Sexta, 30 de junho de 2017

(Gn 17,1.9-10.15-22; Sl 127[128]; Mt 8,1-4) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Tanto Abraão como Sara ganham mudança no nome e entram numa nova fase da história da salvação com anúncio do nascimento de Isaac. Há no texto também a instituição da circuncisão (gesto ritual) que servirá como sinal da estipulação da Aliança (pacto). “A noite de Abraão já fora clareada por inumeráveis estrelas. Agora, a sua tristeza é iluminada pelo relâmpago de um sorriso, por uma risada que poderia parecer incredulidade e ao invés preludia a alegria que se exprime no próprio nome do filho da promessa: Isaac, ‘Deus ri’. A aliança, que coloca em comunhão Deus com o homem, é a luz que ilumina a sua vida. A vida humana não está desencarnada, está profundamente radicada na História, é feita de carne, de sangue e de tangibilidade; vivemos por isso num mundo de sinais que manifestam sensivelmente algo que de outro modo ficaria longe de nosso alcance. A circuncisão pedida aos filhos de Abraão constitui um desses sinais” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Depois do sermão da Montanha, a narrativa de Mateus segue-se com alguns milagres que revelam que esse novo legislador, Jesus, vem ao encontro da humanidade doente, manifestando-se como Servidor, Pastor e Salvador. Ele pode restabelecer a comunhão que perdemos com Deus por nossas ‘impurezas’, basta que nos aproximemos de sua misericórdia.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de junho de 2017

(Gn 16,1-12.15-16; Sl 105[106]; Mt 7,21-29) 
12ª Semana do Tempo Comum.

A narrativa sobre o consentimento ou iniciativa de Sarai, mulher de Abrão, estéril, para que ele tenha descendência através de uma escrava pode nos soar estranho, mas já era previsto da tradição de determinados povos que praticavam a poligamia; claro que isso trazia complicações psicológicas e dramas familiares, como veremos mais adiante (essa situação é bem retratada no filme “Lanternas Vermelhas”). “Por vezes a salvação toma caminhos estranhos, passa pelas tortuosidades e enfermidades da história do homem. A opção arriscada de Sarai e depois o seu arrependimento, a arrogância e depois a aflição de Agar tornam-se modos humanamente imperfeitos, através dos quais, para além dos simples recursos humanos, a História da Salvação continua tomar forma. Parece estarmos perante um caso de recurso a uma ‘barriga de aluguel’, em que o processo biológico domina sobre a dimensão humana do amor e sobre a relação interpessoal; e a eficácia da intervenção para fins de fecundidade não basta para realizar o bem-estar da pessoa e da família. Mais uma vez não é o recurso humano que soluciona o problema, mas outra vez Abrão entrega-se à vontade de Deus, que ele sabe ler na sua própria história” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Jesus conclui o sermão da montanha contestando a falsa segurança de quem julga bastar invocar o nome do Senhor e dizer que realiza obras em seu nome sem de fato estar em comunhão com a Palavra.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de junho de 2017

(Gn 15,1-12.17-18; Sl 104[105]; Mt 7,15-20) 
12ª Semana do Tempo Comum.

A narrativa que estamos acompanhando faz um salto significativo nos colocando ao lado de Abrão que lamenta o passar do tempo e a descendência prometida que não chega. A essa altura terá que deixar tudo a um parente próximo. Ele e levado a contemplar as estrelas do céu e num ato quase poético, volta a sonhar, volta a acreditar, em seu caráter existencial (O ambiente escuro sugere a escuridão da fé na caminhada de Abrão). Mas Deus vai um pouco além, passando entre os animais de modo unilateral, confirma a aliança feita por Ele mesmo com Abrão. No tempo de Jesus quanto no nosso, o número de vozes que se levantam para nos sugerir um caminho ou nos propor alguma espécie de salvação, é também grande. É preciso ler a vida e a História a partir da luz que nos vem da Palavra para percebermos os frutos produzidos. “Mais fácil é seguir os falsos profetas, os magos, os adivinhos e os corruptores dos costumes, os quais, servindo-se das pulsações mais baixas da pessoa, satisfazem-lhe as necessidades superficiais, estimula-lhes as ambições, as falsas seguranças, e não as ajudam a crescer. A vida cristã não se constrói sobre as seguranças humanas, pelo contrário, comporta aceitar o risco, a aventura, a aposta na única Palavra eficaz e vencedora” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de junho de 2017

(Gn 13,2.5-18; Sl 14[15]; Mt 7,6.12-14) 
12ª Semana do Tempo Comum.

A vida nômade abraçada por Abrão traz consigo suas precariedades e um senso de despojamento que se concretiza no permitir que Ló escolha a região que habitará na contenda por causa de pasto para o rebanho de ambos. O texto coloca em destaque sua tolerância, generosidade e disponibilidade de Abrão. E também já anuncia que o desejo de prosperidade que habita em Ló o levará a ruina. O salmo elogia a atitude de Abrão. Uma interpretação geral do evangelho parece casar com a atitude de Abrão. “Eis que a prática da caridade, aqui exemplificada na regra de ouro, ‘Tudo quanto quiserdes que os homens vos façam fazei-o também a eles’ (v. 12), fala por nós: é a porta estreita por onde se deve passar, renunciando à comodidade de uma caminhada marcada pelas exigências do egoísmo, para acolher o caminho do empenho total pelo Reino dos Céus” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de junho de 2017

