentos dentro dessa dimensão.

5. Tudo que Jesus espera de sua Igreja, de suas comunidades, é que produza frutos em abundância. Se aqui aparecem os ministérios, aparecem também os dons pessoais. Colocar no banco o talento pode significar devolver à comunidade aquilo que não dou conta para que essa confie a outro o que não dá frutos em minhas mãos.

6. A imagem final, do servo medroso traduz uma visão de Deus ou do próprio Jesus de modo negativo, quando na realidade o objetivo é combater a omissão. A parábola não diz, mas os que investiram os seus talentos certamente correram riscos e até falharam, mas não ficaram parados.

7. Quem sabe fazer acontecer multiplica, como quem acumula riqueza, os seus talentos crescerão sempre mais. Tudo indica que a parábola é um recado às comunidades cristãs, mas isso não impede de lermos a partir do plano pessoal. A figura da mulher na 1ª leitura pode simbolizar a comunidade, a própria Igreja, mas cada um de nós que não permite que a simples acomodação nos impeça de gerar mais vida a partir da nossa própria vida.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de novembro de 2017

(Sb 18,14-16; 19,6-9; Sl 105[105]; Lc 18,1-8) 
32ª Semana do Tempo Comum.

As famosas bem-aventuranças encontradas no Novo Testamento também fazem parte da linguagem sapiencial dos salmos que estamos refletindo, uma felicitação acompanhada de uma certeza de tal pessoa faz ou vive tal realidade. Elas podem ser dirigidas a um indivíduo ou a todo o povo como prova da intervenção divina em seu favor. “Entre as situações ou fatos nos quais se aprecia a intervenção divina, e que por isso são temas de bem-aventuranças, encontramos a experiência de Deus vivida no perdão dos pecados (32,1.2), a misericórdia com os pobres e enfermos (41,2), o dom de uma descendência numerosa (127,5), a alegria de servir a Deus no Templo (65,5; 85,5), ou o ânimo e a força que o Senhor infunde para que se possa empreender o longo caminho até Jerusalém (84,6). O Messias será chamado de bem-aventurado por todas as nações (72,17), como Maria será por todas as gerações (Lc 1,48)” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

A primeira leitura parece fazer menção à libertação do Egito, por isso o salmo 105 (vv. 2-3.36-37.42-43) canta as maravilhas realizadas por Deus. “A alegria é o tema presente no salmo: a alegria do cântico, com o qual o povo que procura o Senhor é convidado a participar; exultação pelos prodígios que o Senhor realizou durante o êxodo; alegria dos ‘escolhidos’ (v. 43), de quem agora tem a consciência de ser o povo escolhido” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 17 de novembro de 2017

(Sb 13,1-9; Sl 18A[19]; Lc 17,26-37) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Uma constante nos salmos é a menção do dia e da noite, como realidades concretas saídas das mãos do Criador e podem expressar a totalidade, mesmo se as expressões pareçam opostas. “De acordo com a lei do paralelismo, que é a maior característica da poesia hebraica, com frequência a noite e o dia são mencionados em separado, nos dois hemistíquios de um mesmo versículo, como se sugerisse que, por cima da alternância de ambos, existe alguma coisa que permanece constante. [...] Quanto ao significado específico do dia e da noite, tomados em separado, é ambivalente. Por um lado, toda a história da salvação é uma luta entre o bem e o mal, simbolizados respectivamente pela luz e pelas trevas, ou, o que dá no mesmo, pelo dia e pela noite. A história começa com as trevas iniciais, e o combate chega ao seu paroxismo com a Paixão (‘mas esta é a vossa hora, e é o império das trevas!’, diz Jesus aos que vão prendê-lo; Lc 22,53), culmina na vitória do amanhecer da Páscoa e termina com a visão da Jerusalém celestial, que não conhece a noite, nem precisa que o sol e a lua a iluminem, porque é iluminado pela glória de Deus e sua lâmpada é o Cordeiro de Deus (cf. Ap 21,23)” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O autor dos livros da Sabedoria comenta a insensatez dos que não reconhecem a Deus a partir da própria criação, mas o nosso salmista não perde vista as ‘pegadas’ deixadas pelo criador. No salmo 19 (vv. 2-5), “o salmista engloba o espaço (‘céus’ e ‘firmamento’, v.2) e os tempos (‘dia’ e ‘noite’, v. 3) no anúncio da glória de Deus. Trata-se de um anúncio que não é linguagem, que não tem palavras nem sons, e, no entanto, espalha-se por todo o mundo. Nasce da visibilidade das obras do Deus criador” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 16 de novembro de 2017

(Sb 7,22—8,1; Sl 118[119]; Lc 17,20-25) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Na linguagem de alguns salmos imprecatórios reflete-se a sede de justiça que existe em todos os tempos. O ser humano embrutecido pela carência dos recursos mais elementares tem dificuldade de elevar seu pensamento a Deus e sua linguagem pode ser bastante pesada como expressão do seu sentimento. “Imaginemos que apanhamos o Saltério que recebemos devotamente da Igreja e começamos a suprimir os salmos imprecatórios. O que? Há homens que sofrem? Pois isso não me interessa. Eu vou à Igreja ao encontro do divino Mestre, do doce Jesus que me fala ao coração. Quanto ao resto, pouco me importa. Não só não me interessa como me incomoda. Vamos recortar o Saltério, que foi mal construído. O Espírito Santo se distraiu e deixou que ali entrassem de contrabando tantos salmos. Os salmos que se preocupam com o próximo, com os oprimidos, com os explorados, estão fora de lugar... Ficaremos só com os salmos bonitos, os salmos doces, nos quais brilha o sol e ecoam a flauta e o pandeiro” (Luis Alonso Schokel IN Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

A sabedoria, descrita em suas qualidades, é aqui relacionada à Palavra de Deus com o salmo 119 (vv. 89-91.130.135.175). “Estes versículos fazem parte de um longo salmo alfabético (cada uma das vinte e duas estrofes começa com uma letra do alfabeto hebraico), que contém um hino de ação de graças ao Senhor pela dádiva da Torá. O salmista louva a estabilidade e a fidelidade da Palavra, pedindo para si mesmo a luz do ensinamento e uma vida de louvor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 15 de novembro de 2017

(Sb 6,1-11; Sl 81[82]; Lc 17,11-19) 
32ª Semana do Tempo Comum.

A linguagem forte e violenta de alguns salmos pode nos assustar e considerar a sua origem de uma cultura primitiva, de uma sociedade cruel, mas mesmo com toda nossa evolução humana, podemos considerar nossa sociedade menos violenta e assustadora? Pense no aborto, com toda a sua maquiagem; nos que morrem de fome diante da indiferença de tantas nações opulentas? E as guerras espalhadas pelo mundo com tantas vítimas e particularmente crianças? “Mas atenção: não se trata de colocar a culpa por tudo isso sobre certos estados e determinados governantes. Na verdade, somos corresponsáveis e solidários com o mal no mundo, e nós, os cristãos, o somos de modo especial. Somos particularmente responsáveis pelo fato de até na Igreja, e nas comunidades que a constituem, imperar uma caridade menos perfeita. Com os versículos de que estamos falando, certamente nos confessaremos responsáveis pela parte de culpa que temos no mal do mundo e nos males da Igreja” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Fragmentos do salmo 82 (vv. 3-4.6-7) complementam a reflexão do autor do livro da Sabedoria sobre os poderosos e sua responsabilidade diante do que lhe foi confiado.  “O cenário do salmo é o de uma corte celeste. Deus julga as obras dos deuses, encarregados de guardar justiça entre os homens. Acusa-os de não terem cumprido o seu dever e condena-os à morte (v. 7). De agora em diante será Ele o único juiz, o Senhor de Israel, o único Deus” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 14 de novembro de 2017

(Sb 2,23—3,9; Sl 33[34]; Lc 17,7-10) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Nos salmos que rezamos tentamos contemplar e interiorizar, a partir das palavras do salmista, na nossa própria alma, como se o lêssemos a partir de nossa experiência pessoal. Uma primeira pista de como rezar os salmos imprecatórios: “Os sentimentos de vingança, ódio ou rancor que se refletem naquelas frases, entendidas de acordo com seu teor literal, não serão precisamente aqueles que nosso coração abriga? Ao invés de resistir em rezar aquele salmo, ou aquele versículo, considerando-o pouco cristão e, portanto, indigno de nossa alta perfeição, por acossa não deveríamos dizer de maneira mais profunda, tornando-o nosso, como confissão de nosso pouco amor, e deste modo pedir a Deus que nos perdoe e nos dê mais caridades para com o próximo?” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Ainda falando da ação interior da sabedoria no ser humano, o autor lembra que Deus não se deixa impressionar por grandezas exteriores, particularmente dos soberanos. Todo poder vem de Deus, por isso todos se lembrem que estão a serviço do Senhor e por consequências, dos pobres desse mundo. O nosso salmo 82 (vv. 3-4.6-7) apela para o devido cuidado para com eles. Atribuído a Asafe que luta contra a exploração e o abuso de poder contra os pobres e vulneráveis da sociedade. Um salmo de sabedoria. “O que deveria levar todos os líderes civis a pararem com a injustiça é a percepção de que Deus está examinando cuidadosamente todas as decisões que o líder ou juiz toma. Deus procura compaixão, misericórdia e defesa dos mais vulneráveis ao ataque ou à exploração” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 13 de novembro de 2017

(Sb 1,1-7; Sl 138[139]; Lc 17,1-6) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Uma das maiores dificuldades para os que desejam rezar com os salmos, são os chamados salmos imprecatórios. Chamamos os assim os salmos que contêm imprecações, ou seja, maldições, desejo que algo de ruim aconteça a alguém; tomados assim, cruamente nos lembram ritos de bruxaria ou magia. Nessa esteira encontramos três salmos mais diretamente inseridos nessa categoria: Sl 58, 83 e 109; os versículos encontrados em outros salmos comumente são omitidos na liturgia da palavra, mas não são omitidos para aqueles que fazem a Liturgia das Horas. Não se trata de uma censura da Igreja à Bíblia, pois o magistério não está acima da Palavra de Deus, a Igreja quer oferecer o melhor em termos de oração e ajudar na espiritualidade do nosso povo e no mais a deficiente formação bíblica e litúrgica do mesmo aconselhou unificar e não dispersar.

A primeira leitura desse dia é uma continuidade da reflexão sobre a sabedoria como dom divino para quem a busca. Ela mesma perscruta o íntimo do homem a respeito de seus sentimentos para com Deus, por isso o salmo 139 (vv. 1-10) vem casar-se com o contexto de oração com que nos colocamos diante da Palavra. “O salmo 139 é a magistral descrição que Davi faz das profundezas do conhecimento de Deus e da amplitude da presença de Deus. Ele não escreveu isso, no entanto, como um discurso teológico seco sobre determinados atributos do caráter de Deus. Davi escreveu-o de modo muito pessoal. Esse salmo é sobre o conhecimento que Deus tem de mim. É a história do foco de Deus em cada um de nós como indivíduos. É uma declaração de que estamos na mente de Deus, em seus pensamentos, cercados por seus cuidados, perto do seu coração” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

32º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sb 6,12-16; Sl 62[63]; 1Ts 4,13-18; Mt 25,1-13)

1. Em todos os tempos nos chamam a atenção aqueles que possuem uma sabedoria sobre as coisas da vida, que escrevem ou dizem coisas que nos fazem pensar e ponderar o estilo de vida que levamos. No mundo bíblico ela também é muito apreciada e alguns livros se dedicam a reproduzir o pensamento desses homens sábios, como Salomão.

2. Trata-se da arte de bem viver a partir de atitudes prudentes, controlando os próprios instintos, ponderando suas ações e procurando a humildade e a modéstia. Para o autor sagrado tudo isso é dom de Deus. Na primeira leitura ela é pintada com ares femininos. Para quem a procura, ela se antecipa. E este gozará de grande paz. Um convite para que também a busquemos ou desejemos.

3. O texto da 2ª leitura está bem situado nesse mês de novembro em que recordamos os nossos falecidos. A comunidade de Tessalônica andava inquieta quanto ao destino dos mesmos. Tal inquietação estava associada a uma expectativa pela vinda eminente de Cristo e Paulo recorre a algumas imagens para lhes aquietar o coração.

4. Paulo lembra que pelo Batismo estes estão associados ao próprio mistério da ressurreição. Vivos ou mortos, estaremos sempre com Cristo.

5. Se as imagens usadas por Paulo geram um certo impacto e despertam a imaginação, a parábola contada por Jesus também carrega na tinta em sua narrativa, gerando certa apreensão. Sem nos perdermos no mundo de interpretações possíveis da mesma, tentemos captar o seu significado ou a sua mensagem.

6. A volta de Cristo serve como base para a narrativa apresentada por Mateus, uma questão sempre presente desde os primórdios da Igreja. O tema da vigilância aparece em nossa liturgia no começo e no fim do ano litúrgico, ligando essa mesma realidade que meditamos a cada ano.

7. Tudo isso é uma chamada de conscientização dos cristãos para que não se percam no rumo das coisas do mundo, mas sejam sábios, vigilantes e prudentes. O azeite com que alimentamos nossa lamparina pode não ser suficiente para a longa espera que a vida nos submete.

8. Diferentemente de Lucas que trata da misericórdia de Jesus para com o bom ladrão, de última hora, Mateus diz que o resultado final tem que ser construído ao longo do caminho, pois como não se sabe quando e não dá para improvisar. Assim ele nos convida a uma certa seriedade nas escolhas que devemos fazer.

9. Se a vigilância parece sugerir algo para o futuro, o próprio Mateus nos dirá de hoje a quinze dias que ele também já se encontra em nosso meio. O que nos prepara para um encontro futuro é a descoberta de sua presença em nosso meio em situações e presenças que nos desafiam e nos convidam a sairmos de nós mesmos.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de novembro de 2017

(Rm 16,3-9.16.22-27; Sl 144[145]; Lc 16,9-15) 
31ª Semana do Tempo Comum.

Apesar das sérias críticas que Jesus lança sobre o legalismo nos evangelhos, é preciso compreender que para muitos judeus piedosos, a Lei era uma espécie de caminho de identificação pessoal com a vontade de Deus. Essa preocupação detalhista queria ser uma expressão de amor, pois onde existe amor verdadeiro, ele se traduz em detalhes, como quem está atento e se antecipa para agradar a quem ama, sem que esse venha a expressar a nossa falta de atenção. “Se a Lei de Moisés pode infundir tanto amor a Deus e dar força à criatura humana, o que não deverá ser para nós a Lei de Cristo! Eis aqui a regra de ouro para rezar os Salmos da Lei: onde aparece a palavra ‘Lei’, ou algum de seus sinônimos (preceito, aliança, mandamento etc.), basta pensar na Lei de Cristo, no Espírito Santo, no evangelho, no sermão da montanha, na graça, ou no mandamento novo do amor. Então nos parecerá muito natural dizer a Cristo que sua Lei é mais doce que o mel e mais preciosa que o ouro fino”  (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Paulo faz suas saudações finais e agradecimento a Deus por confirmar a seus leitores na fé transmitida por ele no evangelho, realização das Escrituras proféticas. A liturgia reza tudo isso no salmo 145 (vv. 2-5.10-11) que bendiz a Deus pelas suas obras e pelo modo como aqueles que nele creem divulgam suas obras e com louvores O bendizem! “O Senhor Deus, forte e glorioso, não permanece ‘fechado’ na Sua grandeza, mas manifesta-Se através dos prodígios salvíficos em favor do homem. Alcançados em Cristo pelo Seu projeto salvífico, unimo-nos ao salmista, reconhecendo e louvando a glória do Senhor, manifestada para a nossa salvação” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 10 de novembro de 2017

(Rm 15,14-21; Sl 97[98]; Lc 16,1-8) 
31ª Semana do Tempo Comum.

“É bastante significativo o fato de que, como prólogo a todo o livro de orações de Israel, tenha sido anteposto o Salmo 1, que proclama a bem-aventurança daquele que deixa o caminho dos pecadores (os que vivem sem a Lei) e ‘é na Lei de Javé que põe seu deleite, e nela medita dia e noite!’ O israelita piedoso tem fome e sede de conhecer e cumprir esta Lei, como forma de conhecer e amar a Deus: ‘Mostra-me, ó Javé, os teus caminhos, ensina-me os teus roteiros. Encaminha-me na tua verdade e me ensina, pois Tu és o Deus que sempre salva’ (25,4-5). O tratamento dado à Lei nestes salmos tão pessoais é um prelúdio da nova aliança, cuja característica, segundo os profetas, deverá ser a interiorização da Lei, que não será apenas cumprida ou suportada (quando não violada), mas entendida e ardentemente desejada, fonte de felicidade em seu próprio cumprimento (cf. Ez 36,27; Jr 31,33-34)” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Se Paulo foi um instrumento de Deus para fazer chegar a salvação aos pagãos, o salmo 98 (vv. 1-4b) canta justamente o modo como Deus fez chegar a Sua salvação (“vitória” – em algumas traduções) a todos os povos, por isso canta ao Senhor um canto novo. “O acontecer salvífico do passado e do futuro se concentra na ‘representação’ do culto festivo (vv. 1-3.9) para formar um único ato salvífico sagrado e eficaz, que o hino da comunidade reflete com viveza. Dividido em três estrofes, o hino litúrgico fala nos vv. 1-3 dos atos prodigiosos de Iahweh, nos vv. 7-9 conclama o mundo, e nos vv. 7-9 a natureza a prestar homenagem a Deus em seu advento com gritos de grande júbilo” (Artur Weiser – Os Salmos – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 09 de novembro de 2017

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 
Dedicação da Basílica do Latrão.

Três salmos têm a Lei como tema principal: 1, 19B (segunda parte do salmo) e 119. Isso não quer dizer que esse tema não esteja presente em outros salmos. “É evidente que, para o judeu crente, a Lei não é apenas algo que deve ser cumprido, mas objeto de devoção e fervor. Isso é um choque para a nossa mentalidade ante legalista. Para o israelita, a Lei aparece como culminação de uma história de amor: Javé tira seu povo da escravidão no Egito e o leva amorosamente entre prodígios e maravilhas, pelo mar e pelo deserto, até a montanha santa, onde firma com ele uma aliança e lhe dá uma Lei. Os preceitos divinos são inseparáveis da história da salvação” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

A presença de Deus entre nós também se expressa pelos lugares sagrados ou a Ele consagrados, como essa basílica do Latrão, a primeira igreja oficial (prédio) cristã e por isso mãe de todas as igrejas cristãs católicas espalhadas no mundo. É essa presença do Senhor que canta o salmo 46 (vv. 2-6.8-10) expressando também sua confiança absoluta, talvez escrito quando Deus libertou Jerusalém do ataque do exército assírio nos dias do rei Ezequias. “O autor do salmo 46 confiava que Deus iria ajuda-lo de duas maneiras. Primeiro, Deus é um refúgio, um lugar seguro para onde podemos correr em busca de proteção. Segundo, Deus é uma ajuda, uma fonte de força interior quando calamidades ou problemas surgem na vida. Às vezes, Deus nos serve de escudo contra os problemas que nos cercam (uma fortaleza), e, em outras, Deus permite que passemos por provações, mas ele passa por elas conosco” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 08 de novembro de 2017

(Rm 13,8-10; Sl 111[112]; Lc 14,25-33) 
31ª Semana do Tempo Comum.

O tema da Lei (Torá – composto pelos primeiros cinco livros da Bíblia (Pentateuco), mais que lei significa propriamente “ensinamento”) aparece em alguns salmos, misturados ao elemento histórico. “A história culmina na aliança do Sinai, na qual Javé se comprometeu com seu povo, e este com ele, e lhe deu a Lei. Daí o fato de haver, nos salmos que chamamos de históricos, numerosas referências à Lei. O 78 propõe um ‘ensinamento’ que terá de ser transmitido de geração em geração. ‘Ele pôs em Jacó um testemunho, em Israel uma lei foi feita por Ele; a nosso pais Ele deu ordem que transmitissem a seus próprios filhos’; depois, como já vimos, recorda as rebeliões contra a Lei. O 105 termina sua ‘história’ como de costume, com a instalação em Canaã, mas acrescenta a finalidade última do dom da terra prometida: ‘As terras das nações Javé deu a eles (...) para observarem os seus decretos e guardarem suas leis...’. Salmo 106 tem logo no princípio (v. 3) uma bem-aventurança legal: ‘Felizes aqueles que guardam o direito e em todo tempo praticam a justiça’” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Paulo reafirma o mandamento de Jesus como uma espécie de resumo dos mandamentos. Amar o outro como a si mesmo, requer da parte de quem crê ver no outro uma extensão de si mesmo e preocupar-se, ocupar-se com o outro, como quem se ocupa de si mesmo. Como estamos falando da Lei, nada melhor que o salmo 112 (vv. 1-2.4-5.9) para resumir o que aqui colocamos. De autoria desconhecida, é um temente a Deus cujo modo de viver honra a Deus. “Uma vez que este é um salmo de sabedoria, ele descreve a vida como ela normalmente funciona. Normalmente, aqueles que andam na obediência e amor diante de Deus conhecerão a bondade e a bênção dele. Mas precisamos deixar espaço para a exceção à regra. Às vezes, pessoas piedosas passam por provações, problemas, doenças e desemprego, não como uma punição, mas como parte do processo de refinamento de Deus. [...] Deus o está forçando e aquecendo na fornalha da aflição a fim de moldá-lo à semelhança de Cristo em seu caráter. É difícil de observar. Seus amigos querem resolver o problema; Deus tem outros planos” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos- Thomas Nelson Brasil).   

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 07 de novembro de 2017

(Rm 12,5-16; Sl 130[131]; Lc 14,15-24) 
31ª Semana do Tempo Comum.

Os salmos históricos tomam certos fatos como tema do louvor divino. Podemos perceber isso ao início e fim do salmo 104 e 105 num convite a si mesmo (alma) a louvar a Deus. No salmo 78 a história é lembrada como argumento para convidar o povo à conversão, para reconhecer-se no pecado dos antepassados.  Um outro tema presente nos salmos históricos é a criação e Lei, mesmo não sendo próprio desse gênero. “O primeiro desses temas é o da criação que, em Gênesis, foi anteposto como prólogo à história da escolha dos patriarcas. Não são poucos os salmos que colocam em paralelo esta dupla ordem das maravilhas realizadas por Deus: as que contemplamos na natureza criada, e as de suas intervenções na história. O salmo 136 lembra primeiro a criação dos céus, do sol e da lua, e depois recorda as pragas do Egito, o êxodo, as vitórias sobre os reis pagãos e a terra dada como herança a Israel, tudo isso alternando com a proclamação confiada e agradecida de que ‘seu amor é eterno’” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Para casar com o final da 1ª leitura proclamada que convida à uma atitude de humildade, o pequeno salmo 131, aqui na íntegra, nos ajuda a rezar essa confiança em Deus que tudo conhece. Também atribuído a Davi, considerado um homem humilde e sábio. Expressa confiança e ao mesmo tempo aconselha rezarmos este salmo quando somos tentados a achar que somos melhores do que pensamos. “Alguns estudiosos do Antigo Testamento acreditam que este salmo reflita a resposta de Davi à sua esposa, Mical, ao criticá-lo por dançar diante do Senhor quando a arca da aliança estava sendo levada para a cidade de Jerusalém. Mical sentiu vergonha ao ver o rei, seu marido, saltando de um lado para o outro em um louvor desinibido a Deus. Ela o chamou de um homem vulgar (2Sm 6,20). Em resposta, Davi disse ‘[Eu] me rebaixarei ainda mais, e me humilharei aos meus próprios olhos’ (2Sm 6,22). Talvez enquanto refletia sobre essa experiência, Davi tenha escrito as palavras do salmo 131 – ‘Senhor, o meu coração não é orgulhoso’ (v. 1). O salmo é um cântico de humilde confiança, fluindo de um coração que reconhece as profundezas da graça e da misericórdia de Deus. Diante de Deus, todos tiramos os sapatos e curvamos a cabeça” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 06 de novembro de 2017

(Rm 11,29-36; Sl 68[69]; Lc 14,12-14) 
31ª Semana do Tempo Comum.

Retomando a nossa reflexão sobre os salmos difíceis do Saltério, uma palavra sobre os salmos históricos (por exemplo: Sl 77[78]; 104[105]; 105[106]). Eles trazem resumos sobre fatos que encontramos nos Livros Históricos, por isso alguns consideram que eles servem mais à catequese do que a oração. Alguns chegam a ser demasiadamente longos. Mas não é a intenção destes informar fatos passados, mas mencionando alguns fatos oferecem uma panorâmica da história da salvação com intenções culturais e piedosas que precisamos estar atentos. “A primeira dessas intenções é professar a fé em um Deus que salva por meio da sua intervenção na história dos homens. A Igreja tem invariavelmente a historicidade da Bíblia. Não pretende com isso sustentar a rigorosa exatidão de todos e cada um dos episódios, com seus mínimos detalhes e da mesma forma como são descritos. A fé judeu-cristã é histórica no sentido de que não tem por objetivo principal algumas ideias, mas determinados fatos, para que não fiquemos apenas em ideias ou sentimentos. Nossa piedade não pode ser uma evasão intimista: é preciso que também seja histórica, isto é, que traduza na realidade das existências e dos comportamentos, tanto em relação a Deus como no que diz respeito aos homens” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 69 (vv. 30-31.33-34.36-37) tenta responder à primeira leitura na dificuldade humana de alcançar o pensamento divino. Atribuído a Davi, de um modo geral apresenta um homem em crise e depressivo, no Novo Testamento ele é citado dando voz a Jesus numa espécie de vislumbre da oposição que enfrentaria dos inimigos que desejam a sua morte. “O salmista estava cansado de pedir ajuda repetidamente (v. 3), pois o Senhor ainda não havia respondido à sua necessidade. Ele havia orado tão seriamente que a sua garganta estava seca e queimava (v. 3). Seus olhos fraquejaram enquanto ele esperava pela libertação iminente de Deus (v. 3). Mesmo estando angustiado e sem conseguir ver saída, Davi buscou em Deus o livramento e esperou por ele. Às vezes, Deus permite que seus filhos permaneçam em uma situação desesperadora para que continuem a confiar em sua bondade, e, assim, quando a libertação vier, ela pareça muito mais maravilhosa” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


 Pe. João Bosco Vieira Leite