Quarta, 30 de novembro de 2016

(Is 25,6-10a; Sl 22; Mt 15,29-37) 
1ª Semana do Advento.

O profeta expressa a sua visão do futuro utilizando a imagem de um banquete ‘pra lá de especial’. Uma narrativa pormenorizada que tem como destaque a superação dos conflitos e a derrota da morte: o último inimigo. Sem ainda o saber de modo pleno que Aquele que era acusado de ‘comilão’ pelos tantos baquetes que frequentava, realizava o grande feito sonhado pelo profeta, o único capaz de nos dizer verdadeiramente como à viúva de Nain: “Não chores”.

O evangelho é uma imagem realizadora do sonho do profeta: é o próprio Senhor que alimenta o seu povo, não só com o pão material, mas com suas palavras de vida. Distribuir e recolher o que sobrou para que não venha a faltar. Duas dinâmicas que apontam para o estilo de vida marcado pela caridade e pela responsabilidade pelo amanhã.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de novembro de 2016

(Is 11,1-10; Sl 71; Lc 10,21-24) 
1ª semana do advento.

Num delicado momento da história de Israel, o profeta se serve de imagens da natureza para comunicar o que Deus ainda fará. Seu objetivo é despertar a confiança e a esperança. Deus é fiel, e por isso trará ao seu povo um tempo novo, mesmo quando tudo parecer reduzido a cinzas. Mas o profeta não tinha com clareza a dimensão do que Deus preparava. O poeta popular assim canta: “De Jesse nasceu a vara, da vara nasceu a flor, e da flor nasceu Maria, de Maria o salvador”. Eis Aquele que traz em si os dons do Espírito para um povo novo.

Num momento raro dos evangelhos, Jesus expressa a sua alegria, numa prece ao Pai, pela escolha daqueles que nada têm para oferecer, a não ser esperar em Deus. Assim Ele inverte a primazia do conhecimento intelectual para a abertura de coração. Assim nos recordamos desse pequeno resto de Israel, mencionado na liturgia de ontem, de onde brota a flor Maria.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de novembro de 2016

(Is 4,2-6; Sl 121; Mt 8,5-11) 
1ª Semana do Advento

Dentro do mundo bíblico do Antigo Testamento, a imagem do ‘pequeno resto’, sobreviventes das catástrofes que se abateram sobre Israel, corresponde aos que persistem na fidelidade a Deus.  É desse pequeno resto que brotará o rebento que trará a salvação. Segundo a tradição, é desse ‘pobres de Deus’ que descende a Virgem Maria. Essa imagem do ‘pequeno resto’ traz para nós a imagem dos que remam na contracorrente dos modismos e nova idolatrias criadas pela sociedade e que não se deixam confundir com a imagem de poder que certos grupos tentam alimentar como ideal. Como diz a frase do caminhão: “Tudo é força, mas só Deus é poder!”.

Jesus veio para todos. A imagem do estrangeiro no evangelho que busca Jesus e de sua fé é um recado à comunidade cristã sobre a convivência com outras culturas e religiões. Jesus quer que nos admiremos com ele do quanto de beleza que pode estar escondida no desconhecido. “Os fanatismos, os fundamentalismos, as manifestações, mesmo violentas, de intolerância colocam hoje os cristãos perante um desafio radical: manterem-se fiéis na recusa da violência, ensinada por Jesus. Se respondermos – como infelizmente aconteceu no passado – adequando-nos aos princípios deste, faltaremos à nossa vocação de construtores da paz”  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado (Advento - natal) – Paulus).



Pe. João Bosco Vieira Leite

1º Domingo do Advento – Ano A

(Is 2,1-5; Sl 121[122]; Rm 13,11-14a; Mt 24,37-44).

1. Iniciamos o novo ano litúrgico com esse convite do profeta Isaias: “Vinde, todos da casa de Jacó, e deixemo-nos guiar pela luz do Senhor”. A palavra do profeta se dirige a um povo temeroso de seu futuro, pois os povos vizinhos se aliaram contra ele. A liturgia utiliza esse texto para um olhar muito além do que o profeta imaginava.
2. Essa tomada de direção significava uma maior confiança em Deus, uma abertura à sua Palavra que produza mudança de atitude. Todos esses aspectos se realizam na vinda de Jesus, não como num passe de mágica, mas numa adesão ao seu projeto: é na sua direção que caminhamos em mais esse ano litúrgico.
3. É sobre essa luz trazida por Jesus que nos fala Paulo na 2ª leitura. O batismo introduziu os cristãos num modo novo de viver. Ainda há trevas ao nosso redor? Sim. Por isso ele faz esse jogo de trevas e luz para dizer que o modo como nos comportamos imprime uma nova dinâmica.
4. Quando Jesus profetiza a queda de Jerusalém, isso parecia o fim do mundo, e por tabela, o retorno de Cristo. Quando isso se dará, perguntam a Jesus? Ele não precisa um tempo, mas convida a uma atitude de vigilância. Tudo será de modo inesperado, como o foi no tempo de Noé e em meio às atividades do nosso dia a dia.
5. O texto é um convite a não perdermos de vista a proposta de Jesus. Ela nos garante a comunhão com Deus em todos os tempos. Ela está na Palavra escutada, está presente numa palavra dirigida a nós como um conselho que direciona os nossos passos para o bem, para o que é certo.
6. Esse quadro da Palavra nos situa no tempo do Advento, em seu significado de ‘vinda’ ou ‘visita’ de um soberano, de alguém importante. A liturgia nos lembra, mais uma vez, a vinda histórica de Cristo e nos adverte de suas constantes visitas à nossa vida nas mais diversas circunstâncias, antes de se realizar a plena vida com Ele.
7. Para isso nos preparamos a todo o momento: celebrando seu mistério na liturgia, vivendo o que sua Palavra nos propõe. A cor roxa nos lembra de que a conversão é uma atitude contínua, e o melhor que podemos oferecer a quem nos visita é a renovação do próprio coração: nasce Jesus e renascemos nós em seu amor e em sua luz. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de novembro de 2016

(Ap 22.1-7, Sl 94[95]; Lc 21,34-36) 
34ª Semana do Tempo Comum.

