Sábado, 30 de setembro de 2017

(Zc 2,5-9.14-15; Jr 31; Lc 9,43-45) 
25ª Semana do Tempo Comum.

Israel sempre teve consciência de ser um povo escolhido e que através deles estabelecia uma relação de amor com a humanidade. “Israel tem consciência disso e, portanto, comparece perante Deus em atitude de louvor, súplica e ação de graças. É um Deus que salva. Entrou na história dos homens e transformou em história da salvação” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

A liturgia extrai alguns versículos do capítulo 31 (vv. 10-13) de Jeremias para ser resposta à palavra proclamada. É um dos capítulos mais importantes e densos do livro, ápice da mensagem de esperança. “O Senhor se dirige aos ‘sobreviventes de Israel’ com uma mensagem de esperança: haverá um novo êxodo, com uma peregrinação a Sião, inaugurando uma era de alegria e bem-estar (2-6.8-9); dirige-se de passagem a um grupo não identificado para que participe (7), e às nações do orbe para que o saibam” (Bíblia do Peregrino – Paulus). 


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de setembro 2017

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) 
Santos Anjos Miguel, Gabriel e Rafael.

“Salmos, meus queridos salmos, pão cotidiano de minha esperança, voz de meu serviço e de meu amor a Deus, alcançai em meus lábios vossa plenitude! Queridos salmos, não envelheceis, sois a oração que não se desgasta. Assumis na fé toda a experiência humana. Se ocupais este lugar em minha vida, é porque a expressais perante Deus... Como a verdade, refrescai os lábios e o coração de quem os canta. Aceitai que os resuma em duas palavras das quais a segunda só pode ser dita em verdade depois da primeira: Amém. Aleluia!”  (Y. J. Congar in Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Herdamos a fé bíblica nos anjos, esses servos e criaturas de Deus nas suas relações com a humanidade. O salmo 138 (vv. 1-5) os têm como aqueles que louvam a Deus, aos quais o salmista se soma. Temos um problema quanto a tradução do termo ‘anjo’ que se encontra na Bíblia de Jerusalém, mas em outras traduções vamos encontrar ‘deuses’. Na compreensão protestante os ‘deuses’ de outras nações não são nenhuma oposição ao verdadeiro Deus, assim “O Senhor não era apenas maior e mais poderosos que os deuses inimigos de Israel. Eles também eram maior que os reis humanos dessas nações e digno do louvor deles (v. 4). Davi orou para que Deus trouxesse o dia em que todos os governantes e líderes da terra cantariam a sabedoria e a glória do Senhor. Esse dia ainda não chegou, mas virá quando o maior descendente de Davi, o Rei Jesus, receber honra e louvor de toda criatura” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de setembro de 2017

(Ag 1,1-8; Sl 149; Lc 9,7-9) 
25ª Semana do Tempo Comum.

A fé de Israel é caracterizada por seu personalismo: uma relação pessoal com Deus que trata como pessoas seus fiéis. Uma relação interpessoal que não se rompe quando parece que a oração não é ouvida: “Quando Deus não nos concede o que lhe pedimos, nós temos o costume de fugir para uma ou outra direção: ou nos refugiamos no secularismo, porque chegamos à conclusão de que a religião não funciona, e teremos de enfrentar os problemas que nos atormentam com nosso próprio recursos terrenos, ou então evoluímos para um pietismo que se desvincula da realidade e procura na oração, ou na prática religiosa, certas emoções religiosas ou um relaxamento das tensões, que sirvam para nos fazer esquecer, ao menos por algum tempo, as dificuldades da vida. Em contrapartida, a piedade judaica – e do mesmo modo deveria ser a cristã – não fecha os olhos diante do que acontece, e, se parece que os acontecimentos não combinam com as promessas de Deus, ela faz lembrar a Deus suas palavras e, ao mesmo tempo, mostra-lhe atrevidamente o que está acontecendo” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 149,1-6a já ganhou um comentário nessa nossa jornada (28 de agosto). Nosso salmo inicia com o convite à comunidade para cantar um hino a Deus, Criador e Rei, pois sobre eles está a complacência divina. Assim, cheios de respeito e humildade, retribuem ao Senhor pela salvação concedida, elevando o seu cântico de louvor ao seu divino Doador.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de setembro de 2017

(Esd 9,5-9; Sl [Tb 13]; Lc 9,1-6) 
25ª Semana do Tempo Comum.

“Toda a nossa vida presente deve ser vivida no louvor a Deus, porque o louvor consistirá a alegria sempiterna da vida futura; ninguém pode tornar-se idôneo da vida futura se não se exercitar agora nesse louvor. Agora louvamos a Deus, mas a ele também suplicamos. Nosso louvor compreende a alegria, a oração, o gemido. É que nos foi prometido algo que ainda não possuímos; e, como é real o que prometeu, nos alegremos pela esperança; mas, porque ainda não o possuímos, gememos pelo desejo. É uma boa coisa perseverar nesse desejo, até que chegue o prometido; então cessará o gemido e subsistirá unicamente o louvor” (Santo Agostinho – Enarrationes in Psalmos (Sl 148,1) – Paulus).

Nós já havíamos comentado que além dos salmos contido no saltério, temos outros salmos ou cantos de louvor espalhado na Sagrada Escritura. Estamos quase no fim do Livro de Tobias. Ao final da narrativa se revela aquele que Deus enviou para acompanhar e auxiliar Tobias em sua aventura. Rafael faz um convite ao louvor por todos os benefícios concedidos por Deus. É Tobit, pai de Tobias que eleva o seu cântico que ao início tem um caráter penitencial, pois reconhece o tempo do exílio como provação, mas reconhece Sua ação restauradora. “O desterro se torna ocasião para manifestar o nome do Senhor a um povo pagão. Tentado a fechar-se e a tomar seu Deus como monopólio ou privilégio, Israel é forçado a sair e a realizar seu destino de mediador religioso” (Bíblia do Peregrino – Paulus). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de setembro de 2017

(Esd 6,7-8.12.14-20; Sl 121[122]; Lc 8,19-21) 
25ª Semana do Tempo Comum.

