Terça, 31 de janeiro de 2017

(Hb 12,1-4; Sl 21[22]; Mc 5,21-43) 
4ª Semana do Tempo Comum.

Para além de tudo o que nos foi apresentado em termos de vivência da fé, o grande testemunho que resta para os cristãos é o do próprio Jesus. Ele é a testemunha do Pai que nos abre o caminho da salvação e nos guia nessa entrega a Deus. Ele emprega uma mesma imagem que Paulo já havia usado, a de um atleta num estádio que permanece firme sustentado por aqueles que assistem e torcem pela sua performance.

A barca de Jesus vai de uma margem a outra e em cada local Ele é surpreendido pelas reações humanas diante das dificuldades que atravessam. Se alguém simplesmente o toca, movido pela fé, Ele é capaz de perceber a sinceridade do coração e também tocar, por compaixão, para trazer de volta à vida. “Senhor Jesus Cristo, Unigênito do Pai, na santa Igreja, Vosso corpo vivo, a Vossa humanidade gloriosa permanece no meio de nós até o fim dos séculos: olhai para as multidões de pessoas que ainda esperam o cumprimento de vossa Palavra, ligai as feridas dos seus corações, curai as enfermidades do espírito, saciai a fome e a sede de justiça e com o toque da Vossa mão misericordiosa concedei paz e conforto a todos os que sofrem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 30 de janeiro de 2017

(Hb 11,32-40; Sl 30[31]; Mc 5,1-20) 
4ª Semana do Tempo Comum.

O nosso autor segue falando da fé dos antepassados, essa força interior que os sustentou nos sucessos e adversidades. Sob esse olhar, a comunidade que escuta sabe que também eles estão em comunhão com toda essa história vivendo no presente os êxitos e fracassos que fazem parte do caminho. A todos um só destino espera: a comunhão com Deus.

Essa narrativa de Marcos é profundamente carregada de simbolismo em seus vários elementos, mas nos surpreende o fato dos cidadãos expulsarem Jesus de sua região. No entanto, a figura do curado que permanece naquela região pregando o que o Senhor havia feito por ele, deixa claro duas coisas: sempre haverá quem não deseja ser libertado, talvez por isso Jesus nos pede o cuidado de ‘não atirar pérolas aos porcos’, mas independente dos limites impostos, esse sujeito que ali permanece nos mostra que Deus não se deixa vencer pelo mal. “Deus misericordioso, Pai amante dos homens, Vós sois caridade insondável, gratuidade inaudita, e não vos deixais vencer pela rejeição que aprisiona os corações dos homens nas trevas que ainda envolvem o mundo, fazei que a sequela humilde e alegre do vosso Filho, Jesus Cristo, nos torne fortes e corajosas testemunhas da Vossa bondade, para atravessarmos as adversidades de cada dia com a generosa certeza da vida nova que não cessais de infundir em nós” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Sf 2,3; 3,12-13; Sl 145[146]; 1Cor 1,26-31; Mt 5,1-12a)

1. Certamente já ouvimos falar da opção preferencial da Igreja pelos pobres. Essa preferência, não exclusividade, tem, num primeiro momento, um caráter político e econômico. Mas tem como base a Sagrada Escritura. Por meio dos profetas vêm uma série de denúncias das situações de exploração, injustiças, como enfrentou Sofonias, autor de nossa 1ª leitura.

2. Mesmo anunciado o castigo divino, ele propõe um retorno, uma busca do Senhor, procurando imitar os humildes e os pobres. É a primeira vez que a palavra ‘pobre’ não indica uma condição social e econômica, mas sim uma atitude religiosa interior: não tendo segurança alguma, confia no Senhor e se submete à sua vontade.

3. A partir desse momento surge um movimento espiritual caracterizado por essa atitude de confiança e entrega como sinônimo de pobreza, que se espalha pela bíblia, particularmente nos salmos. É dentro desse terreno que a mensagem de Jesus encontra a sua força de compreensão e acolhimento.

4. Coincidentemente a palavra de Paulo parece casar bem com o contexto da nossa liturgia de hoje. Paulo censura o espirito de competição que se instalou na comunidade. A preferência de Deus vai em duas vias: os que são colocados à margem, por sua pobreza material, e os que se deixam conduzir por Ele. Uma preferência que confunde as disputas humanas.

5. Paulo quer lembrar que as comunidades cristãs são tecidas por todo tipo de pessoas que enfrentam situações diversas, e como faz o próprio Deus, é preciso saber acolher.

6. Mateus organizou em seu evangelho vários discursos de Jesus, como esse que hoje iniciamos. Certamente uma compilação de várias falas de Jesus transformadas num único texto. Nesse discurso encontramos os elementos fundamentais da mensagem de Jesus. Mateus o situa numa montanha, elemento simbólico do encontro com Deus. Se no passado, por Moisés, Ele falou aos Israelitas, agora fala a todos os povos, no Filho, que acolhem a Sua mensagem. Esta se abre com as bem-aventuranças.

7. No ano anterior, tiramos uma manhã para voltar-nos sobre elas. Recolho algumas linhas gerais para provocar a nossa reflexão.

8. A primeira bem aventurança traz em seu cerne, a visão de Jesus sobre a nossa relação com os bens materiais. Não se exalta a pobreza nem se condena a riqueza. Por uma decisão interior, é preciso compreender a dinâmica da partilha que faz parte da vida e da qual depende a sobrevivência de muitos. Entra também pelo terreno da renúncia de toda arrogância, ambição, autossuficiência, poder e domínio sobre os outros. Muitas outras coisas poderiam ser ditas, mas fiquemos por aqui.

9. No agir de Jesus vem uma consolação e uma esperança a todo tipo de sofrimento ou aflição. Deus fará justiça. A mansidão é a recusa ao uso da violência para restabelecer a justiça. Mas a sede e a fome de justiça que reside no coração humano os fazem avançar por outros caminhos. Aprenderão a dar a mão aos que necessitam.

10. A dinâmica de Jesus prevê um coração que não cultiva sentimentos maus e procuram voltar-se para Ele, buscando experimentar a Sua paz e transmiti-la ao mundo. Esse modelo de ser humano desejado por Jesus não passa por esse mundo isento de conflitos. Jesus os adverte que a luta por uma sociedade melhor mexe na confortável situação de muitos.

11. Isso não deve ser lido como um fracasso, mas uma tomada de consciência que o progresso do Reino se dará de forma lenta, mas gradativa. Mas a frente esses pontos do discurso retornam de maneira mais clara e até com sugestões de ação concreta. É certo que suas palavras nos atraem e ao mesmo tempo nos desconcertam, mas antes de descarta-las, deixemos cair no silêncio do coração, esse solo capaz de germinar mudanças significativas.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de janeiro de 2017

(Hb 11,1-2.8-19; Sl Lc 1; Mc 4,35-41) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Este é certamente o mais belo trecho dessa carta. Ele nos fala dos antepassados da fé no Antigo testamento para exortar os cristãos à perseverança. Em meio a esses exemplos ele nos oferece uma definição da fé a partir da vivência de cada personagem. Contemplando a figura de Abraão em sua fé como adesão confiante a um Deus que o chama a sair de sua terra e seguir seu caminho. Tal fé vai dando sentido aos seus passos. Ao mesmo tempo essa fé se expressa em ações concretas e também é provada. A fé lança um olhar ao futuro que talvez não nos alcance, mas não significa que não se realizará.

Os discípulos de Jesus ainda não têm a fé de Abraão, não compreendem exatamente quem é Aquele que navega com eles. Um texto carregado de simbolismo que aponta para o temor que se apodera de nós diante das tempestades, roubando nossa perspectiva de fé de que não estamos sozinhos. Peçamos ao Senhor um pouco desse espírito que fez Abraão avançar no caminho a terra prometida.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de janeiro de 2017

(Hb 10,32-39; Sl 36[37]; Mc 4,26-34) 
3ª Semana do Tempo Comum.

O nosso texto da carta aos Hebreus casa bem com a meditação de ontem, da qual podemos tomar alguns elementos para entender esse apelo que o autor faz à generosidade vivida no passado, pois nessa se apoia o convite a perseverar hoje na vida de fé. O desgaste da caminhada pode ser uma tentação a deixar de lado certos valores ou mesmo a fé.

Marcos nos apresenta duas parábolas alegóricas sobre o Reino de Deus que de certo modo se somam. Se na primeira se destaca o poder da terra de fazer germinar e crescer, a segunda das possibilidades infinitas da semente, que pode vir a ser uma árvore. As duas querem reforçar o pensamento de que o Reino, por sua força intrínseca, se faz acontecer, não dependendo do conhecimento ou da vontade do homem. Amém.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 26 de janeiro de 2017

(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10-19) 
Santos Timóteo e Tito.

Para um melhor conhecimento dos nossos santos, veja a reflexão do ano anterior (CLIQUE AQUI). Hoje partilho com vocês a reflexão de Albert Vanhoye em “Il Pane Quotidiano dela Parola” (tradução pessoal): “Escutamos a palavra de Paulo: ‘exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste’, o dom – para nós – a vocação cristã, primeiro elo dessa corrente de dons que se sucedem na nossa vida doados por Deus.  Vou refletir sobre esse dom sob o aspecto da fraternidade, que as leituras de hoje nos apresentam e que tem duas vertentes: a simplicidade fraterna e a fidelidade fraterna. A simplicidade fraterna: não achar-se melhor que os outros, não ser ambicioso, presunçoso, mas simples e capaz de fazer-se pequeno como os outros: irmão entre os irmãos: ‘quem é o maior se coloque ao serviço do menor, quem preside se coloque a serviço de todos’. A fraternidade funda-se numa igualdade fundamental. Todos devemos reconhecer-nos iguais diante de Deus, todos necessitamos uns dos outros; ninguém pode exaltar-se acima dos outros. Nosso modelo é Jesus, que se fez verdadeiramente nosso irmão. Ele é Senhor e poderia ter feito sentir o seu poder, a sua força, a sua autoridade: colocou-me em meio a nós como quem serve. ‘Quem é maior, quem está à mesa ou quem serve? Não seria quem está à mesa? No entanto, eu estou no meio de vós como aquele que serve’. Jesus quis tomar sobre si todas as nossas provações, todas as nossas dificuldades, toda as nossas fragilidades, para ser verdadeiramente irmão nosso, diz a carta aos Hebreus, não se envergonhou de chamar-nos de irmãos, mesmo sendo inferiores a ele. Ele se abaixou o mais que pôde, tanto que ninguém se pode dizer abaixo dele. A fraternidade, a simplicidade fraterna se exprime também com afeto fraterno. Não se trata de uma igualdade jurídica, mas de uma solidariedade de afeto que vemos manifestada de vivíssimo nos sentimentos recíprocos de Paulo e Timóteo: ‘Lembro-me das tuas lágrimas (Timóteo tinha chorado quando Paulo partiu), sinto grande desejo de rever-te e assim ficar cheio de alegria’. São Paulo exprime o desejo de estar junto como irmãos que se amam muito, e é de fato um dos motivos da alegria cristã poder viver junto no afeto fraterno. Paulo, em muitas de suas cartas, chama Timóteo de ‘filho dileto’, porque o gerou na graça de Cristo por meio da pregação e do Batismo. A este aspecto de igualdade, de simplicidade fraterna no afeto, se une um aspecto mais realista, mais exigente: a fidelidade fraterna. Não é uma questão de procurar cultivar bons sentimentos. Trata-se de ser verdadeiramente solidário com os outros. Especialmente quando as coisas não vão bem. Jesus o exprime dizendo: ‘ Vós sois aqueles comigo nas minhas provações’, é isto que permite a fraternidade de subsistir. Um irmão é aquele que ajuda o próprio irmão. E Jesus se colocou em meio a nós como um irmão para ajudar-nos e ao mesmo tempo para ser ajudado por nós, quis ter necessidade de nossa ajuda fraterna e se congratula com os seus Apóstolos que permaneceram com ele apesar de todas as críticas que foram lançadas contra ele, mesmo com todos os perigos e ameaças. Eles permaneceram fielmente ao seu lado até a paixão; naquele momento Jesus se encontrou só, porque deveria realizar assim o desígnio de Deus. Do mesmo modo são Paulo pede a Timóteo colocar em prática esta solidariedade fraterna, esta fidelidade: ‘Não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro’. É no momento da provação que si demostra verdadeiramente o espírito de fraternidade, quando não nos traz nenhuma vantagem mostra-se irmão, irmã daquela pessoa. Naquele momento se revela o profundo do coração, que se soma fraternalmente ao sofrimento, com uma solidariedade que vale mais que todas as manifestações superficiais: ‘mas sofre comigo pelo evangelho, fortificado pelo poder de Deus’. Todos são chamados a sofrer com Cristo, para participar plenamente do seu amor. Esta fraterna solidariedade devemos sentir em particular para com aqueles que têm maior responsabilidade, não os deixando sós quando devem assumir atribuições, estar com eles, procurar compreender com eles a situação, tomar a nossa parte no fardo comum, para o bem de todos. Se Jesus se fez nosso irmão é porque quis colocar em nós esse espírito de fraternidade, sem o qual é impossível caminhar no amor”.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de janeiro de 2017

(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 
Conversão de São Paulo.

Para a nossa Igreja a figura de Paulo tem um papel primordial no que concerne à sua expansão e estruturação ética e moral, pois a palavra de Paulo, na força do espírito, traduziu para os cristãos o compromisso da vivência da fé a partir da realidade primeira que surge como consequência da fé e da evangelização: a comunidade. Suas cartas desenvolvem toda uma teologia que aprofunda a realidade da vida nova em Cristo e sua consequente vivência prática no mundo. A liturgia nos oferece uma apresentação e testemunho de seu encontro com Jesus a partir do relato nos deixado por Lucas. A luz de Jesus brilha para ele particularmente, cegando-o num primeiro momento, para depois permitir uma melhor visão das coisas e do mistério da ação de Deus, convertendo-se e se deixando batizar: ‘O Deus de nossos antepassados escolheu-te para conheceres a sua vontade, veres o Justo e ouvires a sua própria voz. Porque tu serás a sua testemunha, diante de todos os homens, daquilo que viste e ouviste’ (At 22,14-15).

O evangelho apenas complementa aquele mandato de Cristo feito aos seus apóstolos antes de retornar ao Pai que fossem pelo mundo e a todos levassem a Boa Nova. O Senhor estaria com eles e com sinais confirmaria a autoridade de suas palavras. Paulo viveu também essa experiência de modo até mais comprometido que alguns apóstolos, dando a sua vida pela causa do evangelho. Suas declarações de amor a Cristo ressoam em nossos ouvidos como um desejo de um amor também assim: ‘para mim viver é Cristo’.  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 24 de janeiro de 2017

(Hb 10,1-10; Sl 39[40]; Mc 3,31-35) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Dando continuidade a sua reflexão iniciada ontem sobre o sacrifício de Cristo, o autor fala da repetição do sacrifício anual pela purificação do povo, afirmando que este é incapaz de apagar os pecados. Só o sacrifício de Cristo, ou melhor, a sua entrega total, é que realiza uma vez por todas a remissão dos pecados. É na realização da vontade de Deus que se encontra a essência do sacrifício, para isso Deus lhe deu um corpo, como o deu a mim e a você.

Marcos já vem traçando nesse s primeiros capítulos as situações de acolhimento e de rejeição da pessoa de Jesus. Nesse quadro ele insere a família de Jesus (v. 21). Se estes não forem capazes de O acolher, sua verdadeira família encontra-se ali, ao seu redor, pois buscam fazer a vontade de Deus. E este elemento que separa Maria dos demais parentes que o buscam, pois a sua relação com o Filho, desde sempre, esteve em fazer a vontade do Pai.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de janeiro de 2017

(Hb 9,15.24-28; Sl 97[98]; Mc 3,22-30) 
3ª Semana do Tempo Comum.

O autor sagrado faz uma leitura do sacrifício de Cristo a partir do ritual judaico para expiação dos pecados, lendo no sacrifício de Cristo a definição de uma nova aliança e que outros sacrifícios não serão mais necessários. Ele entra no santuário definitivo de Deus para restabelecer a comunhão da humanidade com o próprio Deus. A comparação feita pelo autor da carta requer um certo conhecimento dos rituais judaicos.

Desta vez Jesus está às voltas com os escribas que provêm de Jerusalém. Jesus os faz perceber que se contradizem ao atribuir sua ação a Satanás. Para entendermos o pecado contra o Espírito Santo: “Depois de haver demonstrado a contradição dos escribas, Jesus pronuncia uma sentença de condenação contra eles: o perdão é impossível para aqueles que, negando a evidência da realidade, chamam bem ao mal e mal ao bem, ou seja, não querem reconhecer o poder divino que atua em Jesus e pervertem o que é sagrado, definindo-o como demoníaco. A blasfêmia contra o Espírito de Deus impossibilita a conversão, impedindo o acolhimento e o encontro com Deus no seu Messias” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 8,23b—9,3; Sl 26[27]; 1Cor 1,10-13.17; Mt 4,12-23)

1. Se estamos lembrados, esse texto da 1ª leitura já nos foi apresentado na noite de Natal. Ele fala da esperança do profeta de um novo rei, de um fato transformador, diante da triste realidade vivida na antiga região da Galileia. Essa grande luz brilhará não só sobre essa região, mas se expandirá ao mundo inteiro. É assim que a liturgia nos prepara ao evangelho. A luz é Jesus.

2. Jesus inicia seu ministério justamente nessa região, 700 anos depois a promessa ganha corpo. Esse fato por si só nos lembra que o modo como Deus age ultrapassa nossa noção de tempo. O fio condutor de nossa história, tecido pelo próprio Deus, nos escapa da visão. Apenas para dizer que Deus cumpre as suas promessas, ainda que essas não nos alcancem diretamente.

3. No domingo anterior Paulo havia preparado o terreno para trazer à tona os problemas enfrentados pela comunidade que chegaram a seu conhecimento. No texto aparece a clara tomada de partido na comunidade como se Cristo não fosse o centro e a razão do estarmos reunidos.

4. Nossa fé, por mais que seja alimentada pela reflexão feita por aqueles que estão à frente da comunidade ou pelos pregadores televisivos de nosso tempo, deve estar solidificada em Cristo. Todos somos frágeis e passageiros, nossa unidade deve ser buscada numa fé cada vez mais arraigada ao sentido do Reino que Jesus nos revelou.

5. Somos informados por Mateus da mudança de Jesus para a cidade de Cafarnaum; provavelmente não somente por causa da morte do Batista, também José, seu pai por adoção, havia falecido. Maria segue com ele. Mas o evangelista lê esse fato na perspectiva do cumprimento das promessas do Antigo Testamento. E apresenta Jesus como a luz que brilha para os povos, assinalando o início do seu ministério.

6. Nessa região caracterizada pela mistura de povos e pelo preconceito, Mateus deixa claro o modo como a mensagem de Jesus quer abraçar a todos, aqui, resumida nesse convite à mudança. Sem mudar o modo de pensar e agir, dificilmente a mensagem de Jesus nos alcançará na plenitude de sua luz.

7. No chamado que Jesus faz aos primeiros discípulos, Mateus nos lembra o convite que Ele faz a cada um de nós. O seu convite não só desinstala, mas também coloca em movimento. A narrativa está caracterizada pela espontaneidade, generosidade e prontidão em seguir. O que não significa desinteressar-se dos outros, sejam eles familiares ou não. Será preciso manter a devida distância de certos costumes e tradições que não se ajustam a sua Palavra. Vinho novo só vai bem num odre novo.

8. O pescar a que somos convidados traz a simbologia do resgate, de todos aqueles que se encontram envoltos em situação de perigo. O mar é símbolo do mal, das doenças e das forças inimigas. Tudo isso se traduz no agir de Jesus em favor do seu povo. Os discípulos devem imitá-lo. Mais do que palavras, Jesus deixou que seu agir falasse mais alto.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de janeiro de 2017

(Hb 9,2-3.11-14; Sl 46[47]; Mc 3,20-21) 
2ª Semana do Tempo Comum.

Olha nós, de novo, às voltas como o sacerdócio do Antigo testamento e o de Cristo com uma descrição mais detalhada do rito e comparativa que o sacrifício de Cristo. Por esse sacrifício, todo ser humano pode ter acesso a Deus e participar na Sua salvação, realizada por Cristo que se tornou, ao mesmo tempo, sacerdote e vítima em Sua solidariedade com o ser humano.

“A secção de Marcos que começamos a ler é toda dominada pelo confronto entre os discípulos, a multidão, os adversários, os parentes. Marcos gosta muito de construir as suas narrações com um procedimento em camadas: começa uma narração, interrompe-a para contar outra; depois retoma a narração interrompida e conclui-a. Com este procedimento a narração que serve de moldura ilumina o que está no centro e vice-versa (cf. Mc 3,20-21.22-30.31-35)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Tempo Comum – Paulus). Para Jesus, como para muitos de nós, nem sempre é fácil o equilíbrio entre as exigências dos que nos rodeiam e dos familiares, que podem sufocar um pouco a nossa liberdade ou mesmo o nosso tempo de lazer. Por vezes é preciso impor uma certa distância para reencontra o equilíbrio.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de janeiro de 2017

(Hb 8,6-13; Sl 84[85]; Mc 3,13-19)
 2ª Semana do Tempo Comum.

Olhando a superioridade de Cristo em relação a salvação trazida e realizada, o autor ainda rememora o Antigo Testamento para confirmar que em Sua páscoa todo o Antigo se realiza e se renova. Pelo Espírito, Ele coloca no coração humano a nova e eterna aliança.

Afastando-se um pouco da multidão, é hora de cuidar dos discípulos que lhes serão mais próximo e nessa proximidade conhecer ainda mais as nuances do espírito humano, enquanto lhes revela os mistérios do Reino. Está aqui o germe da futura comunidade cristã que se multiplicará pelo mundo como sinal de que o cristianismo, queiramos ou não, é uma experiência comunitária.     


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de janeiro de 2017

(Hb 7,25—8,6; Sl 39[40]; Mc 3,7-12) 
2ª Semana do Tempo Comum.

O nosso autor se repete na comparação entre o sacerdócio hebraico e o sacerdócio de Cristo para depois concluir a Sua superioridade. Mas ele reconhece que tudo isso vivido liturgicamente por Israel preparava para a novidade de Cristo.

Pregação, cura e libertação vão fazendo a rotina e o itinerário de Jesus. Claro que toda multidão traz em si a ambiguidade do porque da busca e do seguimento. Por isso Jesus toma uma certa distância (a barca), mesmo continuando a lhes falar. Será que temos dado a devida atenção à Sua palavra ou apenas nos entretemos com as suas graças?


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de janeiro de 2017

(Hb 7,1-3.15-17; Sl 109[110]; Mc 3,1-6) 
2ª Semana do Tempo Comum.

Volta-se a citar a figura de Melquisedec, recordando o seu significado simbólico a partir do Antigo Testamento (Gn 14,18-20) e dos elementos que a esse se refere em comparação a Jesus em seu sacerdócio, como se ele fosse uma espécie de prefiguração.

Numa série de situações contraditórias, Jesus vai impondo a sua reflexão sobre o sábado e inflamando aqueles que não querem aprofundar tal sentido. Aqui se dá mais uma dessas curas de Jesus que se realizam pela força de sua Palavra que cria e restaura. Há uma contradição naqueles que fazem do sábado um dia para tramar a morte do irmão. A dignidade do ser humano não é levada em conta por eles. Pecamos muito com relação a esse princípio e não só no sábado.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de janeiro de 2017

(Hb 6,10-20; Sl 110[111]; Mc 2,22-28) 
2ª Semana do Tempo Comum.

Nosso autor muda muito rápido sua linha de raciocínio em suas comparações. Num primeiro plano ele elogia a caridade dos seus leitores e pede perseverança. Depois ele fala da promessa de Deus feita a Abraão e de Sua fidelidade para nos falar da esperança a que somos chamados em Deus, lançando no mar infinito da divindade a nossa âncora (será por causa desse texto que a esperança é simbolizada por uma âncora?).

Tem início a peleja de Jesus com os fariseus por causa do sábado, como bem já conhecemos. Jesus usa as próprias escrituras para rebater a crítica feita aos discípulos que arrancam espigas em pleno sábado (trabalho braçal), para dizer que a necessidade já falou mais alto que a regra. Jesus pretende resgatar seu real significado. Por Sua palavra libertadora, Jesus é capaz de dar novo significado a experiência de Deus a partir de uma nova compreensão.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de janeiro de 2017

(Hb 5,1-10; Sl 109[110]; Mc 2,18-22) 
2ª Semana do Tempo Comum.

Nosso autor segue refletindo sobre o sacerdócio de Jesus Cristo em comparação aos costumes sacerdotais hebreus (vocação, função). Um belo texto utilizado nas ordenações de sacerdotes em nosso tempo. Há um apelo para a sua e nossa frágil condição humana, mesmo não tendo pecado, sofreu a angústia da morte eminente. Ele não ofereceu sacrifício por si e pelos seus, mas ofereceu-se ao Pai por nós, num perfeito ato de aceitação da vontade divina. Deus acolheu a Sua entrega e concede aos que lhe obedecem a salvação eterna.

Marcos recorre à imagem da festa nupcial para aludir o novo tempo que está sendo vivido por aqueles que o acolhem e compreendem a dinâmica do Reino. As tradições não serão simplesmente abandonadas, elas sofrerão a releitura de significado depois da paixão. É necessário abrir-se ao novo que chegou com a Sua pessoa.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Tempo Comum – Ano A

(Is 49,3.5-6; Sl 39[40]; 1Cor 1,1-3; Jo 1,29-34).

1. Em alguns anos do ciclo litúrgico, a festa do Batismo de Jesus substitui o 1º domingo do Tempo Comum. Esse domingo do ano A se apresenta para nós como um prolongamento e aprofundamento da festa do Batismo.
* O texto de Isaias, retirado dos cânticos do Servo sofredor, fala-nos da vocação desse personagem, que por sua vez a liturgia lê olhando para Jesus.

2. O texto serve também de lembrete que todo cristão é chamado a um testemunho diante do mundo. Como Maria, reconhecemo-nos servos do Senhor, independente da nossa vocação específica.
* Nas comunidades, no serviço aos pobres e necessitados, essa luz vai ganhando maior expressão e vai diminuindo o efeito das trevas ao nosso redor. Lembremos as palavras de Jesus: “Brilhe a vossa diante dos homens”.

3. A partir desse domingo, até um pouco antes do primeiro domingo da Quaresma, vamos acompanhar trechos dessa 1ª carta de Paulo aos Coríntios.
* Ela vem de encontro a uma série de problemas na comunidade trazendo um pouco de luz na sensatez e no recordar do agir cristão pregado por Paulo.

4. Para começo de conversa, Paulo lembra o seu chamado, a sua vocação, feita pelo próprio Jesus. Sua vocação apostólica lhe confere a autoridade necessária diante da comunidade de fé.
* Sóstenes aparece como o responsável pela mesma, a ele e aos demais se dirige a missiva. Ao usar o termo ‘igreja’ para se referir a comunidade, Paulo lembra que eles também são chamados, convocados.

5. A santidade da comunidade se traduz num estilo de vida que os diferencia dos demais não por se acharem melhores, mas por seguirem a Jesus.  
* Paulo fala dessa unidade que vai se consolidando nas comunidades que vão surgindo ‘no nome de Jesus’. Ele está só preparando o terreno para o que vem pela frente.

6. No seu jeito inusitado de perscrutar o mistério de Jesus e para falar de sua missão, João, o evangelista, apresenta a missão de Jesus a partir de uma figura cara a Israel.
* A imagem do cordeiro remonta ao tempo da fuga do Egito, da noite da libertação. Assim ele afirma que o sangue de Jesus nos libertará do pecado e tudo que nos conduz à morte.

7. Tal revelação nos vem dos lábios do Batista, num texto de caráter catequético. Para chegar a tal afirmação da fé, é necessária uma busca, um conhecimento.
* Passando do simples homem que um dia se colocou em sua presença para receber o batismo, ele percebeu alguns sinais que denunciava está diante de uma outra realidade.

8. Aos olhos da fé e sob a ação do Espírito, é possível compreender melhor quem é Jesus e sua missão. Aqui se despoja todo caráter de realeza e poder, para dar espaço a sua atitude de entrega.
* O Batista fala do que viu como fruto de sua busca pessoal. A fé exige de nós a capacidade de partilhar nossa experiência de encontro. Há um testemunho que nasce da palavra e outro da vida. Ambos deveriam caminhar bem próximos.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de janeiro de 2017

(Hb 4,12-16; Sl 18[19b]; Mc 2,13-17) 
1ª Semana do Tempo Comum.

Dois assuntos diferentes são tratados sob duas imagens de forte apelo e fácil compreensão dos leitores. Primeiro ele compara a Palavra de Deus com uma espada de dois gumes: afiada e penetrante. Dela nada se oculta, ninguém escapa. Então, o cristão deve estar atento em sua relação com ela, que o julga por si só. Na segunda imagem compara Jesus ao sumo sacerdote, que penetra o Santo dos Santos, para oferecer o incenso de louvor em prece a favor do povo. Mas essa comparação vai além do sacerdote comum lembrando não só a experiência humana de Jesus, mas também a paixão sofrida por Cristo em nosso favor. Assim podemos nos aproximar sem temor para experimentar a graça e a misericórdia que o Senhor nos oferece.

O mesmo Jesus que convidou pescadores a segui-lo, chama agora a Levi, um cobrador de impostos para ser seu discípulo. Na proposta de Jesus aparece claramente o desejo que todos, particularmente os pecadores, participem do projeto do Reino que Ele veio anunciar e colocar em movimento. Se você se sente um pecador (a), sinta por essa narrativa que também a você Deus quer manifestar a sua misericórdia e acolhe-lo.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de janeiro de 2017

(Hb 4,1-5.11; Sl 77[78]; Mc 2,1-12) 
1ª Semana do Tempo Comum.

Na continuidade do pensamento do texto anterior, o repouso prometido aparece aqui como a salvação ou a vida eterna prometida por Jesus que pode perder-se pela falta de fé ou desobediência a seus preceitos. O repouso é Cristo mesmo em seu mistério de plenitude que já se dá a conhecer àqueles que o buscam em Sua palavra e na comunhão de vida. Em todos os tempos somos tentados a não crer.

Marcos nos omite o que Jesus está anunciando, mas nos detalha Sua ação salvadora. A condução do paralitico até Jesus foi um tanto mirabolante, mas ao mesmo tempo revela a fé dos que o fazem, identificando nessa a confiança, o desejo íntimo, a certeza que anima as pessoas. Jesus acrescenta algo à cura física: o perdão dos pecados. Aponta, assim, para o que verdadeiramente é capaz de curar e renovar o ser humano. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de janeiro de 2017

(Hb 3,7-14; Sl 94[95]; Mc 1,40-45) 
1ª Semana do Tempo Comum.

Em suas raízes hebraicas e seu conhecimento do Antigo Testamento, o autor cita o salmo 94 sobre o episódio do deserto, onde o medo fez endurecer o coração dos israelitas e gerar a incredulidade, mesmo tendo experimentado a ação de Deus. Que não ocorra aos cristãos tamanha infelicidade de não perseverar até o fim na fé inicial. O nosso salmo complementa a nossa resposta oracional e recorda a advertência do autor sagrado.

A dinâmica da fé que faz homens e mulheres acreditarem em Jesus e superarem certas barreiras impostas pela sociedade ou pelas conveniências religiosas começam a despontar no cenário de Marcos. Como em outros momentos, Jesus se identifica com o sofrimento alheio e o livra de tamanha carga, tomando-a sobre si. O silêncio é uma atitude que nos permite aprofundar de modo mais sério quem é Jesus. Certos alvoroços e falatórios podem prejudicar ou confundir a experiência pessoal do outro.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de janeiro de 2017

(Hb 2,14-18; Sl 104[105]; Mc 1,29-39) 
1ª Semana do Tempo Comum.

Como que tomando o texto do evangelho de ontem, o autor da carta aos Hebreus comenta a ação libertadora de Jesus sobre aquele que tinha o poder da morte. Para isso fez-se semelhante a nós, sofrendo também a tentação, é capaz de não só agir com misericórdia para conosco, mas nos socorrer na tentação. Sua finalidade é a de salvar.

Num ato contínuo acompanhemos Jesus que vai à casa da sogra de Pedro, que se encontra enferma, a cura e também a outros que ficam sabendo do seu poder taumatúrgico. A ação libertadora contra os demônios persiste na narrativa e o silêncio que lhes impõem, pois estes não podem dizer verdadeiramente quem é Jesus para a humanidade. Só o podemos experimentar pela fé. E por toda a Galileia Jesus vai dando a oportunidade de conhecê-lo melhor e chegar a professar a fé. Estamos apenas no começo do caminho que nos levará a responder a pergunta sobre Jesus.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de janeiro de 2017

(Hb 2,5-12; Sl 8; Mc 1,21-28) 
1ª Semana do Tempo Comum.

Seguiremos até o mês de agosto com as nossas reflexões em torno dos dois textos da liturgia da palavra semanal para fecharmos o ciclo ímpar, iniciado em 2015. Nessas quatro primeiras semanas acompanharemos o texto da carta aos Hebreus como primeira leitura. Um texto um tanto desconhecido dos cristãos, pois não se trata tanto de uma carta, mas de um discurso solene ou uma espécie de homilia. Seu autor é um ilustre desconhecido. Era um texto a princípio atribuído a Paulo, mas desde o século III já se levantava suspeita de sua autoria. No centro de tal discurso está a pessoa de Jesus Cristo. Com a festa do batismo perdemos a sua introdução já ‘pulando’ para o capítulo segundo onde se introduz o tema da solidariedade de Cristo para com os homens pecadores, para isso ele cita o salmo oito que será utilizado como salmo responsorial; o poder concedido ao homem desde o início da criação faz uma referência ao livro do Gênesis. Se o ser humano parece não ter atingindo essa plenitude sonhada, em Cristo ela se realiza em seu ‘abaixamento’ e glorificação. Em nossa comunhão com Ele nossa humanidade é plenificada.

Marcos nos situa em Cafarnaum, na sinagoga, um sábado. Diferentemente de Lucas, não nos diz sobre que contexto Jesus faz o seu comentário, apenas nos diz de sua autoridade no falar para indicar seriedade e a coerência, a eficácia e a força de tal interpretação. O mais importante para Marcos é salientar a presença do Reino em Jesus que coloca a descoberto a ação do inimigo e este tem a intenção de revelar quem é Jesus, mas deve calar-se, pois ainda existe um caminho a ser feito, pela fé, para compreendermos quem é este que traz um ensinamento novo, que tem autoridade no falar e é capaz de expulsar os espíritos maus.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 09 de janeiro de 2017

(Is 42,1-1.6-7; Sl 28[29]; Mt 3,13-17) 
Batismo do Senhor.

O encerramento do tempo do Natal se dá na festa de hoje com essa apresentação de Jesus a partir do profeta Isaias, com alguns versículos do primeiro cântico, do assim chamado, servo sofredor. Uma figura emblemática identificada com o ministério de Jesus. O próprio Lucas apresenta Jesus na sinagoga de Nazaré a partir dos versículos finais do texto de hoje. De fato, a atitude de obediência de Jesus ao Pai e o seu ministério vão numa atitude de entrega perfeita anunciando um tempo de graça e misericórdia por parte de Deus. O próprio Deus, no Batismo de seu Filho reconhece essa plenitude que reside no Filho.

Para cada evangelista do ano litúrgico se reserva narrativas próprias para esse dia. Na perspectiva de Mateus, ao entrar nas águas do Jordão, Jesus faz memória da entrada do povo de Deus na terra prometida e ao mesmo tempo inaugura uma nova época de fidelidade aos desígnios de Deus. Jesus está iniciando o seu ministério público. Numa atitude de humildade entra na fila dos pecadores, se deixa batizar, para que um novo tempo inicie, esse tempo da escuta da Palavra e do caminhar nos seus desígnios, como faz o Filho, caminhando à frente do novo povo de Deus, tomando-o como modelo do novo Israel.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Epifania do Senhor – 2017

(Is 60,1-6; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12)

1Encerramos com a solenidade de hoje o tempo do Natal, mesmo que oficialmente só se encerre amanhã com a festa do Batismo de Jesus. Mas nem todos poderão participar dessa celebração. Aquele que discretamente nascera em Belém, visitado por uns poucos pastores, agora se revela a um montante maior e significativo que veio de longe, dessas buscas que fazem homens e mulheres em busca de sentido.

2. Essa ‘manifestação’ do Senhor a todos os povos é abordada primeiramente com o texto poético de Isaías sobre uma Jerusalém em ruina que agora é invadida de luz, atraindo assim todos os povos. A liturgia quer nos dizer que a restauração da fé do povo de Deus tem seu ápice na pessoa de Jesus, luz do mundo. A Igreja é a nova Jerusalém, no sentido que testemunha essa luz e agrega todos os povos.

3. Juntamente com a segunda leitura, ela quer sinalizar essa fase conclusiva de toda a caminhada de fé que a humanidade percorre no sofrimento, na luz que Jesus nos trouxe. Paulo é o novo arauto dessa boa notícia: todos são chamados a usufruir a generosidade de Deus e todo homem pode alcançar a salvação.

4. Toda essa alegre notícia parece contrastar com a narrativa de Mateus, deixando claro que Ele não foi reconhecido por aqueles que tendo a Palavra na mão e mesmo sabendo lê-la não foram ao seu encontro. Mas acima de tudo isso há uma estrela, uma luz que leva à descoberta de Cristo. Os três primeiros crentes já podem intuir, na perspectiva de Mateus que aquele Menino será um sinal de contradição.

5. Seus presentes são simbólicos: o ouro reconhece o rei, o incenso a divindade e a mirra a sua humanidade que será marcada pelo sofrimento. Tudo isso é apenas uma expressão de alegria e gratidão, gerados pela fé. Quando estamos verdadeiramente unidos a Deus, não há um dia em que não possamos por um momento, ainda que breve, experimentá-la.

6. Quando O procuramos e aderimos a Ele, o nosso melhor presente é oferecer-nos a Ele. Ao tomar a forma humana de uma criança, Ele atinge nossos corações endurecidos pelo individualismo e pela indiferença. Naquele pequeno ser revela-se a grandeza do amor de Deus, que se fez pequeno até quase mendigar a nossa ternura, o nosso amor.

7. Independente da distância geográfica ou espiritual em que nos encontramos, a fé nos coloca a caminho para evitar que a rotina e acomodação nos tire a alegria de reencontrarmos a Deus nas pequenas coisas da vida. Pequenos sinais ao longo do caminho devem nos ajudar a perceber que é hora de tomar outro rumo. Que a luz de Jesus ilumine os nossos passos.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 07 de janeiro de 2017

(1Jo 5,14-21; Sl 149; Jo 2,1-11) 
Tempo do Natal.

Para além da nossa prática da justiça para com o próximo está a máxima da importância da oração na vida cristã. Um exercício de confiança em Deus que tudo sabe e provê, mas também na intercessão pelo irmão que pode estar se desviando do caminho da Luz. A oração também fortalece e protege das ações do mal.

Antes de ler o evangelho da epifania no dia de amanhã, João nos narra a manifestação de Jesus aos seus discípulos a partir do milagre de Caná. Não se coloca tanto em evidência o cuidado materno de Maria para com aquela situação embaraçosa, que se pode ler em outro contexto, mas sim a visão simbólica que João dá aos milagres de Jesus. Uma leitura possível, entre outras tantas que o texto nos sugere, está relacionada a agua das velhas talhas do rito judaico transformadas no vinho novo da alegria trazida por Jesus. Sim, Ele se revela e se manifesta como a novidade de Deus que supera o antigo. Deus sempre age de modo novo, ainda que conserve velhos instrumentos.   


Pe. João Bosco Vieira Leite