(Gn 12,1-9; Sl 32[33]; Mt 7,1-5) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Iniciamos essa semana a leitura do Gênesis, que compreende os capítulos 12 a 50, dedicado aos Patriarcas. E iniciamos a nossa caminhada com Abrão, seu chamado é o passo inicial da história da salvação. Deus tira Abrão da vida cômoda e segura que levava, prometendo, contra todas as esperanças humanas, uma descendência. Ele deve confiar exclusivamente na Palavra, onde tudo se projeta para o futuro. A vocação de Abrão não visa tão somente a sua pessoa, mas o povo que dele nascerá. Deus quando nos chama não pensa tão somente numa relação particularizada, mas no bem que poderá fazer a outros a partir de nós. Nenhuma graça e chamado está fechado em si mesmo. Mateus encerra o seu discurso da montanha num conjunto de instruções bastante variado. A dica de hoje é com relação a crítica. Não deveríamos fazê-la se antes nos dispormos a reconhecer e purificar as nossas próprias faltas. “Pode-se e deve-se reprovar, com caridade, o erro, embora não seja possível fazer um juízo sobre a consciência de quem erra; devemos ser fiéis à integralidade do ideal evangélico, e ao mesmo tempo ser respeitosos tanto da fraqueza alheia como da nossa, procurando alcançar a finalidade da unidade dos homens na única família dos crentes, filhos de Abrão” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

12º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Jr 20,10-13; Sl 68[69]; Rm 5,12-15; Mt 10,26-33)

1. Ainda na linha da resposta ao chamado que Deus nos faz a liturgia nos apresenta a situação de perseguição por causa da nossa fidelidade a Deus e o consequente medo que desta advém. É para ilustrar essa situação que nos encontramos com Jeremias na 1ª leitura. Deus o chama num momento particular da história do seu povo. Ele deve ser porta voz de Suas advertências.

2. A multidão resolve atacar Jeremias. É nesta situação de medo e solidão que ele desabafa com Deus. Em meio ao seu atordoamento é que lhe vem a lembrança e a certeza de que Deus está com ele. Falar a verdade tem seu preço, temos percebido nesses últimos tempos em nosso país. Mas o nosso futuro depende da coragem de alguns, mesmo nessa confusão de ‘verdades’. Se não temos tanta coragem assim, ao menos peçamos ao Senhor que sustente a vida e a fidelidade daqueles que se comprometem com a verdade.

3. Antes de chegarmos ao evangelho ouvimos esse pequeno trecho da carta aos Romanos em que Paulo faz uma comparação entre Cristo e Adão. Paulo faz um entrelaçamento entre os dois para falar da superioridade da graça de Deus que chegou a nós por Cristo, mesmo diante do pecado que sempre marcou a história humana.

4. O que Jeremias intuía de sua comunhão com Deus, Jesus torna explícito nas palavras do evangelho, encorajando os que buscam segui-lo. Mesmo com esse tom de ‘eternidade’, as palavras de Jesus correspondem também a um momento de perseguição vivido pela comunidade cristã.

5. O medo pode ter a suas justificativas, mas nos rouba a liberdade. Por isso Jesus insiste para que não se deixem dominar pelo mesmo. O que eles ouviram no tempo de convivência íntima com o Mestre deverá ser proclamado a todos. Mesmo que não cheguem a ver os frutos do que foi semeado, é preciso seguir adiante, semeando.

6. Nada poderá impedir o projeto de Deus. A própria morte e ressurreição de Cristo é para eles a melhor certeza do poder de Deus. Ouviremos Paulo no próximo domingo nos afirmar que nada nesse mundo poderá nos separar do amor de Deus: perseguição, nudez, tribulação...

7. O nosso medo maior deve ser de nós mesmos, cujo medo pode nos fazer perder de vista a confiança em Deus  e nos enveredarmos por falsas seguranças. O medo da solidão pode ser traidor. Por fim, para todas as situações, mesmo aquelas que envolvem os que nos rodeiam, Jesus exorta a confiar na providência através de algumas comparações, para dizer que conhece o mínimo de cada um.

8. Em suma, o evangelho nos recorda a necessidade de sermos fiéis ao chamado que Deus faz a cada um de nós, abraçarmos a vida cristã e testemunharmos o que cremos. Sempre haverá quem não concorda com nosso estilo de vida ou princípios que conservamos. Jesus espera que sua palavra continue norteando a nossa vida e nos conservemos em comunhão com Ele, independente das mudanças ao nosso redor.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Sábado, 24 de junho de 2017

(1Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) 
Natividade de São João Batista.

A festa de João Batista se sobrepõe à memória obrigatória do Imaculado Coração de Maria. A liturgia da solenidade de hoje se serve desse texto do profeta Isaias para falar da missão de João. Esse texto é aplicado primeiramente à obra de Jesus. Paulo também se serviu dele para falar de sua missão (cf. Gl 1,15). A segunda leitura traz um texto de Atos que conhecemos do contexto pascal.  Na menção feita por Paulo da história antiga, temos uma alusão a João Batista cuja vida consistiu em preparar a vinda do Messias de maneira humilde. O evangelho centra-se no momento de seu nascimento e particularmente na confirmação do nome que traz consigo a missão de preparar os caminhos do Senhor: “Pelo seu estilo de vida, pela sua atividade e pela sua morte violenta, João Batista impõe-se com a sua personalidade a todos os leitores do Evangelho. Por outro lado, são os evangelhos que no-lo dizem também, a pessoa e a obra de João Batista estiveram sempre em função preparatória da missão de Jesus. É o que a liturgia recorda, em grandes linhas, no Prefácio desta solenidade. Daqui deriva que João, com a sua orientação radical para Cristo, se torna nosso mestre de vida espiritual” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de junho de 2017

(Dt 7,6-11; Sl 102[103]; 1Jo 4,7-16; Mt 11,25-30) 
Sagrado Coração de Jesus.

Nesta véspera do nascimento de João Batista, a Igreja celebra e contempla, mais uma vez, os mistérios insondáveis do amor de Deus por nós. O amor que Jesus deixa refletir é fruto de uma relação estabelecida desde muito tempo entre Deus e o seu povo, nos recorda a 1ª leitura, com a escolha que Deus faz de Israel, do modo como agiu em favor do mesmo. O amor só espera ser amado. Assim abre-se espaço na literatura joanina para a compreensão desse amor tão grande que chegou a nos dar o próprio Filho e o Espírito de amor que nos leve a compreender toda dimensão e implicação que amar dessa maneira  traz consigo. Jesus exulta por revelar aos pequeninos esse amor tão grande que o Pai tem pela humanidade a ponto de carregar seus próprios fardos sobre si, aliviando o peso e o cansaço que a vida joga sobre os nossos ombros. “Devemos descobrir o coração de Jesus pelas palavras e pelo comportamento de Deus. As leituras bíblicas desta Missa dão-nos uma prova eloquente disso. Deus, a fonte última do amor porque ‘Deus é amor’ (segunda leitura: cf. 1Jo 4,8.16), ‘ligou-se a nós’ (cf. Dt 7.7), de uma forma deveras forte, muito mais do que um esposo à sua esposa (Gn 2,24). ‘Enviou o seu Filho unigênito ao mundo, para nos dar vida por meio d’Ele’ (1Jo 4,9). O próprio Jesus ‘veio’ para nos dar vida (Jo 10,10). A nós cabe o dever de viver à altura da nossa dignidade de ‘povo consagrado’ (Dt 7,6), reconhecendo e por conseguinte fazendo nosso este Seu amor divino de eleição, de benevolência, de consagração” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de junho de 2017

(2Cor 11,1-11; Sl 11[111]; Mt 6,7-15)
11ª Semana do Tempo Comum.

Por trás do nosso texto está a declaração de afeto de Paulo pela comunidade e ao mesmo tempo a sua triste constatação de como esta se deixa levar facilmente por outras vozes sem um discernimento também de caráter afetivo. Os versículos omitidos no evangelho de ontem retornam hoje para um comentário ou reflexão mais precisa sobre a oração. A oração do Pai nosso aparece no centro do discurso da Montanha e traz em si os temas importantes já apresentados ou por apresentar por parte de Jesus: “O Pai Nosso é também o fulcro da existência cristã, uma existência orante que o crente leva, momento a momento, sob o amor do Pai. Mais que recitar o Pai Nosso ou rezar com o Pai Nosso é preciso vive-lo, como filhos no Pai” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado- Paulus). Sem essa busca de comunhão pela oração, fica difícil viver o que Jesus nos propõe.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de junho de 2017

(2Cor 9,6-11; Sl 11[112]; Mt 6,1-6.16-18) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Ainda dentro dessa motivação para a generosidade dos Coríntios, Paulo lembra que quem pouco semeia, pouco colhe: “Quem investe pouco arrisca pouco, diz Paulo, mas recolherá também pouco. O exemplo que utiliza para se fazer entender é o da sementeira, bem conhecido de quem vive no campo, mas também compreensível, pelos habitantes da cidade e por todos, enquanto expressão de uma lei universal. O Apóstolo reforça, depois, o seu apelo com as palavras autorizadas da Escritura. Sem motivações tudo é difícil, e no entanto os Coríntios, encorajados pelas palavras da Carta, irão distinguir-se pela sua generosidade”  (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). A oração, o jejum e a esmola são elementos comuns às grandes religiões. Jesus aconselha a uma prática mais discreta e sincera possível, tendo como único objetivo falar ao coração de Deus: “Constantemente, no ‘Sermão da Montanha’, Jesus mostrou que é a intencionalidade que qualifica o agir do discípulo. Está em jogo portanto o coração, o centro afetivo e decisório da pessoa. Se o coração dos discípulos está cheio de reconhecimento pelo Pai, fará de tudo para ser visto somente pelo Pai e estar em íntima comunhão com Ele. Jesus deu frequentemente exemplo de procura do escondimento, para passar tempos prolongados de oração (cf. Mt 14,23; Mc 1,35; Lc 6,12). A recompensa que o Pai dará aos seus Filhos não será outra senão Ele mesmo” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de junho de 2017

(2Cor 8,1-9; Sl 145[146]; Mt 5,43-48) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Paulo escreve essa carta estando na Macedônia e aproveita para cita-la como exemplo de generosidade na coleta que foi feita em favor da Igreja de Jerusalém, para isso havia enviado Tito a Corinto para a mesma coleta, motivando-os com o exemplo de Cristo: “de rico que era, tornou-se pobre por causa de vós, para que vos torneis ricos em sua pobreza” (2Cor 8,9). Jesus endossa ainda mais o seu discurso anterior retomando a temática da relação dos discípulos com os seus semelhantes, num contexto de conflito e ódio. “Os filhos são obrigados a aprender do Pai, cuja bondade é destinada gratuita e indistintamente a todos, assumindo os mesmos sentimentos d’Ele. A exigência da imitação do Pai é de tal modo necessária para Jesus, que propõe aos discípulos a mesma perfeição do Pai. Seria melhor talvez traduzir o último versículo (com está no grego) conservando o futuro do verbo ‘ser’: ‘Portanto, sereis perfeitos’. A meta indicada por Jesus pode ser alcançada no termo de uma caminhada de empenho gradual e contínuo” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de junho de 2017

(2Cor 6,1-10; Sl 97[98]; Mt 5,38-42) 
11ª Semana do Tempo Comum.

É incrível a lista que Paulo faz em sua dedicação ao ministério apostólico, das tribulações e dificuldades (9), das virtudes e armas do cristão (9) nas situações extremas, invertendo para o bem o mal recebido. Assim eles devem compreender e acolher a graça que lhes é oferecida por Deus em seu ministério: “Este é o tempo favorável, este é dia da salvação!” (2Cor 6,2). Jesus recorda a antiga lei do Talião (v. 38; cf. Ex 21,23-25; Lv 24,19.21) e propõe uma atitude nova: a de não oposição ao adversário. “Não basta já ver no outro um sujeito de direito ou, pior ainda, um adversário, mas é preciso sempre ver nele um irmão: mesmo naquele que se mostra como pessoa malvada, que comete violência, que é avarenta, que injuria (Evangelho). Isto não significa que se deva adotar uma linha de consentimento ou de tolerância, enfim, de cumplicidade perante atitudes que possam prejudicar a comunidade e, sobretudo, os fracos, mas que se deve, apesar disso, amar aquele que se corrige”(Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

11º Domingo do Tempo Comum

(Ex 19,2-6a; Sl 99[100]; Rm 5,6-11; Mt 9,36—10,8).

1. Nessa retomada do Tempo Comum, perdemos dois domingos na sequência de leitura que fazemos nesse ano do evangelho de Mateus, ambos ligados a questão do discipulado que se apresenta também hoje.

2. A liturgia parte do próprio chamado que Deus faz a seu povo para que caminhe na sua presença. Esse caminhar consiste na fidelidade a aliança e na busca da santidade. Esses dois princípios partem do próprio Deus, que é fiel ao seu povo e que é Santo, a fidelidade e a busca de santidade caminham juntas para fazer da vida desse povo um serviço a Deus (sacerdócio).

3. Correndo por fora dessa temática, mas não completamente, vem Paulo com sua carta aos Romanos, cuja leitura teve início nesses domingos anteriores que ficaram de fora da nossa leitura. Mesmo considerada o evangelho de Paulo, a carta não é de fácil leitura, mas traz temas importantes para a compreensão da fé cristã.

4. A justiça de Deus se expressa na sua fidelidade em salvar o ser humano. Para Paulo, o primeiro passo da nossa salvação está na fé e não nas obras. Ainda que o pecado persista em nós, não perdemos a esperança, pois esta se assenta na fidelidade divina em levar a êxito sua obra salvífica.  

5. A maior prova disso, diz Paulo, foi o fato de ter nos dado o seu Filho, quando éramos seus inimigos, agora que o conhecemos pela fé, muito mais compreendemos seu amor e sua insistência em nos salvar.

6. Quando Deus desejou que seu povo fosse uma nação santa, seu objetivo era também um testemunho diante do mundo. É dentro dessa perspectiva que podemos compreender a escolha e o envio dos Apóstolos. Doze é símbolo da totalidade, quanto mais comprometidos estivermos com o Reino, mais ele se fará sentir.

7. A nossa oração não é por mais padres e religiosos. É por corações mais generosos e dispostos a servir. Só Deus pode vencer em nós a resistência do egoísmo e do fechamento, por isso a oração. Jesus orienta os seus apóstolos para que trabalhem em favor do povo, que se encontra esquecido, tanto pelas autoridades políticas como religiosas do seu tempo.

8. É como se Jesus estivesse dando início a um movimento de restauração do seu povo, começando com esse pequeno grupo que representa as doze tribos de Israel. O que eles devem fazer? O mesmo que fez Jesus: lutar contra tudo aquilo que destrói a vida humana seja no aspecto físico seja espiritual. Que eles reproduzam o que aprenderam com o Mestre.

9. A santidade da vida cristã consistirá na capacidade de servir de alguma forma a humanidade. Tendo em vista essa realidade, podemos compreender essa insistência da Igreja em nos apresentar tantos homens e mulheres que se destacaram na diversidade dos dons que lhes foram confiados. E nós, em que ou como estamos buscando servir?


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de junho de 2017

(2Cor 5,14-21; Sl 102[103]; Mt 5,33-37) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Paulo reconhece diante dos seus ouvintes quem ele era e o que Cristo realizou nele e agora opera através dele. Paulo pensava ‘salvar’ a sua vida a partir de si mesmo, mas resolveu ‘perdê-la’ para reencontrá-la em Cristo e sem reservas colocar-se a serviço de Deus. Dentro desse ministério está o serviço de reconciliação que ele representa ou apresenta. Jesus nos fala sobre a questão do juramento conclamando-nos à sinceridade de vida para não necessitarmos recorrer a nada ou a ninguém para sustentar a nossa palavra. “Nada do que aparentemente pertence ao homem está em seu poder: ‘Porque não podes fazer com que um só dos teus cabelos fique branco ou preto’ (Mt 5,36). No conceito bíblico conjugam-se, de fato, um sentido altíssimo da dignidade do homem, criado à imagem de Deus e redimido na morte e ressurreição de Cristo, e um profundo reconhecimento da fragilidade e da incapacidade da criatura, sobre a qual nunca se meditará bastante. Deste duplo registro deriva uma enorme responsabilidade para nós: a de agirmos coerentemente com o dom, continuamente recebido, que nos faz mergulhar na vida do Senhor ressuscitado. A coerência de comportamento e de linguagem nas relações fraternas, a conduta e a palavra franca, sem ambiguidade oportunistas e sem cedências a cálculos utilitaristas que só podem vir do Maligno, fazem que reconheçam em nós os ‘filhos de Deus’” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).   

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 16 de junho de 2017

(2Cor 4,7-15; Sl 115[116B]; Mt 5,27-32) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Na imagem do ‘vaso de barro’, Paulo resume a fragilidade do ministério apostólico que se dispôs colocar como reflexão. Mas essa pobreza traz em si algo de rico e grande que é confiado pelo próprio Deus. Assim ele trabalha os opostos, mostrando como Deus, mesmo em meio às dificuldades do ministério, não abandona aqueles que a Ele se entregam numa atitude de humilde reconhecimento de suas limitações, mas honesto desejo de servir. A fidelidade passa pelo caminho da provação, nos lembra o salmista. Jesus joga com duas coisas importantes que dizem respeito aos relacionamentos: a questão do desejo e do divórcio, aqui tratado sem exceções: “O caminho para a vida verdadeira em Deus comporta um caminho difícil, pois é radical, sem cedências a objetivos indignos de uma sequela vivificada na presença do Senhor. Assim, o texto de hoje do Evangelho não só proíbe absolutamente que se possa faltar à fidelidade conjugal, mesmo só com o coração, mas com uma linguagem abertamente paradoxal exalta a salvação integral do homem, muito para além da preservação da integridade do corpo: pode ser necessário perder alguma coisa de si para não perder a si mesmo. Isto diz-nos claramente que a finalidade autêntica da vida não é, na realidade, um ‘bem estar’ obtido à força de gratificações, mas a persecução de um valor que transcende e pelo qual vale ainda a pena sacrificar muito” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).  
  
Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de junho de 2017

Ano A
(Dt 8,2-3.14b-16a; Sl 147[147B]; 1Cor 10,16-17; Jo 6,51-58) 
Corpo e Sangue de Cristo.

1. A liturgia da Palavra para essa festa de hoje nos traz um texto do livro do Deuteronômio. Esse trecho nos recorda um momento crítico da história do povo. Seu autor tentava recordar que na travessia do deserto, também momentos assim se fizeram sentir. Que a palavra de Deus se fez sentir no maná e na água que saciou a sede.

2. “Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca do Senhor”, lembra ele. Para todos os tempos e situações é preciso recordar Sua palavra. Uma palavra que nos prepara ao acolhimento do Evangelho, da Palavra de Jesus, um novo alimento que supera o antigo, que foi sinal do verdadeiro alimento que Deus quer conceder.

3. “Igualdade, fraternidade, nessa mesa nos ensinais, as lições que melhor educam, na eucaristia é que nos dais”, lembra-nos o canto. Praticamente é a tradução do apelo que Paulo faz na 2ª leitura. A comunidade de Corinto vive as suas tensões na diversidade de seus componentes.

4. Paulo apela para o significado desta refeição que fazemos em torno da Palavra de Jesus, que quer nos unir não somente a Deus, mas também ao irmão. Para manter essa comunhão em torno do mistério de Cristo, é preciso que haja de nossa parte um esforço sempre maior de responder aos apelos que esse encontro no faz, particularmente pela palavra que escutamos.

5. Num dado momento da história da salvação, a Palavra se fez carne e habitou entre nós. Nesse trecho final do discurso de Cafarnaum ele se dá a conhecer como pão vivo, descido do céu. Foi difícil para ouvintes entender exatamente do que Ele falava, mas no desenlace da vida de Jesus fomos entendendo que o pão a ser dado e consumido era sua Palavra, primeiramente.

6. Uma palavra que gera vida, alimenta e sustenta. Assim compreendemos o que diz o autor da 1ª leitura sobre o significado da Palavra.

7. A estrutura de nossa celebração se divide nesses dois grandes momentos: a mesa da Palavra e a mesa da Eucaristia, com um rito introdutório e outro final. Elas estão colocadas sob o mesmo patamar para que nos recordemos sua mesma importância e ligação. Como me aproximar da Eucaristia sem antes avaliar minha caminhada sob a luz da Palavra?

8. Aquele que se encarnou em nossa história, deseja também ser carne em nós, como alimento absorvido e transformado em vida. Alguns cantos sustentam a piedosa ideia de que Jesus está sozinho no sacrário, por isso precisamos adorá-lo. Mas adorar não quer dizer fazer companhia.

9. Adorar é olhar, confrontar a nossa vida com o mistério que nosso olhar tenta alcançar. Comungar do pão é uma necessidade para quem caminha na fé. Mesmo não sendo dignos, aceitamos o desafio de caminhar entre os acertos e fracassos da vida, não sem deixar de se questionar pela Palavra, para que ela seja vida em nós.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de junho de 2017

(2Cor 3,4-11; Sl 98[99]; Mt 5,17-19) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Em sua reflexão, um pouco ‘rebuscada’ sobre o ministério apostólico, Paulo esclarece que a origem deste está em Deus e não no ser humano. Mesmo com todas as dificuldades inerentes, esta é uma grande vocação. Para alguns autores ele parece estar respondendo as objeções ou depreciação de alguém quanto ao seu ministério. Jesus quer deixar claro aos seus ouvintes, assustados, talvez, com sua autoridade e exigência, que o que foi dito no passado continua tendo o seu valor: “Jesus, apresentado por Mateus como novo Moisés, o novo legislador que na primeira pessoa promulga sobre o monte a nova Lei, não inventa uma nova religião, não renega nem anula os preceitos antigos. Cristo é, ao invés, Aquele que esclarece os conteúdos autênticos da Lei, desenvolvendo-os deste modo até a perfeição. A verdade da fé não conduz àquilo que hoje é denominado comumente de ‘fundamentalismo’: a radicalidade do Espírito segue um percurso sem compromissos, mas nem por isso privado de compreensão. O crente, animado pelo fogo divino, não é levado à intolerância ou ao fanatismo, mas procura acolher as sementes de bem e de liberdade onde quer que se encontrem, e aproxima-os, acendendo neles a vida do Espírito” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). 
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de junho de 2017

(2 Cor 1,18-22; Sl 118[119]; Mt 5,13-16) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Omitindo a parte em que Paulo fala de uma doença que sofreu, o texto entra na autodefesa do apóstolo por não ter voltado a Corinto. O evangelho nos apresenta as duas máximas de Jesus sobre o sal e sobre a luz, afirmando que é possível anular as funções desses dois elementos: “’Sal da terra’ e ‘luz do mundo’ (Mt 5,13-14), o cristão com o seu comportamento é obrigado a dar à vida civil e eclesial sabor e luminosidade, qualidades sem as quais a vida se torna insípida, indigna de ser vivida por homens. A identidade/responsabilidade cristã não consiste somente numa ética pessoal irrepreensível, numa profissão de fé, da esperança, da alegria que recebemos como dom, do que teremos de prestar contas, e que por isso devemos negociar” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). 

  
Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de junho de 2017

(2 Cor 1,1-7; Sl 33[34]; Mt 5,1-12) 
10ª Semana do Tempo comum.

Duas mudanças essa semana nos traz: iniciamos a leitura da 2ª Carta de São Paulo aos Coríntios, leitura semicontínua, que se estenderá até a próxima semana e iniciamos também a leitura do evangelho de Mateus que segue até 25ª Semana.  Na sua carta, Paulo fala de si mesmo mais do que qualquer outro escrito, não por vaidade, mas para discorrer sobre qual deve ser a relação entre fundador e suas comunidades, tornando-se assim, este escrito, uma espécie de documento sobre o ministério apostólico. Hoje temos a saudação costumeira do autor, salienta a Timóteo como seu companheiro, ao tempo que bendiz ao Senhor que nos consola em todas as tribulações. Ele tem presente a dificuldade que passam por causa do Evangelho, e sabem que estes são fecundos. Mateus se abre para nós com o sermão da Montanha, ambientando-nos geograficamente e apresentando a multidão e os discípulos que se aproximam para escutá-lo. Ele se dirige a todos, mas particularmente a seus discípulos cuja identidade será revelada no modo como abraçarão a proposta de Jesus. Dos dois textos recolhemos que “A Palavra de Deus é deveras exigente e deixa muito pouco espaço para meias medidas: o profeta, o ministro, o apóstolo, o servo (por conseguinte, todos nós que no Batismo de Cristo fomos consagrados profetas, sacerdotes e reis/servos dos homens) trazem nas suas pessoas a radicalidade do Evangelho e têm a grande dignidade e responsabilidade de a testemunhar com total dedicação” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).

  
Pe. João Bosco Vieira Leite

Santíssima Trindade – Ano A

(Ex 34,4b-6.8-9; Sl Dn 3; 2Cor 13,11-13; Jo 3,16-18).

1. A liturgia do tempo pascal nos falou do mistério de Cristo que voltou para o Pai após sua ressurreição e nos enviou, dele mesmo e do Pai, o Espírito Santo. De toda essa movimentação lá em cima e aqui em baixo, fomos intuindo que a imagem de Deus vivendo em plena solidão não cabe na revelação deixada por Jesus.

2. É em torno desse mistério que gira a liturgia de hoje. Deus é um só, mas vive em comunhão de pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo, ou se quisermos, a Santíssima Trindade. Se chamamos de mistério, já sabemos que será impossível uma solução ou resposta simples, só nos resta compreender a Deus a partir daquilo que Ele nos faz. 

3. Um dia Ele se revelou de modo mais próximo a Moisés, que traduzia sua experiência de Deus como fogo, nuvem, tempestade, vento, particularmente elementos que não se pode reter, mas sentir. Mas como diz o ditado, quer conhecer alguém more com ele ou faça uma longa viagem. Moises peregrinou tempo suficiente para descobrir que Deus é misericórdia, clemência, paciência, bondade, fidelidade.

4. Foi importante essa experiência a nós transmitida, pois sabemos que o Deus da Bíblia é diferente do modo como muitos o dizem conhecer. Bebemos de sua experiência de fé.

5. Paulo, em sua experiência de Deus cunhou para nós em suas cartas pequenas fórmulas que revelavam a compreensão que possuía. Expressa a alegria de estar envolto nessa comunhão com Deus que se manifestava na própria vivência da comunidade a quem saúda com particular ternura.  Todos envoltos no plano salvífico de Deus.

6. Complementa essa imagem de Deus esse breve evangelho que foi proclamado. Aqui se expressa Jesus sobre o Pai não como o Deus terrível que ás vezes se vislumbrava no Antigo Testamento. A experiência de Moisés é elevada a outro potencial: Deus ama tanto a ponto de se fazer um conosco em seu Filho. Uma experiência que parece ter afetado o próprio ser de Deus, tanto que nunca mais se afastou de nós.

7. Ele não veio nem vem por juízo, mas para salvar. Na nossa essência permanecemos pecadores, necessitados de sua misericórdia. O juízo não vem de Deus, mas do próprio ser humano que se recusa abraçar e ser abraçado por esse amor que se deu por inteiro.

8. Assim, quando pensarmos em Deus, em sua comunhão de pessoas, pensemos que ele é amor e o amor se desdobra para fazer-se entender. Será que nós o entendemos na sua proposta?


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de junho de 2017

(Tb 12,1.5-15.20; Sl Tb 13; Mc 12,38-44) 
9ª Semana do Tempo Comum.

A narrativa de Tobias se encerra com essa revelação do anjo, numa fala profundamente catequética da piedade daquele que busca viver na presença do Senhor, a vida o justo. O texto confirma a fidelidade de Deus a quem busca viver na sua presença. Ao mesmo tempo nos diz do papel dos anjos nessa nossa relação com Deus e no serviço deles ao próprio Deus. “Tobit e a sua família atraíram a atenção especial de Deus porque praticaram a esmola. É uma virtude muito do agrado do Senhor, pois permite que o homem esteja bem disposto em relação aos seus semelhantes, tal como Deus está bem disposto para conosco. Rafael pode então voltar para Deus que o enviou e deixar a Tobit e à sua família a tarefa de bendizer a Deus, narrando as maravilhas que Ele fez neles”(Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Jesus critica a atitude dos escribas e doutores da lei não só no contexto da vestimenta e da oração pública, também da esmola, aproveitando esse momento em que aparece uma pobre viúva no Templo, ela é apresentada como modelo da atitude religiosa autêntica: uma entrega total a Deus, vivendo uma relação sincera e discreta. Nesse sentido o evangelho se liga ao contexto da esmola vivido por Tobit e sua família como uma prática agradável a Deus.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de junho de 2017

(Tb 11,5-17; Sl 145[146]; Mc 12,35-37) 
9ª Semana do Tempo Comum.

A história de Tobit se encaminha para um final feliz com o retorno do filho com a nora e a recuperação da vista. Há um forte senso familiar com o retorno do filho, esperado desde então. A visão das coisas ganha particular destaque nesse trecho do livro.  Uma curiosidade: “Na tradição cristã o episódio lido hoje (como demônio afugentado pelo odor do fígado e do coração do peixe queimados – narrado em Tb 8,1-3 – versículos que não foram propostos pela liturgia destes dias) foi visto como profecia da salvação de Cristo, que era representado pelos primeiros cristãos com o símbolo do peixe” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). O salmo complementa esse clima de louvor e agradecimento do nosso texto. Sem muita clareza a quem Jesus está falando, o texto do evangelho discute a origem do messias da linhagem davídica e das expectativas do povo de como este deveria ser. Jesus o apresenta num outro contexto de alguém que busca fazer a vontade de Deus, ainda que passe por um caminho de humilhação, não só na sua condição humana, mas também no contexto da cruz. Jesus questiona a leitura equivocada da Sagrada Escritura.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 08 de junho de 2017

(Tb 6,10-11; 7,1.9-17; 8,4-9; Sl 127[128]; Mc 12,28-34) 
9ª Semana do Tempo Comum.

Enfim, conduzido por Rafael, Tobias chega a Ecbátana onde desposará Sara. Temos essa bela oração pronunciada por Tobias e que faz parte da liturgia matrimonial. Nessa linha de reflexão e reconhecimento, o salmo canta a felicidade daquele que teme o Senhor: tem a certeza da bênção de Deus sobre si e sua família. “A bênção do Senhor manifesta-se na fecundidade que Ele concede ao homem e à mulher. O matrimônio realiza o projeto divino originário: o homem e a mulher são chamados a tornarem-se uma só carne e a serem fecundos para povoarem a terra. Tobias e Sara mostram-se cientes disso e fundam a sua união matrimonial na oração e no pedido da bênção divina” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Um escriba, buscando colocar ordem de precedência na quantidade de mandamentos judaicos, busca em Jesus uma luz. Jesus conjuga duas diretrizes num só mandamento: o amor a Deus e ao próximo. Os mandamentos nos oferecem diretrizes para o caminho, mas podem se tornar meras normas em sua rigidez. O amor, ao contrário, exige sempre respostas novas para continuar sendo o mesmo.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 07 de junho de 2017

(Tb 3,1-11.16-17; Sl 24[25]; Mc 12,18-27) 
9ª Semana do Tempo Comum.

Como um efeito especial desse que a gente vê no cinema, duas pessoas rezam de modo simultâneo em seu sofrimento: Tobit, atingido pela cegueira e pela incompreensão dos vizinhos e da esposa, confia sua causa a Deus que pode socorrê-lo eficazmente. Sara, injustamente provada, eleva seu clamor ao Senhor. A oração desta tem um caráter um pouco diferente. Deus os atenderá, enviando seu anjo para curá-los. Assim temos a introdução do segundo espaço onde se desenvolve nossa narrativa. O texto nos recorda que mesmo nas situações em que somos envolvidos em trevas e morte, a abertura a Deus nos leva a experimentar soluções que nunca imaginaríamos. O salmo dá o tom dessa confiança que se eleva passando pela história do povo e a experiência pessoal. Os saduceus parecem se inspirar na situação de Sara para ridicularizar Jesus quanto a crença na ressurreição. Mas Jesus não entra na sua onda e mostra, através das Escrituras que eles estão errados em sua concepção das coisas, com esquemas muito ‘humanos’. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 06 de junho de 2017

(Tb 2,9-14; Sl 11[112]; Mc 12,13-17) 
9ª Semana do Tempo Comum.

Em sua conduta irrepreensível, Tobit é atingido por uma cegueira que lhe traz outros problemas, como percebemos na narrativa de hoje. Esse seu sofrimento o aproxima de outro personagem bíblico: Jó. Também ele é convidado para desistir de sua conduta íntegra, e como Jó deverá suportar com paciência a adversidade. “Quer no caso de Jó, quer no de Tobit os leitores são avisados de que a prova é permitida por Deus para que se manifeste a integridade do crente, e as gerações futuras encontre nos protagonistas exemplos luminosos a seguir” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus). Jesus provoca e é provocado por seus inimigos. Tentam armar-lhe uma cilada a respeito da obrigatoriedade do imposto que os judeus tinham que pagar a Roma, deixando-lhe sem saída. “Como verdadeiro Mestre de sabedoria, Jesus leva os adversários a desmascararem a sua hipocrisia e a darem-se conta da insustentabilidade das alternativas que propõem. Jesus dá a entender que existe uma disparidade real entre César e Deus, entre o poder temporal e o poder divino. Reconhecer e aceitar o poder político não equivale a desconhecer e rejeitar a Deus. Deve dar-se assentimento ao poder político para o exercício de assuntos públicos, mas a Deus deve dar-se a disponibilidade plena e total de toda a nossa vida” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 05 de junho de 2017

(Tb 1,3; 2,1-8; Sl 11[112]; Mc 12,1-12) 
9ª Semana do Tempo Comum.

Retomamos nossa reflexão diária da Palavra no assim chamado ‘Tempo Comum’. Iniciamos essa semana com a leitura de trechos do Livro de Tobias, que se trata de um romance (ficção) com intenções exortativas e teológicas. Não foi acolhido no cânone (elenco) hebraico nem protestante. O ancião Tobit vive em Nínive, com a esposa e o filho Tobias, mesmo em terra estrangeira, procura ser fiel a Lei do seu povo. Ele pratica a esmola e busca sepultar seus compatriotas (obras de misericórdia), que parece não ser permitido onde habita. Essa conduta é recriminada por seus vizinhos e esposa. Esses elementos transparecem no texto de hoje. O texto salienta sua perseverança, mesmo incompreendido. Marcos nos narra a parábola do vinhateiro que arrendou sua vinha e partiu para o estrangeiro. Ela resume toda a história e drama de Jesus obrigando os chefes dos judeus a se posicionarem em sua atitude com relação a Jesus e ao próprio Deus que lhes confiou o cuidado do Reino ou do rebanho (povo).  O texto serve de alerta à própria Igreja em todos os tempos: “A Igreja é chamada a viver uma dialética que a coloca numa tensão ininterrupta. De um lado deve apresentar-se como sinal visível do Reino que Jesus inaugurou; e do outro, deve verificar continuamente a veracidade do seu anúncio e da sua práxis à luz da Palavra” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Pentecostes – Ano A

(At 2,1-11; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23)

1. O nosso ciclo trienal de leitura dos evangelhos deixa João de fora. Sua peculiar narrativa o traz presente em períodos especiais, como esse da Páscoa. Para ele, e é provável que assim tenha sucedido, a morte, ressurreição, ascensão e o dom do Espírito foram fatos que aconteceram de maneira sucessiva sem essa demanda de tempo das outras narrativas.

2. Na realidade, os outros autores tinham a intenção de dividi-los em vários momentos para salientar seus múltiplos aspectos. Lucas situa o dom do Espírito no dia de Pentecostes, a festa judaica em que os judeus recordavam o momento em que Moisés transmite ao povo as leis divinas recebidas no monte Sinai.

3. A intenção de Lucas é nos dizer que o dom do Espírito substitui a antiga lei judaica. Ele se serve dos vários elementos da narrativa do Êxodo para se fazer compreender. A lei proposta por Jesus só pode ganhar vida num coração novo, como havia prometido Ezequiel. Pois vinho novo deve ser colocado em odres novos.

4. Nossa lei está no evangelho, sob a luz do Espírito, a Palavra ganha vida e se traduz para nós no próprio agir de Jesus, sua linguagem se traduz no amor que pode ser compreendido por todos os seres humanos.

5. Paulo traduz a diversidade dos dons do Espírito na ajuda mutua que vivemos no mundo. Cada um contribui, no seu modo de ser para o bem do todo. Se conseguirmos compreender a riqueza de dons que se espalham na natureza humana, não permitiremos que o ciúme e a inveja gerem divisões entre nós. Essa diversidade enriquece uma comunidade e a humanidade.

6. Como havíamos dito ao começo, para João, o Espírito Santo foi comunicado aos Apóstolos no primeiro encontro deles com o Ressuscitado, soprando sobre eles. O vento faz com que se mova a poeira aí instalada, acreditamos e pedimos que o Espírito remova todo mal que nos impede de ser aquilo que Deus quer.

7. O vento, ao mesmo tempo, ajuda a natureza no processo de espalhar sementes. Ele mesmo age em nós como uma pequena semente, cresce em nós devagar, se lhe permitimos. Produzindo frutos em abundância.

8. A Igreja hoje recorda e celebra esse dom maior da parte do ressuscitado, que vem do Pai e d’Ele mesmo como consequência dessa comunhão profunda que refletiremos na próxima semana. Abramos espaço para que Ele continue agindo em nós e nos renove: “Vinde Espírito santo, enchei o coração dos vosso fieis...”


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 03 de junho de 2017

(At 28,16-20.30-31; Sl 10[11]; Jo 21,20-25) 
7ª Semana da Páscoa.

A estratégia de Paulo em ser conduzido para Roma lhe valeu um pouco mais de liberdade aproveitando seus últimos dias para evangelizar a mais pessoas. Sua fidelidade busca não perder tempo nem perder-se em algo que não seja o próprio Jesus. No evangelho temos a segunda conclusão do escrito de João que menciona o fato deste ter sido o último dos apóstolos a morrer. Certamente João sentiu o retorno do seu Senhor em meio às dificuldades enfrentadas pela Igreja nascente, que de fato nunca esteve desamparada pelo seu Esposo. “Não é fácil avaliar o sentido e o peso de Jo 21,23. Uma coisa, todavia, é clara: o caminho da sequela não é necessariamente, e estritamente, o caminho do martírio. Nem só os mártires seguem a Cristo. Vimos que o discípulo predileto – sob diversos aspectos – é apresentado como discípulo modelo, mas não é um mártir. O que o qualifica é o amor, com um relevo decisivo: não está em primeiro o amor que ele nutre pelo Senhor, mas o amor que o Senhor tem por ele” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 02 de junho de 2017

(At 25,13-21; Sl 102[103]; Jo 21,15-19) 
7ª Semana da Páscoa.

O texto da primeira leitura nos faz um resumo dos eventos anteriores que culminaram na ida de Paulo para Roma a seu próprio pedido. É esse amor e fidelidade de Paulo a Jesus que o identifica com o Apóstolo Pedro no evangelho de hoje cujo martírio é anunciado. “O Mestre diz uma vez mais a Pedro: ‘segue-me’. Agora Pedro é verdadeiramente discípulo. O chamamento vem sempre do Ressuscitado e a comunhão é com Cristo. Seguir o Ressuscitado é estar em comunhão com Ele, no concreto da vida quotidiana, significa tornar a percorrer o caminho de Jesus, ou seja, o caminho da Cruz. A sequela abre sempre a perspectiva possível do martírio” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 01 de junho de 2017

(At 22,30;23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 
7ª Semana da Páscoa.

Algumas pessoas sabem se aproveitar das diferenças de pensamentos entre as pessoas para tirar o foco do principal criando assim o tumulto. Paulo exerce essa ‘arte’ para deixar claro para a autoridade romana que eles não poderiam julgá-lo. Toda essa confusão o levará a Roma, conforme desejo do próprio Deus. A pregação dos apóstolos conduzirá outros ao coração de Jesus. Ele reza para que esse ministério se consolide na comunhão entre eles e com o próprio Jesus aqui e na eternidade. “A unidade entre o crente e Deus é a imagem de Jesus com o Pai: unidade de duas pessoas, tanto mais forte na medida em que cada uma delas é perfeitamente ela mesma no respeito profundo pela outra. Jesus é modelo dos crentes: estes são chamados a encontrar a Deus sem deixar de serem eles próprios, ou mais exatamente, de se tornarem plenamente eles mesmos graças ao encontro com o Senhor. Cada um é convidado a percorrer o seu caminho sabendo que é, pela graça, filho de Deus, filha de Deus. Não caminhamos todos o mesmo ritmo, não fazemos todos as mesmas opções, não temos os mesmos modos concretos de viver a fé comum. Mas todos somos responsáveis perante os que, no mundo são chamados a crer. Por isso os crentes são ‘uma coisa só’: e não o são por motivo de uma autoconvocação, mas de uma Palavra viva que os reuniu, uma Palavra que devem acolher, partilhar e propor no concreto da vida cotidiana” (Giuseppe Casarin - Lecionário Comentado - Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite