Segunda, 31 de outubro de 2016

(Fl 2,1-4; Sl 130[131]; Lc 14,12-14) 
31ª Semana do Tempo Comum.

O modo como os Filipenses vivem a sua fé é o motivo da grande alegria de Paulo, que em seu texto exorta para que se mantenham nessa unidade que nasce de um sentimento interno de não vaidade ou busca de aparecer ou superar o outro. Ao contrário, o interior deve harmonizar-se com o exterior pela prática da caridade.

A caridade que o próprio Jesus não quer que percamos de vista por uma busca dos mais necessitados. Certamente é um prazer estar com aqueles que amamos ou apreciamos na convivência diária e com eles partilhar momentos de alegria, o próprio Jesus o fazia com os seus. Jesus está pedindo que momentos assim não sejam movidos pelo interesse, mas pela gratuidade do coração. A solidariedade para com os sofredores vem aqui carregada de uma promessa: a vida plena de comunhão com Deus. Acolhamos essa palavra e tenhamos a coragem de rever os nossos sentimentos com relação aos fatos que fazem parte do nosso dia a dia.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

31º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Sb 11,22—12,2; Sl 144[145]; 2Ts 1,11—2,2; Lc 19,1-10)

1. De modo quase poético se introduz a nossa liturgia da Palavra com esse texto do livro da Sabedoria. Um olhar sobre a criação e sobre o amor e o querer de Deus em tudo que fez. Um olhar que não coincide com o nosso, que respeita a liberdade humana e nos faz conviver com pessoas e situações que julgamos: o mundo seria melhor sem elas.

2. É próprio do coração de Deus amar tudo e a todos. Ainda que às vezes tenha que corrigir o ser humano, o faz por desejo de que acerte o caminho. Assim o texto nos prepara para a incompreensível atitude de Jesus, de entrar na casa de Zaqueu, o cobrador de impostos e dar atenção e esse homem “baixo”, em todos os sentidos. 

3. Antes de chegarmos ao evangelho propriamente dito, a liturgia nos introduz na 2ª carta de Paulo aos Tessalonicenses.   Sempre, ao final de cada ano litúrgico, alguns textos nos conduzem a uma reflexão sobre os fins dos tempos, que para os cristãos coincide com a volta de Cristo.

4. A preocupação de Paulo é com algumas cartas que circulam na comunidade como se fosse dele. É um chamado do apóstolo a prestarem atenção e se manterem atentos ao que ele ensinou, evitando certos fanatismos. Não olhem tanto o fim, mas o presente, onde a nossa relação com Deus se define a partir de nosso compromisso pessoal com Deus e com as causas do Reino.

5. Como dizíamos ao início, o olhar de Deus não coincide com o nosso. Assim, Jesus foi capaz de avistar esse homem que sobe numa árvore para vê-lo. Mal visto pela comunidade local por ser chefe dos cobradores de impostos, recebe de Jesus a atenção inesperada, como o pastor busca a ovelha perdida.

6. Apesar do exterior de muitas pessoas que vemos e convivemos, há no coração um desejo de salvação ou de ‘se encontrar’ que desconhecemos, apesar do estilo de vida que levam. Jesus busca apenas amá-lo e acolhê-lo a partir de sua realidade. Uma vez sentindo-se acolhido e amado, ele toma decisões em sua vida que muda todo o seu estilo de vida.

7. Nada foi pedido ou exigido por Jesus, apenas lançou sobre ele o seu olhar de misericórdia para que se convencesse, que apesar da vida que levava, era também um filho de Deus. Quem sabe, com essa narrativa, Lucas queira nos convidar a ‘desarmar’ o nosso olhar sempre voltado para os defeitos, sem perceber o bem que ali pode habitar, não tão evidente aos nossos olhos.  

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 29 de outubro de 2016

(Fl 1,18-26; Sl 41[42]; Lc 14,1.7-11) 
30ª Semana do Tempo Comum.

Iniciaríamos ontem a leitura da carta de Paulo ao Filipenses, mas tivemos a festa dos apóstolos e então já emendamos no segundo texto. Segundo os estudiosos, esta carta foi escrita num dos cárceres sofrido por Paulo a uma comunidade que havia evangelizado e com a qual tinha ótimas relações, na obediência e até no sustento econômico do apóstolo, como veremos depois. Sua carta é marcada pelo agradecimento e para informar suas condições. É considera a carta da ‘alegria’ pela constância dessa palavra na mesma, que não deriva dos sucessos pessoais, mas da alegria de sua comunhão com Cristo, que como vemos hoje, chega a desejar partir dessa vida para estar com Ele. Mas se sua presença é ainda necessária pela causa do Reino, ele permanecerá com a mesma alegria e disposição.  É belo esse testemunho do apóstolo.

Mais uma vez à mesa na casa de um fariseu, Jesus aproveita para chamar atenção sobre o Reino a partir de um fato banal, que é a busca pelos primeiros lugares. No Reino a lógica é outra. Não é necessário conquistar lugares diante de Deus, mas responder generosamente ao seu chamado, para entrar em comunhão com Ele.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 28 de outubro de 2016

(Ef 2,19-22; Sl 18[19A]; Lc 6,12-19) 
Santos Simão e Judas Tadeu, apóstolos.

Mesmo tendo encerrado a nossa leitura da carta aos Efésios, a festa dos apóstolos nos traz um trecho da mesma como primeira leitura nos atestando, pelo batismo, fazer parte desse edifício que é a Igreja cuja pedra principal é Cristo e nos demais fundamentos se encontram os apóstolos e os profetas, para nos dizer de como a nossa fé está associada e sustentada por tantos que testemunharam a fé em Jesus, como Simão e Judas. O evangelho é o da escolha dos doze e da partilha com eles da missão de Jesus.

“Simão, o mais desconhecido dos 12 apóstolos – a respeito do qual o Evangelho se limita a indicar o nome e a alcunha de ‘Zelota’ -, teve o mérito de trabalhar pela propagação da mensagem evangélica, não em vista de um lugar de honra, mas para o triunfo do Reino de Deus sobre a terra. [...] O apóstolo Judas (‘não o Iscariotes’, apressa-se em precisar o evangelista João) é considerado pelos galileus ‘irmão’ (isto é, primo) de Jesus. Eles se perguntam, espantados com o grande barulho que se fazia em torno da figura do Nazareno: ‘Não é este o carpinteiro... irmão de Tiago [...] Judas?’. [...] Ele é ainda identificado com o autor da carta canônica que leva seu nome, um breve escrito de 25 versículos, no qual lança uma severa advertência contra os falsos doutores e convida à perseverança na fé genuína” (Mario Sgarbosa – Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 27 de outubro de 2016

(Ef 6,10-20; Sl 143[144]; Lc 13,31-35) 
30ª Semana do Tempo Comum.

Paulo encerra sua carta pedindo aos cristãos que se revistam da armadura de Deus para enfrentar as tentações do caminho. Os elementos que compunham a vestimenta do soldado, o apóstolo atribui uma virtude necessária. O homem de fé é uma espécie de guerreiro que tem na oração a base de todo o seu empenho por viver e testemunhar a sua fé em Cristo. Vale a pena voltar-se sobre o texto e precisar os itens apontados pelo apóstolo.

À aparente preocupação dos fariseus com Jesus sobre Herodes, provoca um posicionamento de Jesus com relação ao mesmo e revela a sua paixão misturada ao afeto que nutre por Jerusalém, símbolo de um povo que não soube reconhecer a visita de Deus.

Essa insistência de Jesus em preparar os discípulos para o que virá nos coloca sempre atentos ao mistério da cruz, numa insistente necessidade de acolher a dimensão do sofrimento da cruz de Cristo, que tanto nos custa aceitar e compreender.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 26 de outubro de 2016

(Ef 6,1-9; Sl 144[145]; Lc 13,22-30) 
30ª Semana do Tempo Comum.

Paulo prossegue com sua exortação familiar, desta vez pontuando a relação pais e filhos, e a dos escravos e senhores. Paulo respeita a cultura e tradição já estabelecida, mas por outro lado, essa mesma cultura deve ser impregnada por uma outra compreensão das relações que brota da fé. Penso que o evangelho tem essa força de se inculturar e ao mesmo tempo de inserir nova dinâmica ao já vivido, trazendo luz e compreensão a partir da ótica do evangelho que sempre exige mudanças.

A curiosidade despertada em alguém sobre o número dos que se salvam e que tem levado alguns irmãos de outras denominações a fazerem cálculos e coisas parecidas, culmina num chamado a responsabilidade pessoal por parte de Jesus. A conversão, a o esforço e a busca é interpretada a partir da porta estreita. A salvação está para todos, não para um grupo específico. Ela está também para o hoje de nossa existência, pois a vinda inesperada do Senhor (quando a porta se fechar), já será um pouco tarde. Assim o texto deixa para nós uma pergunta: Qual é o lugar que concedemos a Deus na nossa vida?


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 25 de outubro de 2016

(Ef 5,21-33; Sl 127[128]; Lc 13,18-21) 
Santo Antônio Galvão.

Paulo lança o seu olhar para as famílias cristãs da época em seu núcleo constitutivo: esposos, filhos e escravos. O nosso texto se volta para o casal, citando o fundamento bíblico, mas com fortes nuances de um ambiente e de um tempo que não mais existe. O referencial da relação buscado por Paulo tem Cristo e a Igreja como modelo de entrega mútua. O casal cristão buscará em Cristo a força e graça necessária para viver sua união.

O evangelho proclamado por Jesus tem um começo humilde e quase insignificante, conforme as parábolas contadas por ele. Assim, ele quer tirar do coração dos seus ouvintes certa apreensão por viverem já numa religião solidificada pela tradição e abraçar essa novidade do Reino anunciado por Jesus que parece não ter muita expressão e aceitação. Há um desafio da fé no próprio Jesus e a esperança de que no fim esse reino se consolidará.    


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 24 de outubro de 2016

(Ef 4,32—5,8; Sl 01; Lc 13,10-17) 
30ª Semana do Tempo Comum.

“Vivei como filhos da luz”. Cristo é a luz do mundo, nos lembra Paulo: “Vivei no amor de Cristo, como Cristo nos amou e se entregou a si mesmo...”. O apóstolo coloca de maneira concreta o que possibilita a uma comunidade de fé, testemunhar a pessoa de Jesus: um comportamento digno daqueles que abraçaram a fé, vivendo a fraternidade e corrigindo desvios morais de acordo com a moral cristã. Esse é o verdadeiro sacrifício de suave odor que oferecemos a Deus.

Jesus cura uma outra mulher que a muito sofria com sua enfermidade e o faz, em dia de sábado, gerando uma discussão e possibilitando ver a hipocrisia de quem se preocupa com os animais, mas descuida do ser humano. “A expressão ‘espírito que a tornava enferma, significa com certeza que a doença não era puramente corporal, já que era expressão de uma atitude psíquica fundamental. A enfermidade corporal mostra que tipo de espírito domina essa mulher. O que a torna pequena, curvada e bloqueada é um espírito. A mulher anda curvada porque o peso da vida a oprime, e ela, resignada, anda cabisbaixa, triste e depressiva. Quem anda assim, curvado, torna-se depressivo mesmo – a respiração fica fraquinha, o rosto perde a beleza original. O dorso curvado poderia indicar também sentimentos não admitidos. Muita gente carrega nas costas toda uma mochila carregada de sentimentos sufocados. Abusam de suas próprias costas como um monturo de emoções reprimidas. Preferem ter dores lombares a entrar em contato com os próprios sentimentos” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).  


Pe. João Bosco Vieira Leite

30º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Eclo 35,15b-17.20-22a; 2Tm 4,6-8.16-18; Lc 18,9-14)

1. “Deus é justo”, é uma expressão do mundo bíblico que não se aplica ao senso de justiça que reina em nosso mundo, cheio de contradições e interesses. O nosso texto da primeira leitura omite os versículos anteriores em que o autor sagrado deixa claro que Deus não se deixa comprar ou corromper com presentes e sacrifícios...
2. Agrade-nos ou não, a justiça de Deus se volta para o pobre, o pequenino, o humilde. Certas posições elevadas a que os homens se atribuem lhe diz muito pouco. O coração de Deus se deixa levar pelas necessidades humanas, que lhe chegam em preces e lamentos. A liturgia da Palavra quer nos levar ao coração de Deus e nos convida a imitá-lo em sua atenção aos sofrimentos humanos.   
3. Encerramos a leitura da carta de Paulo a Timóteo com esse seu texto de despedida. Depois de ter exortado Timóteo a manter-se firme, ele testemunha o que foi a sua vida de evangelizador. Compara-a a vida de um atleta que vislumbra o fim da corrida e receberá a coroa da vitória. Reconhece que não foi fácil, mas o Senhor esteve com ele nesse trajeto. Seu testemunho de vida é tão forte quanto suas palavras.
4. A 1ª Leitura nos situou no campo da justiça divina. Com estes óculos podemos ler a parábola que Lucas nos apresenta. O fariseu da parábola não é um sujeito ruim. Ao contrário, cumpre bem todos os deveres que a religião lhe pede. Mas se apresenta cheio de si, como se Deus devesse reconhecer seus méritos.
5. O publicano não é flor que se cheire, diante das nuances obscuras e injustas de sua profissão, por isso sabe não ter nada de bom para apresentar a Deus a não ser a consciência de seus pecados. Entre um que se apresenta cheio de si e o outro que se esvazia de si, realmente, só um poderia sair justificado, pois colocou-se em atitude de abertura e pobreza.
6. O texto nos lembrar que diante de Deus deveríamos sempre nos apresentar numa atitude humilde e despojada, sem contar vantagens. A prática da fé, a prática do bem deve ser algo que dá sentido à nossa vida e não uma tentativa de angariar méritos diante de Deus.  
7. Nossa sociedade é marcada pelos grupos sociais, que se distinguem por várias razões. Na religião corremos o risco de nos distinguirmos entre justos e pecadores. Não corramos o risco de acharmos que somos melhores que os outros, podemos ser humilhados pela inevitável escolha de Deus pelos pobres e pecadores. Diante d’Ele somos todos necessitados do seu amor, da sua acolhida misericordiosa. É preciso esvaziar-se para permitir que Deus nos preencha com o que Ele julgar necessário.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 22 de outubro de 2016

(Ef 4,7-16; Sl 121[122]; Lc 13,1-9)
29ª Semana do Tempo Comum.

Dentro dessa unidade da Igreja, cada um tem o seu papel para o bem do corpo eclesial. Pois a diversidade dos membros (dons diversos) favorece a unidade e a funcionalidade do corpo eclesial. Paulo também deixa clara a dependência de todos os membros da cabeça desse corpo que é Cristo.  Certamente não se desconsidera as possíveis falhas humanas, mas em Cristo tudo se renova e se restaura para o bem do corpo, pois dele vem a nossa força de construir e constituir esse corpo.

Trazem a Jesus notícias das últimas ações violentas de Pilatos para conter os motins ante Roma. Ele aproveita o ensejo para conduzir a uma reflexão que separa desgraça de pecado e reafirmar a necessidade de conversão. Para melhor clarificar seu pensamento, ele conta uma parábola. É necessário dar um rumo novo à própria vida, orientando-a para Deus e rompendo com o pecado. Isso é possível, quando permitimos que a vida de Deus atue em nós. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 21 de outubro de 2016

(Ef 4,1-6; Sl 23[24]; Lc 12,54-59) 
29ª Semana do Tempo Comum.

Paulo inicia, nesse capítulo, uma longa exortação aos seus leitores tendo como base a unidade da Igreja (o adjetivo numeral ‘um’ aparece por sete vezes). A humildade e a aceitação do outro formam a base dessa unidade desejada: “A Igreja é um conjunto de pessoas que não podem contar com a sua posição independente, mas que se sentem interpeladas para se encontrarem reciprocamente por causa de Cristo, razão que ultrapassa a diversidade do modo como viver a fé. E então, a tarefa de manter ou de remendar a unidade da Igreja está confiada também ao esforço responsável de cada batizado” (Giuseppe Casarin, Lecionário Comentado, Paulus).

Jesus parece voltar-se para a multidão que o segue e dirige esse breve discurso centrado em dois temas: o reconhecimento dos sinais dos tempos e a reconciliação com os adversários. Jesus indaga àqueles que sabem interpretar as mudanças climáticas, como não são capazes de perceber a chegada de um tempo novo com o próprio Jesus? Esse reconhecimento de Jesus e de sua palavra mexe com as nossas relações interpessoais: crer que em Jesus, Deus vem até nós (nos ama e nos acolhe), não há melhor expressão de gratidão se não a de mudar nossas relações. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 20 de outubro de 2016

(Ef 3,14-21; Sl 32[33]; Lc 12,49-53) 
29ª Semana do Tempo Comum.

Depois de expor coisas tão importantes sobre a fé em Cristo, Paulo eleva uma oração de intercessão e de louvor a Deus, autor da salvação da humanidade, por pura graça e misericórdia. A oração em Paulo, e a nossa, deve expressar essa comunhão com Deus, que não é um Deus distante, mas que habita em nós por seu Espírito.

Lucas insere esse texto em seu evangelho sem demonstrar uma certa ligação com o que precede. Ele fala de sua missão (o fogo, imagem do juízo divino) e ao mesmo tempo de sua morte (o batismo) e emenda com um esclarecimento de que todos que aderem à sua Palavra correrão o risco de experimentarem rupturas dentro da própria família. Diante de Jesus somos chamados a uma decisão, pois mesmo sendo pessoas de paz, podemos ser incompreendidos e hostilizados, mesmo pelos familiares. Que o Senhor sustente a nossa decisão por Ele.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 19 de outubro de 2016

(Ef 3,2-12; Sl Is 12; Lc 12,39-48)
29ª Semana do Tempo Comum.

“Ao ler-me, podeis conhecer a percepção que eu tenho do mistério de Cristo”, diz Paulo no texto de hoje e a sua percepção é a base da teologia católica no que diz respeito ao próprio Jesus e aos elementos morais. Paulo liga essas duas pontas da história: o passado e o presente na revelação do mistério de Cristo que está para além da própria compreensão judaica do mistério salvífico. O apóstolo se sente agraciado de poder intuir e revelar esse mistério escondido: “Em Cristo nós temos, pela fé nele, a liberdade de nos aproximarmos de Deus com toda a confiança”. Amém.

Retorna o tema da vigilância por essa imagem de Lucas, a partir de duas parábolas: O ladrão que não avisa (para todos) e o patrão que chega de repente (para os discípulos e dirigentes). Já abordamos esse texto no contexto da nossa liturgia dominical esse ano. Lembremo-nos de não nos determos nos pormenores da mesma. “É salutar escutar as palavras do Evangelho sobre a vinda escatológica do Senhor. Elas, de fato, são um forte antídoto a uma vida (ou uma religiosidade) escondida no presente, satisfeita com as próprias aquisições e realizações, incapaz de reconhecer o excedente da obra de Deus a respeito das nossas atividades quotidianas, igualmente importantes. Ao mesmo tempo deve ser considerada absolutamente alheia ao Evangelho uma religiosidade impregnada, de especulações insensatas sobre o futuro, alimentada por pseudo-visões centralizadas sobre o conhecimento de pormenores que dizem respeito ao que há de vir” (Giuseppe Casarin,Lecionário Comentado, Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 18 de outubro de 2016

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) 
São Lucas, evangelista.

Hoje celebramos o evangelista que está nos acompanhando nas missas dominicais, nos oferecendo suas intuições sobre Jesus e tudo que ele aprendeu dos apóstolos. A primeira leitura nos atesta a presença de Lucas junto aos apóstolos, particularmente no ministério de Paulo. O evangelho o coloca na ótica dos outros setenta e dois discípulos enviados por Jesus, à sua frente, nos lugares por onde ele haveria de passar. Não tanto a sua presença física, mas seu Espírito que viajava no coração dos que nele acreditaram e expandiram a sua voz. Tal texto não é uma afirmação de que Lucas estivesse nesse meio concretamente.

Sua particular destreza na composição do evangelho tem suscitado constante curiosidade sobre sua formação e sua fé em Jesus. Lucas é de origem grega, um homem culto, versado na filosofia e na literatura e também conhecedor da tradição judaica. Por traz de sua narrativa está o desejo de fazer chegar aos seus irmãos de origem grega a boa nova de Jesus. Como pintor, ele consegue apresentar Jesus de forma atraente, para que o Espírito de Jesus desperte o coração dos seus leitores para essa nova vida que Jesus nos propõe. Lucas concebeu os seus escritos em dois volumes: o primeiro sobre os acontecimentos em torno de Jesus (O evangelho) e o segundo como história da jovem Igreja (Atos dos Apóstolos). Ele dá ao seu texto uma continuidade com os fatos que já foram narrados, mas ao mesmo tempo imprime um diferencial pelas narrativas que insere e o modo como as faz. “Segundo a Tradição, Lucas foi médico. Muitos exegetas insistem: a linguagem de Lucas sugere que ele se formou em medicina. Ora, se ele foi realmente um médico ou não, o importante é o que está por trás dessa imagem de Lucas elaborada pela Tradição, pois Lucas foi evidentemente um homem que se empenhava pela cura do ser humano. Seu Evangelho e Atos mostram claramente que ele não pretendia, antes de mais nada, doutrinar os outros; para ele, o que estava em primeiro lugar era arte de viver uma vida sadia. [...] Para Lucas, Jesus é aquele que leva à sua perfeição nossa verdadeira imagem. Ele não faz questão de descrever o homem constantemente como pecador. O ser humano possui um núcleo divino, do qual, porém, ele se alienou. Por isso Jesus desceu do céu para lembrar novamente ao homem sua dignidade divina. Tal imagem positiva do humano faria bem à nossa pregação cristã hoje. Temos insistido demais em pensar que devemos primeiramente humilhar as pessoas, para que possam receber a graça de Deus. Lucas abre mão desse tipo de método, que em última análise desvaloriza. Ele vê o ser humano como ele é, na sua dignidade, mas também com suas lesões e os seus ferimentos. Assim, ele pinta Jesus como o verdadeiro médico, que cura as nossas feridas e nos ensina a arte da vida saudável. Aleijados e sem poder enxergar além do nosso horizonte estreito, encontramos em Jesus o terapeuta que nos endireita e nos devolve a nossa verdadeira dignidade” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola). Parabéns a todos os médicos por seu dia. Cuidar da vida é um sacerdócio. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 17 de outubro de 2016

(Ef 2,1-10; Sl 99[100]; Lc 12,13-21) 
29ª Semana do Tempo Comum.

Bonito e intuitivo esse trecho da carta de Paulo que traz a nossa liturgia hoje. Paulo provoca nos seus ouvintes aquela recordação de um viver não iluminado pela fé em Jesus Cristo, que ele chama de morte. A misericórdia de Deus se manifestou de um modo particular em Cristo Jesus, porque Sua fidelidade permanece para sempre, ainda que, em certos tempos, Ele nos permita seguir a própria natureza rebelde (A parábola do filho pródigo...). Essa salvação não depende de nossos méritos, é puro dom e graça, para que não calculemos o quanto devemos fazer ou nos sacrificar para merecer a salvação. A questão está no que queremos ser a partir da fé em Jesus Cristo, que nos ensina um caminho de filiação em nossa relação com Deus. Rezemos em tom de gratidão.

Nossa vida se move por interesses, porque precisamos sobreviver, mas essa necessidade pode tornar-se uma atitude gananciosa e destituída de confiança na providência, como se tudo dependesse de nós. A sabedoria da vida nos diz que a nossa existência tem um tempo mais ou menos previsto: para que acumular se não podemos levar mais do que as obras de caridade que tivermos feito? A riqueza, diante de Deus vem de um coração confiante na sua providência e que tenta imitá-lo, preocupando-se com os demais. Jesus não pode realmente resolver essas contendas entre irmãos, não que ele aprove tal injustiça; as leis humanas nos colocam em constantes embaraços, a lei divina (ensinamento), nos leva a ponderar certas coisas e intuir até que ponto certas coisas valem a pena...


Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 (Ex 17,8-13; Sl 120[121]; 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8)

1. O tema da oração é retomado em nossa liturgia sob a perspectiva da perseverança, da necessidade de rezar sempre. Ilustra esse tema essa narrativa do combate de Israel aos amalecitas, um dos povos que ele teve que enfrentar ao longo da travessia pelo deserto e pela conquista da terra prometida.
2. O foco da narrativa é essa intercessão de Moisés que permanece com os braços erguidos em oração; mas a batalha persiste e seu cansaço se faz sentir. Em situações parecidas da vida, experimentamos o cansaço, mas a oração de Moisés era importante, tanto quanto a nossa.
3. São muitas as situações em nós e ao nosso redor que precisa desse combate contínuo pela oração. Não deixar cair os braços. Muitas coisas na vida precisam de nossa oração. Nossa oração e nossa vida, ou ao menos em que direção rezar brotam também de nossa comunhão com a Palavra de Deus. Por isso Paulo insiste com Timóteo sobre as coisas que ele recebeu como ensinamento e base da fé.
4. Uma palavra que não só inspira a oração, mas também a vida. Daí essa preocupação com a pregação e o estudo da Palavra. Um recado não só para ele, mas para todos.
5. Na minha última participação no programa da Rádio Cultura, uma mãe perguntava por que Deus não curava o câncer de seu filho. Uma pergunta desconcertante e ao mesmo tempo próxima de nossa experiência de fé. Apesar de nossa perseverança, parece que nem sempre Deus atende aos nossos pedidos. Seria Ele como esse juiz da narrativa de Jesus?
6. Não, diz Jesus a nós. Israel, tanto quanto nós rezamos em nosso tempo, pedimos a vinda do Reino de Deus, que parece nunca se concretizar. Essa realidade está por trás da parábola narrada. Ao nos ensinar a rezar, Jesus tinha plena consciência que o agir e o tempo de Deus estava distante da compreensão humana. Ele pede que rezemos, mas que saibamos esperar.
7. Se a pressa é inimiga da perfeição, ela também o é da nossa oração. Já ouvimos sobre essa paciência necessária com a narrativa do joio e do trigo: é preciso esperar o tempo certo de separá-los. Como há um tempo para tudo nessa vida, a perseverança na oração deverá nos levar a uma abertura de coração sincera para Deus. E cada um tem seu tempo e sua hora.
8. Se é verdade a expressão de que ‘quando Deus não muda a tempestade, muda o coração de quem conduz a barca’, rezar nos coloca numa atitude de comunhão com Ele e nos ajuda a acolher a sua vontade. A questão final do evangelho é a mesma que perpassa a nossa liturgia: será que no andar da carruagem não nos cansaremos e desistiremos de Deus? O senhor pede não só perseverança, mas vigilância sobre nós mesmos.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 15 de outubro de 2016

(Ef 1,15-23; Sl 8, Lc 12,8-9) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Numa longa saudação aos seus ouvintes/leitores, Paulo faz sua ação de graças e ao mesmo tempo eleva uma oração de intercessão. Depois o texto exalta a pessoa de Jesus Cristo, reconhecendo o seu senhorio sobre a História. Estando com Ele partilhamos a sua vitória.

Jesus lembra aos seus discípulos que o compromisso de caminhar com ele exige da nossa parte o testemunho, nada fácil, mas nos assegura o Espírito Santo como fonte inspiradora. Em comunhão com ele não fraquejamos diante dos obstáculos. Não se deixar guiar pelo Espírito é uma atitude que não tem perdão. Peçamos uma abertura maior de coração a ação do Espírito Santo em nossa vida para o nosso testemunho seja conduzido pela vontade de Deus, não por aquilo que nos é conveniente.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 14 de outubro de 2016

(Ef 1,11-14; Sl 32[33]; Lc 12,1-17) 28ª Semana do Tempo Comum.

Depois de termos contemplados o projeto salvífico, essa segunda parte do capítulo primeiro contempla a nós, destinatários do plano salvífico pela atuação do Ressuscitado. Nós o acolhemos em sua Palavra, a ela aderimos pela fé e pelo Espírito fomos batizados para uma comunhão mais plena.

Depois dos embates com os fariseus e doutores da Lei, Jesus se volta para a multidão que o segue. Ao falar do fermento dos fariseus, Jesus parece fazer uma ligação com a situação anterior para convidar seus discípulos a uma atitude de perseverança em situações de hostilidade e de perseguição. Percebe-se um grau de intimidade e do valor de cada um aos olhos de Deus, em cujas mãos se encontra a nossa vida. Assim podemos andar com confiança em meio aos desafios da vida. É preciso entender que o temor a que somos convidados é aquele de não estar à altura da necessidade do Outro, de não saber compreender as Suas exigências ou de perder a Sua amizade. Isso exige atenção constante, como diz o canto: “Dá-nos Senhor, temor divino, de não amá-lo como convém”.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Quinta, 13 de outubro de 2016

(Ef 1,1-10; Sl 97[98]; Lc 11,47-54) 
28ª Semana do Tempo Comum.

Iniciamos hoje a leitura da carta aos Efésios. Uma espécie de carta circular enviada a todas as comunidades dessa região da Ásia Menor. A reflexão dessa carta se insere numa visão do projeto de salvação que Deus realiza em Cristo Jesus. Aqui aparece a dimensão eclesial não tanto no aspecto da comunidade específica, mas da universalidade da Igreja no projeto salvífico. Ela é um corpo cuja cabeça é Cristo, que acolhe a universalidade dos povos, respeitando as particularidades de cada um. Hoje nos é oferecido um grandioso hino que contempla o projeto salvífico, pensado por Deus desde a criação do mundo por pura bondade, onde Cristo aparece como o mediador exclusivo. Podemos rezar em cima do mesmo contemplando as imagens que nos são oferecidas pelo autor da carta.

O tom de reprovação contra os mestres da lei e dos fariseus vai subindo de tom ao final desse capítulo de Lucas. Que adianta tanta reverência aos antigos profetas que eles mesmos mataram por não acolherem a Palavra de Deus. Aqui aparece o indicativo que sendo Jesus um profeta, terá o mesmo destino e com isso eles pensam que estão glorificando a Deus, quando na realidade estão se fechando nos próprios pecados, pela ausência contínua de uma real conversão. Ele caminha para Jerusalém e pelo absurdo sacrifício na Cruz poderá conceder o perdão àqueles que o rejeitam em sua ignorância e resistência, pois Deus ama incondicionalmente.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

N. Sra. da Conceição Aparecida

(Est 5,1b-2; 7,2b-3; Sl 44[45]; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11)

1. A Virgem Maria se torna para nós hoje, objeto de reflexão sob o manto de Nossa Senhora Aparecida, padroeira desse imenso país. Tomá-la por padroeira significa crer em sua intercessão junto a Deus.  Sob essa ideia de intercessão se constrói a nossa liturgia da palavra entre a 1ª leitura e o Evangelho. É Ester que intercede pelo seu povo, arriscando-se a ir a presença do rei sem ter sido convocada.
2. Para fisgar seu coração, ela usa de artifícios femininos, reza o nosso salmo. O rei se encanta e lhe concede até mesmo a metade do seu reino. Mas o que ela pede é a vida do seu povo, ameaçado naquele país estrangeiro. A beleza da mãe Aparecida está nas virtudes do seu coração que encantam a Deus.
3. A humildade e a disposição de dar a vida pelos seus, faz de Ester uma prefiguração daquela que com seu Filho sabe que não há maior amor do que dá a vida pelos amigos.
4. O evangelho nos reserva a imagem da mãe que observa o que falta à vida dos seus filhos e imediatamente intercede por eles. Sob o símbolo dessa imagem do matrimônio, João apresenta Jesus como o noivo da humanidade. Sob esse olhar da união humana ele trabalha o mistério da encarnação divina.
5. A vida aparece sob a roupagem da festa, do banquete. O vinho simboliza a alegria que não pode faltar. Vivemos sob a constante ameaça dessa ausência. É grande a lista de situações que ameaçam a alegria de nosso povo.
6. Sabemos que Jesus é o grande intercessor diante do Pai, mas aprendemos desde pequenos, a confiar à mãe o que pedimos ao pai. Assim, certos de que ela observa também a nossa vida, e de que bem conhece seu Filho, aprendemos a confiar-lhe nossas necessidades.
7. Mas a mensagem da mãe para nós é simples e direta: a solução para as coisas da vida é a escuta atenta e a prática de tudo quanto Jesus nos ensinou. Um país que se diz cristão como o nosso, recolhe hoje as amargas consequências de um germe de corrupção que se infiltrou em todas as instâncias. Na própria raiz da palavra obediência está a atitude de escuta. Quem escuta e faz o que Ele diz prova desse vinho novo e certamente não irá querer outro.
8. A Liturgia também nos oferece essa imagem da mulher que luta com o mal para trazer seu filho à vida e sai vencedora, é a imagem também da Virgem Mãe. Mas seu êxito vem de sua comunhão com Deus, nos ensinando que a superação dos sofrimentos e dificuldades dessa vida depende da nossa comunhão com Ele.
9. De Maria reconhecemos nesse dia seu amor materno e sua preciosa intercessão pelo nosso caminhar. Que tenhamos esse mesmo amor e preocupação pela vida de um modo geral, mas que acima de tudo, tenhamos uma atitude de humilde escuta para fazermos o que Deus constantemente nos diz.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 11 de outubro de 2016

(Gl 5,1-6; Sl 118[119]; Lc 11,37-41) 
28ª Semana do Tempo Comum.

A argumentação de Paulo entra pelo terreno da circuncisão, que os judeus querem impor aos gálatas. Eles não devem se deixar circundar. Quem aderiu a Cristo recebeu o dom da filiação adotiva de Deus e por isso não precisa recorrer à Lei para se aproximar de Deus. Aqui encerramos a nossa leitura da carta.

O debate de Jesus com os judeus prossegue com esse desencontro com um fariseu ao ser convidado para uma refeição. Jesus dispensa os vários rituais de purificação previstos e mostra a insuficiência de tais ritos, pois Deus conhece o coração humano. A relação com Deus está ligada ao coração, numa decisão pessoal de viver na presença do Senhor e manter puro o coração. Ao falar da esmola, Jesus complementa que essa relação com Deus está vinculada à nossa relação com o próximo e suas necessidades. Assim, certos ritos perdem seu significado se não correspondem às intenções reais do coração.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 10 de outubro de 2016

(Gl 4,22-24.26-27.31—5,1; Sl 112[113]; Lc 11,29-32) 
28ª Semana do Tempo Comum.

É interessante a comparação que Paulo faz entre os filhos de Agar e de Sara, para contrapor a Antiga e a Nova aliança inaugurada em Cristo Jesus. Lembremos que Paulo ainda está tentando convencer os gálatas de que a lei em Cristo consiste na liberdade de filhos que se deixam conduzir pelo Espírito. Isso torna possível a nossa relação com Deus.

Jesus é consciente de que nenhum sinal, por mais espetacular que seja, será capaz de tirar os judeus de seu indiferentismo com relação a Jesus; nem mesmo se alguém ressuscitar dos mortos, diz ao fim da parábola de Lázaro e o rico. É dentro dessa realidade que Jesus diz que nenhum outro sinal será dado a não ser o de Jonas. Os ninivitas (estrangeiros) se converteram com a sua pregação. A Rainha de Sabá (estrangeira) foi capaz de reconhecer a sabedoria de Salomão e veio vê-lo. Jesus é maior que Jonas e Salomão e mesmo assim eles são incapazes de reconhecê-lo. É claro que o texto recai sobre a atitude judaica, mas ao mesmo tempo nos provoca a respeito da nossa fé em Jesus. Ela nasce do que pedimos e recebemos ou é determinada por uma atitude de escuta? Deus não pode ser definido pelas nossas necessidades.


Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(2Rs 5,14-17; Sl 97[96]; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19)

1. É possível afirmar que o tema da gratidão se mistura ao reconhecimento, por parte de quem é ‘estrangeiro’, da ação de Deus, rico em misericórdia. Naamã, comandante do exército sírio, contraiu lepra. Um dos seus empregados propôs que ele buscasse Eliseu, o profeta de Israel.
2. Acostumado a certos ritos para chegar à cura, ele estranha que o profeta lhe mande apenas banhar-se no rio. Com certa resistência ele vai e ver-se curado. Desperta-lhe um profundo senso de gratidão e quer oferecer algo ao profeta, que recusa, para que ele saiba que quem o curou foi Deus.
3. Para aquele estrangeiro só lhe restava levar consigo um pouco daquela terra, para erigir um altar ao Deus de Israel e venerá-lo em sua terra. O texto abre uma brecha para a compreensão da ação misericordiosa de Deus para com todos e que mesmo esse estrangeiro não se convertendo ao judaísmo, tem com ele algum vínculo.
4. O texto vai em duas frentes: a capacidade de não atribuir a si o que é mera ação de Deus e compreender que a fé em Deus subsiste mesmo em meio a outras realidades religiosas ou espirituais.  
5. A carta de Paulo que estamos acompanhando foi escrita na prisão, numa situação de abandono dos companheiros, ele lembra a Timóteo que Cristo também passou por isso. Que é importante colocarmos a confiança nele. Poderão até criticá-lo por seu esforço na evangelização e sua atual condição, mas o que foi semeado não se encontra algemado. Isso lhe dá serenidade.
6. A situação do leproso foi se agravando na sociedade judaica a ponto de ser excluído da comunidade e ser considerado como um morto. Símbolo também do pecado. A refilmagem de Ben-Hur nos traz um pouco dessa realidade cultural. É nessa situação de desgraça que um pequeno grupo pede a Jesus que tenha misericórdia deles; não que necessariamente os cure.
7. Jesus os manda seguir o que se prescrevia na época e a cura vem ao longo do caminho e se conclui com esse estrangeiro que volta para agradecer, como na 1ª leitura. É nos pormenores da narrativa que percebemos a intenção de Lucas. Dez é o número da totalidade; tem algo de universal, como se toda a humanidade precisasse dessa cura que vem de Jesus.
8. O que faz esse samaritano em meio aos judeus? Não são inimigos? Sim, quando tudo vai bem conservamos nossas fronteiras, mas a desgraça e o sofrimento derrubam nossas barreiras. Se compreendêssemos que diante de Deus somos todos pecadores e necessitados de sua misericórdia, não olharíamos o outro de cima do pedestal que nós mesmos construímos.
9. O caminho que percorrem até perceberem-se curados é também símbolo da caminhada cristã que compreende que ninguém muda de repente, tudo é um processo. O fato de só o estrangeiro voltar para dar graças a Deus, talvez represente o próprio Lucas, que estrangeiro, soube reconhecer quem é Jesus. Talvez reflexo de tantos outros que aprenderam a dar graças a Deus que revelou o seu rosto misericordioso em Jesus. 
10. Assim, Jesus é a compreensão de que Deus não está longe dos pecadores ou de qualquer raça ou nação. Que não rejeita ninguém e que pode ser o caminho para aqueles que querem fazer a experiência do amor de Deus.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 8 de outubro de 2016

(Gl 3,22-29; Sl 104[105]; Lc 11,27-28)
27ª Semana do Tempo Comum.

No seu discurso de convencimento sobre a justificação em Cristo, Paulo vê a Lei como um princípio de preparação para chegarmos a Cristo, tornando-se assim ‘obsoleta’, pois enquanto filhos de Deus em Cristo gozamos da liberdade que nos dá o Espírito recebido no batismo.

O evangelho, a narrativa exclusiva de Lucas sobre uma mulher que, admirada com o que Jesus diz e faz, emite um comentário entusiasmado sobre a felicidade daquela que gerou tão admirável pessoa. Ele contrapõe tal felicidade ‘humana’ a algo muito mais significativo: a felicidade de quem na escuta atenta da Palavra busca vivenciá-la. Assim Jesus não desaprova tal comentário: ele o reforça, pois a escuta e a vivência da Palavra encontrou em Maria o seu berço privilegiado.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 07 de outubro de 2016

(At 1,12-14; Sl Lc 1; Lc 1,26-38) 
N. Sra. do Rosário.

A Igreja celebra hoje a memória obrigatória da Virgem do Rosário, instituída por são Pio V para recordar a vitória obtida pela frota cristã em 1571, nas águas de Lepanto, num desigual encontro coma poderosa armada turca. O pontífice, que era dominicano, teve a surpreendente revelação da vitória enquanto recitava o rosário: “Como bom filho de são Domingos, que havia inculcado tal devoção em seus frades pregadores, o papa recitava cotidianamente o assim chamado Saltério da Virgem, oração simples, mas não monótona – assim como não aborrece uma simples palavra de amor repetida seguida e imutavelmente à pessoa amada. Nos conventos medievais, os irmãos leigos, que tinham pouca familiaridade com o latim, eram dispensados da recitação do Ofício, substituído pelo rosário, de 150 ave-marias e 15 pais-nossos, para cuja contagem são Beda, o Venerável, havia sugerido a adoção de um colar de grãos enfiados em um cordão” (Mario Sgarbosa – Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

A devoção do rosário se expandirá depois da aparição da Virgem a são Domingos com a coroa do rosário e recomendando-o a este como arma para derrotar as heresias. A recitação do rosário foi estendida a toda Igreja em 1716, como compêndio meditativo sobre a vida de Jesus e de Maria nos principais momentos da história da redenção. Sobre a liturgia da Palavra ver a reflexão do ano anterior (clique aqui) .


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 06 de outubro de 2016

(Gl 3,1-5; Sl Lc 1; Lc 11,5-13) 
27ª Semana do Tempo Comum.

Paulo eleva um pouco o tom do seu discurso para chamar seus ouvintes/leitores à razão, pois ele já havia pregado a lei do Espírito que traz o evangelho e eles mesmos se esforçaram para viver de tal modo novo. Como, de repente, a lei judaica (da carne), passa ser critério de vida para eles? Quem nos salva, a lei Mosaica ou a fé em Jesus Cristo?

Lucas complementa o dever e o desejo de rezar apresentando como e com que atitude interna devemos orar: “A parábola do amigo que acaba cedendo (Lc 11,5-8) nos faz imaginar um lugarejo palestinense sem lojas. Cada casa produz seus próprios alimentos. Então alguém recebe uma visita, altas horas da noite, e não tem nada a oferecer a ela. Isso ele lamenta – no Oriente e na Grécia, a hospitalidade é a melhor coisa do mundo. Por isso ele vai à casa de seu amigo, e bate na porta. Ele sabe das dificuldades que está causando ao amigo, pois ele terá de se levantar e abrir a porta, trancada com uma trave. O barulho que fará afastando a trave há de acordar os meninos. A hospitalidade, porém, é um dever sagrado. Ele vai se levantar, portanto, e dar ao amigo que pede tudo que precisa. Com essa parábola Lucas quer nos dizer que Deus é nosso amigo. E Lucas interpreta a parábola no sentido da filosofia grega: nós, cristãos, somos os amigos de Deus (Grudmann, p. 234). Orar significa falar com Deus como se fala com um amigo. E ele não deixará de atender, pois a amizade entre Deus e nós é muito mais firme ainda do que aquela entre os homens”  (Anselm Grun –Jesus, modelo do ser humano – Loyola). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 05 de outubro de 2016

(Gl 2,1-2.7-14; Sl 116[117]; Lc 11,1-4) 
27ª Semana do Tempo Comum.

Essa unidade de Paulo com a Igreja primitiva não foi algo muito fácil, até pela visão que o mesmo tinha do evangelho, como vemos nesse caso dos pagãos, de quem Pedro se afasta, aparentemente temendo ser julgado pelos outros judeus, e faz por merecer uma censura de Paulo; não se pode deixar de perceber o modo como ser franco faz toda a diferença numa comunidade de fé. Era preciso que a comunidade de Jerusalém também reconhecesse a legitimidade desse trabalho junto aos mesmos, como havia sido determinado desde o início.

Estamos de volta ao texto em que Jesus ensina seus discípulos a rezarem, mas a pedido dos mesmos. Esse pedido traz em si o desejo de rezar a partir dessa novidade anunciada por Jesus, que os una e ao mesmo tempo os distinga dos outros na sua expressão da fé. “Esta oração de Jesus, chamada popularmente de ´Pai-nosso’, sempre foi considerada pelas primeiras gerações cristãs a oração por excelência, a única ensinada por Jesus para alimentar a vida de seus seguidores. A maneira de orar própria de um grupo expressa uma determinada relação com Deus e constitui uma experiência que vincula todos os seus membros na mesma fé. Assim entendem o ‘Pai-nosso’ também os primeiros cristãos: é seu melhor sinal de identidade como seguidores de Jesus. Os discípulos do Batista tinham seu próprio modo de orar. Não o conhecemos, mas, se correspondia à sua mensagem, era a oração de um grupo em atitude penitencial diante da chegada iminente do juízo, suplicando a Deus ver-se livres de sua ‘ira vindoura’. A oração de Jesus, pelo contrário, é uma súplica cheia de confiança ao Pai querido, que contém dois grandes anseios centrados em Deus e três clamores de petição centrados nas necessidades urgentes e básicas do ser humano. Jesus expõe ao Pai os dois desejos que traz em seu coração: ‘Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino’. Depois profere os três pedidos: ‘Dá-nos pão’, ‘perdoa nossas dívidas’, ‘não nos submetas à prova’” (José Antonio Pagola – Jesus – Aproximação Histórica – Vozes).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 04 de outubro de 2016

(Gl 1,13-24; Sl 138[139]; Lc 10,38-42) 
27ª Semana do Tempo Comum.

A carta que estamos acompanhando traz hoje uma autodefesa de Paulo, ao mesmo tempo em que traça uma breve biografia salientando o seu chamado pessoal, sua unidade com a Igreja e o seu caminho particular na divulgação do Evangelho.

Ao entrar na casa de Marta e Maria, Lucas aproveita para complementar a dinâmica do amor ao próximo lembrando o significado da hospitalidade. Mas o texto nos conduz para a importância da escuta da Palavra, como o elemento que na vida cristã conduz para a produção de frutos concretos na vida: a agitação e a preocupação da vida necessitam dessa luz que a tudo dá o equilíbrio necessário.

Hoje também a Igreja faz memória do grande santo dos pobres e da ecologia: Francisco de Assis. “Os biógrafos concordam que nenhum outro santo fez brilhar tanto a imagem de Jesus neste mundo como Francisco. Ele é o santo do amor e da alegria, da pobreza e da liberdade interna. Um santo de coração amoroso e de uma grande simplicidade, que conquistou o coração do povo enquanto ainda era vivo. [...] Francisco reuniu em torno a si pessoas que compartilhava com ele a vida simples. A oração determinava sua comunidade, e eles viviam percorrendo o país para anunciar a Boa Nova. Para ganhar o pão, trabalhava com os camponeses. Não queriam dinheiro, mas produtos naturais como pagamento. Francisco continuou sendo o irmão humilde que, cheio de contentamento, cantava os hinos de Deus e, com seus sermões, conduzia os homens a ele. [...] O movimento ecológico elegeu Francisco seu padroeiro. Isso, por certo, tem sua justificação. Mas Francisco não foi um combatente encarniçado. Ele tinha um amor e um respeito tão enorme por todas as coisas porque reconhecia na criação o amor de Deus. Ele podia se alegrar com o calor do sol, com o frescor da água, com a luz da lua. Em toda parte ele via como Deus, por meio de suas criaturas, demonstra seu amor aos homens. Francisco nos mostra que a proteção ambiental precisa de uma dimensão espiritual. Precisa da experiência do amor por todas as criaturas, do contrário ela se torna uma luta amargurada que produz apenas rancor nas pessoas, não servindo nem a elas nem à criação” (Anselm Grün - 50 santos – Loyola).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 3 de outubro de 2016

(Gl 1,6-12; Sl 110[111]; Lc 10,25-37) 
27ª Semana do Tempo Comum.

Nesta semana e na próxima, acompanharemos trechos da carta de São Paulo aos Gálatas. A estes Paulo pregou um cristianismo livre das obrigações da lei judaica, mas estes foram visitados por missionários cristãos de origem judaica que insistiam com os mesmos na observância da Lei. Paulo é obrigado a intervir trazendo-os de volta aos princípios de liberdade dado por ele a partir do evangelho.  Assim podemos nos situar no texto que nos é oferecido no dia de hoje.

Para ajudar a compreender o que significa o amor a Deus e ao próximo, Jesus conta a parábola do Bom Samaritano. O objetivo de Jesus é esclarecer a dimensão de ‘próximo’, bastante discutido entre os judeus, conduzindo o seu pensamento para uma compreensão da universalidade do amor: qualquer pessoa que passe necessidade, esse é o meu próximo. Jesus constrói um claro retrato da misericórdia.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite