Sexta, 30 de setembro de 2016

(Jó 38,1.12-21; 40,3-5; Sl 138[139]; Lc 10,13-16) 
26ª Semana do Tempo Comum.

Por fim, eis que Deus se manifesta a Jó, em seu sofrimento, levando-o a um caminho de conversão. É preciso abandonar as ideias que possuía a respeito da justiça divina. Tomando-o pela mão o faz contemplar a Criação e ao mesmo tempo intuir que o sofrimento também o levou a esse encontro com Deus. No exercício da fé é necessário calar e escutar a Palavra, abandonando-se à vontade de Deus.

Jesus cita as cidades onde realizou maior parte de suas atividades. No entanto, elas rejeitaram reconhecer Aquele que as visitava. Haverá consequências, diferenciadas por Sua proximidade com elas. De Cafarnaum ele fez sua morada, as outras são cidades pagãs que não acolheram Seu convite à conversão. Mas tais ameaças não passam de um novo apelo à conversão com a chegada dos discípulos a essas cidades. Eles levam a Palavra e não se pode ficar indiferente diante dela: ou se aceita ou se rejeita. A atitude de Jó serve para nós como referência de atitude sábia: calar e escutar.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de setembro de 2016

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51) 
Santos Anjos Miguel, Gabriel e Rafael.

A liturgia da Palavra desse dia é montada sob a menção das escrituras desses servidores de Deus: os Anjos. Não se diz exatamente como são, mas fala-se da sua existência: Deus é o criador também das ‘coisas invisíveis’.  “Os anjos são, pois, servidores e mensageiros de Deus. Pelo fato de que ‘veem sempre a face do Pai que está no céu’, como se lê no evangelho de Mateus, eles são ‘executores poderosos da sua palavra, obedientes ao som da sua palavra (Salmo 103,20).
São Miguel, como expressão da onipotência de Deus, recebeu, desde o começo da história do cristianismo, um culto particular. Constantino e Justiniano erigiram-lhe dois santuários nas duas extremidades de Bósforos. Em Roma o arcanjo domina a cidade do alto da Mole Adriana, a qual tomou o nome de Castelo Santo Anjo.
São Gabriel, ‘aquele que está diante de Deus’, é o anunciador por excelência das divinas revelações: anuncia ao profeta Daniel o retorno do exílio do povo eleito; leva a Zacarias a notícia da iminente concepção do precursor do Messias. Depois, é-lhe confiada a missão mais alta que possa ser dada a uma criatura: o anúncio a Maria da Encarnação do Filho de Deus.
São Rafael é nomeado em um único livro das escrituras: tem a missão de acompanhar o jovem Tobias para tornar-lhe seguro o caminho por estradas desconhecidas e lhe sugere a receita para curar o pai da cegueira temporária (Rafael significa de fato ‘Deus cura’), sendo por isso invocado como protetor de quem se põe em viagem e como patrono de quem se dedica à cura dos doentes” (Mario Sgarbosa – Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de setembro de 2016

(Jó 9,1-12.14-16; Sl 87[88]; Lc 9,57-62) 
26ª Semana do Tempo Comum.

O texto dá um salto significativo e nos aparece depois dos questionamentos feitos pelos amigos. Jó tende a responder sob um antigo esquema religioso que Deus não pode encontrar o homem no caminho do sofrimento. A conclusão de Jó diante de sua consciência de não haver cometido nada de grave, ventila a possibilidade de uma ação arbitrária de Deus e, assim sendo, não só é impossível prever o que fará como travar com Ele um diálogo que conduza a uma compreensão lógica. O salmo acrescenta o tom de oração de clamor do homem vivo; a oração continua sendo o único canal para expressar as inquietações do coração.

O texto do evangelho ‘desmonta’ ou desestimula qualquer forma de seguimento que não esteja marcado pelo selo da provisoriedade do caminho, do desapego do que mais amamos e do saudosismo que impede de viver o novo. O que pode soar como radicalismo por parte de Jesus é apenas uma advertência para que não haja nenhum lamento quando tais atitudes forem necessárias ao longo do caminho.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de setembro de 2016

(Jó 3,1-13.11-17.20-23; Sl 87[88]; Lc 9,51-56) 
26ª Semana do Tempo Comum.

Depois de todas as notícias ruins recebidas, mais as perdas afetivas e uma doença de pele que se lhe acrescenta, Jó ‘explode’ em sua solidão, maldizendo o dia do seu nascimento. Ele prefere não existir. O autor coloca na boca de Jó as perguntas de qualquer ser humano: por que o sofrimento? Sua aflição sobe a Deus como uma oração, e no silêncio espera uma resposta.

Jesus toma o difícil caminho para Jerusalém. Vai decidido, pois sabe o que O aguarda. A passagem pela Samaria seria o caminho mais curto, mas um pequeno incidente simboliza a rejeição que O levará a cruz. Seus discípulos deixam transparecer em sua atitude que ainda não comungam do mesmo espírito de Jesus, que não veio para destruir, mas para salvar. Na difícil convivência dos que não pensam como nós é necessário um devido equilíbrio em nossas atitudes, a exemplo do Mestre.       



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de setembro de 2016

(Jó 1,6-22; Sl 16[17]; Lc 9,46-50) 
26ª Semana do Tempo Comum.

Chegamos a um dos mais interessantes escritos dessa coleção sapiencial, uma história fictícia de um sujeito chamado Jó que é atingido por uma série de desgraças. Embora desconhecendo que Deus o colocava à prova, ele se mantém fiel, como veremos. O livro não foi escrito para explicar o enigma do sofrimento injusto ou mesmo do mal. Mas mostrar como o ser humano perplexo se coloca diante de Deus. O sofrimento lhe permite passar de uma religiosidade tradicional para uma profunda experiência de fé.

Mesmo tendo manifestado aos seus discípulos a sua paixão por vir, os discípulos parecem insensíveis ao começar entre eles uma discussão para saber quem é o mais importante. Jesus lhes revela suas reais intenções de dominarem uns sobre os outros. A criança apresentada por Jesus como símbolo do verdadeiro discípulo fala da capacidade de se tornar pequeno pelo serviço ao outro, como fez o próprio Jesus. Mas eles ainda continuam sem entender, pois estão preocupados com um exorcista que não faz parte do grupo. Jesus lhes explica que ele não está roubando o lugar de ninguém, apenas se soma aos que tem fé na sua pessoa para expandir a ação do reino. Veja que nos textos que estamos acompanhando Jesus e seus discípulos estão em planos diferentes, não aceitando nada do que Jesus lhes fala. Esse desejo de reconhecimento, dos primeiros lugares, gera sofrimento humano e destrói a comunidade. Peçamos ao Senhor o discernimento necessário para não cairmos nessa armadilha. Que a Sua palavra me mantenha desperto.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

26º Domingo Comum – Ano C

(Am 6,1a.4-7; Sl 145[146]; 1Tm 6,11-16; Lc 16,19-31)

1. Poucas vezes um mesmo texto é tomado do mesmo livro na 1ª leitura dominical. É Amós que retorna para denunciar os que vivem no luxo e no prazer não só esquecido dos pobres e trabalhadores, mas da própria nação. Por isso a ameaça do profeta aponta para o desterro provocado pelos assírios. O texto vai ao encontro do evangelho numa clara censura aos que gozam a vida esquecidos do sofrimento alheio. Tem relação com o que vivemos em nossa pátria.
2. Na sequência que fazemos da carta a Timóteo, bispo de Éfeso, Paulo expressa sua preocupação por pessoas que acabam desviando os cristãos da reta compreensão do evangelho e levam um estilo de vida nada evangélico. Paulo não só recomenda tomar cuidado, atento a doutrina cristã, mas conservar as atitudes próprias de um cristão, mas também de um líder da comunidade.  Preocupamo-nos com essa realidade?
3. Olhando de maneira rápida a parábola contada por Jesus poderíamos deduzir que ela nos fala do consolo do pobre na outra vida e da condenação do rico ao inferno, como se todo pobre fosse bom e todo rico mau. Estaria nos falando sobre o céu e o inferno? Qual o objetivo de Jesus com essa narrativa? A princípio não é um julgamento sobre o rico ou o pobre nem mesmo pretende falar sobre céu e inferno.
4. A linguagem usada por Jesus em sua parábola retrata para nós a disparidade reinante nesse mundo em que vivemos. De riquezas imensas, às misérias terríveis. A parábola fala desse desequilíbrio na balança, que tanto fere o coração de Deus. Jesus gostaria que tivéssemos claro que não devemos comungar com essas injustiças e desigualdades.
5. Elas podem parecer grandes e distantes pelos olhos da mídia, mas Jesus quer que lancemos um olhar a partir de nossas casas, de nossa realidade. Quantas vezes nossos caprichos pessoais não privou a família de algo mais necessário ou urgente? Será que nosso coração não ambiciona essa posição do rico esbanjador e despreocupado?
6. Nada muda, se não mudamos o nosso modo de ver e viver as situações da vida. O rico, no seu diálogo com Abraão gostaria que algo extraordinário mudasse o modo de viver de seus irmãos. Mas Jesus deixa claro, ao citar Moisés e os profetas, que a Palavra de Deus é o único modo de compreendermos a vontade de Deus e de modificarmos o nosso coração.
7. Nesse dia em que comemoramos a Palavra divina que está sempre no coração da nossa liturgia, permitamos que ela não só questione nossa relação com os bens e os pobres desse mundo, mas ilumine nossos passos nas atitudes concretas que nos garantem uma comunhão com Deus e com os irmãos desde agora e para sempre.    
   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de setembro de 2016

(Ecl 11,9—12,8; Sl 89[90]; Lc 9,43-45) 
25ª Semana do Tempo Comum.

Esse belo texto que nos é oferecido conduz a reflexão acerca do tempo que passa, voltando um olhar para a juventude, que saiba aproveitar com alegria essa fase, mas que seja responsável em suas escolhas, pois tudo tem uma consequência. Depois virá o inverno da vida e também a morte, mas não devemos nos angustiar com tal realidade. Estamos nas mãos de Deus.

Apesar da admiração do povo, Jesus conduz a atenção dos seus discípulos para o mais importante: sua paixão e morte. Mas eles não entendem. E não querem fazer perguntas, pois não aceitam que as coisas tenham que ser assim. Também nós temos dificuldades para entender, pois mesmo querendo ser discípulos, sabemos que todo seguimento comporta a comunhão com quem seguimos. Mas se não aceitarmos essa comunhão não experimentaremos a força da ressurreição.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 23 de setembro de 2016

(Ecl 3,1-11; Sl 143[144]; Lc 9,18-22) 
25ª Semana do Tempo Comum.

“Por seres tão inventivo e pareceres contínuo, tempo, tempo, tempo...” canta Caetano Veloso, mas antes dele alguém já havia percebido que tudo tem um ritmo: nascimento e morte, amor e ódio. É sábio quem aprende a aceitar tal alternância dos tempos que constituem o ritmo da vida e em saber segui-los. Mas em tudo isso o sábio enxerga a ação de Deus, dando ao homem a ocupação, mas nunca se revelando de modo pleno, gerando nele o desejo e a busca. 

Mais uma vez Jesus está rezando e resolve perguntar aos seus discípulos o que diz o povo a respeito dele, para chegar aos próprios discípulos e orientá-los no discernimento sobre sua pessoa. É da oração que parte a sua iniciativa: “A oração é o lugar protegido, para onde podemos nos retirar, a fim de estarmos abrigados do barulho do mundo e das expectativas dos homens. [...] antes de Pedro professar sua fé no Messias, Jesus orou, com os discípulos, num lugar afastado (Lc 9,18). Evidentemente foi na oração que ele se preparou para introduzir os discípulos no mistério de sua paixão e no caminho da imitação de Cruz (Lc 9,18-26)” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 22 de setembro de 2016

(Ecl 1,2-11; Sl 89[90]; Lc 9,7-9) 
25ª Semana do Tempo Comum.

Dentro da literatura sapiencial que estamos acompanhando, chega-nos o livro do Eclesiastes (Coélet), profundamente inspirado nas experiências humanas, é bastante atual. O autor permanece no anonimato. A constatação que percorre o livro é uma espécie de questionamento das vantagens obtidas com tanta fadiga pelo ser humano na sua busca de eficiência e lucro (riqueza). É possível gozar dos bens que Deus coloca à nossa disposição, mas nada é absoluto nem eterno. É preciso discernir aquilo que realmente tem valor na vida. Assim se abre a sua pequena obra.

Lucas não narra a morte de João Batista, mas deixa claro o seu conhecimento da mesma. A fama de Jesus chega ao palácio de Herodes. Ele tem um discernimento a seu respeito que Lucas deixa entrever na sua pergunta. Jesus não é nenhum dos antigos profetas que voltou (ressuscitou). O conhecimento de Jesus não vem do que se lê nem do que se vê, mas da fé que se cultiva. Por isso posso me perguntar: Quem é Jesus para mim?
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 21 de setembro de 2016

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19A]; Mt 9,9-13) 
Festa de São Mateus.

O evangelho desse domingo se concluía com a expressão de Cristo: “não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, conservada também por Mateus como testemunho de uma virada de vida. Ele, coletor de impostos, foi chamado por Cristo a tomar uma decisão em sua vida, conforme o nosso evangelho. Para despedir-se de sua antiga vida e de seus companheiros ele faz uma festa.

Celebramos com a cor vermelha pelo fato de ser apóstolo, não tanto pelo seu martírio, cujas fontes não são confiáveis. Seu evangelho está voltado para a comunidade judaica onde apresenta a Cristo como mestre que ultrapassa a lógica do preceito em Moisés para chegar à perfeição do Pai. Em Jesus toda profecia se cumpre.

“São Mateus chama a sua narrativa evangelho e não podia dar-lhe um nome mais apropriado; ela é propriamente uma boa nova, pois que anuncia a todos, até aos mais malvados entre os homens, a homens em guerra contra Deus, assentados na noite da ignorância e da superstição, a abolição dos castigos aos quais estavam condenados, o perdão dos seus pecados, o reino da justiça, os meios para se tornarem santos, a graça da adoção como filhos de Deus, a herança de seu reino, a honra de se tornarem irmãos do Filho de Deus. Quais outras novas tiveram o valor desta? Deus na terra, o homem no céu. Admirável reconciliação de todas as coisas...” (São João Crisóstomo, Homilia I).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de setembro de 2016

(Pr 21,1-6.10-13; Sl 118[119]; Lc 8,19-21) 
Santos André Kim e Paulo Chong, mártires.

Sem uma ordem precisa, o texto de hoje propõe a prática da justiça em oposição ao que pratica o mal. Isso exige discernimento por parte do homem, por isso ele deve deixar que a palavra de Deus conduza e forme seu coração. Lembrar-se que o grito do pobre jamais deixa indiferente o coração de Deus.

Esse texto de Lucas funciona como a conclusão de um discurso, para que aqueles que escutam Jesus saibam quais são as condições para fazer parte de sua família. Não importa tanto os laços sanguíneos, mas a escuta, o acolhimento da Palavra de Deus e permitir que essa produza frutos na vida concreta. Certamente o texto reflete toda a dimensão evangelizadora vivida pelos discípulos que vai gerando novas comunidades. Não temos nenhum indício de rejeição de Maria no seu papel materno, pois a observação de Jesus em Lucas tem em Maria seu protótipo de escuta e de cumprimento da Palavra. Isso só engrandece a sua maternidade.     



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 19 de setembro de 2016

(Pr 3,27-34; Sl 14[15]; Lc 8,16-18) 
25ª Semana do Tempo Comum.

Esta semana e a próxima nos serão oferecidos, na mesa da Palavra, alguns trechos da literatura sapiencial começando pelo livro dos Provérbios, uma coletânea da atividade dos sábios de Israel que durou muitos séculos. Sua finalidade é formar a pessoa, mostrar o que é realmente a vida e indicar como melhor enfrentar. A parte maior do livro está organizada em conselhos práticos acerca da vida cotidiana. Trata-se de distinguir os pequenos sinais que revelam, na vida concreta de cada dia, o mistério da presença e a grandeza de Deus. No texto de hoje, vislumbramos o mandamento do amor ao próximo como um conselho de pai para filho.

Ensinamentos do Sermão da montanha de Mateus são encontrados ao longo do evangelho de Lucas. O discípulo que acolhe a palavra de Jesus deve comportar-se como um homem que acende uma luz, que ‘descobre’ que deve colocar-se ao serviço dos outros. Quem foi iluminado, deve iluminar. Como um negociante faz render o que possui, assim deve ser o cristão, pois se não o fizer, nada ganhará e em breve verá desparecer aquele pouco que tem nas suas mãos.

 Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum. Ano C

(Am 8,4-7; Sl 112 [113]; 1Tm 2,1-8; Lc 16,1-13).

1. No evangelho, Jesus nos conta uma parábola que envolve o comércio de bens. Para ilustrar tal situação, a liturgia insere esse texto do profeta Amós, que viveu num período de franco crescimento econômico em Israel. Mas tal período também foi marcado pela exploração dos mais pobres, denunciado pelo texto. Desde que o mundo é mundo as coisas são assim, mas isso não quer dizer que Deus faça vistas grossas a tais ações. 
2. Paulo nos oferece uma orientação para o nosso rezar comunitário, recordando que ela deve incluir a todos e a todas as necessidades. Em alguns momentos não queremos rezar pelas nossas autoridades, mas se o bem e a ordem da nossa sociedade dependem de suas ações, não podemos nos negar, para o bem de todos. 
3. Nesse delicado momento que atravessamos, um certo sentimento de revolta pode bloquear a nossa espontaneidade. Paulo pede que o superemos, para o bem de todos. Isso não significa que não possamos manifestar a nossa insatisfação.
4. A mim surpreendeu o modo como serenamente o nosso ex-presidente admitiu que um político possa roubar e a cada eleição mendigar os votos dos eleitores para sobreviver. Jesus descarta qualquer semelhança que essa parábola possa ter com a nossa realidade. Ele não elogia as falcatruas realizadas anteriormente, é por causa delas que ele perdeu o emprego.
5. O elogio de Jesus é com relação à sua capacidade de refletir diante da situação. O seu "que vou fazer" faz eco a situação de desemprego que atravessamos. O administrador resolve diminuir a dívida dos credores do seu patrão para conquistar-lhes a simpatia quando deixar o emprego. Como diz o ditado, mais vale um amigo na praça que dinheiro na caixa. 
6. O elogio de Jesus vai na direção não do ato em si, mas de sua astúcia, para dizer: há algo que devemos aprender aqui. Como já sabemos, e só assim podemos compreender o elogio do patrão, o empregado abriu mão dos lucros pessoais, que estavam embutidos na dívida de cada um, prática comum na época. 
7. O texto segue com algumas conclusões. É normal que os filhos da luz não sejam iguais aos filhos desse mundo, porque não devem ser inescrupulosos em seus negócios. O problema é quando eles começam a agir tal e qual. Há quem intérprete esse texto num apelo de Jesus a que sejamos espertos naquilo que realmente importa em nossa vida cristã. 
8. Jesus admite que por trás das riquezas desse mundo reine alguma injustiça. Como isso é inevitável, ao menos se pode granjear amigos fazendo bem ao próximo. Jesus nos convida a consciência de que somos meros administradores das coisas deste mundo. Aqui não se trata de abrir mão delas, mas de administrar os bens desse mundo da melhor maneira possível. Ao nos vermos diante de dois senhores, Jesus deixa claro que servir a Deus passa pela capacidade generosa da partilha, não acumulando tudo para si, como poderia ditar o outro senhor, numa ciranda de cumular sempre mais e sem medidas...

 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 17 de setembro de 2016

(1Cor 15,35-37.42-49; Sl 55[56]; Lc 8,4-15) 
24ª Semana do Tempo Comum.

Paulo no desconhecimento do mistério divino, tenta explicar a ressurreição a partir da comparação com a semente que morre para ressuscitar na nova condição para chegar ao corpo corruptível que ressuscita num corpo incorruptível, o homem celeste. É preciso viver já essa vida nova diante da vida plena que pela força renovadora do Espírito nos espera como coroamento de uma caminhada.

Lucas partilha conosco a conhecida parábola do semeador e sua explicação. É Deus que em seu Filho nos fala de modo abundante, sem com isso se impor no mais absoluto respeito à liberdade humana. Sua palavra é boa, forte, capaz de trazer a salvação quando é acolhida e conservada com coração generoso. Neste mês da Palavra alegremo-nos com o próprio Deus pela colheita.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 16 de setembro de 2016

(1Cor 15,12-20; Sl 16[17]; Lc 8,1-3) 
Santos Cornélio e Cipriano, papa e bispo mártires.

Paulo atesta a sua fé na ressurreição de Cristo como mistério central de nossa fé e nossa esperança: pois como Cristo, ressuscitaremos.  Esta fé liberta-nos do pecado e do medo da morte, pois seu amor continua atuando em nós realizando esse processo de libertação até a sua plenitude.

Lucas nos recorda as mulheres que acompanhavam Jesus e seus discípulos ao longo do caminho. “As mulheres fizeram parte do grupo que seguia Jesus desde o início. Provavelmente algumas o fizeram acompanhando o esposo. Outras eram mulheres sozinhas, sem companhia de nenhum varão. Nunca se diz que Jesus as tenha chamado individualmente, como, ao que parece, o fez com alguns dos Doze, não com todos. Provavelmente aproximaram-se por própria iniciativa, atraídas por sua pessoa, mas nunca ter-se-iam atrevido a continuar com ele se Jesus não tivesse convidado a permanecer. Em nenhum momento ele exclui ou afasta em razão de seu sexo ou por motivo de impureza. São ‘irmãs’ que pertencem à nova família que Jesus vai formando, e são levadas em conta da mesma forma que os ‘irmãos’. O profeta do reino só admite um discipulado de iguais” (José Antonio Pagola – Jesus, aproximação histórica – Vozes).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 15 de setembro de 2016

(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19,25-27) 
Nossa Senhora das Dores.

A liturgia da palavra liga ao sofrimento de Cristo, o sofrimento da Mãe, que aos pés da cruz não pode fazer muito, se não ser solidária e testemunhar a hora de Jesus, que em Caná Ele havia mencionado. “A memória obrigatória de Nossa Senhora das Dores, surgiu no século XII (traços dela encontram-se já no fim do século XI, nos escritos de santo Anselmo e de muitos monges beneditinos e cistercienses) e propaga pelos cistercienses e, depois, pelos servitas, difundiu-se muito nos séculos XIV e XV. [...] O contexto desta festa depois da Exaltação da Santa Cruz integra agora seu significado” (Enzo Lodi – Os Santos do Calendário Romano – Paulus). Da sequência que pode ser recitada nessa missa: “Virgem mãe tão santa e pura,/ vendo eu a tua amargura,/ possa contigo chorar./ Que do Cristo eu traga a morte,/ sua paixão me conforte,/ sua cruz possa abraçar!/Que a santa cruz me proteja,/ que eu vença a dura peleja,/ possa do mal triunfar!”
  
Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 14 de setembro de 2016

(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) 
Exaltação da Santa Cruz.

Para festa da Santa Cruz (veja origem no ano anterior), na clara de intenção de elevar o nosso olhar a esse mistério, a liturgia nos oferece esse texto do Antigo Testamento da travessia no deserto que é recordado por Jesus no evangelho. A serpente, nesse contexto cultural é símbolo tanto de morte como de vida, mas aqui na narrativa é símbolo da vida que restaura a transgressão cometida.

O evangelho é parte do longo diálogo entre Jesus e Nicodemos, onde Jesus estabelece um paralelo entre a serpente elevada por Moisés no deserto e a sua própria morte, para dar aos homens a vida eterna. “Porque Jesus é a ‘vida’ (Jo 14,6) e veio para que os homens ‘tenham vida e a tenham em abundância’ (10,10), a nossa união com Ele mediante a fé liberta-nos da morte espiritual e da sentença de condenação, oferecendo-nos, de forma positiva, a vida eterna e a ressurreição final (v. 17; cf. 6,54)” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus). 
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 13 de setembro de 2016

(1Cor 12,12-14.27-31; Sl 99[100]; Lc 7,11-17) 
São João Crisóstomo. Bispo e doutor da Igreja.

Esse texto de Paulo nos dá uma dimensão do que é cristianismo: uma junção de gente de todos os povos e nações que formam uma unidade em Cristo. A esta unidade Paulo chama de corpo, com suas funções diferentes, mas tendo a Cristo por cabeça. E aqui vem a compressão do que é a Igreja: uma riqueza de dons e carismas onde cada um faz tudo e somente aquilo que lhe compete para o bem de todos. Assim Paulo prepara o terreno para que compreendamos que entre os tantos dons que percebemos na comunidade, aspiremos aquele dom que é o mais elevado e que deve perpassar todo o corpo: o amor ou a caridade.

Esse mesmo amor fez Jesus parar diante de uma cena dolorosa: uma mulher viúva perde seu único filho. Uma situação de desamparo. Jesus leva uma palavra de consolo, mas também lhe devolve o filho para amenizar seu sofrimento. São muitos os cortejos que atravessam nossas cidades nesses últimos tempos, pois nossa sociedade vive uma situação de desamparo na área da saúde, na segurança, na educação, deixando pais e mães a mercê da própria sorte. Muitas vezes eles só podem contar com o apoio de outros que estão também a caminho e que por causa de Jesus acreditam na força de uma simples aproximação para amparar, para ajudar a reerguer-se e seguir em frente, ainda que não possamos reparar as suas perdas. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 12 de setembro de 2016

(1Cor 11,17-26.33; Sl 39[40]; Lc 7,1-10) 
24ª Semana do Tempo Comum.

Alguma situação de indiferença ou descuido fez com que Paulo chamasse a atenção da comunidade que celebra o memorial do Senhor. Paulo então traz a narrativa da última Ceia, da entrega de Cristo como elemento de reflexão. Aquele que foi tudo para os outros num ato de profunda obediência ao Pai precisa que revisemos a nossa capacidade de entrega, de serviço para percebermos se realmente fazemos memória dele.

Lucas nos repete o texto da admirável fé do oficial romano. Para Lucas esse texto tem particular apelo, pois sendo ele também estrangeiro, vivendo na Palestina, deixa claro como a fé pode brotar em qualquer cultura e o que importa não é tanto o milagre em si, mas o modo como se chega à fé. Por outro lado, essa fé brota também do contato com aqueles que acreditavam antes dele. Algo certamente o levou a tentar, a apostar nessa fé que lhe testemunhavam. A graça de Deus pode chegar onde nem imaginamos e muitas vezes nos faz canais de chegada até o outro.


Pe. João Bosco Vieira Leite

24º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ex 32,7-11.13-14; Sl 50[51]; 1Tm 1,12-17; Lc 15,1-32)

1. A cada ano celebramos o domingo da misericórdia no tempo pascal sob o evangelho do João, mas é Lucas que nos oferece o verdadeiro rosto da misericórdia divina através de suas parábolas. Preparando-nos para o evangelho, a liturgia nos oferece esse texto do Êxodo, quando o povo, após a saída do Egito, aos pés do Sinai aguarda o retorno de Moisés que falava com Deus. 
2. Num primeiro momento Deus aparece indignado com o povo que não soube aguardar nem reconhecer o que Ele fizera e já se entregava a um culto pagão, por isso queria exterminá-lo. Num segundo momento encontramos a Moisés que intercede pelo povo.  A admirável posição de Moisés nasce da compreensão da sua própria natureza humana, solidária com aqueles que não têm ideia do que estão fazendo.
3. A única maneira de salvar o povo não é prometendo que eles não mais errarão, mas apelando para aquilo que Deus é: paciência, amor, misericórdia. O salmo penitencial completa a reflexão. A misericórdia divina manifestada em Cristo Jesus também tocou a Paulo, nos revela em seu testemunho a Timóteo. Paulo tem muitas razões, pela sua história pessoal, em acreditar na bondade de Deus para com o pecador.
4. Das parábolas da misericórdia aqui apresentadas já tivemos uma visão sobre os dois filhos no 4º domingo da Quaresma. Hoje retomaremos a introdução e as duas pequenas parábolas que se seguem. As parábolas são contadas para aqueles que se achavam justos e não entendem a dinâmica divina que busca os pecadores e até faz festa. Por um acaso é desejo de Deus condenar o seu humano que errou?
5. Quem precisa de fato converter-se são os justos e não os pecadores, por não se ‘misturarem’ e por não entenderem quem de fato é Deus e assim correndo o risco de ficar de fora da festa. A narrativa da ovelha perdida se apresenta como algo desproporcional e exagerado para quem perdeu uma só ovelha. Na imagem desse pastor, Jesus inverte a imagem de Deus.
6. Não se trata de um incentivo a pecar para ser ‘buscado’, mas de perceber que diante de Deus somos todos pecadores e que ele não nos ama em proporção aos nossos méritos. Deus simplesmente ama. Deus vê a todos como seus filhos, mas nós não nos vemos como irmãos nos sucessos e infortúnios da vida. Segundo Jesus nós nos surpreenderíamos com o modo de agir de Deus.
7. A segunda parábola vem como reforço da ideia colocada na primeira, mas numa proporção menor. Os detalhes da mulher que busca a moeda incansavelmente surpreendem. Deus é assim, diz Jesus, não se resigna perder nenhuma de suas criaturas, toma a iniciativa, ainda que respeite a liberdade do homem, como na parábola do filho pródigo. 
8. Um aspecto se sobressai nessa parábola: ninguém até então tinha ousado apresentar a imagem divina sob o manto feminino. Essa linguagem rompe todos os esquemas tradicionais que imaginavam a Deus sob a ótica masculina. No trabalho feminino, nas simples tarefas diárias, Jesus não só reconhece o seu valor, mas utiliza como metáfora do amor de Deus.
9. Mas não basta só reconhecer a misericórdia de Deus. Ligando o evangelho a primeira leitura o texto nos questiona sobre o quanto somos capazes de nos identificar com o outro e de perdoa-lo. Até que ponto somos capazes de nos identificar com a sua exagerada mania de salvar a todos e fazer festa? Por isso a última parábola termina à porta da casa, sem sabermos se o filho mais velho entrou ou não para a festa.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de setembro de 2016

(1Cor 10,14-22; Sl 115[116]; Lc 6,43-49) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Paulo faz uma espécie de contraposição entre o culto idolátrico pagão e o culto cristão mediante a celebração da Eucaristia, lembrando que esta nos coloca em uma relação profunda com o próprio Jesus, unindo-nos ao Seu mistério redentor e assim fazer de nossa vida uma oferenda ao Pai, como Ele o fez e nós recordamos a cada dia. E o melhor, cria-se também uma relação entre nós. Na oração sobre as oferendas dessa semana pedimos que esse sacrifício reforce entre nós os laços de amizade. 

O discurso de Lucas, feito na planície e não na montanha, como Mateus, conclui-se com alguns tópicos de convite ao discernimento por parte daqueles que querem ser seus discípulos de fato. Nesse olhar para si e para os outros, um olhar sobre os frutos que produzimos, frutos desse enraizamento em Cristo. Uma vez que resolvemos caminhar com Ele e para Ele, nossos passos vão definindo nosso modo de ser, marcados pelas mudanças significativas. Tudo é um processo lento, mas gradativo que exige um mínimo de planejamento e boa vontade de fazer bem feito o percurso sem improvisos que gerem problemas futuros. É praticamente impossível caminhar sem tempestades, ventos contrários e pequenos abalos sísmicos.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 9 de setembro de 2016

(1Cor 9,16-19.22-27; Sl 83[84]; Lc 6,39-42) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Paulo abre seu coração de evangelizador para testemunhar o quanto o evangelho passou a fazer parte de sua vida. Para ele é algo que dá sentido ao seu existir e que ao mesmo tempo lhe foi confiado e que também tornou-se parte dele mesmo a ponto de não fazer da pregação o seu ‘ganha-pão’. Por fim, sabe que como um atleta, para permanecer na corrida, deve se submeter a uma disciplina rígida. Consciente do sentido dessa vida, ele nos convida a perseverar nesse certame que nos é proposto.

Dizem que “em terra de cegos quem tem um olho é rei”. Jesus nos convida a ter esse ‘olho’ a mais que detecta em si as próprias limitações e não se arvora em retirá-la dos outros antes de ter vencido os próprios obstáculos. A luminosidade que buscamos para caminhar na vida depende da luz interna que carregamos. Deixar-se iluminar por Cristo, acolher com humildade a Sua luz nos liberta da ansiedade de concertar o mundo e concentrar-nos um pouco em nós mesmos, afinal, um ser humano que se eleva, eleva o mundo inteiro.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 08 de setembro de 2016

(Mq 5,1-4; Sl 70[71]; 12[13]; Mt 1,1-16.18-23) 
Natividade de Nossa Senhora

Para o dia de hoje, veja o comentário litúrgico do ano anterior. Nesse dia em que celebramos a festa do nosso pequeno santuário dedicado a Nossa Senhora Menina (Lagarto também celebra sua padroeira, se não me falha a memória – N. Sra. da Piedade - e Curitiba, sob o título de N. Sra. da Luz) gostaria de reproduzir esse texto que considerei bem construído e pertinente para nossa compreensão dessa festa: “Os momentos principais na vida Virgem são comemorados pela Igreja (tanto no Ocidente como no Oriente) com solenidades litúrgicas, no decurso do ano. Neste dia se celebra o seu nascimento. O nascimento de Maria resume a longa preparação e o início da realização da promessa messiânica. Em Maria, filha do povo de Israel, o amor de Deus se projeta sobre toda a humanidade. Nesse projeto divino ela é a conexão entre o antigo e o novo pacto. Maria foi concebida como todos os filhos de Adão, mediante a relação conjugal dos seus genitores. Só Jesus fará exceção à ordem da natureza. Maria viu a luz neste mundo conforme esta ordem, se bem que nela houvesse a plenitude da graça desde o primeiro instante da concepção. Mas o olhar da menina Maria, diz Bernanos, ‘é o único verdadeiramente infantil, o único olhar de criança que jamais se levantou sobre nossa vergonha... Olhar inconcebível, inexprimível, que a torna mais jovem que o pecado, mais jovem do que a estirpe da qual saiu’. Por ser Deus quem se refletia naquele olhar de menina, este era imensamente superior ao de todos os outros santos. Uma santidade em crescendo, como será a de seu divino Filho, que ‘crescia em idade e graça’ mediante aquela aceleração no progresso espiritual – como diz são Tomás – semelhante à lei da queda do corpo no vácuo. Isso porque quanto mais uma alma caminha para Deus, mais celeremente Deus a atrai. Essa menina é ,pois, o verdadeiro protótipo da criação, como tinha saído de suas mãos ‘na aurora de seu esplendor original’. E neste dia a Igreja universal se curva, em reverente contemplação, sobre o berço de Maria menina, para admirar nela a intata beleza da qual era revestida a criatura antes do pecado” (Mario Sgarbosa – Os Santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 7 de setembro de 2016

(1Cor 7,25-31; Sl 44[45]; Lc 6,20-26) 
23ª Semana Comum.

Olhando assim, grosso modo, o conselho do apóstolo quanto ao matrimônio soa um pouco estranho, como se, indiretamente, ele exaltasse a vida celibatária. Me parece que não se trata disso, mas de uma visão do tempo presente a partir da vinda de Cristo e daquilo que nos ensinou. Com relação à vida eterna, tudo é relativo, inclusive os laços afetivos que construímos. É claro que não podemos amar como se não amássemos. A questão é não prender o coração, deixa-lo livre para a hora de seguir o Esposo e entrar com Ele para as núpcias, nos inspira o salmo nessa imagem.

As bem aventuranças em Lucas aparecem de modo mais breve e seguidas de uma série de advertências pontuais para aqueles que não as abraçam, no sentido na necessidade de Deus em nossa vida, de um modo geral. “Proclamando as bem aventuranças, Jesus não propõe uma religião que adormece a consciência dos pobres, dos aflitos, assegurando-lhes um futuro feliz. Ele nunca convidou a pensar apenas no depois, mas deu pão a quem tinha fome, consolou eficazmente os aflitos, acolheu os marginalizados, curou os doentes, jamais se vingou das rejeições ou ofensas recebidas. Proclamando ‘bem aventurados’ os pobres, Jesus revela que o Pai é sensível à dor, à pobreza do homem. Crer num Deus que vem sempre ao encontro dos pobres comporta que nos tornemos, também nós, sensíveis à pobreza do homem, tenhamos compaixão, entendida como participação na dor alheia” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus). 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 6 de setembro de 2016

(1Cor 6,1-11; Sl 149; Lc 6,12-19) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Paulo segue num tom enérgico e corretivo em sua carta. Desta vez ele contempla a situação de litígio entre os irmãos da comunidade que acabam recorrendo a um juízo comum, pagão, expondo a própria situação em que se encontram: incapazes de superar os atritos que surgem entre eles, testemunhando assim um cristianismo enfraquecido, não disposto ‘a perder para ganhar’. A recomendação do evangelho não seria buscar entre eles um irmão que pudesse ajudar na resolução do problema, antes de tornar a coisa pública? Por fim Paulo recorda que todos nós viemos de uma condição de pecado, fomos restaurados em Cristo. Não podemos regredir na nossa busca da santidade de vida.

Contemplamos aquele momento em que depois de uma noite de oração, Jesus chama, entre os seus discípulos, aqueles doze que o acompanharão mais de perto. De Jesus aprendemos que a oração nos capacita para tomarmos boas decisões. “Como nenhum outro evangelista, Lucas descreve Jesus como alguém que orava. Jesus é o grande orante. Nos mais importantes acontecimentos de sua vida ele ora. Ele ora antes de tomar decisões. Sempre de novo Jesus se retira para lugares ermos, a fim de orar ao Pai. Quando Lucas escreve sobre Jesus como orante, ele sempre já pensa na fé do cristão, para quem a oração é sobretudo o caminho para aguentar as aflições desta vida. Assim como Jesus supera os seus sofrimentos pela oração, também o cristão deve se agarrar a Deus na oração, a fim de, através de todas as aflições, chegar à glória celeste. A oração é o caminho para o cristão se exercitar na atitude de Jesus, e ficar compenetrado de seu espírito” (Anselm Grun –Jesus, modelo do ser humano – Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 05 de setembro de 2016

(1Cor 5,1-8; Sl 5; Lc 6,6-11) 
23ª Semana do Tempo Comum.

Paulo se vê diante de um caso incomum: alguém está vivendo maritalmente com a própria madrasta. Num primeiro momento Paulo pede uma mudança de comportamento; depois o afastamento da comunidade para que seu estilo de vida não inspire outros a pensar que está tudo bem. Pode nos soar um tanto forte as palavras do apóstolo, mas para uma comunidade que está dando os seus primeiros passos o zelo do apóstolo não podia ser melhor para que não comece, mas algo que tem um fim excelso: a vida de comunhão com Deus que exige pureza também nas atitudes.

Jesus cura um homem cuja mão direita está atrofiada (seca), isso não seria problema se não fosse um sábado. Mas Jesus coloca o homem no centro e desafia aqueles que o observam a perceber a verdadeira vontade de Deus; “Quando Jesus cura o homem, ele o restabelece assim como Deus o criou, na sua beleza original e na sua bondade. Por isso as curas mais importantes, em Lucas, acontecem no sábado, no dia em que Deus descansou da sua Criação. Mas existe ainda um outro motivo pelo qual Lucas coloca as curas sabáticas no centro de sua teologia da cura. No domingo os cristãos se reúnem para partir o pão em comunidade e para celebrar, no culto, aquele que outrora, na história, curou e reergueu os doentes. Na liturgia, a atuação sanadora de Jesus se torna presente. Por isso Lucas nos diz que o povo reagiu à cura do paralítico com as palavras: ‘hoje vimos coisas maravilhosas’ (Lc 5,26). O que aconteceu então acontece ‘hoje’, quando os cristãos se reúnem no culto dominical. A Eucaristia é o momento de cura. E a leitura, a meditação sobre a narrativa evangélica podem se tornar o momento em que nós, como leitores, nos tornamos participantes da cena da cura, que Lucas, com as suas palavras, nos coloca diante dos olhos” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola).


 Pe. João Bosco Vieira Leite

23º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Sb 9,13-18; Sl 89[90]; Fm 9b-10.12-17; Lc 14,25-33).

1. Para além do conhecimento que temos das coisas necessárias para viver, sejam elas de ordem prática ou técnico científico, está a necessidade de um ‘norte’ para a nossa vida. Algumas decisões que devemos tomar, o real sentido que estamos dando ao nosso caminhar, só nos vem, quando cremos, por uma luz do alto, que chamamos de sabedoria.
2. É na escuta de Deus, de sua Palavra que vamos descobrindo qual é o verdadeiro bem, para onde deve tender o nosso caminhar. A partir dela cultivamos um outro tipo de conhecimento. Nossas decisões são muitas vezes condicionadas pelo tanto de informações que nos chegam ou por aqueles que caminham conosco. É nesse quadro geral que a Palavra de Deus tem o seu peso.
3. A 2ª Leitura nos permite acompanhar um pequeno fato da vida de Paulo e desse curioso entrelaçamento de situações da vida. Paulo converteu ao cristianismo um jovem rico de Colossos chamado Filêmon. Este tinha um escravo chamado Onésimo que lhe tinha roubado dinheiro e fugido.
4. Esse mesmo escravo um dia vai parar na mesma prisão que Paulo e lhe conta a sua história. A proximidade entre os dois acaba levando Onésimo a receber o batismo. Sabendo do desejo deste escravo de voltar ao seu antigo patrão, Paulo intercede por ele, escrevendo essa carta e o desafiando em sua fé. E nós somos chamados a refletir no modo como acolhemos os que erram.
5. O evangelho nos recorda que Jesus está a caminho de Jerusalém e, provavelmente, se deu conta da grande quantidade de discípulos que o seguem. Jesus aproveita para deixar claro a estes o que significa segui-lo a partir de três colocações ou condições. As imagens são sempre fortes para provocar a reflexão.
6. A renúncia aparece em primeiro plano com um sentido da firme decisão a ser tomada em alguns momentos da vida por causa do evangelho. Quando será necessário romper com algo ou alguém? Carregara a cruz pode ter muitas interpretações, mas se imaginamos a partir da cruz de Jesus, temos uma clara compreensão da doação de si mesmo com tudo aquilo que consiste o ideal cristão.
7. Se as coisas não parecem claras Jesus ilustra com duas parábolas que tem a mesma finalidade: tomar cuidado com certo entusiasmo inicial que não nos permite ver claramente o que vem pela frente. Ninguém torna-se discípulo de Jesus de hora para outra. Pare, pense, avalie: tenho condições de perseverar em sua proposta?
8. O tom do discurso de Jesus atinge uma nota mais forte: renunciar a tudo o que possui. Como assim? Estaria ele falando aos que o seguem mais de perto ou a todos? Não é fácil concluir, mas no contexto geral do seu evangelho sua fala pode significar uma nova relação que passamos a ter com os bens desse mundo, particularmente diante das necessidades do outro.
9. É lícito acumular sem partilhar? Gozar a vida sem se dar conta do sofrimento alheio? Talvez seja por isso que a liturgia coloca para nós essa necessidade de buscarmos a sabedoria divina. Para não fazer do nosso seguimento um ledo engano ou do nosso caminhar um fadigar-se que vai dar em nada. Que esse mês da bíblia nos recupere esse desejo da escuta e da reflexão.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 03 de setembro de 2016

(1Cor 4,6-15; Sl 144[145]; Lc 6,1-15) 
São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja.

Em seu discurso, Paulo vem em defesa do seu ministério apostólico, lembrando, de forma indireta, todas as dificuldades enfrentadas e como, apesar de tudo isso, se manteve fiel ao evangelho. Paulo não busca com isso um reconhecimento, mas lembra que tudo o que somos e recebemos é dom de Deus que age em cada um de nós para o bem de todos. Assim, o salmo que se segue poderia ser uma oração paulina de confiança no Senhor.

A partir da atitude dos discípulos provocada pela necessidade, Jesus reafirma ser o Senhor do sábado, que na sua origem, mesmo sendo um dia de repouso, não poderia impedir o encontro de Deus com a sua criatura, para acudi-la em suas necessidades e lhe restaurar a existência. Assim Jesus vem dar-lhe uma nova interpretação. Deus quer servir ao ser humano, ajuda-lo a avançar. Por que as leis humanas parecem travar os nossos passos ou torna-los pesados?


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 02 de setembro de 2016

(1Cor 4,1-5; Sl 36[37]; Lc 5,33-39) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Três elementos interessantes são ressaltados por Paulo nesse trecho da carta. 1ª coisa: saber-se administrador e não dono da mensagem e da missão que desempenha. 2ª coisa: é a partir de dentro que podemos avaliar nossa fidelidade ao evangelho, não tanto pelos frutos produzidos. 3º: todo julgamento cabe a Deus, ele sonda e vê os corações.

Jesus deixa clara a diferença entre ele e João, o batista. Ele é a novidade que inaugura um tempo novo, assim, nesse momento, certas práticas não cabem. Jesus se apresenta como uma novidade que exige de quem o acolhe uma nova disposição para entender, acolher e perceber até onde a nossa fé n’Ele pode nos levar. Se fossemos plenamente conscientes dessa vida nova em Cristo, seriamos contentes como convidados de uma festa de casamentos, porque amigos do noivo, partilhamos de sua alegria.

Pe. João Bosco Vieira Leite 

Quinta, 01 de setembro de 2016

(1Cor 3,18-23; Sl 23[24]; Lc 5,1-11) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Paulo fala sobre a sabedoria divina, como ela diverge do conhecimento humano e por isso nada nesse mundo deve ser idolatrado, pois tudo, em relação a Cristo, adquire um outro sentido e se somos de Cristo devemos buscar o seu modo de ver o mundo, a sua sabedoria.

O chamado dos primeiros discípulos aqui em Lucas se reveste de uma particular força não só do sinal que Cristo oferece, mas da atenção à sua Palavra, que deverá fortalecer, guiar e imprimir no discípulo um novo modo de viver. Essa Palavra também produz frutos abundantes no coração humano; a atitude de Pedro é significativa, pois ele mesmo foi transformado pela força dessa Palavra. Aprendamos da Palavra de Jesus a necessidade que temos de obedecer para ver os frutos acontecer.



Pe. João Bosco Vieira Leite