Quinta, 31 de agosto de 2017

(1Ts 3,7-13; Sl 89[90]; Mt 24,42-51) 
21ª Semana do Tempo Comum.

Com dissemos em nosso comentário anterior, entre as lamentações coletivas ou mesmo pessoais, podemos encontrar vários elementos em sua composição: invocação, lamentação, súplica, motivação, voto ou promessa de louvor. A sequência dessas partes não é sempre igual nem completa. De acordo com as múltiplas aflições materiais e espirituais, que constituem o motivo e o conteúdo das lamentações, isto é, calamidades gerais, como más colheitas, carestias, epidemias, guerra, inimigos, ou aflições suportadas pelo indivíduo, como doença, perseguição, zombaria, dúvidas ou o peso dos pecados, as lamentações revelam o quadro multicolor da vida pública e particular.

No reconhecimento do louvor de Paulo pela perseverança na caminhada e pelo crescimento na fé da comunidade de Tessalônica, a liturgia insere como resposta o salmo 90 (vv 3-4.12-14.17), atribuído a Moisés, reflete sobre a brevidade da vida humana, mas também uma oração por coragem e confiança no Senhor. “Em comparação com o caráter eterno e imutável de Deus, nossa vida parece pequena e insignificante. Deus nos leva à morte como se fôssemos grama (vv. 4-6). Para piorar a situação, os poucos dias de vida que temos estão cheios de problemas, tristeza e uma profunda consciência do pecado (vv. 7-10). Moisés orou: ‘Ensina-nos a contar os nosso dias’ (v. 12). Um amigo meu seguiu à risca a sugestão de Moisés alguns anos atrás. Ele descobriu quantos dias de vida lhe restavam se ele vivesse até os oitenta anos. Então, começou a escrever o número de dias restante na sua agenda – um dia menos de cada vez. Para algumas pessoas, isso era mórbido. Ele se deu conta de que isso o motivou a viver de forma mais corajosa. Deus usou essa ação para cultivar nele um coração de sabedoria, uma visão realista de como a vida realmente é curta e de quais deveriam ser nossas prioridades” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de agosto de 2017

(1Ts 2,9-13; Sl 138[139]; Mt 23,27-32) 
21ª Semana do Tempo Comum.

O gênero mais comum do saltério é o da lamentação ou súplica, do qual também existem numerosos paralelos fora do Antigo Testamento, especialmente na literatura babilônica. Quase um terço de todos os salmos se classifica nesse gênero. Do ponto de vista do sujeito dos salmos de lamentação, temos duas classes: lamentações coletivas (Sl 44; 74; 79; 80; 137; Lm 5) e lamentações individuais (Sl 3; 5; 7; 13; 17; 22; 25; 26; 27; 31; 35; 38; 39; 42s; 51; 55; 57; 59; 77; 88; 123; 140; 141; 142; 143; Lm 3). Em outros salmos também encontramos motivos de lamentação.

O salmo 139 (vv. 7-12) que ilustra nossa liturgia é bastante conhecido pelas suas versões musicais. Atribuído a Davi, o salmo é uma contemplação da grandeza de Deus em seu conhecimento de nossa vida de forma espetacular e até ‘assustadora’. Trata do foco de Deus em cada um de nós com indivíduos, uma declaração de que estamos na mente de Deus, em seu pensamento, cercados por seus cuidados, perto do seu coração: “Uma vez que Deus conhece todas as coisas perfeitamente, ele não conhece nenhuma coisa melhor do que qualquer outra coisa, mas [conhece] todas as coisas perfeitamente [...] Ele nunca é surpreendido, nunca fica espantado, nunca se pergunta sobre qualquer coisa [...] nosso Pai celestial nos conhece completamente. Nenhum mexeriqueiro pode nos delatar; nenhum inimigo pode fazer uma acusação prevalecer; nenhum esqueleto esquecido pode cair de algum armário escondido para envergonhar ou expor nosso passado; nenhuma fraqueza inesperada em nosso caráter pode vir à luz para fazer Deus se afastar de nós, uma vez que ele nos conhecia absolutamente antes que o conhecêssemos e nos chamou para si mesmo no pleno conhecimento de tudo o que era contra nós” A. W Jozer (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). Isso infunde uma confiança e uma atitude de abandono sem igual.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Terça, 29 de agosto de 2017

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) 
Martírio de São João Batista.

Ainda falando sobre os hinos, estes, como os nossos cantos na liturgia, pertencem à participação humana no ato de culto, como se fosse uma resposta nossa a Deus que se manifesta, em sua bondade e graça, de muitas maneiras, que reconhece a Sua presença e a Sua vontade. Ao fazer memória do martírio de São João Batista a liturgia lhe dá voz através do salmo 71 (vv. 1-8) para traduzir a confiança que tem em Deus desde o ventre materno, casando com o contexto bíblico narrado por Lucas no encontro das duas mães gestantes. Talvez sua autoria seja davídica (de Davi). Ele expressa sua inquietação pelo que vive no presente e pelo que virá no futuro, por isso abre seu coração a Deus expressando confiança absoluta em sua proteção e fidelidade. “As primeiras pessoas que cantaram os salmos sabiam a importância de uma fortaleza. A vida no antigo Israel era tão difícil que os israelitas muitas vezes precisavam de um lugar seguro de proteção contra os inimigos. No mundo moderno, normalmente não precisamos de um lugar de proteção física, mas ainda precisamos de locais de segurança, lugares onde nos sentimos amados e cuidados. [...] O salmista disse ‘Desde o ventre materno dependo de ti’ (v.6). Uma coisa é dizer que Deus é nosso refúgio e até mesmo Vê-lo como um forte protetor; outra coisa é de fato entrar na fortaleza de sua presença e confiar plenamente em seu cuidado. [...] Então, quando o exército inimigo aparece, quando problemas surgem ou quando tragédias acontecem, temos um lugar de refúgio para o coração e para a mente. As circunstâncias podem não mudar, mas estamos protegidos pela poderosa mão de Deus” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de agosto de 2017

(1Ts 1,1-5.8-10; Sl 149; Mt 23,13-22) 
21ª Semana do Tempo Comum.