“Se se pretende descobrir o segredo da alma de Davi, é preciso ver cuidadosamente como funciona a harpa. Quanto mais vigorosamente são puxadas suas cordas, mais forte produz seu som, e melhor qualidade tem esse som. Do mesmo modo, quanto mais Deus tocava o coração de Davi, por meio do sofrimento e da aflição, mais forte e belos eram seus cantos. ‘Desperta, ó minha alma, que és minha glória: acordai, ó vós, harpas e cítaras, pois eu vou despertar a aurora!’ (Sl 57,9). A alma desperta e se estimula da maneira mais absoluta, do mesmo modo que a cítara e a harpa”. Ya’arot Devach in (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Ainda no desdobramento do retorno do exílio e da reconstrução do Templo, o salmo 122 expressa a realidade dessa alegria com esse salmo de peregrinação (de uma série de quinze cânticos [salmos 120-134]): Sl 122 (vv. 1-5). Esse salmo é atribuído a Davi, mesmo não tendo sido ele o compositor, segue-se o seu estilo. Uma oração de bênção sobre a cidade onde estava o Templo. Os sentimentos descritos nos salmos refletem os sentimentos da cansada procissão de peregrinos que se aproxima de Jerusalém. “Eles haviam percorrido um longo caminho. Subir e descer as colinas da Judeia não era uma tarefa fácil. Mas, assim que fizeram uma curva, de repente eles vislumbraram os muros ou uma torre. Seus corações encheram-se de alegria ao ver a cidade de Davi. À medida que se aproximavam, os portões e os grandes pilares do templo do Senhor surgiam à vista. Foi nesse momento que os peregrinos começaram a cantar novamente, regozijando-se com a visão da casa do Senhor” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). Que sentimentos lhe ocorrem ao se dirigir à sua comunidade de fé?


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de Setembro de 2017

(Esd 1,1-6; Sl 125[126]; Lc 8,16-18) 
25ª Semana do Tempo Comum.

“Os salmos são a palavra de Deus; palavra que diz enquanto um homem, arrebatado por ele, diz sua palavra humana. Portanto, eles são revelações que levam à salvação. Mas isto em forma particular, ou seja, a da oração. Não procedem da experiência de um espírito humano – por exemplo, de um profeta – que teria conhecido a verdade divina e dito: ‘Assim fala Javé’, mas da emoção de um homem que se dirige a Deus em oração. É deste modo que os salmos devem ser propriamente interpretados; não pela leitura, pela consideração, pelo estudo, mas deixando-se levar por eles até Deus em seu movimento” (Romano Guardini – Los Salmos – Cristiandad, Madri).

O salmo 126 (na íntegra) funciona como uma espécie de reflexo dos sentimentos de Israel quando são convidados a retornarem à sua terra e reconstruir o Templo. Há uma mistura de alegria e tristeza; risos e lágrimas. “Algumas bênçãos Deus envia inesperadamente (vv. 1-3), outras vêm ao longo do tempo (v. 4), e outras ainda vêm enquanto semeamos com paciência e choramos (Tiago 5,7). Mas a promessa é certa: ‘No tempo próprio colheremos, se não desanimarmos’ (Gálatas 6,9)” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 55,6-9; Sl 144[145]; Fl 1,20c-24.27a; Mt 20,1-6a)

1. Um tema recorrente na Bíblia é esse da distância entre o pensamento de Deus e do ser humano. No domingo anterior Jesus nos falava de como dista a misericórdia divina da misericórdia humana.  Assim, o texto da primeira leitura nasce nesse contexto de pensar que Deus jamais perdoaria o seu povo pelos pecados que os levaram ao exílio.

2. Aqui se expressa não só o desejo da conversão, mas do modo de compreender a Deus. Assim o texto nos lança ao coração do evangelho.

3. Terminada a Carta aos Romanos, a liturgia nos oferece quatro textos da Carta aos Filipenses como segunda leitura. Já tomamos essa Carta como estudo no mês da Bíblia há pouco tempo. A comunidade de Filipos foi fundada por Paulo. Esta se caracteriza principalmente pela generosidade para com o Apóstolo.

4. Ele escreve da prisão, em Éfeso, onde foi visitado pelo emissário desta carta que lhe levou apoio material e afetivo. Nela se reflete seu cansaço e desejo de morrer para estar com Cristo. Mas não é tanto uma decisão que lhe compete, e no mais, o evangelho ainda precisa de seus serviços, ainda que lhe pareça limitada a situação em que se encontra. Deus se serve de nós de um modo que desconhecemos. Tudo se resume nessa expressão do Apóstolo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro” que lhe serviu de epitáfio para seu túmulo em Roma.

5. Preparados pela 1ª leitura, podemos pisar o terreno da parábola de hoje. Jesus se serve da realidade do seu tempo para construir a sua narrativa. Um proprietário de um grande vinhedo tem pressa de colher as uvas já maduras e sai então a contratar operários em vários horários do dia. Até aí tudo bem.

6. O problema aparece na hora do pagamento, nesse nivelamento do patrão. As reações se fazem sentir. É preciso deslocar a parábola do campo trabalhista e trazê-la para a realidade teológica/religiosa do seu tempo.  Jesus está denunciando a chamada religião dos méritos, que fez esquecer a bondade de Deus tão presente na pregação profética.

