Festa da Sagrada Família – Ano B

(Eclo 3,3-7.14-17a; Sl 127[128]; Cl 3,12-21; Lc 2, 22-40).

1. Dentre os valiosos conselhos que compõem o livro do Eclesiástico, boa parte se volta para as relações humanas e particularmente aquelas familiares; é preciso ter presente o tempo em que foram escritos. O mandamento de honrar pai e mãe aparece aqui esmiunçado com promessa de bênção divina. Um grande exercício de paciência se requer de ambas as partes como expressão de amor.

2. É dentro dessa linha que o pensamento paulino se serve da expressão ‘revestir-se’, para lembrar-nos que na convivência comunitária ou familiar o amor não é automático. Há um exercício do cultivo de certas virtudes que tornam possível a convivência. O que depende de você para manter essa amizade, essa convivência, essa família?

3. Não é atoa que esse texto faz parte da liturgia do matrimônio. Não basta ser batizado para ser uma comunidade ou uma família cristã. É preciso essa atenção à Palavra que Jesus nos propõe ao longo do ano em nossa liturgia ou na leitura que fazemos da Sagrada Escritura. Uma leitura atualizada às mudanças dos tempos.

4. Essa atitude de escuta fez parte da Família de Nazaré, em parte é por causa disso que a chamamos de ‘Sagrada’. Nós a acompanhamos na vivência dos ritos sagrados do seu tempo. Uma pobre família vai ao Templo apresentar seu filho e ao mesmo tempo resgatá-lo a partir de uma oferta prevista, por ser primogênito.

5. A primeira lição que recolhemos é esse dever dos pais de introduzirem os filhos nessa relação com o sagrado, do que significa ser cristão; tão importante quanto as outras coisas que fazem parte da vida e da sobrevivência.

6. Como não se trata de um menino qualquer, eis que a rotina dos pais é alterada por algumas revelações inesperadas que falam de sua missão: ‘Luz para as nações’. Como toda luz, pode ser incômodo para alguns que preferem permanecer na sombra; pela realidade materna Maria será alcançada pela própria dor do Filho.

7. Ao velho Simeão se une Ana nesse louvor dos sinais de Deus que se realizam e que faziam parte da espera do seu povo. As mudanças nas estações da vida podem nos sugerir outras atividades. O ser humano não pode ser avaliado só pela capacidade de produzir, mas também do que é capaz de transmitir às futuras gerações.

8. A Jesus, naquele exato momento de sua vida cabia-lhe a submissão necessária a seus pais. E nesses processos da vida Ele cresce em sabedoria e graça, compreendendo que o ser humano é assim: ser de relações e de constantes descobertas sobre si mesmo, sobre o mundo e das possibilidades de dar sentido à sua existência. Famílias são importantes nesse processo, ainda que a nossa sociedade decadente diga o contrário, destituindo-as de seu papel.


Pe. João Bosco Vieira Leite.

Sábado, 30 de dezembro de 2017

(1Jo 2,12-17; Sl 95[96]; Lc 2,36-40) 
Oitava de Natal.

O autor se dirige aos membros familiares (provavelmente aos membros da comunidade com suas diversas faixas etárias e tentados a deixar a comunidade) chamados por Deus a viver (permanecer) uma vida nova pela dinâmica cristã e ao mesmo tempo a abandonar tudo aquilo que o contradiz, não nos deixando arrastar. Ana, no evangelho levanta a voz para testemunhar sua opção por Deus e a esperada realização de suas promessas.

Retomamos o salmo 96,7-10 em seu convite ao louvor: “’Permanecer para sempre’ enquanto fruto do amor de Deus, justifica o convite às famílias dos povos para que tributem ao Senhor ‘a glória do seu Nome’, pois Ele já reina e sustenta o mundo’. A nossa oração está recheada de profunda adoração ao contemplar um Menino que é a presença permanente de Deus conosco (Emanuel), e ao sentirmo-nos envolvidos no projeto que o Senhor realizará por meio d’Ele”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de dezembro de 2017

(1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35) 
Oitava de Natal.

Conhecer a Deus é algo que não está desvinculado de uma conduta ética, por isso esse conhecimento passa pela observação dos mandamentos, nos lembra o autor da 1ª Carta de João, tendo por base o amor a Deus e ao próximo conforme o ensinamento de Jesus sobre o mandamento novo. Deus é amor. Esse mesmo amor deverá levar Maria e José a um acolhimento da vontade de Deus sobre aquele ‘pequenino’ que lhes foi confiado por um tempo. 

Hoje e amanhã o salmo 96 (vv. 1-3.5-6) se repente desse louvor contínuo que elevamos a Deus nesses dias festivos. “O mistério da Encarnação é que sempre torna ‘novo’ um cântico antigo e repetido milhares de vezes. Acolher a ‘alegre notícia’ não é somente deixar descer sobre nós uma alegria que transforma, uma exultação que se torna cântico, mas também repetir aos outros o anúncio dos pastores: glória nos céus e paz na terra” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).  


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de dezembro de 2017

(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) 
Santos Inocentes – Oitava de Natal.