Um dos gêneros literários do salmo é o que chamamos de ‘Hino’. A poesia dos hinos, cuja forma externa Israel tomou do mundo cultural circunvizinho, remonta ao início da formação do povo israelita, como cântico do mar de Maria (Ex 15,21) e outros que encontramos nos livros do Antigo e Novo Testamento: o Magnificat (Lc 1,46ss) e o Benedictus (Lc 1,68ss), entre outros. O hino tem a função dupla ainda reconhecível na forma do estilo: na forma de oração (invocação do Senhor) é um testemunhar, reconhecer a Deus, que devolve ao divino Doador as bênçãos recebidas (cf. a expressão hínica comum ‘bendito seja o Senhor’, em Sl 18,47; 28,6; 31,22, 41,14; 66,20, 68,20.36; etc.) e serve para ‘multiplicar o louvor de Deus’ (Sl 71,14), para ativar a abundância do seu poder e da sua salvação numa relação dialogal (cf. Sl 68,35; Dt 32,3).

Para endossar o louvor que Paulo convida ao início de sua primeira carta aos Tessalonicenses, tema do mês bíblico desse ano, a liturgia nos oferece o salmo 149 (vv. 1-5). O autor é desconhecido. Ele canta uma conquista e ao mesmo tempo espera pela vitória final de Deus sobre todo mal, como se pode conferir nos versículos omitidos pela liturgia. O restante do salmo é um convite a uma atitude de militância e combate. É claro que lendo e rezando no contexto atual podemos compreender que a batalha que empreendemos agora, numa sociedade organizada em seus poderes, entra no campo espiritual onde a oração e a Palavra de Deus são nossas armas de todos os dias em seu recomeço.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

21º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 22,19-23; Sl 137[138]; Rm 11,33-36; Mt 16,13-20)

1. Voltamos a uma narrativa muito conhecida sobre a pergunta que Jesus faz aos seus discípulos a respeito do que pensam as pessoas e eles a seu respeito. Mas o enfoque maior da liturgia é a eleição de Pedro para um serviço de autoridade que Jesus lhe confere. Assim, nesse contexto, podemos acolher a 1ª leitura da nossa celebração.

2. A narrativa nos fala de um cerimonial de instituição de um novo 1ª ministro no tempo do profeta Isaias no lugar de Sobna que havia se corrompido na busca de interesses pessoais. Aqui o simbolismo das chaves do palácio dava ao administrador o poder de discernimento sobre quem seria recebido ou não pelo rei. 1º ponto de ligação com o evangelho.

3. O texto também exalta o modo como exercerá tal autoridade: como um pai, preocupado mais com o bem dos filhos que com as honras e privilégios da função. 2º ponto de ligação com o evangelho. O governo de Eliacim não terminou bem. O de Pedro segue em seus sucessores, tendo por base uma contínua renovação da pergunta de Jesus: Quem sou eu para você?

4. O texto da 2ª leitura está ainda naquele ambiente da recusa dos judeus em acolher Jesus como o Messias esperado e a consequente abertura do cristianismo para os pagãos. É essa sabedoria divina que Paulo contempla e proclama em sua ação no mundo e na vida de cada pessoa. Para ele, para além da nossa compreensão de certos fatos, mesmos dramáticos, existe um sentido que desconhecemos.

5. Essa narrativa do evangelho aparece, nos três evangelhos, como um elemento central. Na metade do caminho, Jesus sonda a compreensão dos seus discípulos sobre sua divindade. Também para nós a pergunta ecoa como um alerta a todo esse novo conhecimento de Jesus que se vai construindo em nossa sociedade e no mundo.

6. Não se trata de um conhecimento intelectual, de um conceito, mas de uma experiência de fé que atravessa a nossa existência e faz-nos caminhar acima de qualquer nova descoberta.

7. Ao celebrarmos Pedro e Paulo no mês de junho, reconhecemos essa primazia de Pedro no comando da Igreja, sendo ele a pedra, que sobre Cristo, a rocha, todo o edifício se edifica. Essa imagem de Pedro vai consolidando ao longo do evangelho, mesmo com suas fragilidades, mas sempre salientando que a fé em Jesus é que mantém tudo de pé, inclusive o próprio Pedro.

8. Como vimos no evangelho da travessia do mar da Galileia, as forças contrárias não impedirão o seu avanço, desde que se deixe guiar, levar pela mão. A questão do ligar e desligar, aqui pode ser compreendido com relação a sua autoridade em transmitir a doutrina de Jesus e decidir o que é conforme ou não com o evangelho.

9. Muitos talvez tenham dificuldade de compreender essa missão de Pedro, mas dentro do contexto do evangelho essa aparece mais como um serviço aos demais. Não se confunde com outras conotações políticas e certamente exige a nossa conversão em compreender o seu papel, sua missão e rezar pelo seu ministério hoje presente no Papa Francisco. Compreender também os traços de humildade e serviço com que deve se revestir a missão de cada cristão colocado à frente dos demais em nossas comunidades de fé.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de agosto de 2017

(Rt 2,1-3.8-11; 4,13-17; Sl 127[128]; Mt 23,1-12) 
20ª Semana do Tempo Comum.

No saltério nós encontramos três gêneros literários mais constantes: o hino, a lamentação e ação de graças. Este último gênero é aparentado com os dois anteriores pelo conteúdo e pela forma, e com muita frequência ocorre em conexão com a lamentação.  Veremos um pouco de cada gênero nos comentários seguintes. Do breve salmo 128, nossa liturgia omite só o v. 6. A liturgia tenta casar a fidelidade a Deus por parte de Noemi com o filho gerado pela sua nora Rute, dando-lhe uma descendência. Seu autor é desconhecido. Esse salmo era usado como canto de peregrinação. Traz em si um olhar sobre a bênção de Deus que acontece nas coisas que fazem parte do nosso dia a dia, o trabalho, a família, um sereno olhar sobre as coisas da vida. É um salmo de sabedoria, pois nos diz como as coisas normalmente funcionam. O salmo começa dizendo que é feliz aquele que teme o Senhor. “O temor do Senhor não significa termos medo dele ou nos acovardarmos em um canto quando ouvirmos ele se aproximar. O temor de Deus é, em vez disso, uma atitude de confiança no Deus que nos ama e um compromisso com ele, e é expresso em nosso desejo de viver de acordo com sua Palavra” Walter Kaiser (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de agosto de 2017

(Rt 1,1.3-6.14-16.22; Sl 146[146]; Mt 22,34-40) 
20ª Semana do Tempo Comum.

Considerando a antiguidade das tradições que se refletem nos salmos, é preciso abandonar definitivamente o preconceito de que os salmos em geral são produto do judaísmo pós-exílico. Pois é relativamente pequeno o número de salmos para os quais se pode apresentar uma prova conclusiva de origem pós-exílica. No retorno da viúva Noemi à sua terra juntamente com sua nora Rute, uma estrangeira de resolveu segui-la abraçando sua cultura e religião, a liturgia celebra com o salmo 146 (vv. 5-10). Ele nasce de um coração decidido em suas resoluções de vida, louvar sempre o Senhor. Em seu comentário sobre os salmos, Charles Spurgeon cita as palavras de um homem chamado John Janeway no leito de morte: “Vem, ajuda-me com louvores [...]. o louvor agora é tudo o que me resta, e estarei envolvido nesta doce tarefa agora e sempre. Traz a Bíblia; abre-a nos salmos de Davi, e vamos cantar um salmo de louvor. Vem, vamos levantar nossas vozes em louvores ao Altíssimo. Vou cantar contigo enquanto tiver fôlego e, quando ele me faltar, cantarei melhor” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de agosto de 2017

(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) 
São Bartolomeu, Apóstolo.

Apesar de todas as inúmeras particularidades dos vários gêneros literários que influenciaram os salmos, existe certa relação com um arcabouço comum da tradição, que por sua vez aponta para o culto como referencial, no qual essa tradição não significava apenas recordação do passado, mas vivência e acontecimento atual. Alguns versículos desse salmo (vv. 10-13.17-18) dão voz ao louvor do Apóstolo. Este é o último salmo atribuído a Davi e que expressa grande gratidão. “Davi deixou para trás um legado de louvor. O Espírito Santo moveu o coração dele e guiou sua pena para escrever, pelo menos, 75 dos salmos bíblicos, e este salmo resume tudo isso. A preocupação de Davi não era que suas campanhas militares, seus projetos de construção ou seu reinado de quarenta anos sobre Israel fossem lembrados pelas gerações posteriores. Ele queria que as pessoas usassem as palavras dele para exaltar e horar o Deus vivo e verdadeiro. Davi queria que o nome de Deus fosse bendito em todas as nações em todas as ocasiões para todo o sempre. [...] você já louvou a Deus apenas por ele ser quem é? Normalmente o louvamos pelo que tem feito por nós (seus atos), mas eu gostaria de saber quanto tempo faz que louvamos a Deus simplesmente por seu maravilhoso caráter”  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 23 de agosto de 2017

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) 
Santa Rosa de Lima.

Como os salmos do Antigo Testamento dependem dos gêneros da poesia cúltica do antigo Oriente quanto à sua forma, será necessário tomar estes como base de comparação, pois só sobre este fundo será possível identificar na sua essência as tradições próprias de Israel e verificar até que ponto essas influenciaram o caráter dos salmos, não só quanto ao conteúdo, mas também quanto à forma. Isso certamente é um dado para os estudiosos, para nós uma informação. O salmo 148 nasce com a expressão poética de quem vê na natureza uma oportunidade para louvar o Senhor, se bem que nosso texto omite parte desse louvor, se restringindo aos vv. 1-2.11-14. Ele convida toda a criação ao louvor. Nós cristãos podemos toma-lo como canto de louvor a Jesus Cristo, que estava com o Pai na criação do mundo e que foi elevado acima de todas as criaturas, nos lembra Paulo. “Tantas vezes recorremos a Deus apenas quando estamos necessitados. Quase sempre, para nós, ele não passa de um instrumento ou ferramenta subserviente aos nossos desejos e usado para atingir algum desígnio egoísta. É claro que Deus é nossa fonte, nossa salvação, nosso sustento. Mas ele deve, em primeiro lugar e fundamentalmente, ser visto como alguém totalmente belo em si mesmo, digno de todo louvor, toda glória e toda honra, ainda que não nos beneficiemos com sua bondade” Samuel Storms (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de agosto de 2017

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 
Nossa Senhora Rainha.

Ao entrarem na Palestina, as tribos de Israel pisaram uma terra de cultura antiga, onde se cruzaram a influência e herança dos grandes impérios do Eufrates e do Nilo, do mundo mediterrâneo pré-helênico e da Ásia Menor. Estou colocando esse dado para que sejamos cientes que essas formas estrangeiras deram um sentido novo as tradições de Israel e que estas repercutem na sua linguagem religiosa ou nos seus cânticos. O pequeno salmo 113 nos é apresentado nesta memória mariana quase em sua totalidade, omitindo-se apenas o versículo final. Um salmo de louvor que faz parte do culto anual da Páscoa. Os salmos 113-118 são conhecidos na tradição judaica como o ‘Hallel’ (Aleluia). No v. 5 vem a pergunta que aparece várias vezes na bíblia: ‘Quem pode comparar-se ao nosso Deus, ao Senhor que no alto céu tem seu trono...’, a resposta será sempre a mesma: nada se compara ao nosso Deus. Mesmo assim nos desdobramos em palavras, conceitos, comparações que nos ajudem a entendê-lo. “Por isso dizemos que Deus é como um pai amoroso, ou como um guerreiro poderoso. Às vezes, apontamos para as coisas que Deus fez para o descrevermos – Deus é o Criador, Deus é nosso Redentor. Essas comparações ajudam-nos a entender quem é Deus e como ele se parece, mas, no final, ele é como nada no universo” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). Talvez esse pensamento possa nos servir de meditação ou contemplação.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de agosto de 2017

(Jz 2,11-19; Sl 105[106]; Mt 19,16-22)
20ª Semana do Tempo Comum.

O Saltério foi chamado de ‘livro de cânticos da comunidade judaica’. Há uma certa razão para isso, pois no próprio Saltério encontram-se diversas indicações referentes ao uso litúrgico dos salmos no culto do Templo e especialmente da sinagoga no judaísmo tardio. Você pode verificar em sua bíblia que os títulos de alguns salmos mencionam as ocasiões para os quais o respectivo salmo servia. O salmo 106 soa como uma advertência ao povo pelas vezes que Israel havia esquecido ou desobedecido a Deus no passado. Desse longo salmo a liturgia nos oferece os vv. 34-37.39-40.43-44 para servir de ressonância ao texto dos Juízes que nos é oferecido como 1ª leitura sobre os extravios de Israel na terra prometida e das tantas vezes que Deus teve que solicitar a intervenção de alguém (juiz). Já encontramos com esse salmo no dia 9 de agosto. Não se pode precisar a sua data. Os versículos que nos são oferecidos interpreta que a desobediência ao mandamento de Deus é a causa de conseguirem derrotar os habitantes do país. Mas é sempre o Deus gracioso que, recordando sua Aliança, volta a ter compaixão do seu povo e atende os seus pedidos. A fidelidade exigida por Jesus a quem quer segui-lo vai além dos mandamentos (evangelho). É preciso um despojamento tal que só podemos confiar em sua providência e misericórdia. Talvez possamos fazer uma revisão de nossa caminhada e dos momentos que ‘traímos’ o nosso seguimento.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Assunção de Maria 2017

(Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10.ab; Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-56)

1. Nosso 20º Domingo do Tempo Comum sede lugar a essa solenidade da Assunção de Maria, celebrada no 15 de agosto tanto no Oriente como no Ocidente. O Oriente chama de festa da ‘Dormição’, enquanto o Ocidente chama de ‘Assunção’. Ambas contemplam a realidade desse trânsito de Maria para a vida eterna.

2. Como não temos informações precisas sobre como isso se deu, a Igreja celebra esse mistério a partir do que foi a vida de Maria na sua relação com Deus e com a causa do reino.

3. O evangelho da nossa missa a apresenta a partir do episódio da visitação e do seu canto da ação de graças. Tudo isso ocorre logo após a anunciação do anjo. A liturgia nos convida à contemplação desse caminhar de Maria como um sopro de Deus que se espalha ou se expressa através dela até Isabel, até João Batista e que retorna outra vez a Deus.

4. Diz um autor, de modo poético, que a canção divina que ela leva dentro de si vai chegando a todos por onde ela passa: “É bom se o homem faz cantar Deus nele” (Rabbí Elimelek).

5. Assim a sua viagem evoca Isaias 52,7: ‘Com são belos os pés do mensageiro que anuncia a salvação...’; o encontro entre Isabel e Maria evoca também o que foi lido na 1ª leitura da missa da vigília. Esta exclama diante da visita de Maria, como Davi ao saber da visita da Arca da Aliança. A arca era sede da presença de Deus e Maria, trazendo Cristo em seu ventre, sede da perfeita presença divina no meio dos homens.

6. Tudo leva a crer que Lucas parte desse fato para dizer que Maria é como a arca da nova aliança a caminho, como uma espécie de ‘ostensório’, dirá a piedade popular. O que a piedade popular já intuía, a Igreja proclama como dogma de fé em 1 de novembro de 1950. Esse espaço privilegiado da habitação divina foi preservado da corrupção da morte.

7. Aquela que contemplamos com o título de Nossa Senhora da Glória, e, portanto, ‘porta do céu’, aclama a ladainha, se desdobra em outras compreensões. A mãe elevada ao céu é mãe que carinhosamente vela pelos seus filhos, por isso o título de Rainha a acompanha no próximo 22 de agosto.

8. “O Rei e a Rainha não são, na Bíblia, títulos de nobreza, mas traduzem a dupla função de quem deve estar particularmente próximo de Deus e particularmente próximo dos homens. Para acolher de perto toda Palavra que vem do coração de Deus, e para trazer à humanidade a prosperidade, o bem-estar e a felicidade. Tal é a função do Rei e da Rainha” (D. Antonio Couto).

Senhora da Visitação ou da Saudação,/ que corres ligeira sobre os montes,/ Senhora da Assunção ou da Dormição,/ Santa Maria Rainha,/ vela por nós, fica à nossa cabeceira./ É bom ter a esperança como companheira.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de agosto de 2017

(Js 24,14-29; Sl 15[16]; Mt 19,13-15) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Um problema para quem deseja estudar mais atentamente os salmos, como havia dito anteriormente, é saber que existe uma série de salmos que não foram incluídos no Saltério, por exemplo: Ex 15,1-18; 1Sm 2,1-10; Is 38,10-20; Jn 2,3-10, e também se encontram em outros livros não elencados na Bíblia. De modo geral o livro dos Salmos compreende 150 salmos. Alguns manuscritos trazem um salmo 151 que não faz parte da coleção. Alguns salmos se repetem, como o Sl 19 e Sl 27; um mesmo salmo pode ser dividido em dois como o caso do Sl 9 e Sl 10; 42 e 43. Estas e outras situações veremos em nossa apresentação desses cânticos. O salmo 16 é atribuído a Davi, quando se encontrava numa situação de perigo. Originalmente ele traduz confiança na certeza de que Deus o livrará dessa situação. Temos apenas alguns versículos desse salmo, que não é muito longo. Aqui ele endossa a resposta do povo na conclusão do discurso de Josué sobre manter-se fiel a Deus em sua escolha. Assim Josué morre em paz em nossa narrativa. Certamente a oração de Davi traz essa afirmação de confiança e pedido de refúgio diante das situações de perseguição que sofreu antes de tornar-se rei de Israel. A confiança do salmista ultrapassa a proteção somente para essa vida, pois Deus não o abandonará às mãos da morte. Assim o salmista antecipa a confiança de Jesus em que o Pai o assistirá em todos os momentos. Podemos rezar também com esse espírito.  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de agosto de 2017

(Js 24,1-13; Sl 135[136]; Mt 19,3-12) 
19ª Semana do Tempo Comum.

É curioso que o nome ou título ‘Salmos’ dado a esse livro tem sua origem no Novo Testamento (Lc 20,42; 24,44; At 1,20; 13,33) quando da versão grega do Antigo Testamento que foi feita a partir do séc. III a.C. na diáspora judaica de Alexandria.  Na Bíblia Hebraica o livro dos salmos originalmente não trazia um título geral. Eles chamavam os salmos de Hinos ou Orações, não abrangendo toda a riqueza de cânticos nele contido. O salmo 136 une-se à memória feita por Josué diante do povo já nos primeiros passos de sua conquista da terra prometida. Aqui temos alguns versículos (vv. 1-3.16-18.21-22.24). Dar graças ao Senhor é reconhecer a sua grandeza dizendo sobre o que Ele mesmo nos revelou em sua Palavra e ao mesmo tempo agradecemos tão grandeza e bondade. Podemos dizer, dentro do espírito bíblico, que Ele se agrada desse tipo de adoração. No texto integral vemos uma espécie de refrão que provavelmente era a resposta do povo ao sacerdote ou líder do momento de louvor após o convite feito pelo mesmo. Nas diversas traduções bíblicas a verso de resposta ‘sofre’ várias versões: pois seu amor é fim; eterna é a sua misericórdia; seu amor nunca acaba; sua fidelidade é para sempre etc. “As palavras ‘o seu amor dura para sempre’ parecem uma verdade simples, redigida em palavras simples. Mas, quando o servo de Deus aprende essas palavras pela repetição, e a verdade delas é experimentada vez após vez, tanto em bênção quanto em problemas, ela acha que, em tempo de uma necessidade real, essa é uma afirmação fascinante que não pode ser repetida com tanta frequência” – Michel Wilcook (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de agosto de 2017

(Js 3,7-11.13-17; Sl 113A[114]; Mt 18,21—19,1) 
19ª Semana do Tempo Comum.

A importância dos salmos não se limita ao uso que fazemos dos mesmos na liturgia. De modo duradouro e profundo, o livro dos Salmos contribui para a espiritualidade pessoal e familiar, como livro de consolação e oração, como guia para Deus nas horas de alegria e de tristeza. É difícil avaliar toda a força irradiada pelos salmos e sua influência na piedade pessoal de tantos homens e mulheres. Da nossa liturgia recolhemos o salmo 114 quase que na íntegra, ficando de fora os dois últimos versículos. Josué assume o posto de Moisés e se prepara para conduzir o povo numa nova travessia, desta vez do Jordão, numa forte referência a travessia do Mar Vermelho. O salmo quer recordar a ação libertadora que Deus operou em favor do seu povo. É provável que este salmo esteve ligado à celebração anual da Páscoa. Para seguir adiante é importante não esquecer. “Deus sozinho tirou seu povo ‘do Egito’ (v. 1) e ‘fez da rocha um açude, do rochedo uma fonte’ (v. 8). Este é o ponto alto do salmo. No Novo Testamento, os cristãos têm um excelente equivalente do salmo 114 na declaração igualmente poética do apóstolo Paulo sobre a segurança do que crê em Cristo, em Romanos 8. O salmista havia feito a pergunta: se Deus é por seu povo, o que pode ficar em seu caminho para se opor a ele? A resposta é: absolutamente nada, nem mares, nem rios nem montanhas [...]. Tendo em vista os muitos perigos, labutas e armadilhas que surgem na vida dos cristãos, como Paulo pode dizer que não há nada que possa nos separar do amor de Cristo? É por causa do poder de Deus, diante de quem nenhum mal pode prevalecer, e por causa da  natureza do amor de Deus na aliança. Tendo em vista esse poder e amor inabalável, podemos muito bem olhar para os problemas desta vida e clamar com ousadia: ‘Abram caminho diante de Deus’” – James Boice (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de agosto de 2017

(Dt 34,1-12; Sl 65[66]; Mt 18,15-20) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Dentre os livros do Antigo Testamento o dos Salmos foi aquele a que a comunidade cristã teve acesso mais direto e pessoal. Eles inspiraram os cantos na reforma litúrgica que ainda vive em processo nessa área. Suas expressões poéticas continuam vivas nas comunidades pelo uso litúrgico desses cantos, além daqueles que são usados na própria liturgia como o salmo 66 que nos é proposto num louvor a Sua ação em favor do seu povo através de Moisés que morre sem entrar na terra prometida. A liturgia nos oferece alguns versículos do mesmo de modo descontínuo. Seu autor é desconhecido. Ele convida a comunidade a cantar em louvor a Deus, mesmo tendo atravessado dificuldades: “O sofrimento trágico e a bondade de Deus não se anulam mutuamente. Algumas pessoas vivem sob a ilusão de que, se Deus é bom, não deveríamos sentir qualquer dor – do contrário, se estivermos sentindo dor, Deus já não é bom. Ambas as conclusões são incorretas. Deus é bom o tempo todo. O cristão ainda pode passar por dor, doença ou desânimo, mas, nessa situação difícil, Deus ainda é bom. Ele está conosco enquanto passamos pela provação. Ele promete que a provação nos fará semelhantes a Jesus, se respondermos corretamente a ela. Sabemos também que a provação, um dia, chegará ao fim” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de agosto de 2017

(Dt 31,1-8; Sl Dt 32; Mt 18,1-5.10.12-14) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Além dos salmos que estão colecionados no saltério, temos outros salmos e Cânticos espalhados ao longo dos escritos de Antigo Testamento, como este que hoje a liturgia nos oferece, um pequeno trecho, do Cântico em honra do Rochedo de Israel, pronunciado pelo próprio Moisés antes de morrer num delicado e artístico reconhecimento da ação de Deus em favor do seu povo que está para entrar na terra prometida. Recomendo a leitura de todo o capítulo 32 para captarmos toda a beleza do texto: “O ‘cântico de Moisés’, composto e recitado às margens do Jordão, compõem um díptico com aquele cantado junto ao mar Vermelho, só pela sua posição, depois de sair e antes de entrar. Na forma e no conteúdo, é bem diverso. Poema de grande originalidade e fôlego, no qual confluem e se fundem elementos variados, ricos em imagens e linguagem seleta. [...] Para orientar a leitura, podemos propor uma visão global simplificada: numa grande querela do Senhor com o seu povo, projeta castiga-lo e acabar com ele; mas, antes de ditar sentença, pensa que o executor estrangeiro seja mais culpado, volta-se contra ele e salva seu povo. Em outras ocasiões se interpôs a intercessão de Moisés; aqui tudo se resolve no interior misterioso de Deus” (Bíblia do Peregrino – Paulus). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de agosto de 2017

(Dt 10,12-22; Sl 147[147B]; Mt 17,22-27) 
19ª Semana do Tempo Comum.

É possível ler os salmos de maneira seguida e ir se familiarizando com essa sequência de orações ou procurar aqueles que lhe são mais familiares ou conhecidos de alguma forma; comparar a tradução da liturgia com a sua bíblia pessoal e verificar os comentários de pé de página que algumas trazem e nos ajudam a compreender um pouco o contexto, a época, o autor e o motivo do louvor. Se lhe interessar mais ainda aprofundar o conhecimento, as livrarias dispõem de livros que ajudam na introdução desse mundo bíblico, enriquecendo a sua oração. Só não devemos ignorá-los. Também através deles o Senhor tem algo a nos comunicar.

O salmo 147 é aqui nos oferecido em sua segunda parte (147B) vv. 12-20. Um salmo de louvor que pode ter sido escrito para comemorar o fim da reconstrução dos muros de Jerusalém sob a liderança de Neemias. Ele concentra o louvor na diversidade dos dons divinos concedidos ao seu povo. Assim ele casa com a 1ª leitura num convite por parte de Moisés a um reconhecimento e louvor. Ele nos lembra e incentiva a que em qualquer tempo ou atividade de nossa vida sejamos capazes de encontrar elementos, razões, ainda que pequenas para bendizer a Deus a partir de nossas palavras, como o próprio Jesus encontrava ao longo do seu ministério, em momentos de intimide com o Pai ou simplesmente em público. 

  
Pe. João Bosco Vieira Leite

19º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(1Rs 19,9a.11-13a; Sl 84[85]; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33)

1. Esse domingo poderia ser caracterizado pela experiência de Deus na vida dos que o buscam e particulares momentos da vida. É assim que podemos ler essa experiência de Elias, que profetizou num momento de profundas mudanças políticas e sociais. O profeta deve sinalizar a fidelidade a Deus do seu povo.

2. Essa fidelidade se encontra ameaçada por um matrimônio misto de cultura e religião diferentes. Elias deve denunciar tais perigos. É perseguido. Sente-se só na sua luta. Resolve fugir. Em sua busca de entender o que está se passando vai rumo ao Horeb, o monte onde Moisés teve seu encontro com Deus.

3. A leitura faz com que o encontremos já em meio a sua experiência da presença de Deus. Seria interessante ver o texto de modo mais amplo entre o percurso e a chegada para entendermos melhor o que se passa. O objetivo da nossa liturgia é fazer-nos perceber que a imagem que trazemos de Deus pode e deve sempre mudar ao longo do caminho.

4. Nas diferentes circunstâncias que atravessamos na vida, Deus pode agir de forma nova e surpreendente. O desafio da nossa fé é deixar que Deus seja e aja como bem lhe convir e não de acordo com esquemas pré-definidos que trazemos conosco. Há sempre algo novo a se descobrir.

5. Na 2ª leitura Paulo lamenta que seus irmãos judeus, povo escolhido, tenham rejeitado a Cristo como resposta às promessas de Deus, pois não tem sido pouco o seu esforço em convencê-los em sua pregação. Para expressar o seu sofrimento e decepção, diz que estaria disposto a abandonar a fé em Cristo, se isso os pudesse aproximar da fé em Jesus. Certamente um modo de falar.

6. Ele expressa os mesmos questionamentos e inquietação que sofremos diante dos nossos, dos mais próximos, não aderirem ao evangelho e à vida cristã.

7. Domingo anterior acompanhamos a transfiguração de Jesus numa experiência particular a Pedro, Tiago e João. Hoje ele se revela aos demais em outra circunstância. Sabemos que a barca é símbolo da Igreja, que o mar representa as forças contrárias e que só Deus tem o domínio sobre Ele e caminha acima dele.

8. Sem nos perdermos nessa gama de detalhes, o texto quer nos revelar primeiramente que Jesus é Deus. Escrito sob a ótica da fé, o autor confirma a sua fé e a dos demais em Jesus. Mas não só isso. Ele lembra que não estamos sozinhos nas dificuldades da vida. A comunidade de Mateus se viu muitas vezes agitada pelas perseguições, pelas divisões internas e outras situações.

9. Provavelmente para reforçar que a confiança de Pedro, colocado à frente dos demais, estava mais em Jesus que em si mesmo, ele conta esse desafio de caminhar sobre as águas, com tudo que elas representam. Assim Jesus sobe na barca e os acalma em meio as suas tempestades externas e internas. Como a Elias, Deus nos diz que não estamos sozinhos, nem deve ser confundido com fenômenos da natureza.

10. Que nos resta se não humildemente estender-lhe as mãos nas diversas circunstâncias da vida onde precisamos ser guiados ou mesmo salvos. Todo esse mundo de imagens oferecidas na liturgia da Palavra aponta para a oração em seus vários aspectos ou ao menos da necessidade dela para caminhar na vida.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de agosto de 2017

(Dt 6,4-13; Sl 17[18]; Mt 17,14-20) 
18ª Semana do Tempo Comum. 

Certamente você já recebeu ou leu algum panfleto que traz uma seleção de salmos para determinadas situações, como uma espécie de ajuda para localizar o salmo ideal. Esse tipo de ajuda revela os vários tipos ou estilos de salmos que nos são oferecidos nessa coletânea: salmos de louvor, de desespero, de vitória, de confiança... Cada salmo vem ao nosso encontro num dado momento da nossa vida. Pode soar estranho ou indiferente o salmo que você está lendo ou escutando hoje, mas um dia você perceberá que determinado salmo bem que descreve seu sentimento naquela situação ou momento existencial. Ele pode ajudar a descrever seus sentimentos a Deus. No original hebraico, o livro dos salmos traz o título de "louvores". Nem todo salmo lhe conduzirá nessa atitude, mas o objetivo dessa coletânea é exaltar a Deus em qualquer circunstância da vida. O salmo de hoje é muito conhecido pela expressão apaixonada com que Davi se volta em agradecimento a Deus pela vitória alcançada (e foram muitas). A liturgia selecionou alguns versículos para nós (2-4; 47-48.51) para expressar o porquê que o povo deve ter sempre presente tudo que Deus fez em seu favor. "As primeiras palavras de Davi, seu grito antes do cântico começar, eram palavras de amor a Deus. Na verdade, a palavra hebraica que Davi usou não é a palavra comum para amor. A palavra usada significa um amor ansioso, ardente, um amor que abraça alguém. Davi queria estender os braços , colocá-los em torno de Deus e segurá-lo. Você já sentiu todo esse amor pelo Senhor - tão movido por gratidão e adoração a ponto de querer simplesmente colocar os braços em volta de Jesus e abraçá-lo? Da próxima vez que seu coração for movido de profundo amor a Deus, faça o que Davi fez. Ele proferiu palavras que expressavam os sentimentos de seu coração - 'Eu te amo, ó Senhor' - aí então, quem sabe, talvez Davi tenha alcançado o Senhor em seu abraço" (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). Provavelmente foi esse o sentimento desse pai que alcança a libertação do filho; pena que o evangelho não nos descreva sua gratidão. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de agosto de 2017

(Dt 4,32-40; Sl 76[77]; Mt 16,24-28) 
18ª Semana do Tempo Comum. 

Alguns salmos não aparecem na nossa liturgia semanal ou mesmo dominical, uma forte linguagem anti-evangélica torna sua leitura difícil, apesar de compreendermos a mentalidade da época. Alguns salmos trazem um título, elementos antigos acrescentados aos salmos para dar-nos algumas pistas sobre o autor, o instrumento que melhor permite a execução, contexto histórico ou alguma descrição do salmo. O salmo de hoje é o 76(77),12-16. A liturgia casa esses versículos com o convite de Moisés para que o povo ponha "a mão na consciência" é recorde o quanto Deus agiu em favor deles. O melhor é voltar-se para Ele numa atitude de obediência e observância de suas leis. Isso traz consigo grandes benefícios ao fiel. Esse é apenas um aspecto do nosso salmo, que depois do lamento volta-se para uma atitude de recordação. "Lembrar-se da obra de Deus no passado não resolverá totalmente os problemas do presente, mas é uma boa maneira de começar a mover-se na direção certa. Nós nos lembramos daqueles tempos em que pensávamos que Deus havia se esquecido de nós ou estava zangado conosco, e percebemos que, se na nossa avaliação naquela época estava, pode ser que esteja errada na presente situação. Começamos a nos abrir para tudo o que o Espírito Santo está tentando fazer em nós e por nós, e olhamos de modo diferente para improvisam no qual nos encontramos. Nossa situação atual torna-se mais uma oportunidade para que Deus demonstre sua fidelidade, seu poder e sua bondade" (Douglas Connelly, Guia Fácil para entender Salmos, Thomas Nelson Brasil). Quando nos sentirmos angustiados e aflitos, recordemos o que Deus já fez em nossa vida. Ele não abandona uma obra começada. Olhemos para trás e para cima, para sermos orientados nesse olhar para a frente. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de agosto de 2017

(2 Cor 9,6-10; Sl 111[112]; Jo 12,24-26) 
São Lourenço, diácono e mártir. 

Os salmos foram escritos em momentos diferentes e levaram um longo tempo para serem reunidos. Os estudiosos os dividem de várias maneiras, que aqui não vou tratar, mas o que nos importa é que, como palavra de Deus, podem nos falar de modo particular ao coração. Para a festa de São Lourenço a Igreja escolheu o salmo 111 (112), praticamente na íntegra, omitindo apenas o último versículo. Ele ilustra a vida do nosso santo como alguém temente a Deus e cuja vida O honra. Sabemos que, apesar da certeza cantada pelo salmista, temos pessoas de fé que estão atravessando momentos difíceis.  Acreditamos que mesmo aqueles que buscam caminhar na presença do Senhor passam por provações, problemas, doenças e desemprego, não como punição, mas como parte de um processo de refinamento. É difícil observarmos tudo isso, pois queremos uma solução mais imediata. Resta-nos a confiança, a paciência, a perseverança, a busca e a certeza de que Deus a Seu tempo virá em nosso socorro. Sem uma entrega total, propõe o evangelho, não veremos os frutos. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 9 de agosto de 2017

(Nm 13,1-25--14,1.26-30.34-35; Sl 105[106]; Mt 15,21-25) 
18ª Semana do Tempo Comum.

O livro dos salmos é composto por um conjunto de 150 cânticos individuais. Cada salmo é único. Como a nossa liturgia nem sempre oferece o salmo de maneira integral, recomendo a leitura do mesmo na Bíblia. Esta Palavra antiga, por ser Palavra de Deus, fala conosco e para nós ainda hoje. 

O salmo 105 (106) nos é oferecido parcialmente (do v. 6 ao 7; do 21 ao 23) para traduzir em oração o contexto da primeira leitura, para que funcione como um lembrete a Israel das vezes que desobedeceu a Deus, uma espécie de terapia da realidade. Antes de condenarmos os israelitas pela sua constante desobediência à Deus, apesar de senti-lo tão próximo, pense na sua própria vida. Quantas vezes não renovamos nosso compromisso com Ele e logo depois esquecemos, retomando velhos hábitos? Deus é fiel em seu projeto, nós é que desperdiçamos as bênçãos e oportunidades que nos oferece para crescermos. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 08 de agosto de 2017

(Nm 12,1-13; Sl 50[51]; Mt 14,22-36) 
18ª Semana do Tempo Comum.

Os salmos foram originalmente cantados, mas não temos registros de tais melodias, apenas de alguns instrumentos que acompanhavam a execução dos mesmos. Hoje temos uma gama de melodias criadas para dar mais ênfase e beleza a esses textos bíblicos que nos ajudam a expressar nossos sentimentos a Deus e às pessoas que nos cercam. A música bem associada ao texto pode nos tocar de modo ainda mais profundo.

Como o clima entre Moisés e o povo estava ficando um pouco tenso, Deus resolve vir em defesa de Moisés e com um ‘castigo’/sinal repreende a atitude de alguns. O salmo 50 vem colocado como expressão desse lamento de quem reconhece a falta cometida e pede perdão. O texto não está na íntegra, segue até o v. 13, mas expressa bem os seus sentimentos. Aqui é Davi que pede perdão pelos pecados cometidos de cobiça, adultério, assassinato(...), mas paralelamente ao reconhecimento do seu pecado Davi nos fala da misericórdia, do seu amor inesgotável e da grande compaixão de Deus. Ele é aquele que lava, apaga e purifica nossas iniquidades. É preciso dar ‘nomes aos bois’ se quisermos ser sinceros com Ele e confiar no seu perdão: “Todos os pecados são perdoáveis, quando confessados e abandonados, mas alguns pecados carregam enormes ramificações [...] consequências terríveis, às vezes permanentes. Davi morreu odiando o dia em que foi para a cama com Bate-Seba por causa dos constantes conflitos e das consequências que resultaram desse pecado. Mas, lá em seu íntimo, ele sabia que o Deus de Israel o havia perdoado e lidado com ele com graça”  (Chuck Swindoll in Salmos, guia fácil para entender – Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 07 de agosto de 2017

(Nm 11,4-15; Sl 80[81]; Mt 14,13-21) 18ª Semana do Tempo Comum.

No dia 5 de agosto da semana passada fizemos exatamente dois anos de reflexões semanais e assim fechamos esse ciclo dos breves comentários aos textos do ano par e ímpar. Para dar sequência a essa ‘coluna’ e voltar-se sobre os mesmos textos da liturgia semanal, pretendo dar uma atenção especial aos salmos que compõem o nosso quadro. Estes se repetem e pode ser que tenha que tentar uma outra abordagem a partir dos mesmos textos litúrgicos. Os salmos têm uma importância particular na espiritualidade bíblica dos judeus e também dos cristãos. Eles são constantemente citados pois seu conteúdo ou mesmo versículos ajudaram a levantar o ânimo, curar feridas e enxugar muitas lágrimas. Neles encontramos expressadas as muitas emoções humanas. Muitos memorizaram seus textos como quem aprendeu a rezar o Pai Nosso ou a Ave Maria e os recitam todos os dias. O salmo de hoje nos é apresentado a partir do v. 12 para dar voz ao lamento de Moisés, na 1ª leitura, que lamenta com Deus o peso que se tornou a condução do povo pelo deserto e de sua constante cobrança a ponto do próprio Moisés duvidar das intenções do Senhor. O salmo lamenta essa falta de memória que nos prende ao hoje, ao imediatismo das pessoas, sem perceber que é necessário manter desperto os ouvidos naquilo que Deus nos diz, nos promete e já realizou. Deus poderia oferecer mais se seu povo lhe fosse fiel, diz o salmista. As dificuldades que atravessam é fruto do afastamento de suas leis, de Sua Palavra. Quantas vezes faltamos em nosso compromisso com Deus por causa de uma outra atividade (sem medir aqui o grau de sua importância ou não)? Sem uma mentalidade legalista, mas quantas vezes perdemos o nosso encontro dominical, deixando de ouvir o que Deus nos propõe para a vida? Ou mesmo encontrar aqueles que compartilham comigo da mesma fé e se sentem motivados só pela minha presença? Nossas comunidades ficam empobrecidas com a nossa ausência.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Transfiguração do Senhor – 06 de agosto de 2017

(Dn 7, 9-10.13-14; Sl 96[97]; 2Pd 1,16-19; Mt 17,1-9).

1. No ciclo litúrgico do chamado Tempo Comum temos sete Festas chamadas “do Senhor” com datas fixas em nosso calendário. Quando elas caem no domingo são celebradas como solenidades. A festa da Transfiguração do Senhor surgiu no Ocidente em meados do séc. IX. Em sua teologia, via-se na transfiguração de Cristo e divinização da humanidade, uma espécie de superação da natureza decadente de Adão.

2. Para ilustrar tal pensamento, a liturgia da Palavra é introduzida com esse texto da profecia de Daniel, que contempla, para os tempos futuros, um novo reinado. Esse filho do homem, virá do céu, de perto de Deus para introduzir uma nova visão das relações, até então marcadas pela opressão e tirania de alguns reinados.

3. Lemos esse texto para afirmar que em Jesus essa nova humanidade se projeta como algo possível. Na segunda leitura, Pedro reafirma tal pensamento. Para os que contemplam o tempo presente de modo superficial, as coisas depois de Jesus seguem o mesmo ritmo. Ele que esteve no Tabor reafirma a experiência da divindade de Cristo. E acrescenta, de modo quase poético, o valor de sua Palavra, que precisamos ter diante dos olhos, “como lâmpada que brilha em lugar escuro”.

4. O texto do evangelho segue o ano litúrgico, a partir do ciclo litúrgico de Mateus. Uma narrativa que já acompanhamos na quaresma e que prepara os discípulos a suportar o processo da paixão que está por vir.

5. É preciso notar a insistência de Mateus pelos lugares altos, que biblicamente significa encontrar-se com Deus, lugar da manifestação divina. Observando mais ainda, alguns elementos da narrativa lembram muito Moisés que sobe ao monte acompanhado de alguns personagens (Ex 24) “escolhidos a dedo”. Que se veem envolvidos por nuvem.

6. As figuras de Elias e Moisés apontam para Jesus como o Messias esperado e a quem se deve escutar. Pedro pensa em fixar-se na experiência, mas Jesus lhe indica que é preciso seguir adiante. Dessa experiência de oração e revelação, os discípulos compreendem a continuidade do projeto divino e que Jesus se projeta verdadeiramente como caminho, verdade e vida.

7. Cada experiência de nos colocarmos diante do Senhor deve nos ajudar a reacender a esperança da Palavra de Jesus como luz em meio às trevas que atravessamos. Que não tenhamos medo, apesar de, como os discípulos, não entendermos tudo. Sigamos adiante e como Pedro, no devido momento saibamos testemunhar o como Deus guiou a nossa história. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 05 de agosto de 2017

(Lv 25,1.8-17; Sl 66[67]; Mt 14,1-12) 
17ª Semana do Tempo Comum.

Creio que citei esse texto do Levítico quando da proclamação do jubileu da misericórdia conclamado pela Papa Francisco, que nos remete à origem e sentido do ano jubilar. Israel teve dificuldade de seguir a risca o que foi idealizado. Jesus inaugurou o único e verdadeiro ano da graça do Senhor ao se apresentar na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,19). “A palavra ‘jubileu’ tem a sua origem no jôbel, o chifre que se tocava para anunciar o seu início. O jubileu é um ‘grande sábado’ de repouso do trabalho cotidiano e de festa pela libertação recebida de Deus. O repouso é para a terra, que é dom de Deus: o homem deve aprender a renunciar à sua posse e desfrute indiscriminado. A festa é para o povo de Javé que, fazendo memória da libertação da escravidão sofrida em terra estrangeira, restitui a liberdade e a terra a todos os irmãos que, por motivos vários, caíram em desgraça e as perderam. A origem do ano jubilar é absolutamente religiosa: é precisamente a memória de Deus libertador que obriga quem o celebra a partilhar a obra de libertação em favor de todos os homens. É reconhecer que tudo pertence a Javé, que todos os bens provêm d’Ele e que o homem não pode tornar-se dono absoluto de nada, nem da terra nem dos seus frutos e, muito menos, de outros homens” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Nosso evangelho faz memória da fidelidade do Batista a seus princípios e da sua consequente rejeição, como Jesus no evangelho de ontem. O próprio Herodes confunde Jesus com João, redivivo, que ele havia mandado matar. Nesse entrelace de vidas, João antecipa no martírio a sorte de Jesus. O próprio poder tira a Herodes a liberdade de escolha ou de seguir seu coração.

Pe. João Bosco Vieira Leite