Numa clara referência ao livro do Gênesis e ao profeta Ezequiel, essa nova criação é curada, restaurada pelo próprio Deus ou das águas que emanam de seu trono para poder entrar na nova cidade onde não haverá morte nem luto nem dor. Bem aventurado quem conserva em si essa esperança.

Num reforçado apelo à vigilância e a oração, encerra-se o capítulo e o ano litúrgico. Um comportamento ditado pela consciência de que as coisas não estão definidas para nós, pois a cada dia nova resposta é exigida diante da tendência de nos acomodarmos e até mesmo perdermos a fé. O desejo de Deus deve nos manter despertos. É a oração que mantém o canal de comunicação aberto e alimenta nossa capacidade de esperar vigilantes. Essa mesma temática será retomada no início do novo ano litúrgico.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de novembro de 2016

(Ap 20,1-4.11—21,2; Sl 83[84]; Lc 21,29-33) 
34ª Semana do Tempo Comum.

Neste texto de hoje, visões se sucedem: a derrota de Satanás por um determinado tempo; o juízo de Deus sobre todos os seres humanos e sobre a história; a nova Jerusalém, como símbolo da nova criação.

Uma parábola encerra o discurso escatológico de Jesus, como que a responder a pergunta que o provocou: quando se dará o Reino de Deus? Jesus convida a lançar um olhar contemplativo e ao mesmo tempo vigilante dos movimentos da vida, como árvores que estão brotando em plena primavera, prelúdio do verão que se aproxima. É nesse ‘calor’ dos fatos que a nossa fé amadurece e dá seus frutos, firme na palavra que não passa, pois tem sabor de vida eterna, que ultrapassa os tempos e nos convida a manter-nos firme até que vislumbremos esse novo céu e essa nova terra. Guardemos, então, os seus ensinamentos, como fazia a Virgem, meditando-os em seu coração.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de novembro de 2016

(Ap 18,1-2.21-23; 19,1-3.9)
34ª Semana do Tempo Comum.

A queda da Babilônia (Roma) é o assunto do nosso texto, celebrada em três aspectos: por aquilo que ela era em termos de impureza e idolatria, no desparecimento dos seus habitantes e por fim na festiva celebração da ação de Deus sobre a mesma. O texto finaliza pelo convite a plena comunhão com Deus sob o símbolo de um banquete.

O evangelho retoma a predição da queda de Jerusalém, provavelmente um fato já ocorrido (70 d. C.), do qual o autor sagrado se serve e lê sob a ótica do juízo divino. O texto convida a levantar a cabeça e manter firme a esperança, nem sempre fácil nesses tempos difíceis em que vivemos. Nossa esperança se apoia na constância e na perseverança e encontra sua motivação no próprio Cristo, que nos revela o Deus que cuida da vida em todas as circunstâncias e nos assume como filhos, chamados a viver a plenitude dessa existência em Sua companhia, aconteça o que acontecer, Ele é o Deus-conosco. 
  
Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 23 de novembro de 2016

(Ap 15,1-4; Sl 97[99]; Lc 21,12-19) 
34ª Semana do Tempo Comum.

Essa visão de João conclui o juízo divino sobre o mundo, o restante da visão não é de fácil interpretação, pois seus símbolos geram várias interpretações. A referência ao Cântico de Moisés recorda a libertação do povo de Deus, a este cântico se une o do Cordeiro, numa clara referência ao novo ato libertador de Deus em Cristo Jesus.

Na sequência do evangelho do discurso escatológico de Jesus, ele deixa claro que a vivência da fé cristã comporta dificuldades. O texto se refere às perseguições por parte do judaísmo e do poder romano. Vislumbra-se o martírio dos primeiros séculos da Igreja e o conflito familiar. No entanto, diz Jesus, a graça da fé incutida nos seus corações lhes dará firmeza necessária para o testemunho e sabedoria necessária. Lucas se refere à atenção divina para com um só fio de cabelo que venha a cair de nossa cabeça.  Perseverança, firmeza, paciência, fazem parte do caminhar cristão.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de novembro de 2016

(Ap 14,14-19; Sl 95[96]; Lc 21,5-11) 
34ª Semana do Tempo Comum.

O texto do Apocalipse que seria lido ontem (14,1-3.4b-5), juntamente com o de hoje, tratam da quarta e quinta visão. Alguns termos (filho do homem) remetem ao livro de Daniel. Em linhas gerais trata-se do juízo de Deus ou de Cristo sobre o mundo. Essa figura que está com a foice foi imortalizada no imaginário popular como símbolo da morte. O nosso salmo confirma a leitura do julgamento divino.

Nós encontramos com esse texto do evangelho no domingo anterior. Jesus profetiza a destruição do Templo de Jerusalém e isso atiça a curiosidade dos seus ouvintes a respeito do fim do mundo. Jesus não precisa a expectativa dos seus ouvintes, mas fala dos movimentos humanos ou das mudanças de estação que vão marcando a existência humana. Estas não devem nos amedrontar, nem nos devemos deixar levar por vozes alarmistas. Há profecias fora e dentro da Igreja que escapam do contexto real do evangelho que, como veremos amanhã, nos convida a uma atitude de confiança.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de novembro de 2016

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1,; Mt 12,46-50)
Essa memória obrigatória nos lança na infância de Maria, cuja realidade não se mencionados evangelhos, mas que sempre suscitou a curiosidade dos seus devotos e também pela importância no plano salvífico. A imaginação de um autor que desconhecemos se expressou no Protoevangelho de Tiago, um escrito apócrifo do sec. II: "...onde se narra que na idade de três anos, Maria foi acompanhada ao templo por Joaquim e Ana, a fim de que 'a menina não volte atrás e o seu coração não se entretenha com algo fora do templo do Senhor'. Assim se lê: 'O sacerdote a acolheu, abraço-a e abençoou-a exclamando: 'O Senhor Deus magnificou o teu nome em todas gerações. Em ti, nos últimos dias, o Senhor manifestará a sua salvação aos filhos de Israel'. E ele fez a menina sentar-se no terceiro degrau do altar e o Senhor infundiu sobre ela a sua graça e ela começou a dançar... E regressaram os seus pais cheios de admiração, louvando e glorificando o Senhor Deus porque a menina não tinha voltado atrás. E Maria morava no templo do Senhor, alimentava-se como pomba e recebia o alimento da mão de um anjo' (Texto marianos do primeiro milênio, I, pp. 868-869).
Por trás da fantasia da narração pode-se uma clara mensagem, que aliás, é a da festa da Apresentação: o coração de Maria sempre esteve voltado à vontade de Deus. A informação histórica que introduz o dia 21 de novembro na liturgia das Horas diz de fato com precisão: 'Neste dia celebramos juntamente com os cristãos do Oriente a dedicação que Maria fez de si mesma a Deus já desde a infância, movida pelo Espírito Santo, que a encheu de sua graça na sua imaculada conceição (Corrado Maggioni, Maria na Igreja em oração, Paulus).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo Rei – Ano C

(2Sm 5,1-3; Sl 121[122]; Cl 1,12-20; Lc 23,35-43)

1. Final do ano litúrgico. Sob o olhar de Lucas acompanhamos a história da salvação tendo ao centro a pessoa de Jesus Cristo, a quem hoje declaramos Rei da história do mundo e nosso. Mas o reconhecimento de Jesus como Rei tem suas raízes na história de Israel e no rei ideal que se tornou Davi. Nosso pequeno trecho na 1ª leitura, é um reconhecimento e a transição de Saul para Davi.
2. Esse pequeno e humilde começo deu origem a um reinado grande e poderoso. A Davi sucedeu Salomão, que foi bom por um tempo até acontecer a divisão do seu reinado e a sucessão de outros da linhagem davídica. Como as coisas não melhoravam, surge a oração e a esperança de um rei, como Davi, para reconstruir o poder de Israel, daí surge a esperança do Messias e a sua concretização em Jesus.
3. Como um canto de louvor a Cristo, Rei do universo, a liturgia nos oferece esse hino da carta aos Colossenses, que logo ao seu início, reconhece a soberania e o poder de Cristo sobre todo o criado. Por traz desse hino está o apaziguamento dos corações temerosos das ações do mal nesse mundo: ninguém nem nada nesse mundo podem separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus.
4. Retomando a linha traçada na 1ª leitura, a esperança do Messias alentada por Israel sempre se confundiu com soberania e poder material. A desconcertante resposta divina vem na placa que Pilatos mandou colocar na cruz de Jesus. Como pode ser esse o Messias esperado que iria unir Israel e devolver-lhe o poder?
5. Jesus não responde às provocações que o levariam a usar do poder divino para se vingar dos que lhe afligem e promover um verdadeiro espetáculo de força e poder. Jesus deixa aos seus discípulos a imagem de entrega por amor que ele sempre viveu: quem quiser ser o maior... Toda onda de frustração dos que estão ali ao seu redor vai provocar uma profunda reflexão na comunidade.
6. Mas seus leitores serão ainda surpreendidos pela figura de um malfeitor que acredita nele e alcança a salvação, pois não espera nenhum ato surpreendente de Jesus, apenas sua companhia. Ele acaba por representar a cada um de nós, que reconhece que, grande ou pequeno, também cometemos nossos delitos e que esperamos em Sua misericórdia.
7. Assim, sob o olhar de Lucas, até seu último momento, Jesus continua realizando o que seu próprio nome diz: Deus salva! Para cada um de nós há uma esperança. Sua realeza escapa dos esquemas predeterminados para nos conduzir a um estilo de vida que se identifica com o seu: o triunfo nem sempre vem pela vitória.
8. O perdão torna-se um caminho mais forte que enobrece quem sabe realiza-lo. Se parece difícil a nós, que dizer dessa cena nos oferecida por Lucas? A meditação sobre a paixão de Jesus, nessa festa, como em outros momentos, é um apelo para que transformemos o nosso pensar e nosso agir. Um forte apelo a conversão.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 19 de novembro de 2016

(Ap 11,4-12; Sl 143[144]; Lc 20, 27-40) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Eis um texto complexo nessa leitura seletiva que faz a liturgia. Não é fácil identificar essas duas testemunhas crucificadas e reavivadas pelo sopro de vida de Deus. É possível fazer uma leitura a partir de personagens bíblicos ou históricos. Alguns atribuem a figura do monstro a Nero e a cidade de Roma e as duas vítimas seriam Pedro e Paulo. Bom, difícil uma certeza, vai depender muito dos ‘óculos’ do interprete, mas, ao menos, fica a certeza da assistência divina que ultrapassa essa vida.

Os saduceus não acreditam na ressurreição e querem surpreender Jesus num casuísmo de uma história mirabolante a partir do direito judaico de descendência (lei do levirato). A resposta de Jesus surpreende os seus ouvintes, pois transcende o mero significado da vida eterna como uma continuação desta. Jesus fala da condição de ressuscitado, como anjos em tornos do Pai comum, onde vínculos matrimoniais e familiares não mais existirão. Para todos, de ontem e hoje, Deus os tem presente, pois a eles, Ele comunica sua vida. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de novembro de 2016

(Ap 10,8-11; Sl 118[119]; Lc 19,45-48) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Nessa nova revelação, João recebe das mãos do anjo o livro, que aos moldes do Antigo Testamento na experiência profética, e doce ao paladar, pois comunica sentimento de doçura e de conforto para a humanidade, mas no estômago revela-se amarga, porque o seu anúncio traz dificuldades, provações e perseguições. João assume sua missão apostólica de anunciar o evangelho da salvação a todos os povos.

Em outra breve cena, já em Jerusalém, e sem a ‘grandiosidade’ dada pelos outros evangelistas, fala-se da expulsão dos vendedores e do ensinamento de Jesus no Templo. Lucas quer apenas ressaltar essa autoridade de Jesus sobre a casa que é também Sua e essa purificação necessária do culto. O povo o acolhe e escuta. As autoridades o rejeitam e tramam sua morte. Está montado, assim, o cenário da paixão. Para nós fica sempre a exigência de fazer de nossas comunidades cristãs um lugar de encontro com o sagrado que exige sempre mais o nosso envolvimento com a Palavra que nos alimenta.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de novembro de 2016

(Ap 5,1-10; Sl 149; Lc 19,41-44) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Em sua visão, João contempla, nas mãos de Deus, um livro que contém a história da humanidade e lamenta que ninguém possa abri-lo e interpretá-lo. Mas eis que aparece Cristo, o Cordeiro em sua plenitude de força (sete chifres, sete Espíritos), ele pode receber o livro e romper os selos, revelando o sentido da nossa história. Pela sua ação em favor da humanidade, prestam-lhe culto os 24 anciãos, com um cântico novo. 

Um breve intervalo na narrativa de Lucas coloca Jesus nessa contemplação da mesma e seu lamento, enquanto caminha em sua direção. O profeta (predição) e o humano (choro) aí se misturam nessa delicadeza do autor sagrado. A grande tônica do texto é o não reconhecer Aquele que a visita, a falta de acolhimento e a punição pela displicência. A queda da cidade no ano 70 d. C. seria interpretada como consequência dessa atitude. Resta-nos lamentar e pedir perdão pelas vezes que não reconhecemos a visita de Deus em meio as coisas boas e ruins que nos acontecem; menos mal que trazemos o selo da misericórdia divina.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de novembro de 2016

(Ap 4,1-11; Sl 150; Lc 19,11-28) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Numa visão cheia de símbolos, ao autor do livro do Apocalipse, é permitida uma contemplação de uma ‘liturgia celeste’. Deus está sentado no seu trono, rodeado por seus anjos. A um grupo de anciãos que simbolizam o Antigo e o Novo testamento (doze tribos, doze apóstolos= 24), mas há outras interpretações desse número. Bom, ficar destrinchando cada elemento não nos leva muito longe, só satisfaz a curiosidade.  O importante é o reconhecimento e o louvor que se eleva a Deus, criador de todas as coisas, a quem nos somamos, em nosso pequeno mundo, em nossas liturgias comunitárias e pessoais (prece, adoração, canto etc.).

Por trás dessa recontagem das parábolas dos talentos de Mateus em Lucas, o autor parece se inspirar em alguns fatos históricos. Mas ela também traduz a questão da oposição ou do acolhimento do próprio Jesus, já que estamos às portas de Jerusalém, talvez esse aspecto de não fácil interpretação acaba por chamar mais a atenção do que o reconhecimento daqueles que trabalharam por multiplicar ou não, o que lhes foi confiado. Deus é bom, mas sua justiça exige de nós fidelidade, para que saibamos administrar os dons recebidos, que faz o Reino crescer e aparecer, até que Ele venha.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de novembro de 2016

(Ap 3,1-6.14-22; Sl 14[15]; Lc 19,1-10) 
33ª Semana do Tempo Comum.

O nosso texto do Apocalipse é a junção de trechos de duas cartas, uma dirigida a Igreja de Sardes (vv. 1-6) e outra a Igreja de Laodicéia (vv. 14-22). A figura de Cristo aqui aparece sob vários títulos de profundo significado teológico, mas o objetivo da carta é advertir a comunidade em seu ser para que se conduza a uma vida cristã mais autêntica. A carta se encerra com um convite a escutar, ouvir, próprio da sabedoria que exige discernimento constante.  

O texto da conversão de Zaqueu que refletimos há poucos dias, no domingo, retorna hoje. A cena se desenvolve em torno da procura, da visão e da adesão à Cristo por parte desse homem que, a princípio, seria o contrário de todos os outros que o seguem. “Neste homem, Jesus, Zaqueu experimenta a divina salvação. Essa experiência lhe muda o rumo. Jesus não prega a conversão, mas deixa Zaqueu experienciar o seu amor, que o aceita incondicionalmente. [...] A conversão nasceu da experiência da atenção, e da alegria que agora brilha no seu rosto. Quem lê essa história ganha um rosto novo, como Zaqueu. Alegra-se porque hoje Jesus levanta os olhos para ele e o chama pelo nome. Seus olhos, que até agora só olharam para a sua própria pessoa, abrem-se, e ele vê os outros como são. Observa-os e torna-se seu irmão, sua irmã. [...] É a teologia gentil de Lucas. Lucas não precisa humilhar as pessoas, lembrando-lhes constantemente sua pecaminosidade. Ele conta sobre Jesus, o amigo de todos, que aborda as pessoas de tal maneira que mudam de rumo alegremente, descobrindo assim também o seu próprio humanismo, a sua própria humanidade, o seu ‘ser amigo de todos’” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 14 de novembro de 2016

(Ap 1,1-4; 2,1-5; Sl 01; Lc 18,35-43) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Nestas duas últimas semanas do nosso calendário litúrgico acompanharemos trechos do livro do Apocalipse, como o próprio nome já diz, faz parte de um estilo literário bíblico denominado de apocalíptico. A palavra, do grego, significa ‘revelação’, que se dá através de uma linguagem simbólica. A imagem mais importante que devemos guardar desse livro é a de Deus sentado num trono e do Cordeiro de pé, como que imolado, que traduz a certeza do domínio exercido por Deus e por Cristo sobre a história da humanidade. Hoje temos o prólogo do livro e, num recorte do livro, temos a revelação à Igreja de Éfeso, como uma carta enviada pelo próprio Cristo, que convida à correção de um comportamento ditado por uma caridade escassa. Vamos acompanhar e tentar traduzir alguns desses elementos simbólicos que aparecem no texto.

Antes do episódio de Zaqueu, Jesus cura um cego às portas de Jericó, última etapa de sua caminhada até Jerusalém. Lucas salienta a necessidade da fé para o milagre acontecer e acentua o seguimento daquele que agora passa a ver. Na realidade o texto quer salientar, através do milagre, a visão diferente, pela fé, que o discípulo passa a ter no seguimento do Mestre, algo mais profundo e consciente.  “A invocação do cego de Jericó, ‘Senhor, que eu veja’, convida-nos a ver em primeiro lugar dentro de nós mesmos, a recuperar a nossa vida no amor, mas ainda recordar que ao longo do caminho temos um ponto de referência constante: ‘Eu sou a luz do mundo, diz o Senhor; quem me segue terá luz da vida’” (Giuseppe Casarin, Lecionário comentado, Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ml 3,19-20a;Sl 97[98]; 2Tm 3,7-12; Lc 21,5-19)

1. A liturgia da palavra deste domingo se apresenta carregada de cores fortes. Para ilustrar a profecia de Jesus sobre o templo de Jerusalém, e caminhada dos cristãos ao longo da história, nos é oferecido esse breve texto do profeta Malaquias. 
2. Lido fora do seu contexto parece algo apocalíptico, mas na realidade é a resposta de Deus ao povo que havia voltado do exílio e se lamentava da situação de pobreza e opressão em que se encontravam. Parecia que Deus não se importa a com a sua sorte.  Na realidade o texto é um convite à perseverança e a não perder a confiança em Deus, próprio da liturgia ao final não de mais um ano litúrgico. 
3. Paulo também está às voltas com essa história do fim do mundo. Na comunidade de Tessalônica começa a circular um boato sobre a volta imediata de Cristo; Alguns resolvem então parar de trabalhar e esperar ver o fim acontecer. Como cabeça vazia é oficina do diabo, eles começam a gerar problemas na comunidade.
4. É dentro desse quadro que podemos situar e entender as palavras de Paulo. Ele entende que a presença do reino se constrói a partir do compromisso com a vida, independente de quando será o fim.
5. Quando Lucas escreveu o seu evangelho, muitos fatos perturbadores já haviam acontecido e alguns pareciam trazer o selo do fim do mundo e da volta do Filho do homem; Um deles, claramente citado, foi a destruição do templo de Jerusalém. Jesus já havia previsto tal fato. O problema é que o mundo sempre foi marcado por situações de guerras, crises e conflitos; por bem ou por mal, a humanidade foi passando por um processo de purificação e reaprendizado.
6. A preocupação do autor sagrado é chamar a atenção dos seus leitores para que estejam atentos e vigilantes para acolher a vinda do seu Senhor a qualquer hora. Certas situações comportam um aprendizado. Essa temática serve de gonzo para o fim e o início do novo ano litúrgico sobre o mesmo assunto, a vinda de Cristo na história e no hoje de nossa existência.
7. Ao mesmo tempo Lucas quer chamar a atenção da comunidade com o cuidado que devem ter com os fanáticos de plantão ou falsos profetas, que anunciam a vinda de Cristo ‘a tortos e a direitos’. O receio é o desperdício do precioso tempo em que se pode ocupar-se com a vivência do Reino, na preocupação do quando será o fim desse mundo.
8. Jesus se utiliza da linguagem apocalíptica para dizer que o tempo de espera será marcado ainda por muitos eventos que evidenciarão essas passagens da humanidade de um período a outro. Jesus convida a não adotar um comportamento alarmista. Em meio a todos esses eventos o Reino continua acontecendo, mesmo em meio às dificuldades. Tanto que serão até perseguidos por causa da fé.
9. Não desanimar, é a palavra de ordem, mesmo que tudo pareça o contrário. É Deus que conduz o rumo dessa história. Agindo de acordo com os princípios da fé, eles experimentarão a condução do próprio Deus nas situações difíceis a serem enfrentadas. 
10. A Palavra se volta aos cristãos de todos os tempos, com todas as transições históricas que enfrentamos. Não sabemos como nem quando, apenas seguimos em frente. A celebração de todos os santos no domingo anterior nos atesta o testemunho de homens e mulheres que vieram caminhando ao longo do tempo, respondendo de forma singular a cada tempo. Também nós somos convidados a seguir adiante, confiando em Deus, reconhecendo e respondendo com a vida aos seus apelos em nossa história.   



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de novembro de 2016

(3Jo 5-8; Sl 111[112]; Lc 18,1-8) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Na sua terceira carta, João segue um estilo parecido com o de Paulo na sua carta a Filêmon. Aqui o autor elogia a Gaio no modo como acolhe e dá assistência aos missionários de passagem. Lembrando aos demais que tal acolhimento é uma colaboração com a expansão do evangelho. Prosseguindo a leitura do texto descobriremos que numa comunidade tal acolhimento foi impedido pelo seu responsável. Isso nos dá uma visão da problemática da diferença entre as comunidades e do posicionamento de seus coordenadores.

Retomando o tema da oração, Lucas nos apresenta a parábola da viúva e do juiz iníquo, que meditamos num domingo próximo passado. Se ligarmos ao capítulo anterior, sobre a vinda do Filho do Homem, talvez tenhamos aqui um retrato da oração na situação de angústia. A viúva pode ser um retrato da comunidade cristã ameaçada, que se dirige sem resultado à autoridade estatal. Sabemos da situação da viúva sem filhos na sociedade judaica. “O ouvinte talvez sorria porque este poderoso juiz tem medo da viúva fraca, de ela lhe machucar o olho. Mas é exatamente com esse monólogo do juiz que Lucas convence o leitor a confiar no aparentemente tão fraco recurso da oração, que tem mais poder do que todos os aparentemente poderosos” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano– Loyola). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de novembro de 2016

(2Jo 1,4-9; Sl 118[119]; Lc 17,26-37) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Depois de ter escrito o seu evangelho, João também escreveu três cartas. Hoje temos um trecho da segunda, a mais breve. A senhora a quem se dirige é a comunidade cristã a quem expressa sua alegria na vivência de alguns conforme o querer divino. Aproveita para recordar o mandamento central deixado por Jesus e o cuidado que devem ter com aqueles que não creem no Cristo. Certamente esse cuidado permanece dentro da comunidade que corre o risco de se deixar seduzir por uma proposta menos desafiante que a de Jesus.

Jesus prossegue com a sua catequese sobre o retorno final e o faz a partir de duas imagens do Antigo Testamento, os dias de Noé antes do dilúvio e saída de Ló e sua esposa de Sodoma, aqui sinônimos de imprevisibilidade e destruição. A tônica é a ocupação com as coisas da vida, sem a devida vigilância aos sinais dos tempos. O final é um tanto enigmático, de não fácil interpretação. As preocupações diárias não devem nos tirar essa atenção devida a Deus e aos apelos de conversão que nos faz; talvez isso faça uma diferença entre o ser deixado e o ser levado.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de novembro de 2016

(Fm 7-20; Sl 145[146]; Lc 17,20-25)
32ª Semana do Tempo Comum.

Na distribuição dos livros bíblicos, a carta a Filêmon, ‘colaborador’ de Paulo, é a última carta paulina, de caráter pastoral e escrito na prisão. Parte desse texto de hoje já esteve no comentário dominical desse ano C (Lucas) de nossa liturgia (23º Domingo do Tempo Comum).  É uma espécie de bilhete que acompanha um pedido: o acolhimento do escravo Onésimo que Paulo batizou na prisão e que lhe foi muito útil nesse período. Para Paulo, a fé e a vivência cristã transformam as relações dentro da comunidade, independente da categoria social a que se pertença.

Nessa caminhada para o final de mais um ano litúrgico, nada mais adequando que uma catequese de Jesus sobre a consolidação do seu Reino. Com um tom apocalíptico, Lucas ensina que a presença do Reino já se dá no próprio Jesus, nos seus atos salvíficos e na sua Palavra libertadora.  O seu retorno será como algo inesperado, mas que atingirá a todos. Tudo isso só depois de sua entrega na cruz. Por trás de tudo isso está a espera de seu retorno pela comunidade primitiva. A dificuldade que tem a comunidade de compreender o mistério de Jesus é o mesmo que nos alcança na contemplação do tempo que passa e nas questões que nosso próprio coração coloca sobre o seu retorno.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 09 de novembro de 2016

(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 
Dedicação da Basílica do Latrão.

Já comentamos no ano anterior (ver aqui) o sentido dessa festa e seus textos litúrgicos. Gostaria de apresentar hoje um trecho da homilia de João Paulo II por ocasião dessa celebração: “Permiti, caros irmãos e irmãs, que no dia em que a Igreja celebra mais um aniversário da consagração da basílica de Latrão, eu exprima, junto convosco, a mais profunda veneração a nosso Deus e Senhor, que habita neste venerável templo. Deus está no interior da sua Igreja! Quando o templo foi erguido neste local – e isso aconteceu pela primeira vez ao tempo do imperador Constantino -, foi dedicado só a Deus. De fato, constroem-se as igrejas para dedicá-las a Deus, para dar só a ele, como sua propriedade particular e sua morada em nosso meio, que somos seu povo. E de nossos antepassados na fé recebemos a certeza da verdade revelada, segundo a qual Deus quer habitar no meio de nós. Quer ficar conosco. Outro, por ventura, seria o testemunho dado pela história dos patriarcas de Moisés? Que outro exemplo dá sobretudo Cristo, Senhor e Salvador nosso, que de modo particular é, desde o princípio, padroeiro da igreja de Latrão...? Assim, pois, no dia em que celebramos, mais uma vez, a memória da consagração da basílica de Latrão, que é a mãe de todas as igrejas, desejamos exprimir a máxima veneração a essa ‘tenda de Deus com os homens’ (Ap 21,3), professando que esta representa o próprio Cristo crucificado e ressurrecto. Cristo, nossa Páscoa,: uma vez que, por ele, nele e com ele, temos acesso ao Pai no Espírito Santo; por ele, nele e com ele, o próprio Deus, no inescrutável mistério de sua vida trinitária, aproxima-se de nós para estar conosco, para habitar no meio de nós” (citado por Mario Sgarbosa – Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 08 de novembro de 2016

(Tt 2,1-8.11-14; Sl 36[37]; Lc 17,7-10) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Agora Paulo se volta para a família lembrando-lhes algumas atitudes significativas que estão em comunhão com o querer divino manifestado em Sua Palavra. Tem presente algumas normas do seu tempo, mas também da cultura grega. O final do trecho nos dá a motivação para a vivência do que nos propõe o apóstolo.

Jesus conclui o seu ensinamento com uma parábola que pode soar um pouco desconcertante, pois trata da nossa relação com Deus no que diz respeito a expectativa de uma recompensa pelo nosso agir. Jesus não está negando o valor do que fazemos, mas gostaria que o nosso agir fosse feito no âmbito da gratuidade e do amor com que atendemos ao apelo divino. Não somos certamente inúteis, mesmo Deus podendo agir para além de nós, quis precisar de nossa colaboração. Consideremos uma honra poder servir a quem basta a si mesmo, pois é assim que descobrimos o sentido de nossa existência.     


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 07 de novembro de 2016

(Tt 1,1-9, Sl 23[24]; Lc 17,1-6) 
32ª Semana do Tempo Comum.

Iniciamos a leitura de mais uma das chamadas cartas pastorais de Paulo. Tito foi um colaborador de Paulo na missão. Acompanharemos dois trechos da mesma. Hoje ele diz a quem escreve, saúda e dá instruções sobre os presbíteros, ainda sem a norma celibatária, pois se trata de uma Igreja ainda em desenvolvimento, que se estende também aos bispos.

Jesus, em seu caminho para Jerusalém, oferece algumas instruções aos seus discípulos. Reflete sobre a gravidade do escândalo, aquilo que atrapalha o caminho de fé do outro, mesmo sendo inevitável que este aconteça, a imagem do afogamento faz pesar as consequências do mesmo. Lembra-lhes a necessidade de perdoar sempre, pois sem perdão nega-se a possibilidade de avançar no caminho da convivência fraterna. Os discípulos pedem que lhes aumente a fé. Seria por medo de cometerem algum escândalo ou por achar que perdoar assim como lhes pede soa impossível? Talvez seja simplesmente a necessidade de uma fé sempre maior para abraçar o que lhes é proposto. Ainda que seja pequena, ela é capaz de operar milagres. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Missa de Todos os Santos

(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23[24]; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12a).

1. A celebração de finados, poucos dias atrás, tem uma forte relação com a celebração de todos os santos. As duas estão ligadas pela fé no destino eterno do ser humano, redimido por Cristo. Os santos nos lembram a meta alcançada, onde não mais precisam da fé e da esperança, porque tudo se resume na vivência concreta do amor, lembra Paulo em sua carta aos Coríntios.
2. Os textos bíblicos também conservam uma relação. O texto do Apocalipse de João, traduz em um número simbólico, o novo povo de Deus nascido da pregação do Evangelho. Este número se transforma numa multidão imensa, também vencedores das dificuldades da vida, que se colocam em adoração diante de Deus e do Cordeiro.
3. Acreditamos que todos aqueles que partiram dessa vida em circunstâncias diversas, conservando a sua fé, não só adoram a Deus, mas pedem por nós que peregrinamos. Vivemos acompanhados dessa intercessão.
4. Tudo isso ganha maior significado pelo fato de saber-nos filhos de Deus, assim somos destinados a estar na sua presença. Em suas palavras, João expressa o assombro por tal realidade, pois a relação que existe em Deus Pai e Jesus, se derrama sobre nós. Esta felicidade já é experimentada pelos santos e santas. Essa tomada de consciência exige uma purificação contínua para que a nossa condição filial se concretize.
5. Mateus vê em Jesus um novo Moisés, mas diferentemente, Jesus sobe a montanha não para receber, mas para dar a lei que traz dentro de si. As bem–aventuranças são as notas iniciais de uma sinfonia que Ele desenvolve nesse capítulo do evangelho, chamado de sermão da montanha. A felicidade é atribuída como uma atitude pessoal.
6. Aos pobres e aos perseguidos, é assegurado o Reino e uma série de outras atitudes lhes confere uma identificação com o projeto divino ou com o próprio ser cristão. Esse texto nos fascina e ao mesmo tempo nos angustia por aquilo que sugere. Por outro lado, sabemos que é o próprio Jesus que se projeta nessas palavras em sua vivência.
7. Meditar sobre elas e praticar o que nos propõe é o caminho de santidade que a liturgia quer nos indicar. Num ou noutro santo conseguimos identificar a vivência de uma ou outra bem-aventurança. Por isso, se nos angustia o fato de vivê-las em sua plenitude, os santos e santas nos oferecem um modelo e a intercessão necessária para encontrarmos nosso próprio caminho de santidade, como eles a encontraram nas atividades do dia a dia. Pelo exemplo que lhes foi deixado por alguém, por uma palavra escutada e levada a sério em suas vidas foi se transformando pouco a pouco em vida e felicidade. E no mais, Aquele que as proclamou pode dar a graça necessária para vivê-las. Amém.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 05 de novembro de 2016

(Fl 4,10-19; Sl 111[112]; Lc 16,9-15) 
31ª Semana do Tempo Comum.

Ao finalizar a sua missiva, mais uma vez Paulo expressa o seu apreço pelos filipenses. Testemunha sua capacidade de viver de acordo com o momento presente, pois a vida tem seus altos e baixos. A razão de tudo isso está em Deus que o sustenta em todas as adversidades, e Deus se manifestou também através deles que assistiu a Paulo em suas necessidades. Pensemos em quantas vezes a bondade divina se manifestou através de alguém próximo a nós ou não tão próximo assim.

As palavras de Jesus soam como um comentário a parábola anterior e amplia um pouco mais o pensamento de Jesus a respeito do uso do dinheiro, dos bens e de sua utilização, um tema bastante presente em Lucas. Há sempre o risco que estes ganhem um espaço cada vez maior no coração, que se torne a dimensão fundamental da vida de um indivíduo, cegando-o e tornando-o insensível às reais necessidades da vida dele e dos outros. Dá uma cutucada nos fariseus e lhes censura o viver de aparências.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 04 de novembro de 2016

(Fl 3,17—4,1; Sl 121[122]; Lc 16,1-8)
31ª Semana do Tempo Comum.

Com palavras carregadas de sentimentos, Paulo exorta seus leitores a imitá-lo, pois ele mesmo se mantem no esforço de imitar a Cristo. Numa sociedade ainda não cristianizada, certamente não era fácil manter-se fiel a determinados propósitos. Paulo apela para o que virá. Para a ressurreição que experimentará todo aquele que permaneceu fiel e não permitiu que sua existência mergulhasse num viver sem sentido, como se tudo terminasse por aqui.

Ouvimos a poucos domingos esse evangelho do administrador que descoberto em seus negócios escusos, resolve usar uma estratégia para ser acolhido por outras pessoas quando for demitido.  Abrindo mão do que lhe cabia, ele se arriscava na conquista de algo melhor. Não é, certamente, um elogio a esperteza, mas um elogio a percepção do que é importante na vida e do que seriamos capazes de colocar em risco para conquistá-lo. Os filhos da luz devem ser espertos na conquista da salvação que esperam, de abrir mão de certas coisas para conquistar algo melhor, quem sabe, um estilo de vida mais de acordo com a Palavra? Dizem que a salvação é também uma conquista, mesmo sendo dom de Deus, pois fazemos por ‘merecê-la’. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 03 de novembro de 2016

(Fl 3,3-8; Sl 104[105]; Lc 15,1-10)
31ª Semana do Tempo Comum.

Paulo toca no assunto da circuncisão, marca carregada pelos judeus como sinal de pertença ao povo escolhido. Que adianta trazer uma marca externa se ao interno meu coração não é voltado para Deus? Quando Paulo fala de confiar na carne faz referência a observância da lei judaica. Se esses elementos externos significam algo, ele então é o judeu por excelência. Mas de tudo ele abriu mão, tudo é perda, em relação a descoberta que ele fez de Cristo Jesus. Essa força de significado que Paulo encontra em Jesus seja também a nossa grata compreensão da fé que carregamos.

A convivência com os pecadores fez brotar do coração de Jesus as chamadas parábolas da misericórdia. Certamente ele já se dera conta da fragilidade do caminho dos mesmos, mas do desejo de serem encontrados. Jesus lhes transmite a alegria de Deus quando eles se deixam encontrar, esse amor invencível de Deus nos busca, afirma Jesus em suas exageradas comparações. “A alegria nasce da experiência de nos sentirmos continuamente acolhidos pelo Senhor, mesmo nas deficiências que cotidianamente experimentamos. A alegria, além disso, torna-se motivação imprescindível para uma atuação eclesial, por vezes acolhedora das pessoas que vivem no erro, sejam elas membros ou não da comunidade. Antes ainda, torna-se motivação para o acolhimento dos irmãos que vivem sua fé de uma forma diferente da nossa, renunciando a juízos e avaliações” (Giuseppe Casarin, Lecionário comentado, Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Dia de Finados – 2016

(Sb 3,1-9; Sl 41[42]; Mt 5,1-12a)

1. A celebração em memória dos fiéis defuntos traz sempre à tona a pergunta angustiante que gira em torno do além. Esta pequena palavra nos persegue. Passando a figura deste mundo, quer na sua totalidade universal, quer na experiência de cada um de nós, que acontece?
2. As nossas curiosidades sobre o além escapam das ciências. Desdobram-se de suas margens estreitas. Recorre-se facilmente ao mundo das revelações, do mito, do contato mediúnico, conhecimentos esotéricos, quiromancias etc.
3. A Igreja nos convida nesse dia a parar e reavivar em nós a palavra serena, carregada de esperança, verdade e beleza, do cristianismo sobre as últimas e definitivas realidades.
4. Os judeus já traziam em sua fé a crença na ressurreição que vai evoluindo no pensamento bíblico. Esse texto do livro da Sabedoria contrapõe a visão do não crente àquele que crê. Assim, aquele que busca viver na presença de Deus, nas circunstâncias da vida, é provado, ainda que para os outros pareça uma desgraça.
5. A morte não é o último acontecimento da vida, mas abre um entreato para a nova e definitiva situação. O que o autor apresenta como uma continuidade profundamente enriquecida. Tudo isso é resultado de uma profunda confiança em Deus e numa relação de mútuo amor, expressa o autor ao final do seu texto.
6. Para além de um simples processo de ir morrendo lentamente, a vida é mais rica e complexa. E por isso mesmo, a morte é assustadora e enigmática. Reclama imagem poética, simbólica e religiosa. Uma linguagem que vele pelo seu mistério. Mistério inesgotável da vida.
7. Assim o salmista usa uma imagem de inigualável beleza ao descrever sua saudade de Deus. Para o homem que tem tais sentimentos ao falar do seu relacionamento com Deus, a fé é função vital mais elementar. Deus é realmente o Deus da vida.
8. Esta humanidade restaurada, a partir da visão de João, não sem que uma luta se dê, se apresenta como um matrimônio e ao final como uma herança feita por merecer. A liturgia faz nesse texto uma combinação entre aquilo que todo judeu esperava de Deus como consequência de viver a justiça divina, combinando a imagem de matrimônio entre Cristo e a humanidade, como resposta a essa sede que todos nós carregamos de plenitude que somente Deus pode oferecer.
9. Assim, o último texto que nos é oferecido no evangelho nos fala das bem-aventuranças. Jesus apresenta uma felicidade em andar nessa vida, mesmo em meio as contradições. Pois Deus não abandona aqueles que sofrem ou são perseguidos, mas solidariza-se com eles, até o extremo do seu amor misericordioso.
10. Assim, pela fé, podemos compreender que com Cristo, Deus não está longe de nós, e que o humano não se opõe ou é inferior ao divino. Que por Cristo, toda luta e entrega, por amor, ganha seu sentido e solidariedade na cruz. E que em Cristo todos somos resgatados da morte, de todo tipo de morte. Assim como Deus assumiu a paixão do mundo na paixão de Cristo, em sua ressurreição temos a pré-figuração da promessa de nossa ressurreição e da ressurreição do mundo: “Eis que faço nova todas as coisas”.
Um verso de Adélia Prado para fechar nossa reflexão: “É difícil morrer com vida, é difícil entender a vida, não amar a vida, impossível. Infinita vida que para continuar desparece e toma outra forma e rebrota, árvore podada se abrindo, a raiz mergulhada em Deus”.  


Pe. João Bosco Vieira Leite