Depois de Estevão, temos novamente a cor vermelha a se ‘derramar’ em nossa liturgia. Perseguido, Jesus deve refugiar-se com sua família. Nesse dia também rezemos pelos refugiados do mundo inteiro e por suas famílias: “Jesus quis pertencer a uma família que experimentou dificuldades para que ninguém se sinta excluído da proximidade amorosa de Deus. A fuga para o Egito, por causa das ameaças de Herodes, mostra-nos que Deus está presente onde o homem se encontra em perigo, onde o homem sofre, onde se refugia, onde experimenta rejeição e abandono; mas Deus também está onde o homem sonha, onde espera voltar à terra natal em liberdade, onde planeja e escolhe a vida para sua família e a dignidade para si próprio e seus familiares”. Angelus, 29 de dezembro de 2013 (Natale Benazzi – Papa Francisco – Todo dia é Natal – Leya).

O salmo 124 (vv. 2-5.7-8) procura mais casar-se ao evangelho do que à 1ª leitura pela sua dramaticidade. Davi escreveu esse salmo porque seu povo estava em apuros. Ele recorre a uma série de imagens para traduzir a situação de perigo em que se encontrava e para isso ele recorre à ajuda mais que essencial, aquela que é sobrenatural: ‘O nosso auxílio está no nome do Senhor, do Senhor que fez o céu e fez a terra!’ (v. 8).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de dezembro de 2017

(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) 
Oitava de Natal – São João Evangelista.

“Os dias feriais do Tempo do Natal estão intimamente ligados a algumas temáticas, devido à presença repetida de pelo menos três salmos (Sl 97; 99; 73) e sobretudo pela lectio divina da Primeira Carta de João. Esta última é lida na sua totalidade, quando a solenidade da Epifania não é celebrada na data de 6 de janeiro. É caso raro, e pode apresentar-se a Primeira Carta de João como linha condutora das leituras feriais deste tempo litúrgico. [...] O conteúdo da carta está particularmente apto para nos fazer viver os temas da espiritualidade da Encarnação. [...] A referência constante da Primeira Carta de João com o quarto Evangelho é critério hermenêutico imprescindível, não só pelos conceitos fundamentais de luz, amor e fé, mas também pelos diversos aspectos da vida cristã. [...] A jubilosa afirmação final: ‘Sabemos que o Filho de Deus veio e deu-nos inteligência para conhecermos o Deus verdadeiro’ (1Jo 5,20) pode ser considerada o resumo de toda a Carta e dar-nos-á a chave para entrarmos na sua mensagem do Natal e da Epifania”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

O Sl 97 (vv. 1-2.5-6.11-12) é convite jubilar: “Podemos cantar sobre a ‘Noite Feliz’ do nascimento de Jesus, pois o céu estava tudo, menos silencioso. Os anjos de Deus explodiam em louvor. E hoje, nós, aqueles a quem Jesus veio redimir, temos o privilégio de nos unir aos anjos em adoração. No início (v. 1), no meio (v. 8) e no fim (v. 12) do salmo 97, somos chamados a nos alegrar: ‘Alegrem-se no Senhor, justos, e louvem seu santo nome’”.  (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de dezembro de 2017

(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) 
Santo Estevão – Oitava de Natal.

Os dias feriais (da semana) do Tempo de Natal tem uma liturgia particular marcada por algumas festas e uma particular leitura da 1ª Carta de São João, como veremos a partir do dia de amanhã. Estevão é um dos sete homens escolhidos para auxiliar os apóstolos. A liturgia nos traz uma breve narrativa que abrange sua ação, perseguição e martírio que se confunde com o do próprio Jesus, no perdão aos seus algozes. Nesse dia rezamos pela Igreja perseguida nas diversas situações do mundo atual, como havia advertido Cristo no seu evangelho e como nos lembra o papa Francisco: “A recordação do primeiro mártir, Santo Estevão, segue-se imediatamente à solenidade do Natal. Ontem contemplamos o amor misericordiosos de Deus, que se fez carne por nós; hoje vemos a resposta coerente do discípulo de Jesus, que dá a vida. Ontem nasceu na terra o Salvador; hoje nasce no céu a testemunha fiel. Tanto ontem quanto hoje se manifestam as trevas da rejeição da vida, mas resplandece, ainda mais forte, a luz do amor, que vence o ódio e inaugura um mundo novo. Na narração dos Atos dos Apóstolos há um aspecto particular que aproxima Santo Estevão do Senhor. Trata-se de seu perdão antes de morrer lapidado. Pregado na cruz, Jesus disse: ‘Pai, perdoa-lhes! Eles não sabem o que fazem!’ (Lc 23,34). De maneira semelhante Estevão, ‘dobrando os joelhos, gritou com voz forte: ‘Senhor, não os condenes por este pecado’(At 7,60)’. Estevão é, portanto, mártir, que significa testemunha, porque faz como Jesus; com efeito é uma verdadeira testemunha que se comporta como Ele: quem reza, quem ama, quem doa, mas acima de tudo, quem perdoa, porque o perdão, como evoca a própria palavra, é a expressão mais alta do dom” Angelus, 26 de dezembro de 2015 (Natale Benazzi – Papa Francisco – Todo dia é Natal – Leya).

O Sl 31 (vv. 3.6-8.17.21) reza a necessidade do poeta de afirmar quem é Deus para ele a ponto de confiar e entregar-se. O referido salmo foi rezado por Jesus em seus últimos momentos na cruz.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Natal do Senhor – Missa do dia

(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-5.9-14 [breve]).

1. O texto que abre a nossa liturgia da Palavra soa como um eco da solenidade de ontem. O profeta sonha com um exultante retorno dos exilados à sua pátria, como se o próprio Deus estivesse voltando a habitar no meio do seu povo.

2. De fato, o nascimento de Jesus não deixa de ser para nós uma expressão do amor misericordioso de Deus que volta a dialogar conosco para entendermos a salvação que nos propõem. Assim pensa o autor da 2ª leitura. Jesus é outro modo de Deus nos falar e não só com palavras. Se equipara em nossa existência, num humilde abaixar-se, como um pai com seu filho pequeno.

3. Se desdobra em comunicar-nos vida pelos seus gestos e palavras. No resto do texto o autor sagrado se desdobra em reconhecer o mistério de Sua divindade.

4. É em torno desse mistério do falar divino que João abre o seu evangelho com esse poema de caráter teológico. A origem de Jesus vista por ele não remonta ao seu nascimento, mas à Sua existência, antes de todo o criado. Como Deus nunca falou diretamente ao ser humano, mas se comunicou de formas diversas, Jesus é chamado de ‘verbo’, ‘palavra’ do próprio Deus, para comunicar o Seu amor pela humanidade. 

5. Deus se deixa tocar em Jesus a partir da nossa própria realidade, nos diz João de um modo singular. Se ele foi inspiração na criação do Pai, a beleza de Deus se reflete na criação.

6. O tom mais forte dessa apresentação é mostrá-lo como luz da verdade, ‘que vindo ao mundo ilumina todo ser humano. Onde há muita luz, há também territórios de sombra. É incômoda a sua presença. Em meio a alegria da revelação da Luz se instala uma tensão contínua, nesse jogo de claro e escuro em que caminha a humanidade.

7. Se há uma escolha envolta no presente que o mundo recebe, a palavra usada pelo evangelista é acolhimento: ‘a todos os que a receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus’. Um novo nascimento se dá em nós se nos deixamos inundar pela Luz de Deus. Ele veio até nós, montou a Sua tenda. Sua Palavra permanece, nos envolve, restaura e faz renascer.

8. Natal é mais que um dia no calendário litúrgico da Igreja. É um envolvimento com o mistério de um Deus que se comunica de muitas formas. Numa atitude contínua de escuta e acolhimento podemos sempre nos reencontrar com o sentido último dessa filiação a que Jesus nos chama a viver, para sermos identificados como filhos e filhas da Luz.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Mensagem para o Natal 2017

“Queridos irmãos e irmãs que nos acompanham pelo nosso blog durante mais esse ano, queremos expressar os nossos renovados votos de Boas Festas no Senhor. Acrescento esse ‘no Senhor’ para que as nossas comemorações não estejam destituídas do verdadeiro sentido celebrado nesse período. Entre uma coisa e outra a preparar e vivenciar um pensamento se eleve em prece para que Sua presença se renove entre nós, mesmo em meio aos cansaços da vida, tudo se recria e se renova com Sua graça. Deus abençoe a sua vida e fortaleça o seu coração para o caminhar que se descortina com o aproximar-se de um novo ano. Paz e bem!”

4º Domingo do Advento – Ano B

(2Sm 7,1-5.8b-12.14a.16; Rm 16,25-27; Lc 1,26-38)

1. Ao entardecer da sua existência, Davi sabe que tudo quanto foi conquistado de bom em seu reinado veio acompanhado de muitas guerras... Apesar de tudo ele sabe que Deus esteve ao seu lado. Num gesto de gratidão e peso de consciência, ele resolve construir um templo para Deus.

2. Tudo parecia se conduzir aos desejos do monarca até Natã intervir com uma mensagem divina. Deus está dispensando tais homenagens e preocupação. Preferirá o reconhecimento que virá das mãos de Salomão e garante a Davi, que apesar de tudo, manterá a sua descendência.

3. Tudo isso aparece no texto num jogo de palavras até perceberemos que casa é sinônimo de dinastia. Deus nunca falha em sua palavra, apesar dos altos e baixos da história do seu povo. A esperança do Messias começa a ganhar corpo quando os grandes reinados desapareceram para dar espaço a um outro rei, com propostas novas que transcendem os reinados desse mundo.

4. É a revelação desse mistério divino que Paulo faz menção em sua carta: Deus envia o seu Filho, para a construção de um novo reinado, de uma nova humanidade reconciliada com Deus. Eis o sentido de sua gratidão.

5. Às portas da celebração do nascimento de Jesus, voltamos um pouco no tempo para imaginar como se deu essa entrada de Deus em nossa história. A intenção de Lucas é afirmar a divindade deste que vem até nós, servindo-se da normalidade da vida, e do ventre de uma mulher para se encarnar, apesar de interferir um pouco na natureza das coisas.  

6. Na narrativa de Lucas tudo ‘cheira’ à tradição bíblica, pois se serviu de várias narrativas para compor essa cena. Não nos assustemos se um dia encontrarmos com a Virgem e ela nos disser: ‘Não foi bem assim’... Lucas quer nos falar do dom que é Jesus, da sua particular missão, do modo simples como Deus age, transformando pequenos eventos em algo surpreendente. Nele se realiza todas as profecias.

7. Maria estará automaticamente envolvida com essa história nova que Deus está escrevendo, particularmente no que fez de sua pequenez, como fez a Davi, e no reconhecimento que a faz elevar-se num louvor sem fim, e acima das demais criaturas. Ela só precisará ter uma certeza, para tudo que virá pela frente: ‘o Senhor está contigo’.

8. Para todos os tempos, Deus estará conosco, pois reinados passam, apesar dos sofrimentos. Como a Maria, Deus nos propõe confiar-nos a Ele, escutar sua proposta e perceber nosso próprio papel, pequeno e humilde, mas em comunhão com o próprio Deus, o que parece insignificante esconde verdades essenciais sobre a felicidade que buscamos.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de dezembro de 2017

(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25]; Lc 1,57-66) 
3ª Semana do Advento.

