Sábado, 31 de dezembro de 2016

 (1Jo 2,18-21; Sl 95[96]; Jo 1,1-18) 
Oitava de Natal.

João interrompe o seu discurso numa linha mais do mistério da revelação de Deus em Jesus e fala sobre um dos problemas enfrentados pela comunidade. Alguns deixaram de caminhar segundo a fé cristã e se tornaram seus opositores.  Os que permanecem receberam uma clara iluminação do Espírito sobre a verdade que abraçaram, independente dos elementos humanos que podem tornar opaca a visão da presença divina em nossas comunidades de fé. Não nos assustemos facilmente com alguns que deixam a comunidade e abraçam outro credo. A maioria, no fundo, nunca conheceu de fato a fé que professa. Não vamos aqui caçar culpados ou demonizar os outros. São coisas que fazem parte do caminho e que podem ser experiências purificadoras.

Voltamos ao evangelho do dia de Natal. O evangelista João se acerca do mistério divino para nos trazer novas luzes a respeito de Jesus. Ele se apropria de um estilo poético litúrgico para entoar um hino ao Verbo divino, para traçar todo esse movimento que antecede à Sua vinda, vida escondida e anunciada pelo Batista, até culminar em Sua chegada e consequências.  É claro que ao estilo do nosso autor, fica claro o posicionamento que tomamos diante da revelação divina, pois nesse jogo de luz e treva, há o caminho e o não caminho.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 30 de dezembro de 2016

(Eclo 3,3-7.14-17; Sl 127[128]; Mt 2,13-15.19-23) 
Festa da Sagrada Família.

No calendário litúrgico desse ano não há nenhum domingo dentro da oitava de Natal antes do dia primeiro de janeiro, assim a festa da Sagrada Família cai na semana e na contabilização das semanas do Tempo de Natal verificaremos que há uma a menos, pois o batismo de Jesus, que encerra esse período será numa segunda-feira.

Na primeira leitura contemplamos o ser família a partir da visão do Antigo Testamento que lembra a autoridade dos pais sobre os filhos e o respeito que esse lhes deve, como parte do mandamento divino. O texto toca o aspecto humano do amparo na velhice, na paciência praticada, pois ‘a caridade cobre uma multidão de pecados’, nos diz Tiago. O salmo complementa o sentido desse mandamento que traz consigo as bênçãos de Deus para quem o vive.

O medo de Herodes do desconhecido rei que havia nascido, conforme Mateus, teve como consequência a fuga para o Egito, para cumprir a profecia e levar a Sagrada Família, tempos depois, de volta para a Galileia.  Tudo se realiza dentro da tradição profética do povo judeu e da vontade divina. A narrativa pode até ser simbólica, mas traduz o modo como Jesus ‘mergulha’ nas tragédias humanas que nos tocam de alguma forma, direta ou indiretamente.

Vivemos uma crise do significado na ‘honra’ devida aos pais por parte dos filhos. Uma nova mentalidade que equipara as relações humanas nos impõe o desafio das mudanças e também prepara uma armadilha para o futuro. Temos colhidos frutos amargos em meio às novas formas de relacionamentos familiares. Não que tudo seja ruim, apenas não encontramos o equilíbrio. Nossas mudanças radicais têm nos custado muito. Aceleramos os passos, mas não preparamos o coração para essas batidas mais rápidas. Perdemos o compasso, às vezes. Jesus experimentou junto a José e Maria essa instabilidade humana que deve se adaptar as mudanças, mas sem perder o essencial. Mesmo sendo quem era, ‘era-lhes submisso’; não no sentido negativo da palavra, mas de quem respeita o ritmo da história, para lentamente trazer novas luzes ao caminhar humano.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de dezembro de 2016

(1Jo 2,3-11; Sl [96]; Lc 2,22-35) 
Oitava de Natal.

A verdade do amor está naquilo que ele gera ou faz, disse alguém. Assim João tenta iluminar a vida prática cristã recordando o mandamento de Jesus: amar o outro como Deus nos ama. Quase impossível, se não fosse a sua graça, pois o amor de Deus transcende qualquer amor humano. O ódio pode nos cegar e sem a Luz divina os tropeços podem ser fatais. O canto novo que podemos entoar a Deus (salmo) é uma vida transformada a partir da luz de Sua Palavra.

Acompanhamos hoje Maria e José que sobem ao Templo para apresentar o Menino, conforme determinava a Lei. Misteriosamente a narrativa de Lucas se inunda de um significado maior do que o simples cumprimento de um rito preestabelecido. A esperança do Antigo Testamento vem ao encontro do Menino, pois reconhece nele a realização das promessas: a luz das nações se esconde naquele pequeno ser. O mistério de sua paixão também se manifesta e toca o coração materno, para realizar a passagem para a sua verdadeira maternidade: ‘quem ouve as minhas palavras e as põe em prática é meu pai, minha mãe e meus irmãos’.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de dezembro de 2016

 (1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124]; Mt 2,13-18) 
Oitava de Natal. 
Santos Inocentes.

Jesus é luz, caminhar sob a Sua luz e deixar iluminar a existência na consciência das próprias falhas e pecados, pois foi por causa de nossos pecados que Ele entregou a Sua vida. Assim a nossa vida pode ser lida sob a ótica da luta entre a Luz e as trevas que se acercam de nossa existência cada vez que tentamos ‘escapar’ dessa presença de Deus. Viver na verdade de nossa condição humana e filial nos ajuda a escapar do ‘laço que lhe armara o caçador’, reza o nosso salmo. Pesa uma grande dúvida sobre a historicidade desse fato da matança dos inocentes, mas não há nenhuma dúvida da catequese a respeito de Jesus que Mateus faz a partir dessa narrativa, que nos recorda a ida de José para o Egito e a ação posterior de Moisés, o grande líder da libertação do povo de Deus, salvo da morte decretada aos meninos hebreus. A comparação não poderia ser mais evidente, já que nosso autor escreve para uma comunidade cristã de origem judaica. À luz do passado se interpreta o fato novo. Aqui também teríamos que transcender a mera narrativa em nossa oração para recordar as milhares de crianças em fuga ou massacradas pelas guerras, ou mesmo condenadas à morte pelo contexto em que vive, pelo abandono, pela falta de assistência. Nosso futuro continua ameaçado. Qualquer ação que amenize esse impacto tem seu eco no amanhã de nossa sociedade.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de dezembro de 2016

(1Jo 1,1-4; Sl 96[97]; Jo 20,2-8) 
Oitava de Natal.

Com a festa de João, o Evangelista, iniciamos a leitura contínua da 1ª carta de São João que nos ajuda a penetrar na espiritualidade da Encarnação. Ele inicia afirmando esse mistério e da sua pertença ao grupo de testemunhas desse fato. É nessa fé em Jesus que se mantem a comunhão entre o autor e seus leitores; essa só é possível por causa do próprio Jesus. O evangelho quer testemunhar essa comunhão de João com Jesus e com Pedro pela dinâmica da narrativa: ele se move pelo desejo de ver e é o primeiro a acreditar, mas respeita a primazia de Pedro. Assim, sob a luz da experiência de fé desse apóstolo, permitamos conduzir nosso olhar de modo mais profundo no conhecimento de Jesus, que é apenas um menino, mas traz consigo a grandeza de um Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de dezembro de 2016

(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) 
Oitava de Natal.

O branco da alegria natalina se tinge de vermelho nesse dia para recordar o martírio de Estevão, o primeiro mártir cristão. No texto dos atos percebemos muitas nuances da Paixão de Jesus que se refletiu de um modo particular na vida dos mártires dos primeiros anos da Igreja. Eles vêm Aquele que seguem na entrega da própria vida e ao mesmo tempo são testemunhas dessa vida nova inaugurada pela entrada do Verbo em nossa história.
O evangelho faz parte do discurso missionário de Jesus, carregado de advertência sobre o caminho a ser traçado. O que aqui se advertia se torna concreto na 1ª leitura, assim a liturgia nos permite fazer uma clara comparação entre os dois textos. Dentre os vários elementos que nos dois textos se encontram, a presença do Espírito Santo é fundamental para entendermos o modo como Deus vai conduzindo e inspirando àqueles que a Ele se entregam de corpo e alma. Que a cada dia, essa mesma força do Espírito nos conduza e renove a nossa existência nos caminhos que Deus mesmo vai traçando.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

25 de dezembro 2016 - Natal – Missa do dia

(Is 52,7-10; Sl 97[96]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-5.9-14).*

1. O profeta desconhecido que se deixa chamar de Isaias, grita a alegria do Senhor que vem ao seu povo para concluir o tempo do exílio babilônico. Depois de um longo silêncio, Deus faz ouvir de novo a Sua voz. Seu povo pode ter sido castigado, mas não rejeitado.

2. A alegria aqui proclamada é um convite a nós, que celebramos a certeza de que Ele caminha conosco, veio para o nosso meio, antecipando-nos o evangelho. Ao mesmo tempo levanta uma pergunta: porque nossas comunidades cristãs parecem ter perdido essa alegria, a ponto de não mais saber leva-la aos outros? 

3. O modo como Deus vem se manifestando e falando ao longo da história tem seu cume em Cristo Jesus, diz o autor da carta aos hebreus. Puro dom de sua benevolência em vir ao nosso encontro. Não se trata tanto do nosso esforço de elevar-nos, mas do acolhimento a esse Deus que se revela.

4. A Palavra do Filho é para nós definitiva, a dos últimos tempos, pois não vem por mediação, mas do Verbo que se encarnou no meio de nós.

5. Desse mistério se acercou João, o evangelista. Ele remonta ao mistério Trinitário, presente desde a criação do mundo, até vir ao nosso encontro. Jesus é a Palavra reveladora, que nos permite conhecer a Deus, que nos fala de Deus e fala a Deus sobre nós.

6. Jesus não é uma palavra que somente se ouve, mas que também se vê. Para isso assume a fragilidade humana e a ambiguidade da história. Ele partilha nossas experiências e se insere nas contradições humanas. Se insere na sua morte, nas suas perguntas, nos seus insucessos, para ser companheiro em nossa jornada.

7. Natal é a celebração dessa visibilidade do Deus escondido. Seu rosto se revela no amor, na misericórdia e no perdão, para com todos e particularmente os mais pobres.

8. João quer nos levar a contemplação do que Deus é capaz de fazer por nós, não tanto do que podemos fazer por Ele. A cruz será a última imagem manifestada do Seu amor que não conhece limites.

9. A partir dessa realidade, quando quisermos saber quem é Deus, devemos colocar nosso olhar em Jesus, na sua vida, nas suas palavras, nas suas opções. E quando nos propusermos a caminhar ao seu encontro, nesse mesmo Jesus descobriremos o “caminho, a verdade e a vida”.

10. Sua confiança no Pai, sua vida doada, seu movimento de vir a nós nos tira a ilusão de que salvamo-nos conservando-nos, isolando-nos. Deus é amor, o projeto do homem é amar. Este só se realiza com a saída de si. O Amor se fez carne e habitou entre nós.

* Reflexão a partir do texto de Bruno Maggioni, in Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado (Advento - Natal) – Paulus.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Mensagem de Natal:



É de novo Natal! Na repetição do tempo e das festas, a Igreja nos convida a interiorizar essa renovada certeza de que Deus caminha conosco desde sempre, mas nesses últimos tempos se fez mais próximo que o esperado. Tomou nossa existência em Suas mãos e fez dela uma experiência de vida. Tão encantado ficou o nosso Deus que resolveu permanecer conosco no mistério da Sua Igreja, dos sacramentos e de cada homem e mulher de boa vontade. Por isso, a você que celebra o Natal do Senhor, nosso desejo que a Luz de Jesus, nos apresentado pelas mãos de Maria, continue a iluminar os seus passos pelos caminhos do novo ano que se aproxima. Você também é uma presença do sagrado que caminha conosco. Permita que Sua luz se reflita! Boas Festas!   


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de dezembro de 2016

(2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88[89]; Lc 1,67-79) 
4ª Semana do Advento.

A liturgia dessa manhã da véspera do Natal nos traz esse texto do diálogo entre Deus e Davi através do profeta Natã sobre a casa que Davi pensa construir e a casa que Deus mesmo já está construindo com a sua descendência.  Aqui percebemos o jogo de palavras sobre o termo ‘casa’ como construção, aqui no caso o templo, e ‘casa’ como família, descendência. Nem Natã nem Davi podiam ter a perspectiva do que Deus preparava para o futuro. O canto entoado por Zacarias é uma leitura desse fato novo que Deus estava realizando. A fidelidade de Deus se manifesta nos fatos da história, ainda que a distância do tempo nos impeça de perceber em meio ao cansaço e desesperança que vez ou outra nos atinge. “A história de Israel é a prova da fidelidade de Deus. Mas o Senhor nunca realiza as Suas promessas conforme as expectativas humanas, porque os Seus caminhos não são os nossos (Is 55,8-9). Por isso só os homens piedosos como Zacarias sabem manter firme a fé no Senhor e podem ver realizados os seus juramentos imensamente além dos míopes horizontes humanos. Só mulheres santas como Maria podem descobrir, com olhos da fé, o mundo novo que surge imparável, pela força do Espírito, e a luz da vida que brilha para além da sombra da morte” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado (Advento - Natal) – Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 23 de dezembro de 2016

(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25]; Lc 1,57-66) 
4ª Semana do Advento.

A revelação do anjo Gabriel a Zacarias sobre o destino do filho que Deus lhe concederia tem sua origem na profecia de Malaquias, aqui oferecida como primeira leitura para iluminar nossa leitura do evangelho. Malaquias é um profeta do pós-exílio. Tudo aquilo que Isaias havia anunciado e prometido não se cumpriu. Cabe a ele recuperar a confiança e reacender a esperança, pois Deus não enviará nenhum salvador da pátria, virá Ele mesmo para purificar o seu povo com o fogo do Espírito que não elimina, consome, mas purifica e restaura. Tudo indica que esse anjo enviado à frente do Senhor para preparar-lhe um caminho é o próprio João Batista, com seu batismo de penitência, pela leitura que fazemos a partir do evangelho. Assim, conforme a promessa antiga, ele é confundido com o profeta Elias que havia retornado, uma vez que ninguém tinha presenciado sua morte. Entre os vários detalhes da narrativa prestemos atenção que o garoto que nasce não vai herdar o nome do pai, mas terá um nome novo, símbolo de um tempo novo que está acontecendo: João, será o seu nome, cujo significado é o Senhor tem piedade, é benevolente, é ternura. Amém.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de dezembro de 2016

(1Sm 1,24-28; Sl 1Sm 2; Lc 1,46-56) 
4ª Semana do Advento.

Hoje, desse clima da realização do mistério da encarnação do Verbo, o cântico de Maria faz eco ao canto/oração de Ana, no Antigo Testamento. Elas sabem que o filho que delas nasceu não lhe pertence, um é dom e o outro é o próprio Deus. Uma experiência materna marcada pelo desapego e pela consciência de serem humildes instrumentos do Senhor, apenas servas. Muitos pais só aprendem à duras penas que Deus tem o direito de reservar para si alguns homens e mulheres para a seu serviço, para perceberem que também a paternidade e maternidade é uma participação nos planos divinos para manifestar os seus favores não a uns poucos, mas a muitos que Deus deseja salvar. Essas mulheres da liturgia de hoje podem nos deixar desconcertados em nossa visão limitada das coisas. Todo apego traz consigo muitos sofrimentos. A joia de nossa liturgia de hoje é o canto de Maria, uma expressão sintética de toda esperança do povo de Deus, onde Ele revela os verdadeiros valores que devem reger esse mundo, e que quando tudo parece ser estranhamente impossível, fatos vão mudando nossa perspectiva da percepção silenciosa da ação de Deus em nossa história. “Canta, canta, povo de Deus”. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de dezembro de 2016

 (Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 
4ª Semana do Advento.

A liturgia da palavra desse dia faz uma incursão poética entre o livro dos Cânticos e a visita de Maria a Isabel no evangelho de Lucas. O tema do encontro amoroso entre os dois noivos faz uma leitura comparativa entre a relação de Deus com a Igreja, do próprio ser humano com Deus calcada no desejo que está na base do amor humano, para nos dizer que esse encontro espiritual deve ser alimentado pelo desejo de bem celebrar essa realidade numa comunhão íntima de amor. Por isso o encontro de Maria com Isabel é uma representação dessa realidade, tanto quanto o amigo do noivo (João Batista) exulta por esse encontro com Jesus ainda no seio de Maria; o que aparece no plano humano é lido a partir da dimensão espiritual e da alegria cristã.  A humanidade aqui acolhe Aquele que desde sempre foi esperado e assim pode celebrar as núpcias dessa relação que nunca terminará por causa da fidelidade divina. Entremos nesse clima de amorosa contemplação do mistério.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de dezembro de 2016

(Is 7,10-14; Sl 23[24]; Lc 1,26-38). 
4ª Semana do Advento.

O texto da primeira leitura desse domingo retorna para nos dizer que o sinal extraordinário que Deus queria conceder pelo nascimento virginal do filho da promessa não se realizou no tempo do profeta, mas na plenitude dos tempos. É claro que lido dessa forma até parece que o profeta estava predizendo o nascimento de Jesus, mas não. Tratava-se de Ezequias, o sinal que Acaz resistia em acolher como sinal de que Deus continuaria ao lado do seu povo e que alianças com outros povos eram sempre arriscadas. Mas a liturgia quer nos situar no anúncio do nascimento de Jesus feito pelo anjo à Virgem Maria. Ela passa a chamar-se a ‘cheia de graça’, no particular testemunho da sua confiança e entrega nas mãos de Deus. Que as últimas palavras do anjo também possam ressoar em nossos ouvidos e encontrar acolhida no coração: ‘para Deus nada é impossível’. Que em meio ao nosso cansaço e desesperança façamos dessa certeza um ‘mantra’ de confiança, de respiro e elevação da alma acima de tudo aquilo que nos rouba a paz e a vida em plenitude. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de dezembro de 2016

(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25). 
4ª Semana do Advento.

A Bíblia está cheia de nascimentos extraordinários e com missão específica. Na liturgia de hoje nos encontramos primeiramente com o anúncio do nascimento de Sansão. A primeira mensagem que trazem consigo é a de que Deus não esqueceu o seu povo e quando vê a necessidade de uma intervenção específica, envia alguém para fazer as vezes. O instrumento humano deve manter-se aberto a ação da graça divina. O enviado deve viver na consciência de sua consagração. Nesses traços específicos se anuncia o nascimento do Batista no evangelho. Há um jogo de palavras que se entrelaçam a partir da origem dos nomes dos personagens para confirmar a ação de Deus: Zacarias (o Senhor recordou-se), Isabel (o meu Deus jurou) e João (Deus é doador da graça) e confirmar toda a tradição do Antigo Testamento no limiar desse novo tempo, onde sim, a Virgem conceberá, sem qualquer intervenção humana: Deus faz o novo, de novo. Tudo isso para nos dizer que não há condições de esterilidade na qual Deus não possa inserir seu germe de vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Advento – Ano A

(Is 7, 10-14; Sl 23[24]; Rm 1,1-17; Mt 1,18-24)

1. A liturgia desse domingo se serve do texto do profeta Isaias em sua contenda com o rei Acaz, para trazer à tona promessa da fidelidade divina para com seu povo. O filho da virgem aqui mencionado é o Ezequias, filho de Acaz que teve um reinado melhor que o do pai e assim pôde recuperar a certeza de que Deus caminhava com seu povo (Emanuel).

2. Mesmo assim, o povo continuava a esperar alguém que recuperasse a realeza davídica naquilo que ela tinha de mais característico: o zelo do pastor. Por isso Mateus retoma, na introdução do seu evangelho, a promessa do Emanuel, dando o seu significado: “Deus está conosco”.

3. Se João Batista foi reconhecido por Jesus no domingo anterior a partir do seu testemunho e missão, Paulo, na ausência de quem o faça, se apresenta na sua carta aos Romanos. Ele expressa a sua alegria de poder testemunhar a Cristo e sua vocação. É um convite a alegrar-nos pela nossa vocação cristã e um lembrete do nosso testemunho pessoal.

4. A concepção de Jesus, no evangelho de Mateus se apresenta num quadro um pouco dramático, pois Maria se encontra grávida, antes de habitar com José. Mateus não nos traz detalhes, apenas se concentra na figura de José e do modo como o ser ‘justo’ ganha um novo sentido a partir do seu chamado.

5. Mateus tenta nos informar e confirmar que Jesus era legítimo herdeiro do trono de Davi, conforme a promessa do profeta Isaias que escutamos na 1ª leitura. É bom estarmos atentos, pois essa presença de Jesus, como Deus conosco é quase um refrão no evangelho de Mateus, pois ao final de sua narrativa, lembra que Jesus estará conosco até o fim dos tempos.

6. Assim, na obediência e na confiança, José pode aceitar ser o pai de Jesus e, comungando da virgindade de Maria como uma atitude de abertura e disponibilidade para Deus, os dois farão um caminho novo. Na vida desse casal se confirma o modo novo e inesperado de Deus agir, quando existe abertura, disponibilidade para Deus, a esperança de renovação se faz presente. É quase Natal, abramos também nós nossa casa, nosso coração, e deixemos que sua palavra inunde de luz o nosso viver e que seja sempre Deus conosco.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de dezembro de 2016

(Gn 49,2.8-10; Sl 71[72]; Mt 1,1-17) 
3ª Semana do Advento.

Entramos na assim chamada segunda etapa do Advento de preparação ao Natal. Os textos apresentam outros acentos nesses dias que precedem a celebração do nascimento do Senhor. Judá ouve a promessa de Jacó, seu pai, de como a fidelidade de Deus se manterá em sua casa (descendência), da tribo de Judá nascerá a dinastia davídica. Mas para além disso, Jacó vislumbra um Outro maior a quem todos os povos obedecerão. Mateus confirma essa esperança e realização na genealogia que constrói para nos falar de onde vem José, o esposo de Maria; só que diferentemente dos varões citados anteriormente, quem gerou Jesus foi Maria. A todos os comentadores da Sagrada Escrituras, chama a atenção o fato de Mateus introduzir algumas mulheres que não gozavam de boa fama: “São Jerônimo afirmava que as mulheres mencionadas por São Mateus foram introduzidas para demonstrar que Jesus veio salvar os pecadores. É verdade. Quem lê o Antigo Testamento verifica facilmente que a história de salvação passou através de violências, enganos, luxurias, mentiras, adultérios, incestos, homicídios. Deus soube introduzir no Seu projeto também os erros humanos” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado (Advento - Natal) – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de dezembro de 2016

(Is 56,1-3.6-8; Sl 66[67]; Jo 5,33-36) 
3ª Semana do Advento.

O profeta apresenta ao povo que passou pela experiência do exílio uma nova compreensão do modo como Deus acolhe a todos. Seu Templo será casa de oração para todos que a ele elevarem o seu pensamento. Essa intuição profética é prenúncio do agir de Jesus que revela Deus a todas as nações. Para além do agir de João está o testemunho de Jesus das obras que Deus realiza, já que nem todos querem acreditar no Batista. O Seu agir está em perfeita consonância com as promessas divinas, só não enxerga quem de fato não quer abrir-se a Ele. Peçamos ao Senhor essa humilde atitude de retomarmos a Sua Palavra de vida para constatar não só as suas promessas, mas do modo como elas se realizam ainda em nosso tempo, em minha vida. Que Ele nos recupere essa certeza de que não caminhamos sós, que a Seu tempo as coisas vão ganhando clarividência.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de dezembro de 2016

(Is 54,1-10; Sl 29[30]; Lc 7,24-30) 
3ª Semana do Advento.

Israel tem que tomar consciência de que o exílio foi fruto de sua ‘traição’ a Deus. A essa esposa que se sente rejeitada ele promete retornar para encher de filhos sua tenda (a grande herança de Israel), de modo tal que será necessário expandir como nunca havia imaginado seu espaço existencial. É uma imagem para falar mais uma vez do modo como Deus age, de sua fidelidade. Longe do seu Esposo, dificilmente ela encontrará tal felicidade. Os cobradores de impostos e todo o povo recebeu o batismo de João, reconhecendo aí a obra de Deus, conforme indica Jesus. Os fariseus e mestres da Lei rejeitam tal batismo; não se abrem a proposta divina e tornam inútil, ao menos para eles, o projeto divino. O tempo do advento é também de renovação de nossa confiança no Senhor, permitir que seu amor renove a nossa esperança, como um esposo que insiste com sua amada, porque ama e não abandonará jamais, ainda que no momento tudo pareça frio e distante.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 14 de dezembro de 2016

(Is 45,6-8.18.21-25; Sl 84[85]; Lc 7,19-23) 
3ª Semana do Advento.

Ao povo exilado fala o profeta da fidelidade de Deus, que é único no seu modo sempre novo de expressar o seu amor. Por que duvida Israel dessa fidelidade? Certamente a sensação de abandono que experimentam, presente em toda experiência de fé. Assim está João batista às voltas com suas dúvidas, como vimos nesse domingo na versão de Mateus; Lucas apenas inverte um pouco a sequência. Deus se manifesta de modo inesperado e surpreendente em Jesus. Ele se faz um ‘Deus conosco’ de modo tão pleno que gera um certo transtorno no precursor. Pode existir um Deus assim? “Sou eu o Senhor e não há outro” (Is 45,18). Jesus propõe a João uma revisão na sua compreensão de Deus, que veio para salvar e não para condenar. Ainda que João tenha se confundido um pouco, Jesus lhe é grato e reconhece o ministério profético, mas o que importa naquele momento é abrir a essa presença do Reino que se faz sentir, complementa o evangelho de amanhã.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de dezembro de 2016

(Sf 3,1-2.9-13; Sl 33[34]; Mt 21,28-32) 
3ª Semana do Advento.

Sofonias é um profeta que viveu alguns anos antes da destruição de Jerusalém, em pleno caos social e político. Segundo o profeta, o desejo de Deus é eliminar as injustiças praticadas pelos ricos, a tirania dos poderosos, por um fim ao orgulho dos mais fortes e tornar-se humilde como os pobres. Para o profeta, a pobreza aqui era muito mais que a carência de bens materiais, mas uma atitude religiosa de confiança e de submissão à sua vontade.

É dentro dessa atitude de pobreza (submissão à vontade divina) que os pecadores encontram o caminho da comunhão com Deus, pois a questão não está em termos um comportamento irrepreensível, mas de revermos nossas atitudes. Vale mais o agir que o dizer.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de Dezembro de 2016

(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) 
N. Sra. de Guadalupe.

Hoje a nossa Igreja na América Latina celebra a sua padroeira, que remonta ao dia 9 de dezembro de 1531, onde o índio João Diego viu pela primeira vez a Virgem Maria que lhe pede a construção de um templo naquele local (colina de Tepeyac, México). E a partir desse encontro se desenvolve uma busca de levar a mensagem a quem interessava até o convencimento de que ele falava a verdade pelo sinal que surge estampado na manta do índio: a Virgem Mãe de Deus, conservada em seu santuário. “A presença de Maria de Guadalupe é um abraço amoroso a todos os seus devotos, mas também uma opção profunda pelos pobres e marginalizados. Com efeito, seu diálogo começa com um indígena e o seu centro de irradiação é Tepeyac, às margens da cidade, entre as pessoas simples, e mais abandonadas” (Corrado Maggioni, in Maria na Igreja em oração – Paulus). Esta reflexão pode ser complementada com a do ano anterior (clique aqui).


Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Advento – Ano A

(Is 35,1-6a.10; Sl 145[146]; Tg 5,7-10; Mt 11,2-11).

1. Ao convite alegre do profeta dirigido ao seu povo, a liturgia da Igreja nos convida à alegria das festas que se aproximam. Não uma alegria qualquer, mas da força renovadora que a fé em Jesus foi capaz de provocar em nós. Tudo o que o profeta sonhou para o seu povo se fez presente na obra de Jesus.

2. É um apelo que a liturgia faz, pela força da palavra divina, a não nos acomodarmos, nem desanimarmos. Deus pode fazer crescer um jardim no deserto, se estivermos dispostos a caminhar com Ele.

3. O convite de Tiago reforça a ideia central da nossa celebração. Aos pobres de seu tempo convida a manterem-se firmes, outras traduções trazem a palavra ‘paciência’. Particularmente quando a gente já tentou de tudo que nos seria possível. A imagem da persistência do agricultor ilustra a sua fala. Esperar em Deus, é a sua proposta. Na realidade a intenção do autor é que aquele que se sente cansado e injustiçado esteja atento para não deixar que a violência o domine, nem desconte nos que estão mais próximo a sua frustração.

4. João Batista nos foi apresentado no domingo anterior; num dado momento do seu ministério apontou a Jesus como o Cordeiro de Deus, o Messias prometido. Ele se encontra na prisão e através dos discípulos ouve falar de seu modo misericordioso de ser e agir e se pergunta: “Será esse mesmo cujo caminho vim preparar?”.

5. Sua dúvida nasce de sua interpretação da ação de Deus em seu enviado. Ele esperava alguém com ações mais enérgicas, para purificar seu povo dos pecados. Jesus serenamente indica aos discípulos de João o modo como tem agido; ressonância das palavras do profeta Isaias, para reforçar uma ideia: Deus vem para salvar, não para condenar!

6. Também nós, vez ou outra, pensamos como João. Deus bem que poderia ter uma mão mais firme em relação a certo proceder humano. A resposta para nós é a mesma: Deus não pode ser medido pelos nossos sentimentos ou pela nossa lógica ou pelo senso de justiça que nos rege. Em Jesus percebemos claramente tudo isso.

7. É normal que fiquemos perplexos com o agir divino, que incertezas nos rondem. Só os fanáticos carregam como uma certeza absoluta o seu modo de pensar. 

8. Antes que depreciemos a figura de João por sua fraqueza de fé ou má compreensão do agir divino, Jesus discorre sobre a sua figura, salientando suas qualidades de profeta. Não vai ao sabor dos ventos, não é oportunista nem se dobra aos poderosos. Mantém sua liberdade de consciência, nem anda atrás de riquezas.

9. Ao final Jesus diz que ele continua sendo o menor no reino dos céus; quem sabe seja na perspectiva daqueles pequenos a quem o Pai é capaz de revelar os seus segredos; A quem se revela como a uma criança que não tem uma ideia formada, fixa, mas está aberta ao novo, ao que há de vir. Ele pode não ser o maior, mas busca ter uma melhor visão das coisas e do próprio Deus. 

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 10 de dezembro de 2016

(Eclo 48,1-4.9-11; Sl 79[80]; Mt 17,10-13) 
2ª semana do Advento.

A liturgia extrai do livro do Eclesiástico um trecho em que este elogia os homens ilustres de Israel e os propõe como modelo de fidelidade; é assim que o profeta Elias aparece em nosso contexto do Advento. Talvez aqui haja uma relação coma figura de João Batista que foi introduzida no domingo anterior e com que nos encontraremos de novo amanhã. As palavras de João eram como um fogo que brotava do seu coração incendiado de zelo pelo Senhor, como o foi Elias. A intenção das palavras de ambos era provocar uma purificação e transformação que o fogo do Espírito é capaz de realizar. Para o nosso tempo do Advento, Elias vem como uma espécie de precursor que prepara para a vinda do Messias, possibilitando reconhece-lo nas nuances das coisas novas que Deus vai fazendo acontecer.

Vejam que o evangelho explicita essa ligação entre Elias e o Batista na missão de aplainar os caminhos e endireitar as veredas. Mas o texto é também um anúncio de sua Paixão ao associá-lo a João Batista. Então, o fogo por eles prometido (‘Eu vim trazer fogo à terra...) só pode ser desejado, para que nos purifique de todo ódio, rancor, discórdia, que nos impedem de viver de modo mais pleno.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de dezembro de 2016

 (Is 48,17-19; Sl 1; Mt 11,16-19) 
2ª Semana do Advento.

Os dois textos de hoje se unem num lamento, de Deus no Antigo Testamento, ao seu povo, por não prestar atenção aos ensinamentos Seus, presentes em tudo que criou, na mensagem dos profetas e particularmente nos mandamentos. O povo não compreendeu como Deus cuidava de seus caminhos e por isso uma vida mais plena, de paz e justiça não se consolidou entre eles. Mas Deus permanece fiel, lhes envia o Filho com a mesma proposta, quem sabe a experiência do passado os tenha ajudado a enxergar e buscar um novo despertar. Mas parece que as coisas não saíram como o planejado. Jesus soma a experiência do passado ao julgamento que eles fazem Dele. Ouvimos o lamento de João e a alegre notícia de Jesus e mesmo assim, suas melodias não geraram mudanças em boa parte dos ouvintes. “É melhor reconhecer que as razões aduzidas pelos dois grupos são apenas desculpas para justificar a preguiça, os preconceitos, a falta de coragem em seguir Cristo e orientar a sua vida pelas suas propostas que comprometem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado (Advento - natal) – Paulus).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Imaculada Conceição

(Gn 3,9-15.20; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)

1. O prefeito de Chapecó, no meio de toda aquela chuva que caia em meio ao velório das vítimas do acidente aéreo, quis ser um pouco poético ao dizer que Deus tinha o direito de chorar. Certamente chora, se isso é possível, sobre a estupidez humana. Mas o autor do Gênesis não fala de lamento, mas de uma sentença carregada de esperança.

2. Apesar de tudo, Deus insiste em sonhar com uma humanidade renovada, assim promete a vitória da mulher sobre o antigo inimigo. A Festa da Imaculada se coloca no contexto do Advento por causa dessa expectativa ansiosa do nascimento do Salvador. Em Maria, o que sonhara Deus para a humanidade, se concretiza.

3. A Igreja afirma, em meio às intuições que brotam do texto bíblico, que toda a pessoa e vocação de Maria se orientam para a obra de Deus, que é a restauração da humanidade em Cristo Jesus. Ao desejo de redimir a humanidade está associado o desejo de restaurar a criação. Adão e Eva foram criados à imagem divina, para restaurar essa primeira humanidade, Cristo e Maria simbolizam um novo começo para nós.

4. Se o paraíso perdido se deu pela frustração amarga do impossível ‘ser como Deus’, o evangelho recupera essa possibilidade e desejo do infinito ao afirmar que somos filhos no Filho. Paulo bendiz a Deus pelo seu plano de resgate da humanidade. Ele fala de predestinação como se nos dissesse que o amor de Deus pode vencer a nossa resistência. 

5. Assim, Maria compreende que sua vida estava envolvida em algo maior. Seu sim nada mais é que uma resposta a percepção desse amor de Deus que envolvia a sua existência.

6. Assim a liturgia não só celebra a especial escolha de Maria por parte de Deus, mas nos envolve nesse mesmo plano de restauração da humanidade. O advento, com seus tons quaresmais, também nos pergunta: ‘onde estás?’. Por que se esconder de Deus se ele deseja tão somente nos devolver o paraíso perdido?

7. Como modelo de uma humanidade restaurada, Maria encontrou em Jesus o seu paraíso. Não é à toa que a invocamos também como porta do céu. Na sua humanidade e humildade compreendemos que fazer a vontade de Deus nos garante a vitória sobre o pecado. Pedimos a ela a particular intercessão pelo caminho que estamos fazendo.

“Se és quem acredito que tu és: mãe de Jesus, e ele é Deus! Se estás onde acredito que estás: na eterna luz, vivendo aí no céu!
Se vês o que acontece nesta vida, então tu vês também meu coração; se podes influir na minha vida então influi porque eu preciso de oração!
Se és a minha mãe, então me escutarás! Se és a mãe de Deus, então me ajudarás! Se tinhas tanta graça e tanto amor no teu viver. Então me dá um pouco desse amor. Eu não consigo me converter...!” (Pe. Zezinho). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 07 de dezembro de 2016

(Is 40,25-31; 102[103]; Mt 11,28-30) 
2ª Semana do Advento.

O ano vai caminhando para o seu final e parece que nosso cérebro já se programa para uma sensação de cansaço. ‘Cansaço’ é uma palavra que está bem presente em nosso texto da primeira leitura. O cansaço do povo que esperava por Deus em seu exílio. Eis que o profeta diz que os que esperam n’Ele hão de renovar as suas forças. Deus não se cansa, pois nos ama infinitamente. Nada é excessivo para Ele, quando se trata de manifestar a sua fidelidade. Esperemos n’Ele, para que se renove o nosso caminhar.

O tema é retomado por Jesus no evangelho. Jesus convida a aproximação de seu coração manso e humilde. Nele nosso coração encontro repouso, pois nos livra do peso de tantas coisas inúteis que vamos carregando pela vida, dando-lhes a importância que elas não têm. Vamos ao seu encontro nas celebrações que se aproximam para renovar a fé e a força para o caminho.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 06 de dezembro de 2016

(Is 40,1-11; Sl 95[96]; Mt 18,12-14) 
2ª Semana do Advento.

Um profeta em meio aos exilados na Babilônia vislumbra o fim de tão grande sofrimento com as mudanças que estão por vir que permitirá Israel voltar a sua terra. É preciso despertar os exilados à esperança. O consolo de Deus vem como um socorro, uma libertação da escravidão do pecado. Ele vislumbra o próprio Deus conduzindo seu povo como um pastor, com ternura, paciência, no respeito ao ritmo de cada um.

Jesus concretiza o cuidado de Deus com os que mais necessitam em nosso evangelho. E gostaria que seus discípulos tomassem a peito o mesmo sentimento e preocupação de Deus. Cada um de nós é alvo desse cuidado de Deus e dos irmãos quando nos afastamos do Seu amor. Saibamos acolher a iniciativa divina e a preocupação da comunidade nos irmãos que nos acompanham e nos advertem.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 5 de dezembro de 2016

(Is 35,1-10; Sl 84[85]; Lc 5,17-26) 
2ª Semana do Advento.

O cenário existencial do nosso profeta não é dos melhores, mas ele não deixa de cantar a ação prodigiosa de Deus, enchendo de alegria os mais frágeis e convidando os mais fortes a partilharem dessa alegria. Sim, é a esperança do Messias cantada a Israel e a todos os povos.

O evangelho concretiza em escala menor a poesia do nosso profeta. Ao centro da narrativa está um paralítico, carregado em sua maca e levado a Jesus, este não lhe pede nada, mas Jesus o cura e perdoa. Teve que transpor vários obstáculos, mas o maior foi a falta de fé dos opositores em reconhecer a Jesus como Deus, que simplifica o seu perdão e sua misericórdia, que se encontrava presa a ritos complicados estabelecidos na época. O Senhor nos recorda que podemos nos aproximar dele sem temor, pois Ele nos conhece a partir do nosso coração e está disposto sempre a perdoar para restaurar a nossa vida.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Advento – Ano A

(Is 11,1-10; Sl 71[72]; Rm 15,4-9; Mt 3,1-12)

1. Os domingos e dias da semana do Advento são praticamente dominados pelo profeta Isaias na 1ª leitura. O que ele sonhou para o seu povo é o que liturgia vislumbra na ação de Jesus. Um retrato de reconstrução da paz entre a natureza, entre os seres humanos e entre o ser humano e Deus. Uma espécie de restauração do antigo Paraíso terrestre.

2. Concretamente esse sonho se consolidou no reinado de Davi, Salomão e sua descendência. Mas nem todos os ramos dessa árvore deram bons frutos. Daí ela foi cortada, até que surgisse um novo broto. Somos nós, cristãos, esse povo novo, nascido da ação de Jesus, mas ainda por consolidar-se. Vivemos entre o ‘já e ainda não’ de indicações da Palavra que ainda não se tornaram vida em nós.

3. O Natal, como poeticamente insinuam muitas propagandas desse período, ainda exigem um renascimento da nossa parte para a consolidação da paz.

4. Paulo viveu a experiência de ajudar a constituir esse povo novo. No seu tempo, mais do que no nosso, os conflitos dentro das próprias comunidades eram bem acentuados. Muitas de suas cartas trazem sempre uma busca de conciliação e algumas orientações práticas, como essa aos romanos, que vive certa divisão interna. E como sempre, lembra quem foi Jesus em meio a nós. Tudo é uma questão de identidade pela fé professada.

5. Outra grande figura desse tempo do Advento é João Batista. O filho de Isabel e Zacarias aparece aqui já adulto e com uma vocação definida. Essa figura um pouco excêntrica para o nosso tempo, teve a missão de preparar de modo mais imediato a chegada de Jesus.

6. As pessoas confundiam João com o profeta Elias, que segundo a tradição, deveria voltar quando o Messias estivesse próximo de se revelar. Essa expectativa do Messias se atrelava ao fim da dominação estrangeira, por isso ele fazia tanto sucesso, a ponto de intimidar as autoridades de seu tempo; a estes não ‘alisava’ quando o buscavam.

7. O batismo poderia ser um sinal para um caminho de mudança, por isso a tônica da pregação de João era a conversão como abertura ao novo que vem. Sem ela fica difícil compreender Jesus. A imagem do caminho aplainado resume bem esse ‘criar passagem’ para Jesus em nossa vida. Ele vem para deixar claro que simplesmente pertencer ao povo escolhido e observar suas leis não é suficiente.

8. Criar um caminho no coração é ser capaz de rever certas atitudes que temos como certas, mas que na prática não ajudam a construir o Reino anunciado por Jesus. Como diz a canção: “Natal é tempo de rever, dá gente amar e renascer. Natal é tempo de pensar em Deus que só nos quer salvar”. Particularmente salvar-nos de nós mesmos. 


  Pe. João Bosco Vieira Leite