7. Deus se tornou distante, um legislador e pagará a cada um conforme tenha vivido as suas leis. E assim também se pode exigir de Deus aquilo que é justo. Jesus combate este tipo de compreensão de Deus e de sua relação com o ser humano. Ele é aquele que não se cansa de ir ao encontro, que o busca quando falha.

8. Deus não recompensa a partir de méritos e nem se sente obrigado a nada. Ao ensinar a rezar a partir da condição de filhos, ele espera uma atitude de confiança no bem que Ele nos deseja.

9. Quem chegou primeiro a essa consciência, já desfruta de algo que outros só experimentarão depois. Quem comunga do desejo de Deus de salvar a todos, não ficará com inveja dos que vieram depois.  Nossa demora em atender ao seu chamado é um momento de amor perdido. Nossa relação com Deus não é um comércio, um ‘toma lá dá cá’.

10. Essa parábola ensina-nos também que devemos acolher aos irmãos que se aproximam da comunidade, sem achar que por termos mais tempo nela, teríamos mais direitos. A parábola não tem uma conclusão. Fica no ar qual é a nossa reação nessa compreensão do agir divino? Talvez não estejamos de acordo com esse agir. Jesus quer evitar que nos assustemos com o resultado final. Paulo partiu nem um pouco preocupado com isso.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de Setembro de 2017

(1Tm 6,13-16; Sl 99[100]; Lc 8,4-15) 
24ª Semana do Tempo Comum.

“Certos atos salvíficos de Javé são celebrados com hinos no passado, mas, ao mesmo tempo, dão lugar a oráculos anunciadores de futuras intervenções salvíficsas de Deus. Com frequência os favores passados são recordados nos salmos, como argumento para ‘convencer’ a Deus para realizar alguma coisa semelhante agora, ou para infundir no povo a confiança de que o fará (p. ex., Sl 85 e 126)”(Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Ao louvor que conclui a carta a Timóteo, um salmo de louvor e ação de graças dá continuidade as palavras de Paulo: Sl 100 (aqui na íntegra). Um chamado alegre ao louvor expressivo e entusiasmado a Deus. “Por que motivo você é grato? Você pode ser grato pelas abundantes bênçãos em sua vida: uma boa casa, roupas confortáveis, abundância de alimentos. Outros podem apresentar uma lista de agradecimentos pessoais: um cônjuge amoroso, pais sábios, filhos maravilhosos, ótimos amigos. Talvez você seja mais grato por coisas intangíveis: liberdade, boa saúde, habilidades profissionais, uma sensação de segurança. Aqui está a pergunta difícil: quantas vezes você agradece a Deus pelas coisas boas que o cercam?” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 22 de Setembro de 2017

 (1Tm 6,2-12; Sl 48[49]; Lc 8,1-3) 
24ª Semana do Tempo Comum.

O que sabemos sobre a formação do saltério é muito pouco, “mas podemos dar como certo que não se trata de uma simples justaposição de salmos: a ordem ou situação de cada um deles tem grande importância. É como acontece com as estátuas ou vitrais das catedrais góticas: além daquilo que representam por si mesmos, têm um significado mais de acordo com a fachada ou a nave em que se encontram, e com as demais imagens que os rodeiam. Segundo Ramón Ribera-Mariné, que está investigando a questão de modo bastante original, a principal referência na ordenação definitiva dos salmos teria sido a interpretação messiânica. Mas o mistério perdura: esse autor aplica ao Saltério o que um antigo autor judeu disse do Cântico dos Cânticos: “Perdemos a chave deste livro”, ou seja, do livro como tal, como obra continuada” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Aos conselhos de Paulo a Timóteo a liturgia acrescenta o salmo 49 (vv. 6-10.17-20) para confirmar sobre a busca da riqueza e a morte que nos espera: ‘ao morrer não levará nada consigo’. Nesse sentido temos um salmo de sabedoria. “Um pouco deprimente, não é? Quem quer ser lembrado da morte e do vazio das riquezas quando há tanta coisa para ser feita? Temos contas para pagar, crianças para levar ao jogo de futebol e relatórios do trabalho para apresentar no final do mês. Por que estragar isso com esse papo de condenação e tristeza? É precisamente em tempos mais cheios de atividades e mais agitados da vida que precisamos de um lembrete duro e severo sobre o que é, de fato, importante. Nós nos deixamos tão facilmente envolver na busca de riquezas que achamos que Deus deve ficar impressionado com nossa prosperidade. Nós nos esquecemos do que disse Jesus: ‘Façam para vocês bolsas que não se gastem com o tempo, um tesouro nos céus que não se acabe’ (Lc 12,33)” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de setembro de 2017

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19A]; Mt 9,9-13) 
São Mateus, apóstolo e evangelista.

Por vezes chamo o Livro dos Salmos (Tradução grega) de Saltério, este, na realidade, é o nome do instrumento de corda com que deviam ser acompanhados. Na maioria das vezes cito o salmo que está entre parênteses, porque do salmo 11 ao 113 e do 117 ao 146, o livro hebraico conta uma unidade a mais. Tudo indica que o salmo 10 foi dividido em dois, gerando essa numeração um pouco confusa.  Essa numeração entre parênteses ou colchete é a oficial da Igreja católica e adotado no missal, nos lecionários da missa, nos rituais de sacramentos e no livro da Liturgia das Horas, assim como nos estudos sobre estes livros litúrgicos.

Para responder, em oração, ao texto da 1ª leitura, a liturgia nos oferece o salmo 19A (vv. 1-5a), aqui em sua primeira parte (A). Os estudiosos o dividem em dois por o considerarem dois cantos independentes que diferem tanto entre si no conteúdo, no clima, na linguagem e na métrica, que não podem ter sido compostos pelo mesmo autor. Essa primeira parte constitui um salmo da natureza, nascido da profunda visão poética e vazado em linguagem de grande poder de expressão. Encontraremos alguma semelhança com o salmo 8, pois ambos os poetas contemplaram maravilhados a majestade de Deus que se manifesta na criação e compõe seus hinos movidos pela emoção da sua vivência de Deus na natureza. Aqui é Deus que se revela na natureza. Sua linguagem é muito mais poética. Um salmo para se rezar pela manhã, em espaço aberto e em contato com a natureza.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de setembro de 2017

(1Tm 3,14-16; Sl 110[111]; Lc 7,31-35) 
24ª Semana do Tempo Comum.

Essa apresentação que estamos fazendo dos salmos é para ajudá-lo a dedicar-se à oração dos salmos de um modo vital, partindo da realidade de que, embora existam muitos e bons comentários exegéticos ao livro dos salmos, poucos servem para a orientação prática para ensinar a orar com eles. Primeiro fazemos uma apresentação técnica para que se tenha presente o gênero literário do mesmo, o modo como Israel o rezou e como podemos rezá-lo. “O autor de um livro sobre a piedade dos salmos os chamava de Mel da rocha, aplicando a eles uma enigmática expressão de Deuteronômio 32,13. E com razão, porque os salmos têm a casca dura. A princípio, entrar no mundo dos salmos é difícil mas, quando já fizemos o esforço maior de romper a casca, poderemos saborear uma polpa doce como o mel, e então os demais materiais para a oração parecerão superficiais e insípidos”  (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 111 (vv. 1-6), no saltério, abre-nos uma série de salmos de ‘Aleluia’ (111-118) que estão bem conectados pela expressão ‘louvem o Senhor’ (no hebraico: Aleluia = Louvai). Em seu louvor a Deus o salmo nos traz instruções para a vida. Ele é muito próximo do salmo seguinte em seu conteúdo. “A obra de Deus pode ser um esplêndido pôr do sol ou um arco-íris espetacular. Pode ser a restauração de uma amizade ou a direção em uma decisão difícil. Pode ser perdão em seu próprio coração, a cura de alguém que você ama ou conforto em meio à dor. Você está cercado pelas obras de Deus. Você as vê? Aprenda a reconhecer a mão dele. Tenha prazer naquilo que Deus faz. Louve-o por seu cuidado e amor” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de setembro de 2017

(1Tm 3,1-13; 100[101]; Lc 7,11-17) 
24ª Semana do Tempo Comum.

Podemos dizer que os salmos são a ‘resposta de Israel’ diante das ações concretas de salvação realizadas por Deus, nos sucessivos altos e baixos de sua história, num tom um tanto pessoal, louvando-o, lhe dirigindo constantes perguntas, lamentando-se no sofrimento. Assim revela-se num diálogo essa comunhão que ele busca manter com Deus através da oração. O que chegou a nós é o melhor de mil anos de oração.

O salmo proposto (101 – vv. 1-6) vem casar-se com o desejo de Paulo que lembra a Timóteo a retidão de vida que deve levar aquele que aspira ao episcopado (Timóteo será bispo de Éfeso). Atribuído a Davi, traduz uma espécie de reflexão sobre o rumo da própria vida ou ao menos do rumo que se quer dá. “Estou desapontado pelo fato de ainda amar a Deus tão pouco e pecar tanto. Quando criança, sempre pensei que os adultos eram praticamente as pessoas que queriam ser. Contudo, a verdade é que sou embaraçosamente pecaminoso. Sou capaz de quantidades deploráveis de inveja se alguém tiver sucesso mais visível do que eu. Estou decepcionado com minha capacidade de ser pequeno e mesquinho.  Não consigo orar por muito tempo sem que minha mente fique à deriva em uma fantasia de irada vingança por alguma desfeita passada que pensei que tinha perdoado ou em alguma fantasia grandiosa de realização. Posso convencer as pessoas de que estou ocupado e produtivo, e ainda perder grande quantidade de tempo assistindo televisão. Essas são apenas algumas das decepções. Tenho outras, mais tenebrosas, que não estou pronto para confiar ao papel. A verdade é que mesmo escrever essas palavras é um pouco enganoso, porque me faz parecer mais sensível à minha queda do que realmente sou. Às vezes, embora eu esteja ciente de quanto sou falho, isso nem me incomoda muito. E estou decepcionado com minha falta de decepção” (John Ortberg in Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  Talvez você se encontre na sinceridade desse autor.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 18 de setembro de 2017

(1Tm 2,1-8; Sl 27[28]; Lc 7,1-10) 
24ª Semana do Tempo Comum.