A partir da figura projetada por Malaquias no espaço infinito das profecias, a liturgia nos leva ao nascimento de João Batista, com tudo que é possível esperar de uma criança que vem ao mundo. Mas João não é qualquer criança. Vem com uma vocação específica de quem se deixa conduzir por Deus, nos confirma o salmo 25 (vv. 4-5.8-10.14): “Para podermos encontrar uma pessoa é preciso conhecer os itinerários que ela costuma percorrer. O salmo é uma invocação amargurada que dirigimos a Deus para que nos revele os Seus caminhos, nos ensine as Suas veredas, nos indique o caminho certo que nos permita encontra-l’O e acolhê-lO” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de dezembro de 2017

(1Sm 1,24-28; Sl 1Sm 2; Lc 1,46-56) 
3ª Semana do Avento.

A história do nascimento de Samuel é hoje recordada brevemente a partir do gesto de gratidão de Ana, sua mãe, que vai ao templo e o consagra ao Senhor. É a gratidão do coração de Maria que Lucas tenta expressar através desse canto que chamamos de ‘Magnificat’, que por sua vez é um claro eco do canto de Ana no Livro de Samuel e que nos vem como salmo nessa liturgia. “O cântico de Ana enumera os prodígios que Deus costuma realizar. Com o Seu poder ele muda as situações do mundo: os fortes tornam-se fracos e os fracos são revestidos de força; a estéril dá à luz e aquela que era fecunda fica sem filhos; o pobre e o miserável são levantados do chão e entronizados como príncipes. [...] Hoje Maria e Ana entregam-nos uma mensagem de alegria e de esperança. Seja qual for a condição em que nos encontremos, mesmo a mais desesperada, podemos experimentar a força do ‘braço do Todo-poderoso’; basta que nos abandonemos com confiança a Ele, reconhecendo a nossa pobreza, a nossa miséria, e o Seu amor” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de dezembro de 2017

 (Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 
3ª Semana do Advento.

É belo o jogo de imagens feito pela liturgia em sua comparação espiritual. O amado do Livro dos Cânticos, convida a amada que se encontra dentro de sua casa a sair. Há uma novidade primaveril brotando nos campos. É assim que Isabel, e João em seu seio, são convidados a participar dessa alegria que Maria leva consigo: o Amado das nações está em seu seio. O salmo 33 (vv. 2-3.11-12.20-21) se une à esse convite de preparação para o louvor do Senhor, pois encontrar-se com Ele produz felicidade e paz. “Deus eterno e onipotente, que inspirastes à bem-aventurada Virgem Maria o desejo de visitar Santa Isabel, concedei-nos que dóceis à inspiração do Espírito Santo, possamos com Maria cantar sempre as Vossas maravilhas” (Oração de coleta da Missa da Visitação da bem-aventurada Virgem Maria).


  Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de dezembro de 2017

(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38) 
3ª Semana do Advento.

Nesses dias que antecedem o Natal retorna o texto de Isaias sobre a promessa de Natã de um descendente de Davi que virá, o Emanuel, para nos remeter à casa de Nazaré, onde o anjo faz o anúncio à Maria. Sim, verdadeiramente Deus estará conosco, depois de séculos de espera. Mas é preciso da nossa parte uma atitude de acolhimento que vai na linha do que nos pede o Batista: “Preparai um caminho para o Senhor”. Para isso a liturgia nos propõe o Salmo 24,1-6: “... salmo cantado pelos peregrinos que se dirigiam ao Templo. Chegados às portas do santuário, recebiam as instruções do levita, que recordava as condições requeridas daqueles que queriam entrar no espaço sagrado: mãos inocentes, coração puro, língua que não diz mentiras. São as disposições para acolher o Senhor”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 19 de dezembro de 2017

(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25)
3ª Semana do Advento.

“Os textos que constituem a primeira leitura desta novena são dos mais belos e significativos do Antigo Testamento. Apresentam as promessas feitas por Deus pelo boca dos patriarcas e dos profetas: Jaco anuncia aos seus filhos que da tribo de Judá surgirá um grande rei; Jeremias vê surgir um rebento justo da família de Davi; Isaias declara que a Virgem dará à luz um filho; com a história de Sansão é introduzida a imagem do Messias libertador; no poema do Cântico dos Cânticos, a esposa exprime a sua alegria ao ver chegar o seu amado; o pequeno Samuel, filho de uma mulher estéril e sinal dos desvelos de Deus pelo seu povo, é imagem – pálida imagem – do grande dom que no Natal Deus faz ao mundo; Malaquias, o último dos profetas, não anuncia a vinda de um messias qualquer, mas sim do Senhor em pessoa que entra no Templo e dá início a um culto novo. Finalmente, no dia 24 de Dezembro, é proposta a mais importante das profecias, a de Natã, profecia na qual os israelitas depositaram as suas expectativas e, mesmo nos séculos sombrios, encontraram a razão da sua esperança” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Do anúncio de Sansão, cuja mãe era estéril, a liturgia nos leva ao anúncio do nascimento de João Batista, o precursor cuja mãe era estéril: “Eis o que o Senhor fez por mim, nos dias em que ele se dignou tirar-me da humilhação pública” (Lc 1,25). Duas mulheres que esperam e encontraram em Deus a rocha protetora e o amparo necessário, conforme nos indica o Salmo 71 (vv. 3-6.16-17), onde os filhos também encontrarão sua fortaleza: “Uma fortaleza pode ser bem construída e muito forte, mas é inútil se não estivermos dentro dela. Isso também se aplica à fortaleza espiritual, nosso lugar de refúgio, que está no amor e no cuidado de Deus. O salmista disse: ‘desde o ventre materno dependo de ti’ (v. 6). Uma coisa é dizer que Deus é nosso refúgio e até mesmo vê-lo como um forte protetor; outra coisa é de fato entrar na fortaleza de sua presença e confiar plenamente em seu cuidado” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite 

Segunda, 18 de dezembro de 2017

(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 
3ª Semana do Advento.

“Do dia 17 de dezembro até à vigília de Natal leem-se textos do primeiro capítulo dos evangelhos de São Mateus e de São Lucas, que narram os acontecimentos que precederam imediatamente o nascimento do Salvador, a genealogia, as anunciações a Zacarias, a José e a Maria, a visita a Isabel, o cântico do Magnificat, o nascimento de João Batista. Tratam-se de páginas de densas de teologia que têm a finalidade de nos introduzir na compreensão da identidade do Filho de Maria: Ele é o esperado das gentes, o Messias anunciado pelos profetas, o Salvador do mundo” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

A promessa feita através do profeta Jeremias na 1ª leitura alcança a plenitude no evangelho de Mateus, a jovem prometida a José, ficou grávida pela ação do Espírito Santo, para que a promessa se concretize é preciso convencer a José de que ele estará fazendo parte de lago muito maior do que possa compreender. É em sonho que o anjo lhe revela o sonho de Deus ganha carne entre nós. No meio da nossa oração se insere o salmo 72 (vv. 1-2.12-13.18-19): “O salmista invoca o Senhor para que envie o rei que há de introduzir no mundo relações diferentes entre os homens: não já abusos e domínio dos fortes sobre os fracos, mas a humilde disponibilidade de quem recebeu maiores dons do Céu para servir os pobres e fazer o bem a quem pede auxílio” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Advento – Ano B

(Is 61,1-2a.10-11; Sl [Lc 1]; 1Ts 5,16-24; Jo 1,6-8.19-28)

1. Ainda caminhando pelas páginas do Livro de Isaias, a liturgia nos oferece esse belo texto, recitado também por Jesus ao se apresentar na sinagoga de Nazaré e que encontra também resquícios no Magnificat. O texto quer inaugurar um novo tempo para aqueles que voltando do exílio babilônico vivem uma série de dificuldades para se reencontrarem com o país que deixaram.

2. O profeta entra nessa situação como um sinal de esperança, cuja realização, de fato, só se dará com a vinda de Jesus. Enquanto isso não acontece, ele entoa um cântico de louvor a Deus, um convite a alegria pela presença amorosa de Deus que no seu tempo realizará suas promessas.

3. De certo modo também transitamos entre este tempo de realização e de esperança contínua. As coisas não são exatamente como esperávamos. A existência humana ainda carece de formas mais concretas de libertação, de justiça e de paz. Eu mesmo ainda estou nesse processo de uma conversão já iniciada, mas nunca concluída. O profeta nos convida a levantar a cabeça e seguir adiante.

4. Assim podemos tomar como conselho e incentivo o que escreve Paulo na 2ª leitura com relação ao modo como devemos aguardar a vinda definitiva de Cristo. Também nos convida a uma atitude de gratidão, própria de quem, caminhando, conclui mais uma etapa de sua existência.

5. A alegria que emana dos textos anteriores parece se diluir no texto do evangelho ao trazer de volta figura do Batista pela ótica de João. Acostumemo-nos à presença desse evangelista nesse ano B. A alegria velada está em sua missão de testemunhar a luz que virá, Jesus, para iluminar verdadeiramente o sentido dos passos que estamos dando em todos os setores da vida, às vezes envoltos em trevas.

6. A alegria está na humilde atitude de João que não permite que o confundam com aquilo que ele não é. Em nossa sociedade de aparências no mundo real e virtual, ele é um farol. Como voz, é apenas um instrumento da mensagem, que permanece, enquanto ela desaparece. O importante é o que foi dito, isso permanece. Esse é grande drama e a dificuldade dos midiáticos que tentam anunciar Jesus e vendem mais a sua pessoa do que o ‘produto’ de fato. É notável a confusão.

7. À sua voz que anuncia se acrescenta um gesto: o batismo. A mensagem se faz acompanhar de um gesto que também fala por si só. Para se chegar ao novo ou permitir que Ele entre em nossa vida, é necessário um processo de passagem, de purificação que talvez leve toda uma vida. O importante é começar, deixar-se envolver por essa dinâmica que reclama constantemente a nossa conversão.

8. Aqueles que entraram nessa dinâmica são convidados a serem vozes capazes de reproduzir a mensagem em meio a tantas vozes que embaraçam o meio campo da existência, mas sempre na dinâmica do Batista: indicando o caminho onde cada um fará a sua própria experiência d’Aquele que disse ‘Vinde e Vede’.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de dezembro de 2017

(Eclo 48,1-4.9-11; Sl 79[80]; Mt 17,10-13) 
2ª Semana do Advento.

A figura do Batista ganha novos matizes com o elogio que o livro do Eclesiástico faz de Elias e que o próprio Jesus aplica a João em sua missão. Tanto João como Elias são figuras que buscam trazer de volta o coração do ser humano para Deus, por isso o apelo do salmo 80 (vv. 2-3.15-16.18-19) desperta esse desejo de que Deus venha nos ajudar nesse processo e ver a situação em que se encontram por afastarem-se Dele. Trata-se de uma oração pessoal que se transformou numa espécie de oração nacional para que Deus restaurasse o seu povo. O poeta percebe o quanto o povo se afastou de Deus e o desastre consequente a que isso levou: “Como você ora pelas pessoas que estão sentindo a mão purificadora e disciplinadora de Deus? Normalmente pedimos a Deus para socorrê-las. Talvez devêssemos orar para que Deus faça uma obra completa a fim de que elas saiam da experiência mais frutíferas do que nunca” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos- Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de dezembro de 2017

(Is 48,17-19; Sl 01; Mt 11,16-19) 
2ª Semana do Advento.

A liturgia da Palavra desse dia traz consigo o lamento e ao mesmo tempo uma chamada de atenção por não nos deixarmos conduzir, no ontem e no hoje da história humana pela sabedoria divina. Assim, o salmo 01 (vv. 1.4-6) mostra como seria esse outro caminho, como um portal onde um guia nos indica de modo preciso o caminho da vida. O organizador do saltério o colocou aqui de propósito. “O salmo 1 é o portão de entrada para a coleção inteira dos salmos e, como tal, dá-nos alguns princípios que nos ajudarão a incorporar os salmos em nossa vida. Somos encorajados a pensar nos salmos como provisão da direção e da sabedoria de Deus. Esses escritos estão em pé de igualdade com a lei de Deus (ou Torá) em termos de autoridade e de percepção (v. 2). Somos desafiados a pensar cuidadosamente, meditar no que aprendemos com esses cânticos. Uma olhada rápida não nos dará tempo suficiente para extrair todas as riquezas que Deus tem para nós ali. O modo como respondemos à mensagem liberada nos salmos determinará nosso destino final. Nossa obediência, ou a falta dela, demonstrará se estamos no caminho certo ou no errado. Somos confrontados com a realidade do que o propósito final de Deus para nós, como seus filhos, é que sejamos felizes – não apenas no céu, algum dia, mas todos os dias, aqui e agora” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 14 de dezembro de 2017

(Is 41,13-20; Sl 144[145]; Mt 11,11-15) 
2ª Semana do Advento.

“Na quinta-feira da segunda semana temos, ao invés, o texto evangélico que dita o tema do dia: aparece a figura de João Batista, o homem enviado por Deus a preparar Israel para vinda do Messias. A sua mensagem é de novo proposta em nossos dias porque a conversão das mentes e dos corações que ele pediu ao seu povo continua válida ainda hoje. A primeira leitura desta segunda parte do tempo de Advento continua a propor passos do livro de Isaias, mas também de outros textos do Antigo Testamento, escolhidos em função do Evangelho” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

O texto do profeta Isaias canta a ação de Deus em favor do seu povo e o salmo 145 (vv. 1.9-13) serve de espelho para dizer o mesmo em outras palavras. “Quem confia no Senhor nada teme, sabe que comunica a sua força a quem é fraco, a quem se sente espiritualmente um ‘pobre verme’. O salmo é o hino de louvor cantado por Israel, que amiúde na sua história experimentou essa salvação. Hoje é posto nos nossos lábios para que bendigamos a Deus pela Sua bondade que não é invalidada pela nossa infidelidade” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de dezembro de 2017

(Is 40,25-31; Sl 102[103]; Mt 11,28-30) 
2ª Semana do Advento.

“As leituras bíblicas deste tempo litúrgico foram escolhidas para despertar em nós disposições interiores que permitem ao Senhor entrar na nossa vida, na vida das nossas famílias, da nossa sociedade e do mundo inteiro. A primeira leitura dos dias feriais é tomada do livro de Isaias e os textos do Evangelho foram escolhidos em sintonia com o tema introduzido pelos oráculos do profeta” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

O salmo 103 (vv. 1-4.8.10) que complementa nossa meditação a partir da 1ª leitura. Atribuído a Davi, esse canto de ação de graças que fala da bondade e da compaixão de Deus. “Às vezes, preciso de uma boa chamada. Relaxo em meu compromisso com o Senhor. Começo a lamentar, a me queixar ou ficar com peninha de mim. Então, um bom amigo ou minha corajosa esposa vem em meu socorro para me lembrar, de maneira muito clara, tudo o que Deus tem feito por mim. Como seria melhor, no entanto, se eu aprendesse a enfrentar minha própria tendência a me desviar! E se cada dia pregássemos um salmo 103 para nós mesmos, apenas lembrando-nos como Deus é grande, bom e gracioso e como ele tem trabalhado de maneira poderosa em nossa vida para nos curar, nos ajudar e purificar? E se eu olhasse no espelho e dissesse: ‘Tudo bem alma; agora bendiga o Senhor. Vamos lá’? É maravilhoso que os anjos bendigam a Deus (v.20) e que as obras de Deus o bendigam (v. 22), mas é hora de eu bendizer a Deus também. ‘Bendiga o Senhor a minha alma’” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de dezembro de 2017

(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) 
N. Sra. De Guadalupe.

Mais uma pausa em nossa caminhada para o Natal. A Virgem nos vem nesse tempo de preparação sob a veste indígena de sua identificação com os ‘deserdados’ desse mundo. Não é atoa que sua presença e sua mensagem ressoa sobre os povos latino-americanos. A primeira leitura entra em nosso contexto natalino, pelo tempo que se completou nos chega um Menino, nascido da Virgem e que nos integra na família de Deus. O Espírito Santo que passa a habitar em Maria é o mesmo que pelo batismo nos faz reconhecer a Deus como nosso Pai, pois renascemos dessas águas benditas. Por isso ao entoarmos um cântico novo (Sl 96), entendemos a alegria de Isabel, que vislumbra em Maria o novo tempo e as novidades de Deus a partir daqueles que acreditam na Palavra de Deus. Então dos lábios de Maria ressoa um cântico novo a partir de tudo aquilo que Deus fez em seu favor para o bem da humanidade.  “Há quanto tempo você não canta um novo cântico para o Senhor? Talvez você pudesse começar com um antigo, como o salmo 96, mas cantá-lo com uma nova visão e um novo entusiasmo. Fale a Deus da glória que é devida ao nome dele. Você perceberá seu coração animado e seu espírito renovado. É possível que você até veja seus pés se mexendo em adoração ao Senhor” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de dezembro de 2017

(Is 35,1-10; Sl 84[85]; Lc 5,17-26) 
2ª Semana do Advento.

“Com o termo adventus – Advento – indicava-se, na antiguidade, a visita de um soberano ou de um alto funcionário, visita julgada importante para a vida de um povo que, nalgumas cidades, inclusive se determinava que se começasse a contar uma nova era. Neste contexto cultural não causa maravilha que, nos livros do Novo Testamento, a vinda do Senhor Jesus seja apresentada como um ‘advento’. No entanto, este termo não se entendia como – como poderíamos esperar – a chegada do Filho de Deus ao mundo, o dia do seu nascimento, mas sim o Seu aparecimento na glória. Hoje nós não esperamos a vinda do Messias – que já apareceu em Belém há mais de dois mil anos – mas a Sua manifestação ao mundo. É nesta perspectiva que adquire sentido o tempo que dedicamos à preparação do Natal, tempo que mais do que ‘Advento’, deveria ser chamado ‘preparação para o Advento’” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Às promessas do Senhor transmitida pelo profeta e ao convite à alegria, mesmo em meio a desolação em que se encontrava o povo, ele anuncia um tempo novo com a vinda do Messias, a liturgia responde ao nosso profeta com o salmo 85,9-14: “O salmo é um hino de glória que aflora aos lábios de quem, acolhendo o Senhor na sua vida, pode testemunhar os efeitos benéficos da Sua vinda: a paz, a salvação, a justiça” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Advento – Ano B

(Is 40,1-5.9-11; Sl 84[85]; 2Pd 3,8-14; Mc 1,1-8).

1. Isaias é um dos profetas do Advento, juntamente com João Batista, que aparece no cenário do nosso evangelho. Coube a esse profeta anunciar ao povo no exílio da Babilônia que a hora do retorno se aproximava.
Atento às mudanças políticas ao seu redor e usando uma linguagem que só seu povo podia entender, falando de uma saída ainda mais gloriosa do que aquela que aconteceu no Egito.

2. É claro que a vida no exílio acomodou a muitos e é preciso despertar esse desejo de liberdade. Na espiritualidade desse tempo somos convidados também a perceber os apelos que o próprio Deus nos faz. Desinstalar e avançar no caminho da fé e do mundo que nos é proposto. São muitas as situações e paixões que nos escravizam e nos acomodam. Nesse trânsito que fazemos entre o velho e novo ano, o advento nos faz pensar.

3. A segunda leitura, na voz de Pedro, retoma o assunto da vinda de Cristo, que se pensava ser imediata. Pedro faz ver que tal demora se dá pelo fato de que o tempo de Deus é outro, e se tarda, dá-nos mais tempo de revermos nossa resposta, já que seu desejo é salvar a todos. Não perder a perspectiva de Sua vinda, mantendo a esperança e uma vida sempre mais condizente com Sua proposta.  

4. Estamos no início do evangelho Marcos. A boa nova por ele proclamada inicia com a presença de João Batista ligando-o à promessa de Isaias. A Boa notícia trazida por ele dista daquelas promessas proclamadas por reis e imperadores, pois é o Filho de Deus que nos vai falar.

5. Mas era preciso preparar o terreno: eis a missão de João que através de um batismo de conversão introduzia seu povo numa nova dinâmica. A disposição do coração apressa a vinda da salvação. Se as pessoas estão insatisfeitas com a situação, como nós em nosso tempo, que temos feito para modificar a situação ao nosso redor? E o que de fato muda, se eu não mudo?

6. A discrição desse novo profeta tem a intenção de situá-lo no campo das grandes vozes anteriores, particularmente de Elias, com quem intencionalmente ele o compara. Seu estilo vai na contramão do seu tempo para retomar o caminho do deserto, onde Deus forjou o seu povo. Um convite de ontem e de sempre, para sermos críticos do estilo de vida que adotamos.

7. A promessa do Espírito salienta um tempo novo, que vem da ação de Deus em nós, capaz de renovar todas as coisas. Assim, Marcos inicia o seu evangelho pensando num recomeço, do ‘início’, como no Gênesis, onde o Espírito pairava sobre as águas.

8. Tudo inicia com a pregação do Batista, sua apresentação de Jesus, seu Batismo. Sob o olhar de Marcos vamos redescobrir como responder ao convite que ele nos faz. Hoje, prestemos atenção ao caminho que estamos fazendo.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 9 de dezembro de 2017

(Is 30,19-21.23-26; Sl 146[147A]; Mt 9,35—10,1.6-8) 
1ª Semana do Advento.

Retomando o nosso pensamento da quinta-feira, dessa resposta em oração do ser humano ‘visitado’ pela Palavra, podemos tomar como exemplo os salmos que estamos meditando, palavra humana, que se eleva a Deus às vezes num grito existencial ou num simples louvor. Inseridos na Bíblia, expressam a resposta humana à Palavra revelada e passam a fazer parte dessa mesma Palavra. Cristo também orou com os salmos, por isso, por Ele, n’Ele e com Ele elevamos nossa oração na liturgia, emprestando nossa voz para proclamar Sua Palavra que é também nossa.

Na abundância das promessa divinas que brotam da boca do profeta, a liturgia eleva um salmo de louvor, 147A (vv. 1-6)  reconhecendo as ações de Deus em favor do seu povo e de cada um pessoalmente: “fixa o número de todas as estrelas e chama a cada uma por seu nome” (v. 4). “Um Deus que é tão grande também conhece a cada um de nós. Ele conhece nossas feridas e nossas dores; ele se importa o suficiente para curar aqueles que estão com o coração partido e para juntar aqueles que se sentem excluídos. Ele cuida de seu mundo e alimenta os animais selvagens. Ele cuida de seu povo e restaura os que foram enviados ao exílio. Tudo a respeito de Deus é digno de nosso louvor e adoração” (Douglas Connelly - Guia Fácil para entender Salmos - Thomas Nelson Brasil). 


Pe. João Bosco Vieira Leite 

Imaculada Conceição de Maria

(Gn 3,9-15.20; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38) – 2017.

1. A Igreja faz uma pausa na preparação para o Natal para contemplar o “faça-se” de Maria como eco de um outro “faça-se” dito por Deus na inteira obra da Criação. É por isso que o autor da Carta aos Hebreus lembra que Aquele que se encarnou na nossa história, ao entrar nesse mundo diz: Eis que venho para fazer a Vossa vontade.

2. Há uma delicada harmonia que atravessa a nossa liturgia de hoje e nos convida a contemplar esse mistério daquela que recebe de Deus o singular privilégio da Conceição Imaculada da sua humanidade. Se grande é a nossa alegria em saber que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, não é menos exultante ver na humanidade de Maria o que poderia ser e será a nossa.

3. Mas é preciso reconhecer a delicada situação em que nos metemos. Deus está sempre a nossa procura, Sua santidade nos assusta e nos escondemos, amedrontados. Nada pior do que esconder-se de si mesmo. O que nos liberta é reconhecermos e confessarmos humildemente as nossas culpas sem lançar sobre os outros nossos limites. E quando podemos, culpamos até a Deus.

4. Sem assumirmos as nossas culpas, não podemos corrigir os nossos erros e nem descobrir a realidade divina do perdão.  É como se negássemos os seus dons, a alegria, o amor e o perdão.

5. O autor do Gn ao falar da quebra dessa harmonia primeira quer nos lembra que em todo o tempo, o mal vence quando o homem se afasta de Deus. A resposta que damos ao mal não é apenas o bem, mas uma abertura aos outros, ao Santo, como fizeram Jesus e Maria. Fechar-se sobre si, na autossuficiência, na auto referência, abre espaço a desarmonia.

6. Assim Paulo nos lembra que em Jesus somos chamados a ser santos e irrepreensíveis aos olhos de Deus, em outras palavras, a nossa identidade de filhos, buscando caminhar em sua presença. Daqui brota também a consciência da fraternidade humana que rompe a crosta do egoísmo e da dureza de coração que criou a harmonia nas comunidades primitivas embaladas pela Palavra do Verbo.

7. Assim somos convidados a contemplar a Maria, que visitada por Deus, não foge, não se esconde, não O esconde de sua vida. Sabemos de sua consagração desde sempre e assim compreendemos que quem se expõe a Deus, expõe o próprio Deus.

8. Ela vai ser Mãe, não de um filho, mas d’Aquele Filho desejado e esperado desde sempre. Totalmente de Deus em sua divindade, totalmente de Maria em Sua humanidade. Ela se alegra e com ela toda a humanidade, pois apesar de tudo, o Senhor está no meio de nós.

9. Assim, nesse quadro do nosso evangelho, talvez por isso atribuam a Lc a arte da pintura, percebemos como Deus se propõe, ele chama, mas não impõe. Assim como chamou Maria, chama também a cada um de nós. Podemos aceitar ou esconder-nos de Deus. “Deixar Deus entrar, ou fechar-lhe a porta. Maria aceitou, e, por isso, todas as gerações a proclamarão bem-aventurada (Lc 1,48). É o que estamos hoje e aqui a fazer: Feliz és tu, Maria, pioneira de um mundo novo, porque acreditaste em tudo quanto te foi dito da parte do Senhor (Lc 1,45)! Feliz também aquele que ouve a Palavra de Deus e a põe em prática (Lc 11,28)!” (D. António Couto – Quando Ele nos abre as Escrituras – Paulus). 

10. Vivemos esse tempo caracterizado pela fuga acentuada não só do ser humano de si mesmo e de Deus, também da nossa sociedade que O retira de sua vida pública. Faz-se escuro. “Homem desse tempo às escuras, engessado, triste, exilado, escondido, anestesiado, volta para a Luz, reentra em tua casa, no teu coração despedaçado. Há de seguramente por lá haver ainda, caída no fundo da alma, uma lágrima dorida e uma mão de Mãe à tua espera!” (D. António Couto – Quando Ele nos abre as Escrituras – Paulus). 


Pe. João Bosco Vieira Leite