Terça, 31 de outubro de 2017

(Rm 8,18-25; Sl 125[126]; Lc 31,18-21) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“Devemos observar, por fim, que a aplicação a Cristo não é uma espécie de problema matemático, que só admite uma solução exata, ou a decodificação de um texto escrito em cifras, mas uma questão de intuição e sensibilidade, um modo bastante flexível de proceder. Um mesmo salmo, ou até um mesmo versículo, pode ser cristificado algumas vezes por baixo, e outras por cima. Por exemplo, o Salmo 119, em que cada versículo é uma expressão de amor e fidelidade à Lei, reflete um clima de hostilidade ambiental, desprezo e até perseguição aberta. Podemos colocá-lo na boca de Jesus Cristo, cercado de inimigos que lhe preparam uma armadilha e finalmente o levam ao patíbulo, e do mesmo como o utiliza a liturgia da Paixão. Mas, depois de sua Ressurreição, o Senhor já está ‘em cima’ e, em contrapartida, sua Igreja continua aqui ‘embaixo’, hostilizada e perseguida como o foi seu Mestre. Neste caso, é ela que diz o salmo a Cristo glorificado, que prometeu não deixa-la órfã” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

A liturgia se serve do salmo 126 (na íntegra), que reza a ação de graças do retorno do exílio, ato libertador de Deus, para recordar, em sintonia com Paulo, que aqui também vivemos exilados e ansiamos pelo gesto definitivo de “adoção filial e libertação para o nosso corpo”. O retorno não foi tão simples e bonito quanto parece.  O salmo é também uma constatação do momento de dor atravessado por eles. O exílio não foi fácil, o retorno também não. Há um misto de alegria e tristeza em nosso salmo. “Talvez essa seja sua situação enquanto lê isto – um lugar difícil, desejando que algo mude, esperando para ir para casa, querendo que as coisas fossem diferentes. Deus está com você nesse lugar difícil. Mesmo que você se sinta longe dele, ele se faz presente. Busque a face e o perdão de Deus – e sua graça restauradora. ‘Aqueles que semeiam com lágrimas, com cantos de alegria colherão’ (v. 5). A promessa ainda é verdadeira”.  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de outubro de 2017

(Rm 8,12-17; Sl 67[68]; Lc 13,10-17) 
30ª Semana do Tempo Comum.

Na semana anterior falamos de como os salmos podem emprestar voz a Cristo em seu diálogo com o Pai. O segundo caminho para cristificar os salmos é colocar a Cristo no “tu” do salmo. Como havíamos dito anteriormente, cristificar “por cima”. O fiel ou a própria Igreja toma a palavra do salmista que se dirige a Deus, tomando-o pelo próprio Jesus. Assim, as primeiras comunidades cristãs professavam de modo implícito, porém inequívoco, sua fé na divindade de Jesus. Assim podemos verificar nesses salmos o seu correspondente no Novo Testamento: Sl 2,8-9 (Ap 2,26-27; 19,15); 7,10 (Ap 23); 8,3 (Mt 21,26); 18,3(Lc 1,69) etc.

O nosso salmo 68 (vv. 2-4.6-7.20-21) pouco se coaduna com o texto proposto da primeira leitura, mas expressa a alegria de ter a Deus como aquele que é força protetora e em quem colocamos nossa confiança filial. Texto atribuído a Davi. Prestemos atenção aos nomes e títulos que ele atribui a Deus. Qual deles você usaria para sua oração pessoal? “A Igreja primitiva lia este salmo como um prenuncio da ressurreição e ascensão de Jesus. O glorioso governo de Deus sobre seu povo e, por fim, sobre toda a terra se cumprirá em Deus Filho. O apóstolo Paulo refere-se ao salmo 68,18 em Efésios 4,8-13 como uma imagem da exaltação de Jesus em majestade ao lugar mais alto de autoridade. Jesus é o Deus que salva! Jesus é o Senhor soberano!” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


 Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum- Ano A

(Ex 22,20-26; Sl 17[18]; 1Ts 1,5c-10; Mt 22,34-40).

1. Num tempo histórico onde o estrangeiro era hostilizado simplesmente por ser estrangeiro, Israel já possuía uma lei que o defendia de ações discriminatórias. E não só o estrangeiro, mas a viúva e órfão também precisavam ser protegidos de alguma forma. É Deus que se coloca ao lado dos mais vulneráveis.

2. Tudo isso para lembrar a Israel que um dia ele já passou por essa experiência, no Egito, no exílio. Colocar-se no lugar do outro ajuda a rever as atitudes. Mas esse tipo de exploração do outro em sua fragilidade não é coisa de outros tempos. Ela se mantem presente na exploração, no roubo e engano de nossos tempos. Cada vez mais contemplamos situações que beiram o absurdo. Que vão desde a merenda escolar até a frágil situação da perda de um ente querido. O texto nos lembra que Deus não é indiferente a esses acontecimentos.

3. Ao expressar seu carinho pela comunidade de Tessalônica, Paulo nos revela que entre as comunidades cristãs se mantinha uma comunicação e partilha da caminhada. Também nos fala da força do testemunho dessa comunidade na expansão do Evangelho. Longe de todo esse barulho dos meios de comunicação de nossa época, há uma fé que se comunica não só no que diz, mas no modo como vive.

4. Sabemos que no tempo de Jesus, para além dos mandamentos divinos havia uma série de proibições e de ações a serem cumpridas. Nesse difícil caldeirão de regras, perguntava-se, afinal, o que é o mais importante?

5. Israel trazia consigo a constante memória do Deuteronômio: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (6,5). No livro do Levítico já havia a recomendação de buscar amar o outro como a si mesmo. Onde está a novidade de Jesus?

6. Está na síntese de tudo em dois únicos mandamentos que acabam se equiparando, algo impensável na época. Amar a Deus tem como princípio a escuta de sua Palavra. E aqui entra, por consequência, a oração como busca de viver a sua vontade.

7. Na compreensão de Jesus, o amor a Deus não passa pela observância de preceitos, mas pelas coisas do dia a dia. É preciso prestar atenção e ter a disponibilidade para com os movimentos da vida. Saber colocar-se no lugar do outro, em suas necessidades, pode ser um indicativo de como devo agir para concretizar esse amor a Deus.

8. Comumente o amor a Deus baseado no cumprimento de alguma norma poderia nos deixar tranquilos. Mas Jesus deixa claro em seu falar e agir que não existe amor de fato se não nos comprometemos com o outro. Entre eu e Deus, ele é o que de mais concreto existe. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de outubro de 2017

(Ef 2,19-22; Sl 18(19A); Lc 6,12-19) 
Santos Simão e Judas Tadeu, Apóstolos.

Diante do que falamos no dia anterior sobre esses salmos cristificados “por baixo”, o salmista empresta voz a Cristo que fala ao Pai, deixo alguns exemplos que podemos conferir, Salmo e Novo Testamento: Sl 6,4 (Jo 12,27); 6,9 (Mt 7,23; Lc 13,27); 16,8-11 (At 2,25-28.31; cf. At 15,35.37); 22,2.8.19.23 (Mt 27,35.39.46; Mc 15,24.29; Jo 19,24; Hb 1,12) etc. Um pequeno momento de estudo bíblico...

Para celebrar as festas dos santos apóstolos, a Igreja nos oferece o salmo 19A (vv. 1-5) em seus primeiros versículos, considerado a primeira parte, como expressão dessa glória do Senhor que se espalha pelo mundo na vida daqueles que n’Ele creem.  Já comentamos esse salmo em dois outros momentos anteriores (21 de setembro e 17 de outubro). A 1ª leitura nos diz como pelo batismo passamos a fazer parte desse edifício que é a Igreja, que tem Cristo como pedra principal. Essa realidade é fruto do trabalho evangelizador que vem serenamente ecoando ao longo da história desde aquele momento em que Cristo escolheu os doze. Nossa oração de gratidão e reconhecimento por todos aqueles que fizeram parte de nosso processo evangelizador. 


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de outubro de 2017

(Rm 7,18-25; Sl 118[119]; Lc 12,54-59) 
29ª Semana do Tempo Comum.

São dois grupos de salmos que, particularmente, emprestam voz a Jesus ao dirigir-se ao Pai. O primeiro é dos salmos dos pobres de Javé (anawin), considerados piedosos e místicos, cujas atitudes prefiguravam as de Jesus, no santo temor do Senhor buscavam obedecer as suas ordens, na consciência de fragilidade e do seu pecado carregavam consigo a certeza de serem filhos de Deus. O segundo grupo de salmos que se encaixam bem na boca de Jesus é o do justo sofredor, do homem perseguido, caluniado, torturado que, no entanto, não se desespera, nem se vinga, mas põe sua confiança, sua causa e sua vida nas mãos de Deus, como bem vislumbramos, particularmente, na liturgia da Semana Santa. Salmos que pedem justiça e misericórdia. São salmos que devem ser lidos à luz dos evangelhos, unindo-nos a Cristo, que os diz ao Pai.

Paulo nos fala dessa luta interior entre o bem que devemos fazer e o que de fato, às vezes, fazemos. Por isso o salmista eleva sua oração pedindo ajuda: Sl 119 (vv. 66.68.76-77.93-94). Este salmo gira em torno da excelência da Palavra escrita; em sua sabedoria quer nos indicar a direção certa. É o mais longo dos salmos e o maior capítulo da Bíblia. Foi habilmente construído. “Esse salmista não conseguia descrever o quanto a Palavra escrita de Deus significava. Ele não via a Escritura como um fardo a ser obedecido ou um quebra-cabeça para montar; ele via a verdade de Deus como um tesouro para ser amado, aprendido e vivido. O salmo 119 é uma canção de amor à Bíblia. Quase todos os versículos se referem, de alguma forma, à Palavra escrita de Deus. [...] Talvez você não saiba tudo o que está na Bíblia, mas ali está. O que está nela é para que todos possam desfrutar e aprender. Deus não é mesquinho nem sigiloso. Ele não dá sua verdade só para alguns que guardam zelosamente os segredos de Deus. Deus colocou tudo na mesa”  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 26 de outubro de 2017

(Rm 6,19-23; Sl 1; Lc 12,49-53) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“São incontestáveis os salmos, ou os versículos, que podemos colocar na boca de Jesus, dizendo-o ao Pai. Partimos da certeza de que Jesus orou ao Pai por meio de salmos. Um modo de entrar precisamente no sentido cristão dos salmos será procurar imaginar o que aquele salmo dizia a Jesus quando o rezava, o que dizia Jesus ao Pai por meio daquele salmo” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola). 

A liturgia nos traz de volta ao começo do saltério com o salmo 1, omitindo apenas o v. 5, em resposta a esse andar na presença do Senhor desejado por Paulo, um andar na ‘justiça, em vista da santificação’. É considerado um salmo de sabedoria, cujo autor desconhecemos, que nos exorta a fazer as escolhas certas. “Na Bíblia, a vida é retratada como uma jornada trilhada em um dos dois caminhos – o caminho do justo e o caminho do ímpio. É com essa escolha que nos deparamos logo ao início de Salmos. Quando os editores piedosos nos dias do Antigo Testamento estavam dando os toques finais em toda a coleção de cânticos, eles decidiram colocar esse como o primeiro salmo. Antes de chegarmos aos louvores e gritos de alegria ou ao choro e desespero dos salmos, precisamos fazer uma escolha. Em que caminho queremos andar na vida? O caminho com Deus ou o caminho sem Deus? O caminho dele ou o meu caminho? Se você está buscando outras opções, não há nenhuma. Essas são as duas únicas na mente de Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de outubro de 2017

(Rm 6,12-18; Sl 123[124]; Lc 12,39-48) 
29ª Semana do Tempo Comum.

“A estrutura da linguagem dos salmos é quase sempre um ‘eu’, o do salmista, que se dirige a um ‘tu’, que é Deus. Algumas vezes, de maneira retórica, o salmista exorta a si mesmo, dizendo, por exemplo, ‘Alma minha, exaltai o Senhor’. Em outros casos apela poeticamente a toda a criação, convidando-a a louvar a Deus. Mas a estrutura básica é a do ‘eu’ que fala a um ‘tu’. [...] diremos que eles podem ser cristificado ‘por cima’, colocando a Cristo no lugar do Tu divino ao qual o salmo se dirige e rezando-o a ele; ou ‘por baixo’, identificando a Cristo com o salmista, e dizendo-o com Cristo ao Pai” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola). 

A vida nova do batismo é uma luta contra o pecado, da escravidão para a liberdade, pela graça de Cristo. Para dar eco ao pensamento paulino nossa liturgia insere o salmo 124, na íntegra, na nossa liturgia da Palavra. Davi retoma um velho cântico do seu povo para reconhecer a libertação de Deus nesse tom de ação de graças pela proteção divina. É desse salmo que herdamos a expressão muitas vezes usada: “A nossa proteção está no nome do Senhor. Do Senhor que fez o céu e a terra” (cf. v. 8) para invocar uma bênção, um pedido. “Deus certamente tem nos livrado da aflição espiritual, e muitas vezes nos livra do perigo físico. A parte triste é que são raras as vezes em que lhe agradecemos pela proteção e pelo livramento que ele nos dá. Davi queria que percebêssemos que, se o Senhor não estivesse nos protegendo, pereceríamos num piscar de olhos. Dia após dia, decisão após decisão, Deus nos guia como viajantes na jornada da vida. Todos os dias ele nos impede de cair em armadilhas e de nos desviar do caminho. E todos os dias deveríamos ver a gratidão pela bondade de Deus brotando de nossos lábios” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de outubro de 2017

(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39[40]; Lc 12,35-38) 
29ª Semana do Tempo Comum.

Como já havíamos colocado, é preciso partir do sentido literal, para não perder a mensagem humana e os ensinamentos religiosos do Antigo Testamento, mas não se pode permanecer nele. Se a Igreja adotou o Saltério como seu livro oficial de oração é porque, à luz do Novo Testamento e dos Padres, todo ele é interpretado como uma imensa profecia de Cristo e da Igreja. Veremos um pouco disso a seguir.

Falando dessa leitura cristológica dos salmos, o salmo 40 (vv. 7-10.17) empresta voz àquele que virá para fazer a vontade de Deus, oferecendo-se como vítima agradável pela redenção humana. “Os versículos 6-8 do salmo 40 são citados aos Hebreus no Novo Testamento, e aplicados a Jesus. Veja como a conexão funciona. Davi havia sido escolhido por Deus como rei de Israel, porque tinha um desejo de obedecer totalmente ao Senhor (1Samuel 16,7; Atos 13,22-23). Da descendência de Davi, Deus trouxe Jesus, o Libertador prometido – e Jesus segue a tradição davídica de obediência ao Pai. Você provavelmente nunca viu essas palavras em um cartão de Natal, mas é ali que elas deveriam estar. Pouco antes de sair do céu e entrar na história humana, Jesus empenhou sua obediência ao Pai nas palavras do Salmo 40,6-8. (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de outubro de 2017

(Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 
29ª Semana do Tempo Comum.

Se na sua oração pessoal você se dedica a procurar um versículo em particular e nele se aprofunda e tenta memoriza-lo, não julgue que esteja perdendo tempo: “É comum nos queixarmos das distrações na oração, mas talvez tivéssemos que aprender a nos ‘distrair’ desse modo. [...] Na catequese dos salmos, um exercício bastante prático será procurar por versículos aplicáveis a diferentes finalidades ou situações. Com que frase de salmo você celebraria o Natal?, um casamento, uma primeira comunhão? Com qual delas daria os pêsames por uma perda familiar? Que versículo poderia ser posto à porta da casa, no sacrário ou na sala de jantar?”  (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Ainda na reflexão sobre a fé de Abraão, o nosso salmo vem do Novo Testamento, do Cântico de Zacarias (Lc 1, 68-75), para reforçar o pensamento paulino. Em Cristo se cumprirão as promessas salvíficas dirigidas a Abraão, para confirmar que o Novo Testamento é o cumprimento daquilo que o Antigo Testamento anunciou. “A história de Abraão ensinou que o elemento fundamental para estarmos em relação com Deus é a fé, ou seja, a atitude de abertura à sua atuação. Ora esta mesma fé é interpelada a reconhecer que a obra definitiva do Senhor coincide com o mistério pascal do Filho. Abrir-se àquilo que Deus faz na Cruz e ressurreição do Filho é acreditar que n’Ele somos acolhidos incondicionalmente, e que Jesus ressuscitado continua a ser intermediário da nossa relação com o Senhor. Acreditar em Deus significa, por isso, necessariamente, acreditar no seu Filho Jesus, Nosso Senhor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 45,1.4-6; Sl 95[96]; 1Ts 1,1-5b; Mt 22,15-21)

1. Poderíamos pensar, depois da proclamação do evangelho que a liturgia vai abordar o tema da oposição entre o humano e o divino em termos de poder. Mas logo na 1ª leitura somos advertidos que não se trata de uma contraposição. Deus está acima de tudo. Como nos lembra uma dessa frases de caminhão: “Tudo é força, mas só Deus é poder”.

2. Ele é capaz de se servir dessas realidades humanas para realizar seu plano de salvação, como fez com Ciro, um comandante que acabará imperador na Babilônia, onde está o povo de Deus exilado. O profeta é um observador que percebe o movimento divino em meio as essas realidades para afirmar que o retorno à pátria foi obra da Providência divina.

3. O texto quer nos convidar a uma atenção sempre maior para discernirmos o agir de Deus em meio às realidades que atravessamos. Crer que Ele nos acompanha. Fatos e pessoas podem estar a serviço de Deus sem que eles o saibam.

4. Concluiremos esse ano litúrgico na 2ª leitura com a 1ª carta aos Tessalonicenses, que foi alvo do nosso estudo do mês da Bíblia desse ano. É 1º texto do Novo Testamento onde Paulo se dirige à comunidade fundada por ele nessa cidade portuária, com todos os problemas para a evangelização que essa realidade comporta.

5. Ele teve que deixar a comunidade precocemente sem firmar as suas bases de fé. Parte inquieto, mas tempos depois receberá notícias de que as sementes do evangelho ali lançadas por ele frutificaram. Paulo expressa nesses primeiros versículos sua alegria em saber que a sua oração tem sido ouvida; a comunidade se encontra alicerçada na fé, esperança e caridade. É Deus que conduz a obra por ele começada.

6. Vez em quando ouvimos alguma discussão sobre religião e estado, sobre o ensino religioso e por aí vai. Queiramos ou não, a religião é uma realidade presente que tem o seu lugar na organização da vida social e política.

7. O modo ardiloso com que se aproximam de Jesus os fariseus e simpatizantes de Herodes acabam por provocar a reflexão sobre essas duas realidades. Jesus se dá conta da armadilha e desloca a reflexão para um sentido mais amplo. Por trás da resposta de Jesus se afirma que a fé não pode ser vivida desligada das realidades deste mundo.

8. Nossa fé condiciona nossas escolhas, até mesmo no campo político e no cumprimento dos deveres de cidadão. Trazer consigo a moeda do imperador significa aceitar essa forma de organização da sociedade, ainda que ela não seja perfeita no que concerne ao direito e a justiça.

9. Se existem órgãos arrecadadores, também devem existir os fiscalizadores para o uso devido do que foi arrecadado e da dignidade do ser humano em meio a tudo isso. Mas Jesus não se limita a imagem do imperador que está na moeda, mas pergunta sobre a imagem divina que está no ser humano. Esta também não nos vincula a uma outra realidade?

10. Essa semana se discute sobre os rumos da noção de trabalho escravo. Por trás dessa discussão da nossa sociedade se esconde a dignidade do ser humano e a noção religiosa do seu valor diante de Deus. Assim, devemos estar vigilantes sobre nossas autoridades, contestar, criticar e reivindicar tudo aquilo que não respeita a imagem de Deus que está impressa em cada ser humano, mesmo que este não o reconheça.  


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de outubro de 2017

(Rm 4,13.16-18; Sl 104[105]; Lc 12,8-12) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Na oração pessoal, ao terminar de rezar ou meditar um salmo, veja qual versículo lhe chamou a atenção, ou que sentido novo encontro naquele salmo. Procure memoriza-lo e repeti-lo. Quando o mesmo salmo voltar em nova circunstâncias, você esperará chegar aquele versículo e o acolherá “como se fosse um velho conhecido, revivendo os sentimentos ou emoções descobertas um dia. Chegando por esse procedimento a ter uma boa quantidade de versículos vibrantes, toda a sua salmodia adquirirá um calor especial” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola). 

Paulo faz menção a Abraão e sua descendência em sua carta, pois pela fé alcançaram a salvação e não pela observância da Lei. A liturgia prolonga sua reflexão como salmo 105 (vv. 6-9.42-43) cujo autor é desconhecido, mas demonstra ter conhecimento da história de Israel, pois lembra ao seu povo o quanto Deus o havia abençoado ao longo da história. Um Cântico de louvor. “Nossa cultura não tem muito apreço pelo passado. Infelizmente, isso deixou muitos de nós com a sensação de estar desconectado de nossos parentes e de nossas raízes históricas. Muitos cristãos não sentem muito as suas raízes espirituais também. Nós rapidamente esquecemos as coisas boas que Deus fez. Pense em sua caminhada com Deus. Lembre-se de tudo o que ele fez para salvá-lo, protege-lo e sustenta-lo. Escreva seu próprio salmo sobre como Deus tem cumprido as promessas dele em sua vida. Agradeça-lhe pela fidelidade dele, e, ah, sim!, confie seu futuro a ele. Deus não se esquecerá do que prometeu fazer – e ele não falhará” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).     


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de outubro de 2017

(Rm 4,1-8; Sl 31[32]; Lc 12,1-7) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Fora do contexto litúrgico, o ideal é que ao rezarmos o salmo nos detivéssemos em algum versículo concreto, como quem passeia desfrutando a paisagem e afrouxa os passos e para um pouco, se o lugar o merece. Isso enriquece a nossa oração pessoal. Mesmo na liturgia ou na salmodia da Liturgia das Horas, a seleção de um determinado salmo se dá, muitas vezes, por causa de um único versículo que nos permite contemplar todo um mistério ou sentido daquela festa ou solenidade.

Na continuidade do tema posto por Paulo no dia anterior, a liturgia nos convida a rezar o salmo 32 (vv. 1-2.5.11) escrito por Davi após o profeta Natã ter exposto o seu pecado, diferentemente do salmo 51 que trata do mesmo assunto, esse salmo é uma reflexão posterior sobre o perdão de Deus. Um salmo penitencial que traz em si a ação de graças e instrução para uma vida sábia. “Antes de ficar muito sobrecarregado sob as suas próprias falhas diante de Deus, lembre-se que esse salmo é sobre perdão. Cada um de nossos fracassos é tratado gratuita e totalmente pela graça de Deus. Nossas transgressões e escolhas deliberadas de fazer o mal são perdoadas; nossos pecados são cobertos; nossas iniquidades não são contadas contra nós; somos libertados do engano. Quando experimentamos a graça e a purificação de Deus, somos abençoados – a palavra significa ‘feliz, completo, curado, feito íntegro’. O pecado irá nos desencorajar; tentar esconder nosso pecado irá nos destruir. A verdadeira liberdade, a verdadeira alegria, a verdadeira cura vêm somente quando confessamos nosso pecado e recebemos a abundante e perdoadora graça de Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de outubro de 2017

(Rm 3,21-30; Sl 129[130]; Lc 11,47-54) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Quando conseguimos compreender as circunstâncias em que se deram a composição do salmo, o orante passa a ter contato com vários deles através da liturgia, seja na recitação ou no canto, e assim “consegue enraizá-los em uma série de aspectos de sua vida pessoal ou de problemas da Igreja, ou ainda da sua comunidade cristã, então de fato os salmos entraram em sua vida, e sua vida passou para os salmos. Sua salmodia não é uma evasão piedosa, um parêntese intercalado em sua existência real, mas é o momento forte em que deposita suas ilusões, angústias, fracassos, esperanças, sua existência inteira diante do Todo-poderoso, e dos salmos tira a luz que a ajuda a discernir os sinais dos tempos, tanto em nível coletivo como no âmbito pessoal. Situando os salmos na vida, situamos a vida nos salmos” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Ao tema da justificação da carta aos Romanos, a liturgia responde ou medita com o salmo 130 (vv. 1-3.5-6), apesar dos nossos pecados, é da natureza de Deus vir ao encontro do homem. “Se formos honestos e, estando arrependidos, confessarmos nosso pecado, também sentiremos o perdão de Deus assim que o fardo pesado do erro for levantado. Sentiremos os braços de amor de Deus ao nosso redor como o pai acolhedor abraçando o filho que voltou de sua rebeldia e desobediência. Não há nenhuma dúvida de que Deus nos aceitará, e não deve haver esse temor. Mas, às vezes, o cumprimento das promessas de Deus na realidade de nossa experiência vem só depois que esperamos um tempo em sua presença. ‘Espero no Senhor com todo o meu ser, e na sua palavra ponho a minha esperança’ (v.5)” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de outubro de 2017

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) 
São Lucas, evangelista e missionário.

Quando situamos o salmo no momento existencial daquele que o compôs, conseguimos captar melhor o seu sentido e quando passamos por experiência semelhante. “É preciso procurar imaginar o que acontecia com o salmista – individual ou coletivamente – quando orou daquele modo. Os comentários podem nos dizer alguma coisa a esse respeito, mas não bastam: é preciso que nos enfrentemos diretamente com o texto, que mergulhemos nele ou nos deixemos levar pela imaginação – embora seja apenas como efeito de nossa oração pessoal, deixando como reserva a possibilidade de corrigir a interpretação se, algum dia, alguém explica-lo melhor” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 145 (vv. 10-13.17-18) canta o modo como as obras do Senhor e os seus santos difundem a Sua misericórdia. Assim ele sinaliza a pessoa de Lucas na obra missionária de Paulo pela causa do evangelho.  Já visitamos esse mesmo salmo na festa de São Bartolomeu e a partir de outros versículos. Nos dois versículos finais que nos são oferecidos, vv. 17-18, o salmista louva os cuidados paternais de Deus e a Sua justiça. Trata-se de um reconhecimento pelas preces atendidas, mas este se colocou em Sua presença não só com humildade, mas particularmente com ‘sinceridade’.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de outubro de 2017

(Rm 1,16-25; Sl 18[19A]; Lc 11,37-41) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Às vezes a chave da situação do salmo encontra-se num detalhe expresso em um canto qualquer do salmo. Vejamos um exemplo. O Salmo 85 tem amplas perspectivas messiânicas e revela a grande verdade religiosa de que Deus está muito perto de seus fiéis, mas entenderemos muito melhor essa mensagem religiosa se descobrirmos o problema material concreto que deu origem àqueles pensamentos, súplicas e oráculos. Neste caso a pista segura está escondida no penúltimo versículo, que diz: ‘e nossa terra dará o seu fruto’. Com toda a certeza o problema era a seca, com o perigo de perder a colheita, e a situação vital é a necessidade de rogar por chuva. Certamente o que mais nos interessa não é essa a questão; no entanto, o conhecimento exato do ponto de partida do salmista nos permitirá compreender melhor o alcance messiânico deste salmos, e também a mensagem que tem para nós, e em que casos se tornará um veículo apropriado de nossa oração pessoal”(Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola). 

O Salmo 19 (vv. 1-5), em sua primeira parte quer juntar-se ao discurso de Paulo que nos fala de como Deus se manifestou pelo criado, mas que infelizmente alguns se retiveram no criado e esqueceram do Criador. “Davi amava o mundo criado. Ele cresceu cuidando das ovelhas de seu pai, vivendo no campo, dormindo sob as estrelas. Enquanto contemplava o nascer do sol ou olhava para um cometa cruzando o céu noturno, Davi via a glória, a majestade e o poder Daquele que trouxe tudo isto à existência. Os seis primeiros versículos do salmo 19 apontam para os céus como silenciosa evidência da existência de Deus e de seu poder na criação. O problema que temos ao ler o livro da criação humana é que a visão humana está enevoada. Os seres humanos da antiguidade olharam para o sol e começaram a adorar o objeto criado, não o Criador. Os homens modernos olham para a vastidão do universo e pensam que todos estamos sozinhos, que tudo isso deve ter passado a existir por acaso” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de outubro de 2017

(Rm 1,1-7; Sl 97[98]; Lc 11,29-32) 
28ª Semana do Tempo Comum.

“Os salmos não são textos redigidos artificialmente, mas gritos que nasceram de situações bastante reais. Não devemos imaginar o salmista como um escritor moderno que em sua mesa de trabalho, rabisca uma folha de papel uma poesia mais ou menos bela do ponto de vista literário, e inclusive dotada de fervor religioso. Os salmos não costumam refletir fatos, mas expressar sentimentos ou atitudes religiosas, e por isso perdemos seu ponto de partida nos fatos. Obviamente esses sentimentos ou atitudes correspondem a situações ou problemas reais, mas esta problemática de base não costuma ser explicitada. Os títulos bíblicos procuram suprir essa carência, geralmente referindo os salmos a diversos momentos da vida de Davi. Neste sentido eles são um exemplo para nós, mas já sabemos que não são historicamente dignos de confiança” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Iniciando a leitura da carta aos Romanos, a liturgia nos convida ao louvor do Senhor com o salmo 98 (vv. 1-4), pois Paulo reconhece a graça da vocação que o levou a anunciar a todos os povos as maravilhas de Deus realizadas em e por Jesus Cristo: “A mesma onda de louvor que encontramos no salmo 98 ressoa por todo o Novo Testamento também. Em Apocalipse 5, Jesus, o Cordeiro de Deus, recebe autoridade para reivindicar a Criação de Deus da maldição do pecado e da morte. Quando Jesus recebe essa comissão do Pai, multidões de cristãos unem-se no céu em um grito de alegria. Então, milhões de anjos juntam-se ao coro de louvor. Por fim, toda a criação ressoa com louvor e adoração a Deus e ao Cordeiro: ‘Àquele que está assentado no trono e ao Cordeiro sejam o louvor, a honra, a glória e o poder, para todo o sempre’ (v. 13)” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


 Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 25,6-10a; Sl 22[23]; Fl 4,12-14.19-20; Mt 22,1-14)

1. Em preparação ao evangelho a liturgia nos propõe esse texto do profeta Isaias, em que se reflete, através de um banquete, a comunhão plena com Deus em tempos vindouros. Para todos os povos se acena a vitória sobre todo tipo de morte que limita a vida humana. Ele sonha com os tempos messiânicos. Nossa liturgia aponta para Jesus.

2. Encerramos nossa leitura da carta aos filipenses com esse testemunho de Paulo sobre sua capacidade de suportar os altos e baixos da vida e em ser grato aos que lhe foram solidários. É em Cristo que ele encontra a força para o testemunho, e sabe que Deus será a força e o sustento da comunidade que segue a sua missão.

3. Jesus amplia a imagem do Reino e da sua rejeição por parte das autoridades religiosas do seu tempo com esse grande banquete ao estilo da generosidade dos reis de seu tempo. Não é difícil perceber o que cada personagem representa. É Deus que nos convida para o casamento do seu Filho com toda a humanidade.

4. A celebração dessas núpcias teve seu início com esse tempo de Jesus entre nós. Em Jesus, Deus expressa o seu amor para conosco, sem discriminação. Nos vários momentos em que Jesus esteve à mesa em casa de alguém, já se ensaiava a alegria de tempos vindouros. Ou a alegria do evangelho, como nos propõe o papa Francisco. 

5. Antes de Jesus esse convite já foi feito pelos profetas e agora é feito por aqueles que compreendem que o evangelho não exclui ninguém. É patente a insistência de Mateus para que a comunidade dos cristãos saiba acolher a todos, bons e maus como nos recorda suas parábolas.

6. Mas é possível recusar o convite por muitos motivos. Há quem não precise de tal banquete, sentem-se satisfeitos em seus negócios. Mateus faz menção a destruição de Jerusalém em meio ao convite do banquete, algo meio sem lógica narrativa, mas fazendo o certo juízo sobre a rejeição de Jesus.

7. Mais sem lógica ainda é o que segue na narrativa: como cobrar uma veste própria de quem foi chamado ao improviso?  Seria uma outra parábola? A interpretação mais comum seria de que uma vez chamado a viver essa vida nova em Cristo, é preciso que sejamos coerentes com o que abraçamos. Caso contrário nos perdemos em nossa busca.

8. Como nos lembra Paulo, é necessário revestir-se de Cristo, de suas atitudes, do seu modo de ser, que muda o nosso modo de ser e ver as coisas.

9. A comunidade de Mateus é feita de maioria judaica, acostumados a certas advertências fortes de seus pregadores, ele carrega na tinta, ao apresentar Deus de maneira tão dura. Uma frase de efeito encerra a narrativa, que não tem nada a ver com o número dos que serão salvos, mas com o número daqueles que não se decidem prontamente por Ele e pelo Reino. Uma estória para refletir sobre a nossa atual posição em relação a Cristo, sobre a nossa decisão em caminhar com Ele.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de outubro de 2017

(Jl 4,12-21; Sl 96[97]; Lc 11,27-28) 
27ª Semana do Tempo Comum.

“Todas as Escrituras, filho meu, tanto o Antigo como o Novo Testamento, são inspirados por Deus e proveitosas para nosso ensinamento, segundo está escrito. Mas o livro dos Salmos tem algo digno de observar. Cada livro da Bíblia apresenta seu próprio argumento e o desenvolve [...]. Mas o livro dos Salmos, como um jardim que tivesse semeados nele os frutos dos demais, canta a todos eles e inclusive deles oferece seus próprios frutos, a salmodia [...]. Além do que tem de afinidade ou em comum com outros livros, esse tem uma graça singular, algo digno de atenção, ou seja, o fato de descrever e expressar os sentimentos ou paixões das almas, sua evolução e sua emenda, de maneira que a pessoa que lê e presta atenção pode, se desejar, aplicar a si mesma aquele modelo”(Santo Atanásio de Alexandria, Epístola a Marcelino sobre a interpretação dos salmos).

O Senhor que julga em favor do seu povo, conforme Joel, reconhece o Seu poder no salmo 97 (vv. 1-1-2.5-6.11-12). Esse é um dos oito salmos de entronização (93-100) que apresentam o reino de Deus sobre a terra de forma idealista: “Não vemos muito da perfeita justiça de Deus em nosso mundo hoje. O forte frequentemente oprime o fraco. A ganância empresarial e a corrupção política parecem assar em branco e impunes. Assassinos e estupradores às vezes são libertados graças a detalhes técnicos legais. Oramos ‘Venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu’, mas não vemos isso acontecendo com muita frequência” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  O que nos leva a concluir que a promessa desse reinado pleno só se dará com o esperado retorno de Cristo, o que não significa que devamos esmorecer de nossas lutas, pois o reino esperado é a somatória do que construímos com o que está por vir.


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de outubro de 2017

(Jl 1,13-15; 2,1-2; Sl 9A[9]; Lc 11,15-26) 
27ª Semana do Tempo Comum.

“O estudo não é oração, mas lhe dá solidez e objetividade. Vale a pena. Um dia um salmo, outro dia outro; o que a pessoa aprende serve para entender melhor os demais. Manifesta-se uma espécie de lei de vasos comunicantes, que faz com que aquilo a respeito de um salmo sirva também para o entendimento de outros salmos do mesmo gênero ou de gênero parecido e, em última instância, para adentrar o mundo dos salmos. Não sejamos iluministas: a quem não tem possibilidade para mais do que isso, Deus falará apenas pelo texto dos salmos; mas estaria tentando a Deus e correria o perigo de ficar com uma fé infantil aquele que, podendo, não aplicasse aos salmos e, em geral, à Palavra de Deus, o esforço que dedica ao restante de sua cultura humana” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 9 (em sua 1ª parte: vv. 1-4.6.[16.]8-9) se contrapõem, em parte, ao caráter penitencial da 1ª leitura. No mesmo estilo do salmo de quarta-feira, aqui Davi expressa sua confiança em Deus em meio ao ataque dos inimigos, pois está certo que terá Sua ajuda. “O que mantinha a clara perspectiva de Davi em tempos de angústia era a percepção sólida da verdade sobre Deus. Davi sabia certos fatos sobre o caráter de Deus e sobre como Deus opera, e Davi se firmava nesses fatos mesmo quando as circunstâncias aparentavam contradizê-los. Esta é uma boa definição de fé, a propósito – estar convencido de certos fatos porque Deus disse que são assim, não porque a situação imediata o diz. [...] Em quais verdades sobre Deus você se agarra quando o inimigo ataca? Salmo 9 dá-nos um bom ponto de partida. Enquanto os inimigos continuarem vindo, o cristão continua orando” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


  Pe. João Bosco Vieira Leite

12 de Outubro de 2017

Solenidade de Nossa Senhora da Conceição Aparecida 
(Est 5,1b-2; 7,2b-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11).  

1. Sobre três figuras femininas, a liturgia de hoje celebra a Padroeira do Brasil. A eterna luta entre o bem e o mal, o papel feminino em destaque, símbolo da resistência, e a intercessão necessária. Nesse entrelaçado é que meditamos sobre os trezentos anos de caminhada sob o manto azul da padroeira, de sua intercessão pelo povo brasileiro, de sua vida exemplar para um povo ainda a caminho.

2. Esse ano, durante a semana, em nosso blog temos dedicado um olhar sobre os salmos que compõem a nossa liturgia. Eles são uma resposta oracional ao texto que o antecede. Assim, o salmo 45 nos é proposto como meditação depois de ouvirmos a ousada empreitada de Ester na sua intercessão para salvar o seu povo. Aqui ele é lido como salmo mariano.

3. É o único salmo, no Saltério, de poesia profana, por tratar-se de um cântico de louvor de um jovem rei e da sua consorte, princesa de Tiro, composto e recitado por um poeta da corte por ocasião do matrimônio do seu senhor. É claro que para estar na Bíblia, este passou por uma reelaboração e é lido pela comunidade judaica a partir da imagem do Messias, mas também numa linha eclesial e moral para os cristãos.

4. A liturgia dispensa a parte que elogia o rei para se concentrar na princesa a ser desposada. Tudo é fulgor, beleza, riqueza. Ela está deixando o palácio do pai, e um faustoso cortejo a leva para o palácio do rei. A atenção se volta para o rosto e a figura da rainha. Exalta-se suas vestes. Em todas as culturas ela é símbolo de dignidade.

5. Num primeiro momento, a interpretação cristã voltava-se para a relação entre Cristo e a Igreja e só depois se encaminha para uma via mariológica.

6. A partir do século VII as invocações marianas como rainha tornam-se intensas e apreciadas. Se o seu ser de criatura a torna próxima de nós, a sua realeza a transforma em mediadora eficaz junto de Deus; nela se entrelaça uma parentela divina e humana.

7. Assim, no rasto da tipologia de Ester, podemos compreender a intercessão de Maria junto de Cristo e de Deus. O evangelho das Bodas de Caná, reforça essa imagem. Muitos quadros da Virgem, a partir do sec. XV passam a trazê-la revestida de um grande manto que envolve vários personagens. É sabido que o perseguido que se refugiasse debaixo do manto real, sobretudo em época medieval, tinha direito à graça, uma vez que o manto era símbolo de dignidade e proteção.

8. Numa visão, Maria diz a Santa Brígida da Suécia: “O meu manto amplo e precioso é a minha misericórdia porque misericordiosa me tornou a misericórdia do meu Filho. Vem, pois, minha filha, e protege-te sob o meu manto”.

9. Em 1955, o Papa Pio XII instituiu a celebração de Maria Rainha, que atualmente fixou-se no dia 22 de agosto, como complemento da solenidade da Assunção com a qual compõem uma única realidade.

10. O ponto principal desenvolvido pela liturgia da Palavra é a intercessão, que acreditamos e mais uma vez recorremos em meios aos perigos que ameaçam o nosso futuro. Pedimos por misericórdia.

* Se o salmo diz logo ao início que a Rainha deve ter uma atitude de escuta. Seu aprendizado ao lado do Rei a faz convidar-nos a ‘fazer o que Ele nos disser’, para reconstruirmos nossos passos na direção de uma sociedade mais justa e igualitária sob a luz da Palavra de Deus. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de outubro de 2017

(Jn 4,1-11; Sl 85[86]; Lc 11,1-14) 
27ª Semana do Tempo Comum.

Seria interessante se cada um, segundo suas faculdades e possibilidades, e sua disponibilidade de tempo pudesse se dedicar a um estudo mais sistemático dos salmos. Santa Teresinha do Menino Jesus dizia que gostaria de ter aprendido hebraico para poder rezar os salmos em sua língua original. Talvez não precisemos chegar a tanto, se bem que o conhecimento da língua original traz a percepção de nuances que nenhuma tradução seria capaz de transmitir, seria suficiente um conhecimento sobre o mundo da Bíblia como base para a compreensão dos salmos.

Para interpretar a incompreensão de Jonas e convidá-lo a uma atitude penitencial diante do Senhor, a liturgia nos oferece o salmo 86 (vv. 3-6.9-10). Traduz os sentimentos de Davi que se encontra cercado por inimigos e apela para a misericórdia divina; em meio ao seu lamento, ele pede por libertação, demonstrando confiança em Deus que é capaz de responder à sua necessidade. “O foco de Davi no salmo, no entanto, não era tanto as ameaças dos inimigos, mas o poder de Deus para livrar seu servo. Davi descreveu o ímpio como alguém violento e orgulhoso e a si mesmo como pobre e necessitado; mas descreveu a Deus como alguém cheio de compaixão e grande em misericórdia. [...] Que argumentos você pode apresentar ao Senhor em sua situação atual? Sua necessidade pode ser grande e seus inimigos ser fortes, mas até que ponto seu Deus é grande?” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de outubro de 2017

(Jn 3,1-10; Sl 129[130]; Lc 10,38-42) 
27ª Semana do Tempo Comum.

Em nossas manhãs de formação, ao apresentar cada livro da Bíblia, procuramos trazer sobre cada um deles o contexto histórico, para captarmos a mensagem pretendida por seu autor, pois ao fixarmo-nos apenas no texto de determinadas passagens, poderemos fazer com que ele diga o que o autor sagrado não pretendia dizer, longe do seu objetivo primeiro. Outra coisa que não podemos perder de vista é que o conteúdo de um livro se enriquece com o do outro livro sagrado, particularmente no Antigo Testamento, onde elementos históricos coincidem. Desse contexto é que partiremos para uma reflexão sobre como essas palavras se aplicam a nós, que vivemos em um mundo que, em parte, tem problemas semelhantes, mas em parte mudou radicalmente. 

Para dar voz a atitude de conversão dos ninivitas a liturgia propõe o salmo 130 (vv. 1-4.7-8). Seu autor é desconhecido, mas sabedor da misericórdia divina, nela expressa confiança absoluta. Para Lutero esse salmo reflete a teologia paulina sobre a graça divina que nos vem pela fé e não pelas obras. “Se, como pensavam os fariseus, Deus tem um grande livro no qual escreve nossos créditos e débitos, nossa conta seria tão desigual que seria cancelada antes da justiça divina. A culpa seria tão grande que nosso castigo seria certo. Outra alternativa, no entanto, é a verdadeira: ‘Mas contigo está o perdão’. Aqui está o evangelho. Estamos nas profundezas. Nossa culpa está diante de nós. Clamamos a Deus, e ele nos ouve e vem, não como juízo, mas com perdão”. (Donald Williams in Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).    


 Pe. João Bosco Vieira Leite