“Os salmos nasceram de situações bastantes reais, em acontecimentos individuais e coletivos de todo tipo, nos quais se alternam prosperidade e o desastre, a felicidade e o sofrimento. Temos orações dos tempos da monarquia, do exílio, do pós-exílio, e certamente também da época dos macabeus. É claro que as orações de súplica e de louvor individuais são mais difíceis de atribuir a determinada época, porque a maior parte dos problemas que lhes deram origem é de todos os tempos. Entretanto, não se pode duvidar de que elas correspondem a uma situação particular que ocorreu em um momento concreto, e não ao fato de alguém ter-se dedicado a escrever sobre determinado tipo de estado da alma” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

O salmo 28 (vv. 2.7-9) dá ênfase as palavras de Paulo dirigidas a Timóteo, convidando-nos a oração. Os versículos selecionados pela liturgia lhe retira parte do tom de lamento que originalmente possui, um clamor por ajuda em uma situação desesperada. “Em sua situação, é possível que você tenha de dizer essas palavras puramente pela fé neste momento, pois não parece que Deus tenha intervindo para ajudá-lo. Mas você pode saber com absoluta certeza que ele ouviu seu clamor e irá revelar-se um escudo e uma fortaleza” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

24º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Eclo 27,33—28,9; Sl 102[103]; Rm 14,7-9; Mt 18,21-35)

1. Dando continuidade ao tema iniciado no domingo anterior sobre a vida comunitária e a correção fraterna, acrescenta-se a dimensão do perdão dentro desse espaço. Jesus chega ao ápice de algo que passou por um processo evolutivo na história do Antigo Testamento. À tendência de se dar plena vasão a ira, o rancor e a vingança foi se desenvolvendo um senso de justiça.

2. Aos poucos a simples justiça vai dando espaço a uma reflexão sobre o modo como Deus age conosco e como nós agimos para com o próximo. É dentro deste espaço evolutivo que se situa a primeira leitura, quase que a nos perguntar em que etapa nos encontramos em nossa caminhada de fé e na relação com os outros.

3. O texto da Carta aos Romanos que nos é oferecido é uma espécie de conclusão diante de uma comunidade que se encontra dividida em seu modo de viver alguns elementos particulares da fé. Paulo lembra o essencial: ninguém vive para si mesmo, mas para o Senhor. O importante é viver de acordo com o que pela fé, sua consciência lhe pede.

4. Mesmo já tendo dado passos significativos no caminho das relações humanas, o povo judeu ainda discutia certos pormenores da dinâmica do perdão. Um deles era a respeito de quantas vezes se devia perdoar o próximo. Não demorou muito para Jesus ser envolvido nessa discussão.

5. Ao dar o número sete a Jesus, Pedro já girava dentro de um espaço de generosidade significativa, quase perfeito. Jesus vai além. A parábola que se segue é uma tentativa de fazer-se entender melhor. Sobre que parâmetros devo me guiar sobre o perdão a ser dado ao meu próximo?

6. O primeiro aspecto salientado pela parábola é a distância entre o coração do homem e o coração de Deus. Com que generosidade Ele tem nos perdoado. Mas veja como age o homem com relação ao seu próximo. O contraste torna-se gritante na representação dos valores apresentados pela narrativa.

7. Há um claro convite a imitarmos a generosidade de Deus em nossas relações. Escreve Fernando Armellini: “Há três tipos de homens: os que recebem o bem e reagem fazendo o mal – são os malvados; há os que pagam o bem com o bem e o mal com o mal – são os justos; por fim, há os que respondem ao mal com o bem, - somente estes se comportam como filhos de Deus”.

8. Perdoar não é fácil ou algo simples, talvez por isso faça parte de nossas petições diárias ao rezarmos o Pai Nosso. Não podemos negar ou simplesmente esquecer a injustiça ou dano sofrido. Por isso o evangelho do domingo anterior ensinava o caminho da correção fraterna como ajuda no caminho da conversão necessária.

9. Jesus não quer que destruamos as pontes, mas tenhamos a coragem e a humildade de dar o primeiro passo. Temos mil motivos para não fazê-lo, mas nos perguntamos, onde está a nossa sintonia com o Pai? Não nos deixemos impressionar pelas cores fortes com que se conclui a parábola. O Pai que Jesus nos revelou não é um vingador.

10. Não é o medo dos ‘torturadores’ que devemos ter. O nosso medo é o de não entendermos que somos filhos de um mesmo Pai e que somos amados da mesma maneira, como na parábola do Pai Misericordioso.

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 16 de setembro de 2017

(1Tm 1,15-17; Sl 112[113]; Lc 6,43-49) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Essa introdução breve que fazemos a cada dia sobre os salmos quer lhe ajudar a perceber o verdadeiro tesouro que se esconde nos salmos, portanto, aproxime-se sem preconceito. Os salmos, como os outros livros da Bíblia apresentam numerosas dificuldades, mas é preciso deixar que ele fale, acolha os sentimentos que veem de quem os escreveu e cantou. “Algum dia você captará o sentido daquele salmo, ou daquele versículo em que tinha dificuldade, ou que simplesmente não entendia. No momento, concentre-se naqueles que entende, nos que falam com você, e sobretudo nos que exigem mais de sua atenção, aplicando a regra de ouro de são Gregório Magno para progredir na compreensão dos mistérios das Escritura: ‘Por em prática um pouco do que você aprendeu’. Se fizer assim, o que tiver sido entendido criará raízes para sempre e, à luz da verdade assimilada, muitas outras passagens bíblicas se abrirão para você e, por sua vez, sendo elas colocadas em prática, ilustrarão outas tantas, como em uma cascata de fogos de artifícios” (Hilar Raguer – Para Compreender os Salmos – Loyola).

Do Salmo 113 (vv. 1-7) só ficaram de fora os dois últimos versículos; ele se une ao louvor de Paulo, na carta a Timóteo que veio salvar os pecadores. Seu compositor louva a Deus, que mesmo do alto, se inclina para olhar a terra e particularmente o ser humano. “O salmo 113 mostra Deus nas alturas e Deus nas profundezas. Deus ‘reina em seu trono nas alturas’ (v. 5), tão alto que precisa se inclinar para ver a terra. Se isso for tudo o que sabemos de Deus, podemos ser tentados a pensar que ele está muito exaltado, longe demais para nos notar ou se importar conosco. Podemos nos sentir como se precisássemos de um telescópio para vê-lo, ou de imensas caixas de som para falar com ele. É por isso que é tão reconfortante ler que esse Deus exaltado, que está nas alturas, se inclina para nós. Deus cuida de nós o tempo todo. Não podemos alcançá-lo, mas ele desceu a nós, percorreu todo o caminho até aqui, para chegar a nós. Isso é motivo de adoração!” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de setembro de 2017

(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19,25-27) 
Nossa Senhora da Dores.

Embora os salmos que chegaram a nós nesta coleção não expressem a vida religiosa do antigo Israel em toda a sua plenitude, pela sua ligação com a tradição de revelação divina da antiga Aliança, preservaram-nos toda a profundidade e vigor de uma fé continuamente vivificada nas orações do Saltério. Até hoje ainda não se extinguiu a fecunda eficácia de seus hinos, de suas orações e de sua edificação na vida de fé da comunidade e do indivíduo.

Com o salmo 31 (vv. 2-6.15-16.20) a Igreja reza nesse dia em comunhão com as dores da Virgem Maria que por sua vez comunga das dores do Filho. O salmo atribuído a Davi expressa os sentimentos de quem se sente abandonado e clama por ajuda em meio a confiança que expressa na intervenção divina. Este salmo foi rezado por Jesus na hora de sua morte (cf. Lc 23,46), expressando a sua total confiança no Pai. “Davi, Jeremias e inúmeras outras pessoas se sentiram presas em uma situação sem esperança, sem ninguém a recorrer a não ser ao Senhor. Se é assim que você se sente ao ler isto, então, o salmo 31 é o seu salmo. Se você acha que ninguém pode ajudar a não ser o Senhor, veio à Pessoa certa, porque o Senhor é um especialista em situações impossíveis. Refugie-se no Senhor. E, quando ele o livrar ou quando o cerco à sua vida terminar, louve-o por seu amor fiel” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de setembro de 2017

(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) 
Exaltação da Santa Cruz.

Comparados com a grande antiguidade da salmodia, é pequeno o número de salmos que nos foi preservado. Como já indicamos a existência de salmos fora do Saltério, os 150 salmos que oficialmente temos representam apenas uma parte de uma poesia litúrgica muito mais rica.

Para a festa da Santa Cruz, a liturgia nos oferece o salmo 78 (vv. 1-2.34-38) como elemento de reforço ao episódio do deserto (Nm 21,4-9) que deve ser sempre recordado. O objetivo é que não se imite seus antepassados. Tendo assim um tom ‘histórico’, este é o segundo maior salmo de toda a Bíblia. Seu conteúdo nos conduz por 5 séculos da história de Israel, do tempo de Moisés a Davi, se detendo em alguns fatos e ignorando outros. “Enquanto lia as grandes histórias do passado de Israel, o autor notou uma tendência muito preocupante: Deus fazia coisas poderosas para resgatar seu povo, mas, em pouco tempo, a nação esquecia o que Deus havia feito. As memórias espirituais do povo eram incrivelmente curtas. O único remédio era recontar seguidamente a história da fidelidade de Deus e da desobediência de Israel. As crianças israelitas em casa ou na escola aos sábados precisavam ouvir a história vez após vez. Talvez – apenas talvez – assim elas não repetiriam os erros cometidos por seus avós” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de setembro de 2017

(Cl 3,1-11; Sl 144[145]; Lc 6,20-26) 
23ª Semana do Tempo Comum.

O saltério na sua forma atual não é fruto do ato único de coleção nem foi compilado pelas mesmas mãos. Isso se conclui no próprio saltério. Traz ainda claros vestígios de uma evolução histórica. O saltério dividido em cinco livros representa o resultado final do longo processo de coleção, em que o último colecionador compilou o Saltério utilizando diversas coleções mais antigas.

Voltamos ao nosso salmo 145, acrescido de alguns versículos (6 e 7), onde se menciona a memória da história salvífica que é transmitida de geração a geração, permitindo assim ao orante a eterna presença da salvação divina. A isso ele responde a partir dos hinos e cantos já existentes e nestes insere o seu cântico de louvor. Quando rezamos comunitariamente expressamos o nosso louvor com textos já aprovados nos quais inserimos a nossa oração pessoal comungando das experiências dos que nos antecederam na fé. É como se eles nos emprestassem a ‘voz’ para dizer o indizível.  


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de setembro de 2017

(Cl 2,6-15; Sl 144[145]; Lc 6,12-19) 
23ª Semana do Tempo Comum.

O salmo 102,19 nos deixa uma informação sobre o fato de que os salmos foram conservados para o uso no culto, e estes, antes de se transformarem num só rolo de livro, eram guardados individualmente para o uso litúrgico no arquivo do Templo.

O Sl 145 (vv. 1-2.8-11) é novamente proposto à nossa oração; constitui um hino comunitário litúrgico, que em conceitos conhecidos e correntes expressa o acervo da fé da comunidade. Nos vv. iniciais que nos são oferecidos já se destaca a ideia fundamental que perpassa todo o salmo: o louvor eterno do nome (ser), de Deus, que se revelou com toda sua majestade e soberania indevassável. Os versículos restantes de nossa liturgia celebram a bondade e misericórdia de Deus para com todas as suas criaturas como um traço fundamental da revelação do seu modo de ser. Por fim somos convidados a ação de graças juntamente com toda criação, para proclamar a glória de Deus que repetidamente volta a se manifestar a seus olhos e ouvidos nas obras do seu reinado.  


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de setembro de 2017

(Cl 1,24—2,3; Sl 61[62]; Lc 6,6-11) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Com relação aos autores dos salmos, temos 73 atribuídos a Davi, 2 a Salomão, o Sl 90 a Moisés, 12 salmos a Asaf, 11 aos filhos de Coré; além desses o Sl 88 a Hemã e Sl 89 a Etã. É provável que um ou outro salmo remonte à época de Davi, mas não há nenhuma possibilidade de que Davi seja o autor de todos os salmos que lhe são atribuídos. Pois em vários deles supõe-se a existência do templo no monte Sião ou outras circunstâncias históricas que indicam períodos históricos posteriores a Davi. Nenhum dos nomes citados nas epígrafes indica o verdadeiro autor. Os salmos foram originalmente anônimos e é provável que assim permaneceram por muito tempo.

Para endossar a confiança de Paulo no Senhor, que a ele confiou o ministério de transmissão da Palavra, a liturgia insere o salmo 62 (vv. 2-3.9). Atribuído a Davi, não faz menção a um evento específico. Ele pode ter sido escrito durante a rebelião de Absalão contra Davi ou depois dela. Um cântico de confiança em Deus: nenhum pedido é feito no salmo. Nos versículos que nos são oferecidos há uma confissão de fé que nos permite imaginar por quais lutas íntimas terá passado o seu autor antes de encontrar repouso voltando-se para Deus, de quem hauriu forças interiores para superar as aflições. Concentrando todas as suas energias internas, o poeta volta o pensamento para Deus, abrindo-se na oração com todo o seu interior voltado para Deus. Desistiu da busca de ajuda humana, confiando-se inteiramente a Deus. Agora está tranquilo, ao passo que antes estivera atormentado por ideias e dúvidas inquietantes. Agora vê com clareza de quem unicamente lhe pode vir a salvação. Não apenas se apaziguou a busca angustiante, mas o homem também possui chão firme debaixo dos pés: Deus é a rocha inabalável e a sua fortaleza.


Pe. João Bosco Vieira Leite

23º Domingo do Tempo Comum - Ano A

(Ez 33,7-9; Sl 94[95]; Rm 13,8-10; Mt 18,15-20)

1. Neste domingo e no próximo à liturgia nos traz dois textos do quarto discurso de Jesus em Mateus. Nele o autor reúne algumas normas ou direções para a vida comunitária. A proposta de reflexão neste domingo é a corresponsabilidade dos que fazem um mesmo caminho de fé. A obrigação de advertir o outro sobre o erro cometido. 

2. Para compreender melhor o que se propõe, a primeira leitura lembra que o profeta, qual vigia de uma cidade, deve transmitir as advertências de Deus para o seu povo que insiste em caminhos errados. O texto acentua a sua responsabilidade, para entendermos a nossa.

3. Por trás do texto da segunda leitura está a dúvida da comunidade a respeito de observar as normas estabelecidas pelo império romano, algumas pareciam exageradas. Paulo oferece como critério de discernimento o mandamento de não fazer ao outro o que não deseja para si. Se as leis do estado são justas e promovem o bem comum, devem ser observadas. 

4. O evangelho de hoje pisa o delicado chão da correção fraterna dando algumas indicações de como agir. O primeiro passo é o da conversa a sós, evitando expor a pessoa. E certamente não deve faltar o cuidado com as palavras, por mais que tenhamos razão em nossa mágoa. O texto acentua a palavra irmão, para ressaltar o modo de proximidade e ajuda.

5. Se a pessoa insiste em não reconsiderar a sua atitude, é oportuno pedir a ajuda de outros que compreendendo a situação ajudem nesse processo. Não para pressioná-lo, mas para chamar à razão. 

6. O terceiro passo só deve ser dado se houver insistência no erro é esse, em seu erro, possa prejudicar a comunidade. Pode parecer um tanto dura a expressão usada por Mateus, mas aqui ele defende o direito de salvaguardar a comunidade de alguém que pode prejudicar os demais na vivência da fé. 

7. O texto se conclui com um apelo a oração comunitária, para que também sob a presença de Jesus, de sua palavra, possamos discernir os caminhos que juntos fazemos na fé. Uma promessa preciosa que muito nos ajudará antes de tomar decisões precipitadas. Que o Senhor nos dê palavras acertadas para ajudar o outro e para orientar nossos próprios passos. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 09 de setembro de 2017

(Cl 1,21-23; Sl 53[54]; Lc 6,1-5)
22ª Semana do Tempo Comum.

Os múltiplos pontos de ligação entre os salmos e o culto da festa da Aliança das tribos de Israel levam-nos a concluir que a maioria dos salmos é de origem pré-exílica (exílio da Babilônica). O Saltério não contem alusões às leis rituais tardias, como seria de esperar na hipótese de sua origem pós-exílica, se levarmos em conta a estreita relação dos salmos com o culto ao Senhor. Apenas alguns poucos salmos incluem indicações diretas sobre a situação do exílio ou do período após o exílio (p.e. Sl 74; 79; 137).

O salmo 54 (vv. 3-4.6.8) aparece aqui de forma bastante seletiva em seus versículos, pois se trata de uma súplica pela por livramento diante de uma traição sofrida por Davi (1Sm 23,19-29). Sua oração chega a pedir o mal sobre os inimigos. “Bem pesado hein? Fico imaginando se teríamos coragem ou confiança suficiente para fazer uma oração como essa. Como você ora quando é atacado? O ataque pode vir de inimigos invejosos ou de poderes espirituais do mal; mas seja qual for a fonte, eles estão aí para destruí-lo. Temos confiança suficiente em Deus para pedir que ele nos defenda? Que não somente nos livre do ataque, mas também resolva as coisas de uma vez por todas? Temos coragem suficiente para pedir a Deus que ouça nosso caso e traga sua justiça perfeita sobre os que nos atacam? Algumas situações exigem que oremos com coragem” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 08 de Setembro de 2017

(Mq 5,1-4; Sl 70[71; 12[13]; Mt 1,1-16.18-23) 
Natividade de Nossa Senhora.

Um gênero literário difundido em todo o antigo Oriente Próximo que tinha o seu contexto vital na vida profana também penetrou na salmodia: a ‘sabedoria’. A ‘sabedoria’, que nos é conhecida sobretudo da história cultural do Egito como fenômeno de explicação racional de grande importância, ocupava-se especialmente da educação para uma conduta prática da vida. Encontramos esse gênero bem expresso nos livros dos Provérbios e Eclesiástico. Esse tipo de breves sentenças sapienciais encontra-se no Sl 127; 133. O poema sapiencial do Sl 49 é mais amplo e se apresenta expressamente como sentença sapiencial, adotando também a linguagem característica da literatura sapiencial. Igualmente os salmos 1; 112; 128 devem ser considerados salmos sapienciais.

Penso que é a única vez que na salmodia aparecem a somatória de versículos de salmos diferentes para cantar uma realidade: o nascimento de Maria prepara o nascimento de Jesus. O Sl 71 (v. 6) e o Sl 13 (v. 6) se somam nesse reconhecimento do que Maria cantará a despeito desse amor que sobre ela se entende antes mesmo que nascesse e assim experimentando esse amor providente seu coração explode de alegria no magnificat (Lc 1,46ss). Nos unimos ao louvor da Igreja pelos seus ‘inícios’ tendo em Maria o modelo de saber-se querida e guardada desde sempre.  


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 07 de setembro de 2017

(Cl 1,9-14; Sl 97[98]; Lc 5,1-11) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Com relação as palavras de maldição que encontramos nos salmos, como contraparte da bênção, esta tem suas raízes no mesmo mundo das ideias mágicas. Também ela foi adotada como ato sagrado no culto da confederação das tribos israelitas (Jz 5,23; 21,5; Dt 27s). No contexto da ideologia da Aliança servia para a autopurificação da comunidade passando a ser relacionada com Deus: ‘maldito diante da face do Senhor’ (Js 6,26; 1Sm 26,19). Nos salmos a maldição ocupa um lugar secundário, em comparação com a bênção.

A ação de graças de Paulo por Deus ter feito chegar a sua graça até essa comunidade Colossos, é expressada pela liturgia com o salmo 98 (vv. 2-6). Esse salmo se parece muito com o salmo 96, a tal ponto de alguns comentadores pensarem num mesmo autor. Assim como Deus escolheu a Israel no passado, a comunidade dos colossenses devem-se sentir-se escolhida e comprometida com essa escolha: “No plano salvífico de Deus a eleição de Israel tem seu papel definido; não como um povo que tivesse de se distinguir dos outros por especiais privilégios e cuja eleição pudesse ser tida como uma espécie de recompensa dada por causa daqueles; Israel está entre os povos, mas como povo em cuja história a vontade savífica divina – expressa na promessa e ameaça, na graça e no julgamento – sempre de novo se torna visível como o sentido da história em geral. A eleição constitui, portanto, tarefa, serviço ao plano salvífico de Deus” (Arthur Weiser – Os Salmos – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 06 de setembro de 2017

(Cl 1,1-8; Sl 51[52]; Lc 4,38-44) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Nos salmos encontramos as palavras de bênção e de maldição. Não representam um gênero autônomo no Saltério. Ocorrem em diferentes situações e gêneros de salmos. Bênção e maldição são originárias da visão mágico-dinamística da vida e inicialmente eram consideradas palavras mágicas, com poder de eficácia própria. Destinavam-se a aumentar ou diminuir as forças vitais, criar ‘salvação’ ou ‘perdição’ por si mesmas. É significativo que nas fórmulas de bênção usadas nos salmos desapareceu o efeito mágico autônomo das palavras de bênção. A eficácia da bênção está ligada ao Senhor, único a dispor dos poderes da bênção e o verdadeiro dispensador de bênçãos (Sl 24,5; 128,5; 134,3).  

A nossa liturgia nos oferece o salmo 52 (vv. 11-12) nos seus versículos finais. Aqui Davi expressa a sua confiança em Deus, mas o que antecede esse voto de confiança é a condenação de um homem (Doegue) que para se fortalecer ou ganhar prestígio diante de algum poderoso (Saul) é capaz de matar a outros. Praticamente Davi lança uma maldição sobre ele. Por isso Davi canta sua escolha por outro caminho, comparando-se à ‘oliveira verdejante na casa do Senhor’, imagem da pessoa piedosa. “Toda vez que entramos em um lugar santo e nos tornamos conscientes da presença de um Deus santo, saímos de lá melhores ou piores. Se estamos ali para nos separarmos das pessoas e das coisas comuns, é quase certo que sairemos piores. Sairemos como Doegue, prontos para impor aos outros a nossa noção do que é certo, forçando o outro a aceitar nossa ideia de Deus, cheios de indignação, levando adiante uma cruzada de guerra santa. Mas, se entrarmos ali famintos e necessitados, permitindo-nos ser vulneráveis diante de Deus, pedindo, sem meias palavras, e até mesmo de forma hostil, o que necessitamos, é quase certo que sairemos melhores. Sairemos, como Davi, gratos simplesmente por estarmos vivos, surpresos em saber que Deus está conosco, que o sacramento mais santo é alimento para muitas de nossas necessidades diárias” Eugene Peterson (in Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite