Quinta, 30 de junho de 2016

(Am 7,1—17; Sl 18[19; Mt 9,1-8) 
13ª Semana do Tempo Comum.

As palavras de Amós começam a incomodar o reinado, pois o profeta vislumbra as consequências de tudo que já havia denunciado. A perseguição é um tema comum aos verdadeiros profetas. A palavra se torna incômoda, particularmente quando toca nos interesses dos poderosos. Revela-se no texto o profetismo como vocação real, o chamado que Deus fez a partir de sua situação existencial, e o profetismo institucional, aprisionado ao esquema palaciano.  É a fé que faz avançar em meio as contradições do caminho.


Nessa narrativa da cura do paralítico, transcendendo essa associação entre enfermidade e pecado, o texto nos revela a condição do pecador, paralisado pelo seu próprio mal. Jesus traz de volta a liberdade perdida e o movimento da vida, que é o desejo de Deus para todos os homens e mulheres que se revela em Jesus a na misericórdia divina. Há uma palavra que é proferida e uma fé que vai ao encontro da mesma. Na missão da Igreja subsiste esse poder de ajudar a ‘levantar-se’, a experimentar a força da ressurreição.  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 29 de junho de 2016

(Am 5,14-15.21-24; Sl 49[50]; Mt 8,28-34) 
13ª Semana do Tempo Comum.

Com a festa de São Pedro e São Paulo transferida para o domingo, continuamos a leitura do nosso profeta. Amós volta ao tema da injustiça praticada por Israel e da rejeição de Deus de um culto apenas exterior. Mas ele vislumbra um caminho de conversão: ‘é preciso detestar o mal e praticar o bem’. É preciso estar atento a essa presumida confiança de que Deus está conosco a partir de meras observâncias externas. Deus quer, na realidade, que nos entreguemos humildemente na consciência de que não temos pretensões a alegar, mas só misericórdia a receber.

O nosso evangelho de hoje não é de fácil compreensão. Mesmo tendo afastado a ação maligna daquela região, as pessoas pedem a Jesus que se vá. Mesmo vislumbrando a autoridade de Jesus, o ser humano permanece livre para rejeitá-la. Estariam eles avaliando não a partir da libertação alcançada, mas do ponto de vista do prejuízo material? O que estaríamos dispostos a perder para ver em nós a libertação acontecer?


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 28 de junho de 2016

(Am 3,1-8; 4,11-12; Sl 5; Mt 8,23-27) 
Sto. Irineu, bispo e mártir.

Depois da chamada de atenção sobre a prática da justiça e sobre o direito dos pobres, mesmo celebrando impecavelmente o culto, sobre a dureza de coração, o profeta agora coloca em destaque a escolha de Deus por Israel, através de uma relação de causa e efeito. A Palavra de Deus é comparada ao rugido de um leão: é como alguma coisa que urge dentro e que sai com ímpeto, provocando o inevitável efeito para o qual foi enviada. Talvez aqui possamos vislumbrar a resistência (de Israel e nossa) em se deixar moldar pelo Senhor, de colocar-se de acordo, como duas pessoas que caminham juntas.

A tempestade acalmada revela o coração dos discípulos e da própria comunidade sobre a fé em Jesus. Sobre esse acreditar na vitória do Reino sobre as forças do mal, por isso, ao final, a pergunta sobre a identidade divina de Jesus (somente Deus pode dar ordens ao vento e ao mar). O plácido lago de nossa vida pode ser agitado por forças que, às vezes, desconhecemos. O barco representa também a comunidade, a Igreja do tempo de Mateus, sacudida, vez ou outra, mas não abandonada. Quem se coloca nas mãos de Deus deve estar consciente desses ‘pequenos abalos’, mas deve levar consigo a certeza de Quem é maior (vitorioso) que tudo isso que nos acontece.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 27 de junho de 2016

 (Am 2,6-10.13-16; Sl 49[50]; Mt 8,18-22) 
13ª Semana do Tempo Comum.

Essa semana acompanharemos seis textos do profeta Amós, um dos doze profetas menores que viveu no século VIII a. C.; exerceu seu ministério no próspero e populoso reino do Norte, separado político e religiosamente de Jerusalém dois séculos antes, denunciando violentamente o grande pecado de Israel: a injustiça social que desfigura a relação com o homem, tão grave como o pecado de idolatria, que desfigura a relação com Deus. O texto de hoje gira em torno dessa realidade como uma espécie de reclame do Senhor que realizou tantas maravilhas em seu favor, mas parece que estas não lhe tocaram o coração. Seria o nosso caso?

No evangelho acompanhamos a versão de Mateus do mesmo evangelho de ontem. Ser discípulo não comporta privilégios, a fé é uma aventura a ser vivida também de modo decisivo, sem permitir que mesmo os sentimentos mais preciosos, como os afetos familiares, perturbem a nossa decisão, pois ‘onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu coração’.


Pe. João Bosco Vieira Leite

13º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(1Rs 19,16b.19-21; Sl 15[16]; Gl 5,1.13-18; Lc 9,51-62)
1. No coração da nossa liturgia da Palavra está a temática do chamado e para compor essa reflexão temos esse relato da vocação de Eliseu, chamado para substituir Elias.
* A narrativa é carregada de simbolismo. Ao jogar seu manto sobre Eliseu, se transmitia a este a força e os poderes extraordinários que Deus lhe concedera.

2. Antes de partir Eliseu executa um rito de separação da sua vida anterior, imolando os bois, queimando seus instrumentos de trabalho e alimentando os seus.
* O primeiro aspecto que sobressai é o do rompimento com o passado, aquilo que deixamos para trás para caminhar com Deus. Tomar consciência do próprio batismo, do chamado.
* Segundo: muitos são chamados a partir das suas próprias ocupações para colaborar com o Reino. Quem colabora na comunidade e faz serviço voluntário não é um desocupado.

3. Chegamos ao último trecho da carta aos Gálatas, e somos recordados dessa liberdade que o evangelho traz aos que o seguem, libertando-se de antigas tradições.
* Mas essa liberdade não é para fazer o que ‘dá na telha’, mas para o amor. É provável que Paulo vislumbre uma situação particular na comunidade, onde a falta de caridade torna as relações insustentáveis.
* Talvez, para nós que hoje escutamos o apóstolo, essa divisão entre a carne e o espírito nos lembre dessa escolha entre o impulso natural e a inspiração divina de nosso agir. 

4. Uma vez anunciado, domingo anterior, o seu fim, Jesus empreende um caminho para Jerusalém. Nele Lucas reúne uma série de ensinamentos que aprofunda o seguimento.
* Os discípulos de todos os tempos estão refletindo sobre os compromissos batismais. Ser cristão de fato nunca foi tão fácil e simples.

5. A oposição dos samaritanos serve de sinal para lembrar-nos que nem todos fizeram a mesma opção que nós. Jesus faz ver que o tempo do fanatismo, da agressividade ficou no passado.
* A jaculatória: “Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”, diz bem desses desejos de vinganças e intolerâncias que nos perseguem devem ser acalmados.

6. Ninguém está obrigado a aceitar o evangelho e isso não deve impedir a nossa convivência. Na sequência da narrativa três indivíduos querem seguir Jesus e algumas coisas se esclarecem.
* Segui-lo não é fonte de privilégio. Toda viagem tem seus altos e baixos, e caminhar com ele não é necessariamente um turismo.

7. Segui-lo significa romper com o passado. Para fazer pesar a escolha, Jesus relativiza um dos preceitos mais sagrados para o judeu: sepultar seus mortos.
* O texto não pode ser tomado ao pé da letra, mas também não se pode tirar dele o seu peso real: nada pode impedir a nossa decisão de segui-lo, mesmo os sentimentos mais sagrados. As tensões serão constantes, como uma escolha diária.

8. Esta imagem fica reforçada no terceiro encontro: todas as afeições são secundárias quando se trata de responder ao chamado de Deus.
* Em contraposição a 1ª leitura, Jesus demonstra uma pressa na decisão, na escolha por sua pessoa. Cada instante é precioso.
* essa escolha transparece no nosso testemunho; na palavra de fé que transmitimos ou partilhamos como parte de nosso compromisso de caminhar n’Ele, por Ele e para Ele.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 25 de junho de 2016

(Lm 2,2.10-14.18-19; Sl 73[74]; Mt 8,5-17) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Nossa liturgia da palavra insere esse texto do livro das Lamentações, atribuído a Jeremias, para chorar a destruição do Templo e a queda de Jerusalém: o impossível se concretizava, as promessas divinas pareciam ter falhado. O autor, um poeta, reza na plena consciência de sua culpa e atribui a Deus, não aos inimigos, tamanho castigo e clama por misericórdia. O salmo reforça esse lamento. Há um tempo pra tudo, e como tudo, passa.

Entramos num bloco onde dez curas são narradas. Mateus nos reconta o evangelho de alguns domingos atrás em sua versão. É o centurião que vai até Jesus pedir pelo seu servo, sem outras mediações; a resposta de fé provoca a admiração de Jesus e a comparação com Israel que não o vê como esse homem, ao mesmo tempo ele é prenúncio dos que hão de crer em Jesus. Independente disso Jesus segue curando como testemunho desse tempo novo que chegou: ao curar, Jesus está introduzindo o reinado de Deus, que deseja salvar o homem todo, inclusive do poder da morte. Renovemos nossa esperança e deixemo-nos tomar pela mão pelo Senhor.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 24 de junho de 2016

(Is 49,1-6; Sl 138[139]; At 13,22-26; Lc 1,57-66.80) 
Natividade de São João Batista.

Jesus Cristo, a Virgem Maria e João Batista, fazem parte desse seleto grupo cujo nascimento fazemos especial memória, todos eles ligados ao mistério da Encarnação. O texto de Isaias dá ao nascimento do Batista um caráter profético de especial escolha do próprio Deus. Ao mesmo tempo o texto revela sua missão de ser luz que ilumina o caminho de volta e o caminho daquele que virá. O salmo contempla esse mistério de Deus que envolve a nossa existência: é impossível viver fora dele. Paulo lembra a sua missão de precursor e humilde posição nesse plano salvífico. Enquanto Lucas nos situa no dia mesmo do nascimento e nos envolve nesse clima de alegria e mistério: “Que virá a ser esse menino?”.

A festa de hoje nos faz pensar no amor previdente do Senhor, a importância de suas preparações: como o terreno que se prepara para acolher a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receber bem os seus dons. Por isso vivemos na vigilância: para sermos atentos, por si e pelos outros, à ação de Deus e saber discernir em meio às situações terrenas. A importância de João Batista na história da salvação leva a Igreja a se alegrar e celebrar sua especial missão, mesmo que seu ministério, que já é anunciado por Lucas, tenho sido consequência de uma vida de penitência que ele mesmo experimentou. Tudo isso para salientar a alegria esperada do encontro. Receber uma visita comporta toda uma preparação que às vezes pode nos parecer cansativa, mas a alegria do encontro torna leve o fardo. Assim caminhamos na vida, nas obrigações diárias que nos são impostas, como uma purificação que prepara a casa, o coração, para acolher aquele que virá.

Pe. João Bosco Vieira Leite



Quinta, 23 de junho de 2016

(2Rs 24,8-17; Sl 78[79]; Mt 7,21-29) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Ao final do livro dos Reis temos a deportação para a Babilônia de Joaquim (Jeconias), segundo a nossa tradução. Esse texto marca o exílio propriamente dito o saque e destruição do Templo. O refrão que se segue é que não fizeram o que agradava ao Senhor. Assim lerá a posteridade de Israel, como uma fonte de contínua reflexão sobre o significado de andar na presença do Senhor e realizara sua vontade.

E por falar em vontade divina, chegamos à conclusão do Sermão da Montanha. Nele nos é revelada a vontade do Pai, o seu cumprimento estabelece o caminho que nos leva à vida. Habituados a toda uma gama de espetáculo em torno da fé, esquecemos facilmente o essencial. É preciso unir o ‘ouvir’ e o ‘fazer’ para sermos mais sensatos no caminho da fé. “João Crisóstomo interpretou essa metáfora da seguinte maneira: nada pode prejudicar aquele que lança os seus fundamentos em Jesus, nem tempestades nem enchentes. Nada me pode ferir, nem ofensas nem as projeções pelas quais outros lançam o seu inconsciente sobre mim, desde que eu construa a minha casa sobre a palavra de Jesus, definindo-me por Jesus e não pelo juízo dos homens e pelo comportamento diante de mim. Mas se eu construir a minha casa sobre ilusões, por exemplo sobre a ilusão de receber o reconhecimento e a aceitação de todos, a casa cairá logo que alguém me magoar ou machucar. A palavra de Jesus quer mostrar-me o verdadeiro fundamento em que minha casa estará firme, sem que os ferimentos causados por outros possam derrubá-la: é o fato de eu ser filho ou filha de Deus, que me ama incondicionalmente. Se construir a minha casa sobre essa rocha, a minha vida dará certo. Por mais que as pessoas me firam, a minha casa não desabará” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 22 de junho de 2016

(2Rs 22,8-13;23,1-3; Sl 118[119]; Mt 7,15-20) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Uma viagem no tempo nos leva ao reinado de Josias, marcado por reformas significativas em vários campos, e particularmente no campo cultual. É em seu reinado que se encontra uma cópia do livro do Deuteronômio. A leitura de tal texto o leva a consciência das tantas coisas não observadas por Israel e que o levaram a merecer o castigo divino. Creio que seja essa a compreensão que devemos ter desse trecho. A tal consulta do rei é uma busca de expiar e afastar a cólera de Deus. O texto se conclui com uma renovação da aliança. O texto pode ser lido como um convite a estarmos sempre atentos às palavras que nos são dirigidas por Deus para não esquecermos o pacto estabelecido, não por medo de castigos, mas de não amá-lo como convém.

Outra exortação do sermão da Montanha é a advertência com relação aos falsos profetas e a busca de estar atento aos frutos produzidos por eles. Os frutos podem ser suas ações ou os efeitos de sua pregação. A comunidade cristã não está isenta do que acontecia com o antigo Israel. É quase um convite a agir com prudência na escuta e no seguimento, particularmente nesse novo mundo das comunicações virtuais em que não se vê o ‘profeta’, mas se escuta a ‘profecia’ e suas danosas consequências. Cuidado com o que se repassa...

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 21 de junho de 2016

(2Rs 19,9-11.14-21.31-36; 47[48]; Mt 7,6.12-14) 
São Luiz Gonzaga.

Ezequias, um dos reis de Israel, busca no Senhor a proteção necessária contra o rei da Assíria. O texto é uma reafirmação da promessa divina a Davi e também da fé de Israel no Deus verdadeiro. A quem recorremos em nossas necessidades e que exige de nós uma fé firme e não dividida.

Na sequência dos conselhos do capítulo sete, inicia-se o texto com um conselho da devida discrição no uso dos tesouros cristãos, pois nem todos têm condição de dar o devido valor ao que para nós é sagrado. A regra de ouro volta de forma positiva: faça aos outros o que gostaria que lhe fizessem. Ela se aplica as coisas comuns da vida, mas também no desafia no heroísmo necessário de certas situações. A tradicional imagem dos dois caminhos é aqui usada, pois o cristão deve tomar decisões e caminhar entre dificuldades e ambiguidades. Jesus mesmo se apresenta como caminho e como porta. Nele andamos, sob a luz de Sua Palavra, por Ele entramos para a comunhão do mistério filial que somos chamados a viver. Cada conselho pode ser refletido separadamente como um exame de consciência do nosso atuar cristão. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 20 de junho de 2016

(2Rs 17,5-8.13-15.18; Sl 59[60]; Mt 7,1-5) 
12ª Semana do Tempo Comum.

Nossa leitura do livro dos Reis dá um salto e nos situa no tempo do rei Oséias, que reinava na Samaria, que terá o seu território invadido e seu povo deportado. O autor sagrado faz uma leitura teológica do fato atribuindo tal desgraça ao pecado do povo, não sem antes tê-lo advertido pelos profetas. Talvez essa narrativa nos ajude a entender a hostilidade dos judeus aos samaritanos, pois na Samaria virão habitar outros povos, povoando o território de gentios (pagãos). Assim já compreenderemos a rejeição dos samaritanos em receber Jesus no evangelho do próximo domingo. Um texto meramente explicativo e que nos diz que persistir no erro tem suas consequências.

No sermão da montanha, que já caminha para o seu fim, tem no capítulo 7 uma série de instruções e exortações breves. O primeiro é a respeito do julgamento arrogante; quem tem ‘telhado de vidro’ não atira pedra para cima ou aleatoriamente. Muitas vezes não assumimos nossos defeitos para melhor conviver com eles. Uma atitude humilde e conhecedora de si (conhece-te a ti mesmo) nos obriga a calar o que percebemos de erro nos outros quando estes também fazem parte do meu cotidiano. Conta-se que uma mulher procurou Gandhi, trazia consigo uma criança, ela pediu ao sábio homem que aconselha-se seu pequeno a não comer açúcar. Gandhi disse a mulher que voltasse dali a uma mês. Retornando no prazo previsto, colocam-se na frente do sábio e este, voltando-se para a criança, de forma imperativa lhe diz: - Menino, pare de comer açúcar! A mãe se volta para ele e pergunta: - Um mês só para dizer isso? Ele lhe responde: - É que eu também gostava de açúcar.


Pe. João Bosco Vieira Leite

12º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Zc 12,10-11; 13,1; Sl 62[63]; Gl 3,26-29; Lc 9, 18-24)

1. Para acolhermos e entendermos esse texto da 1ª leitura de hoje é necessário ter presente o anúncio de sua paixão que Jesus faz aos discípulos no evangelho. O profeta fala de um homem justo e inocente que foi ferido de morte e que é contemplado por uma multidão que lamenta a sua morte.

2. Certamente o profeta está se referindo a um fato de seu tempo, mas em todos os tempos, e em Jesus buscamos uma compreensão para o fato da perseguição e morte dos que promovem a fraternidade e a paz e defendem a liberdade. Nem sempre a resposta é fácil ou simples.

3. Em seu discurso, Paulo lembra aos cristãos que o que os distingue dos outros não é um uniforme que se endossa, mas um estilo de vida que se abraça. No simbolismo da veste batismal, da mudança de mentalidade, ele nos recorda que não importa raça, status, sexo ou cor. Somos um em Cristo.

4. Lucas salienta esse rezar constante de Jesus e o que segue se reveste de certa importância. Diante das expectativas messiânicas do povo, Jesus sonda os seus discípulos. De certo modo a pergunta os pega de surpresa, pois Jesus sempre agiu de maneira despreocupada com relação ao que pensavam a seu respeito.

5. Pela resposta dos discípulos o que aparece não é tanto a figura do messias esperado, mas um precursor do mesmo.  Sim, Jesus não correspondia a figura do Messias esperado. Para um povo que viveu sempre dominado por povos estrangeiros, o messias deveria ser um libertador, um rei vencedor.

6. Também como os discípulos, de tempos em tempos, vamos sendo surpreendidos por perguntas pessoais a respeito de nossa fé em Cristo. O mundo vai evoluindo, as ciências vão avançando e o homem vai se sentido mais senhor de si, ao menos os que são detentores do poder e da riqueza. Que importância passa a ter Jesus em nossa vida?

7. A resposta de Pedro pode estar certa, mas esconde atrás de si uma certa expectativa de uma ação mais enérgica e efetiva, assim como nós diante de tanta maldade e corrupção ao nosso redor. Jesus deixa claro aos seus discípulos o que estar por vir. E inverte a lógica esperada por uma resposta de amor que transforma o maior pecado da humanidade numa história de salvação, de redenção.

8. Aos discípulos de todos os tempos, Jesus pede apenas que acolham o caminho de seu seguimento, que não é feito de perguntas e respostas como um antigo catecismo. Mas uma escolha de nos deixar guiar pela justiça do Reino, que não busca só a própria satisfação e não se coloca no centro.

9. A cada dia renovamos essa resposta, pois caminhar com ele é um projeto de vida, não coisa de um momento; é necessário perseverar diante das dificuldades que se apresentam; “perder a vida” faz parte dessa dinâmica de quem entendeu esse compromisso com a existência que me faz abrir mão da minha vontade para ajudar o próximo.  



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 18 de junho de 2016

(2Cr 24,17-25; Sl 88[89]; Mt 6,24-34) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Nossa liturgia da Palavra insere um texto do livro das Crônicas para nos ajudar a entender um pouco melhor a figura de Joás, seu reinado e sua morte. O texto se restringe a dados essenciais e faz deles uma leitura teológica. Na segunda retomaremos a leitura de 2RS. 

De forma poética, o autor sagrado retoma o conselho evangélico sobre os bens terrenos e sobre a confiança em Deus. Há uma preocupação excessiva que faz desmerecer a ação providente de Deus. Mateus pede uma concentração nos valores do Reino, o que não significa necessariamente um descuidar-se do necessário e da vida. O texto revela, em suas imagens, a sensibilidade contemplativa de Jesus. Por fim, tomar consciência que a busca da justiça do Reino faz o bem acontecer para todos. “Quanto à necessidade de alimentar-nos e de vestir-nos, Jesus nos remete aos pássaros do céu e aos lírios do campo. Ele quer acertar os ponteiros que regulam a nossa vida. Não é a preocupação com a alimentação e a roupa que deve determinar a nossa vida, e sim a preocupação com o Reino de Deus [...]. a preocupação com o sustento da vida e com o trabalho faz parte da natureza do homem. Mas o critério que decide se o homem é verdadeiramente homem é a preocupação com o Reino e a justiça de Deus. Quando Deus reina no ser humano, este se torna realmente humano e verdadeiramente livre. Quando Deus reina no ser humano, este se habilita para uma nova justiça e o reinado de Deus se expressa em um novo comportamento. Essa é a questão central, e não a inquietação que nos faz voltear aflitos em torno de nós mesmos” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 17 de junho de 2016

(2Rs 11,1-4.9-18.20; Sl 131[132]; Mt 6,19-23) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Saltamos o ministério inicial de Eliseu para situar-nos no reino de Judá num momento da história de Israel onde encontramos Atália, filha de Jezabel, que viu toda sua família ser dizimada, conforme o profeta Elias disse que aconteceria, resolve exterminar a família do rei, mas um de seus membros, herdeiro legítimo, é salvo por um sacerdote. Atália assume o poder sem saber desse descendente de Davi que no Templo crescia. O objetivo do autor sagrado é mostrar por esse relato, como a promessa de Deus se cumpre contra toda a expectativa humana.

Segue-se, no discurso de Jesus, quatro recomendações sobre a posse de bens, que não deixa de ser um comentário ao espírito de pobreza proclamada na primeira bem-aventurança. No trecho de hoje a crítica é sobre o transformar a riqueza em ponto de apoio para a existência. Há no texto um jogo de palavras de não fácil tradução. Com esse ‘olho bom e’ ‘olho doente’, temos respectivamente a generosidade e a mesquinhez.  A única saída para não se tornar refém dos próprios bens acumulados ou da riqueza em si, é descobrir o caminho da generosidade. Quem é generoso não conhecerá a solidão.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 16 de junho de 2016

(Eclo 48, 1-15; Sl 96[97]; Mt 6,7-17). 
11ª Semana do Tempo Comum.

Como uma joia incrustada numa lápide, a liturgia da palavra acrescenta esse texto de elogio a figura do profeta Elias que fora arrebatado. Resta-nos deliciar-nos com essa composição que é uma síntese da vida do profeta e o reconhecimento do seu ministério. Esse texto faz parte dos elogios aos homens de bem feito pelo autor desde o capítulo 44.

Ao centro do discurso se encontra a oração do Pai nosso, como havia comentado anteriormente. A oração no contexto em que se encontra, quer ser um compêndio que evita o ser prolixo no diálogo com Deus. Em sua formulação há uma invocação e sete pedidos, três em honra de Deus e quatro a favor do homem. Pai equivale ao novo nome de Deus que implica a consciência da filiação. Santificar não é dar, mas reconhecer. O reinado de Deus é o exercício do seu poder; um pedido que ressoa por todo o evangelho. O pedido do pão parece ter dois sentidos: o sustento diário da vida e também o vislumbre da vida perdurável, o dia eterno (o pão celeste). O perdão aparece sobre a imagem da dívida, já vislumbrado em Eclo 28,2. A provação ou tentação fortalece a fé, o pedido não é para se ver livre delas, mas capacidade de superá-las. O texto reforça a necessidade do perdão. Nesse ano da misericórdia não esqueçamos do quanto de perdão precisamos pedir, mas também perdoar a nós mesmos: “Na direção espiritual, percebo que muitas pessoas julgam, avaliam e condenam constantemente a si próprias. Eu só conseguirei avançar no caminho que me leva a Deus se renunciar à avaliação daquilo que está dentro de mim. O meu interior simplesmente é como é. Só poderei muda-lo se o aceitar antes. Se o condenar pura e simplesmente, ele se esconderá em meu inconsciente, de onde ressurgirá justamente no momento que menos espero. Preciso parar de avaliar, permitindo assim que as coisas que me parecem desagradáveis possam mudar. Eu as estendo diante de Deus, e o Espírito de Deus poderá transformá-las. Cessando um pouco de me avaliar, aprendo aos poucos a não avaliar também os outros e o seu comportamento” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 15 de junho de 2016

(2Rs 2,1.6-14; Sl 30[31]; Mt 6,1-6.16-18) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Tem início o ciclo de Eliseu com o arrebatamento de Elias ao céu. Não é uma cena da fácil explicação, talvez Deus apenas tenha atendido ao pedido do profeta que insistentemente queria ser levado (morrer), os elementos que compõem a cena, como o carro de fogo, é um símbolo da divindade. Na tradição judaica Elias foi arrebatado, como um sinal de que um dia retornaria. O manto que fica com Eliseu é símbolo do revestimento que este faz do espírito de Elias, podendo também ele atravessar o rio a pé enxuto. Uma cena contemplativa do mistério da sucessão profética em Israel e da fidelidade de Deus aos seus justos.

Chegamos ao centro do discurso da montanha lembrando esse texto que já meditamos na quarta- feira de Cinzas ao início do Tempo da Quaresma. O texto prima em salientar a intenção ou finalidade com que realizamos certas obras, modelando-as qualitativamente. Orientadas para Deus, nossas obras recebem dele a recompensa.  “... um poema didático sobre três formas de piedade que os judeus praticavam para além da lei: dar esmola, orar e jejuar. Jesus acolhe essas formas de piedade, mas ao mesmo tempo as critica. Elas só fazem sentido quando são praticadas de dentro para fora, não quando visam o reconhecimento dos homens. Ao dar esmola, a mão esquerda não deve saber o que a direita está fazendo. Dou porque é o momento para fazer isso. Não quero fazer contabilidade de minhas doações, nem quero me vangloriar delas. Jesus sempre insiste no segredo: dar esmola e jejuar são atos que devem ficar em segredo. As boas ações devem ficar escondidas não só diante dos homens, como até mesmo diante do próprio ego. Não deve fazer o bem com o intuito de poder fazer uma boa avaliação de mim mesmo. Aquele avaliador dentro de nós nem deve saber daquilo que se faz. Deve ser um ato que emana simplesmente de nós porque está na hora de fazê-lo, não porque o bom comportamento nos coloca acima dos outros” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

 Pe. João Bosco Vieira Leite




Terça, 14 de junho de 2016

(1Rs 21,17-29; Sl 50[51]; Mt 5,43-48) 
11ª Semana do Tempo Comum.

Eis que Elias volta à cena para pronunciar a sentença divina. Não matar e não cobiçar são os dois preceitos do decálogo violados pelo rei. Acab tem uma reação inesperada de assumir a culpa e se penitenciar, Deus age com misericórdia para com ele, mas não elimina a justa reparação pelo seu crime, a sua dinastia continua em seus filhos e findará neles.

A palavra de Jesus com relação aos inimigos não tem nenhuma equiparação com texto do Antigo Testamento (AT). O preceito de Jesus retoma sugestões do AT e as faz culminar na extensão e no motivo: nada menos que a imitação de Deus Pai. O sol, que é fonte de bens, luz e calor, Deus controla em favor de todos, sem distinção. Seja a perfeição ou santidade divina a ser imitada, tudo está centrado no amor, que transforma e leva a vivência da novidade. “Jesus mostra que uma das maneiras de amar o inimigo é rezar por ele. Na oração entrego o inimigo às mãos de Deus: que Deus lhe dê aquilo que faz bem a ele e à sua alma. Quem ama o inimigo mostra que é filho ou filha de Deus. Por isso, é o amor aos inimigos o sinal característico da filiação divina. Com o amor aos inimigos imitamos o comportamento do próprio Deus que faz nascer o sol sobre os bons e maus e que faz chover sobre os justos e os injustos (5,45).[...] Para Mateus, o novo comportamento nunca é apenas expressão de um novo ser, é, ao mesmo tempo, o exercício concreto da experiência do novo ser que nos leva para dentro da experiência do Deus misericordioso cujos filhos e filhas somos” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 13 de junho de 2016

(1Rs 21,1-16; Sl 05; Mt 5,38-42) 
11ª Semana do Tempo Comum.

O livro dos Reis que estamos acompanhando nos oferece um breve retrato do caráter de Acab e Jezabel nesse novelesco episódio sobre a vinha de Nabot, denunciando os desmandos do reinado, a influência da mulher e a injustiça reinante. Assim podemos entender o zelo profético de Elias não só por Deus, mas também de um povo entregue a um injusto governo. O conceito de poder de Jezabel não tem limites morais. Pensemos em nosso país, e rezemos por aqueles que têm a coragem de enfrentar o vigente sistema de corrupção em que vivemos.


No seu discurso Jesus cita a antiga lei do talião que na sua origem visava por um freio à espiral da violência. Cristo propõe vencer o mal com o bem. Os três casos propostos representam muitos outros na ordem do sofrer, possuir e executar. “Quem sabe que Deus o ama incondicionalmente não precisa mover um processo para obter o seu direito ou usar a força para reagir aos violentos. Ele sabe que Deus o protege. Bater no rosto de alguém é para o judeu menos um sinal de violência que de desonra. Quem se sabe honrado por Deus não precisa mais  preocupar-se com a sua honra. Ele pode até entregar a capa que o esquentaria de noite. E quem repousa no amor de Deus andará duas milhas com o soldado romano das forças de ocupação, que segundo o direito de então podia obriga-lo a acompanhá-lo pela distância de uma milha, e assim transformá-lo em amigo. Vendo no outro um possível amigo, nem aceita a sua inimizade. São comportamentos que rompem o círculo vicioso da violência que é paga com violência, do ódio que provoca ódio, da ofensa que é retribuída com outra ofensa; agindo assim, cria novas possibilidades de convivência” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite

11º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(2Sm 12,7-10.13; Sl 31[32]; Lc 7,36—8,3).

1. Mesmo considerando Davi o rei ideal, o autor sagrado não esconde os seus pecados. Um deles é contemplado na 1ª leitura de hoje. Davi apaixona-se pela mulher de um dos seus soldados até envolver-se com ela e uma gravidez inesperada o faz perpetrar um plano que culminará na morte do pobre soldado.

2. Cabe a Natã dar a notícia e sentenciar o que vem pela frente. O autor sagrado faz parecer um castigo divino, mas na realidade trata-se das consequências de um erro. O texto lembra o quanto Deus foi generoso para com ele, mas parece que de sua parte houve certa negligência. Davi toma consciência de seu pecado, arcará com as consequências, mas Deus não o abandonará.

3. Talvez, como Davi, já tenhamos experimentado as consequências de uma escolha; por vezes somos traídos pelo nosso desejo e deixamos entrar em nossa vida certos fantasmas que vez ou outra nos sobressaltam. Mas também como Davi, temos que ter a humildade de reconhecer e de buscar reparar a falta cometida, mas sabendo que a misericórdia de Deus é maior que tudo; que mais que sacrifícios ele espera que nosso coração se volte para Ele, retificando o nosso caminhar. O nosso salmo complementa o texto.

4. Paulo, em sua defesa do evangelho, lembra que aqueles que vivem sob o jugo da antiga lei consideram que a prática das obras determinadas garante a comunhão com Deus. Paulo combate tal ideia do mérito para que se perceba que foi simplesmente por amor, por mera bondade, por graça, que Deus nos salvou.

5. Paulo afirma que a comunicação da bondade divina faz com que sejamos melhores, agindo de modo generoso como reconhecimento de graça de Deus. Os dois textos nos preparam ao evangelho. Esta longa e bela narrativa está carregada de ensinamentos, mas recolhamos os pontos principais para a nossa reflexão.

6. Lucas, como sempre, está jogando com duas figuras antagônicas para nos trazer um ensinamento. Aqui temos o fariseu, um homem justo em suas práticas. Do outro lado essa mulher intrusa, reconhecida como pecadora pública, que tem um gesto inesperado de reconhecimento ao Mestre, certamente pelo seu modo de acolher os pecadores.

7. Lucas enfatiza, no comentário de Jesus, o modo como foi acolhido por ambos. O fariseu não cometeu nenhuma falta, pois limitou-se ao estritamente necessário, ela foi um excesso em agradecimento em seus gestos. Quando nos julgamos justos e dignos, nossa relação com Deus também fica no mínimo necessário, mas se julgamos que recebemos mais que merecemos, aprendemos a ser generosos.

8. Generosidade aqui não se entenda como algo meramente material, mas uma relação que não se deixa mover pelo formalismo, mas vai além em sua expressão. Jesus gostaria de libertar Simão do seu limitado modo de viver sua relação com Deus e com o próximo e compreender que tudo é graça em nossa relação com Ele; Simão deve deixar de ser ansioso e de contabilizar as coisas, busque amar mais e ser feliz. Talvez Lucas esteja contemplando sua comunidade de fé dividida entre os justos e os recém-convertidos. Contemplando a generosidade desses últimos. Ele convida não só ao acolhimento, mas a que se ponha fim a certos julgamentos.

9. Diante de Deus somos todos pecadores e todos atingidos por sua misericórdia, então ajamos como quem foi tocado por essa consciência, capaz de rever a cada dia suas falhas e esforçar-se em ser melhor. Lucas insere ao final do seu texto, o quanto a palavra de Jesus deu nova direção a vida de muitas mulheres e certamente foi criticado por tê-las tão próximas do seu grupo de discípulos. Um trabalho voluntário, um engajamento na comunidade, são formas de responder positivamente ao amor de Deus em minha vida, longe, e muito longe, de acharmo-nos melhores que os outros. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 11 de junho de 2016

(At 11,21-26; 13,1-3; Sl 97[98]; Mt 10,7-13) 
São Barnabé, apóstolo.

Interrompemos nossa sequência dos textos para a celebração dessa festa do apóstolo. A primeira leitura contempla a ação de Barnabé nos primórdios da Igreja e salienta suas qualidades: “era um homem bom, cheio do Espírito Santo”. Seu trabalho se desenvolve tendo Paulo como companheiro de evangelização. Ao final da narrativa tal parceria é consolidada.

O evangelho recorda os aspectos da missão dos discípulos nas várias recomendações de Jesus, em cada uma delas uma realidade da missão feita de confiança na providência, no poder de Jesus e no testemunho. A pobreza evangélica não é um pensar com ‘estreiteza’, mas como abertura na confiança e na generosidade: assim testemunhamos a palavra de Jesus e assim a viveu são Barnabé. Jesus os quer pobres porque os quer livres e com capacidade de doar-se largamente a todos, pelo reino de Deus. Barnabé já havia demonstrado em outro texto dos Atos sua disponibilidade ao vender um terreno que possuía e tudo colocar aos pés dos apóstolos. Confiança e generosidade. Peçamos ao Senhor que nos ajude a caminhar com alegria nessa mesma estrada, e sermos benevolentes, disponíveis e capazes de encorajar os que de nós se aproximam.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 10 de junho de 2016

(1Rs 19,9.11-16; Sl 26[27]; Mt 5,27-32) 
10ª Semana do Tempo Comum.

Acab, o rei fraco, conta a Jezabel, sua esposa, o ocorrido com os sacerdotes de Baal; ela enfurecida empreende uma perseguição ao mesmo. O profeta foge e empreende um caminho simbólico de quarenta dias até o monte Horeb, onde Moisés viveu sua experiência com Deus. Deus age com benevolência e o assiste em meio a sua depressão, providenciando pão e água para o caminho (recordemos a experiência do povo de Deus no deserto). Não é a força da rainha que o afasta, mas a força de Deus que o atrai. O encontro com Deus hoje descrito é um dos mais belos textos do Antigo Testamento; o encontro com o passado revisa a ideia de Deus: Elias, o fogoso e impetuoso, descobre o Senhor numa brisa tênue, num sussurro que mal se ouve. Elias teve que deixar a cidade, atravessar o deserto, subir à solidão da montanha; depois teve que descobrir a ausência de Deus nos elementos barulhentos; finalmente, calado o tumulto interno, a voz cessada traz a presença que surpreende. Uma experiência digna de atenção...

Jesus fala sobre o adultério, mas estende a sua reflexão a uma atenção aos sentidos lançando um olhar sobre a atitude interior, o desejo consentido que induz ao ato. Jesus se opõe ao divórcio e à sua jurisprudência. “Quando Jesus diz que devemos arrancar o olho direito, quando este é motivo de tentação, ou que devemos cortar a mão direita, certamente não está querendo incentivar atos de automutilação, que aliás eram proibidos entre os judeus, e nesse ponto Jesus certamente pensava como um judeu. O olho direito é a instância que julga e avalia, que tudo quer possuir e invadir, que tudo expõe e divulga. A mão direita é aquela que de tudo se apodera, que quer ‘fazer’ tudo, que acha que pode realizar tudo o que quer também internamente. Esse lado consciente precisa ser podado para que o lado esquerdo, o inconsciente, também possa prevalecer. O olho esquerdo é aquele que ainda consegue pasmar-se, que observa sem julgar, que se funde com o observado. A mão esquerda é a mão que recebe, que se relaciona. Quem vive de modo unilateral, apenas a partir do seu lado consciente, abandona-se desde logo no inferno de suas necessidades e forças inconscientes que dilaceram. Todas as palavras de Jesus são palavras que nos convidam à vida, procurando preservar-nos de uma vida unilateral e autodestrutiva”  (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 09 de junho de 2016

(1Rs 18,41-46; Sl 64[65]; Mt 5,20-26) 
10ª Semana do Tempo Comum.

A liturgia da palavra omite o fim trágico dos profetas de Baal, preservando a figura do profeta. Eis que a chuva se aproxima gradativamente para restituir a confiança no Senhor, o único Deus. Aquele que fere é também aquele que cura a ferida. É preciso saber esperar e humilhar-se diante d’Ele.

Chegamos ao ponto crucial da cobrança de uma atitude diferenciada dos discípulos. Jesus exige uma ‘justiça maior’. Aqui aparece também sua autoridade, maior que a de Moisés. Toda essa radicalidade para viver os mandamentos nasce de dentro do indivíduo. O respeito ao outro e a reconciliação têm grande ênfase, pois parte de coisas ‘pequenas’. “Jesus não anuncia uma simples ética de propósitos, e sim uma ética que exige um novo comportamento, mas um comportamento que vem do coração que se abriu de par em par para Deus. Jesus começa pelos pensamentos e sentimentos. Quem observa a lei apenas externamente, guardando em seu coração sentimentos de ira e amargura, não pode ser justo nem estar repleto do amor de Deus. Por isso importa, em primeiro lugar, limpar o coração da ira e do rancor. Mas isso só é possível quando o ser humano faz as pazes com seu adversário interior” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 08 de junho de 2016

(1Rs 18,20-39; Sl 15[16]; Mt 5,17-19)
10ª Semana do Tempo Comum.

Elias convoca todo Israel e também as divindades da casa real para um grande confronto e ao mesmo tempo restabelecer a fidelidade em Israel. Como em outros tempos, Israel é convocada a reafirmar a sua fé em Deus, como sempre, partindo de uma escolha: ‘não se pode adorar a dois senhores’. Mas o povo não responde; o silêncio parece ganhar significado nessa narrativa, pois nem Deus irá usar palavras. A própria calma de Elias reflete quem é o Senhor. Vez em quando descuidamos da nossa fidelidade e Deus tem que se mostrar mais ‘grandioso’ do que já conhecíamos, por pura misericórdia e porque Ele é fiel.

Jesus se posiciona diante da lei tradicional, deixando que ela ganha novo sentido no cumprimento daquilo que ele propõe como caminho de felicidade; ele fala da lei em si, não em tradições ou interpretações acrescentadas. “As palavras de Jesus são a porta pela qual devemos entrar para podermos compreender o sentido da lei divina no Antigo Testamento. No centro da lei está o amor. [...] O que Jesus quer não é o rigor da lei nem a sua suspensão; a ele interessa a verdadeira intenção que está por trás de toda a lei. Ele nos mostra um caminho que não para na letra da lei, mas que procura entender a intenção original divina que se expressa nela” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).
  
Pe. João Bosco Vieira Leite



Terça, 7 de junho de 2016

(1Rs 17,7-16; Sl 4; Mt 5,13-16) 
10ª Semana do Tempo Comum.

A aventura de Elias o lança ainda mais longe em provar a providência divina, não é à toa que ele é considerado o profeta do fogo, do zelo por Deus. A viúva a quem ele se dirige é a que lamenta com ele a morte do filho na primeira leitura desse domingo que abre a nossa semana. O poder do Senhor se estende também a essa terra, o profeta leva aí a presença do Senhor. Por meio do seu profeta, o Senhor traz o pão de que vive o homem, vinculado ao mandato que da vida. Elias exige dessa mulher estrangeira um ato de caridade extraordinário, unido a um ato de fé em sua palavra. Jesus a mencionará em seu evangelho.

A imagem do sal e da luz com que Mateus trabalha, lembra a comunidade cristã o que ela deve ser para a realidade que a cerca e o cuidado para consigo mesma: o sal comunica seu sabor e conserva alimentos, mas pode se desvirtuar; a luz ilumina todos, mas pode ser escondida. Sem vaidades, ela precisa tomar pé de sua missão. “Quando o homem age corretamente, cumprindo o mandamento de Jesus, vem ao mundo o Reino de Deus. A imagem da luz não se prende apenas ao indivíduo que se mostra permeável à luz de Deus, ela se estende também à comunidade cristã, que é uma luz para o mundo porque o relacionamento entre seus membros é marcado pelo perdão e pela conciliação. Quando dois ou três realizam entre si o amor de Deus, desencadeiam uma mudança no mundo inteiro” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 06 de junho de 2016

(1Rs 17,1-6; Sl 120[121]; Mt 5,1-12) 
10ª Semana Comum.

Nas próximas semanas acompanharemos como primeira leitura o primeiro e segundo livro dos Reis, que na Bíblia hebraica formam um único livro. São livros que narram a experiência histórica da monarquia, interpretam-na com a inteligência do profeta, ou seja, perscrutando as trajetórias de morte e de vida ocultas, mais ou menos conscientemente, nas decisões de pessoas em particular. Um destaque a esse respeito é dado pela colocação das narrativas acerca dos profetas Elias e Eliseu; hoje iniciamos o ciclo de Elias que vai por duas semanas, e está no centro dos dois livros, considerados como um só (1Rs 17—2Rs13).  O profeta aparece hoje de maneira súbita, sem prévia apresentação, para anunciar a Acab, em seu reinado materialmente próspero, mas moralmente iníquo, o castigo da seca. Elias é guardado pelo Senhor e sua convivência pacífica com a natureza e animais são reflexos dos cuidados divinos por aqueles que se comprometem com Ele.

Começamos a nossa leitura de Mateus pelo chamado sermão da montanha que se estende até o capítulo 7. É o primeiro grande discurso de Jesus. Muitos comentaristas se indagaram a respeito da possibilidade de vivê-lo, mas é certo que ninguém passa por ele sem se deixar interpelar. No centro do discurso de Mateus está o Pai Nosso; para alguns é uma indicação que todas as exigências desse discurso estão agrupadas em torno dessa oração. Essa vida que Jesus propõe só pode ser fruto de uma vida de oração que tem como exercício central a busca da confiança no Pai, para que o orar e o trabalhar sejam uma coisa só. “As oito atitudes pelas quais o ser humano se revela como filho e filha de Deus e como irmão e irmã de Jesus são estas: a pobreza de espírito (uma atitude espiritual pela qual eu me desfaço de tudo para por a minha confiança em Deus), o luto (pelo qual suporto a certeza de minha própria insuficiência e a dicotomia entre o Deus misericordioso e o meu comportamento desleixado), a não-violência (pelo qual trato com brandura a mim mesmo e aos outros), a fome de justiça, a misericórdia, a pureza do coração (limpidez interna), a ação em prol da paz e a disposição de ser perseguido por causa da justiça. No fundo, trata-se de oito virtudes de que o homem necessita para levar uma vida prestável e realizada” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite



10º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(1Rs 17,17-24; Sl 29[30]; Gl 1,11-19; Lc 7,11-17)

1. A liturgia da Palavra desse fim de semana nos convida a uma reflexão em torno de algumas realidades, particularmente da morte. Como encaramos tal realidade? Para ilustrar nossa reflexão temos o caso da viúva, pagã, que hospedara o profeta Elias. Eis que seu filho único adoece e morre e ela pensa em seus pecados da juventude, pela proximidade do profeta, julgando que Deus a está punindo.

2. O profeta nada responde, mas vai rezar a Deus, pedindo que restitua vida do jovem. Há um rito estranho, mas Deus atende ao profeta, que é reconhecido por ela como homem de Deus. Mesmo em nosso tempo há quem pense como essa mulher, a morte é um castigo de Deus, uma punição pelos pecados, particularmente quando vem em desencontro à lógica comum que temos sobre a morte.

3. Pensar em Deus dessa forma é atribuir a Ele a morte dos pequenos e dos jovens como punição dos adultos. Aquela mulher já havia experimentado a bondade de Deus, como poderia pensar tal coisa?

4. Paulo segue alertando a comunidade dos gálatas a respeito do evangelho pregado por ele em oposição aos tradicionalistas de Jerusalém, que propunham a observâncias das antigas tradições. Ele mesmo já foi assim, mas descobriu no evangelho um novo modo de ser e viver a sua relação com Deus. Quem sabe um apelo para que nós permaneçamos abertos também a esta novidade, renovando a nossas relações com Deus?

5. O texto do evangelho casa-se com a 1ª leitura que contempla também uma viúva que vai sepultar seu filho único. Há um grupo que acompanha Jesus, Senhor da vida, e outro que acompanha aquela pobre viúva, sob a sombra da morte. O texto permite o encontro desses dois grupos e nos faz contemplar a transformação dessa segunda realidade. O que parecia sem sentido é ‘tocado’ e transformado pela presença de Jesus.

6. A multidão que afirma que ‘Deus veio visitar o seu povo’ não tem ideia de que não se tratava de uma mera visita, mas de uma comunhão de vida. Jesus experimentou plenamente a nossa vida e conheceu o medo que a morte provoca em nós. Quando Ele diz a mulher ‘não chores’, certamente não desconhecia a dor do seu coração.

7. Ao trazer o garoto de volta, ele apenas sinalizava para o que Deus reservava como última palavra para nós: ‘Levanta-te’! A ressurreição como resposta amorosa a inquietação que nos ronda constantemente. A fé em Cristo faz com que nossos olhos embaçados espere de Deus uma resposta ao sofrimento. Não ao nosso imediatismo, mas a certeza serena de que ele nos acompanha ao longo do caminho, e haja o que houver, ele está conosco.

8. A palavra também levanta outra questão: que tipo de assistência damos aos que atravessam situações de desamparo físico ou psíquico? Não é à toa que esta mãe é uma viúva em Lucas, retrato perfeito do desamparo na época, pois ninguém se preocupava com sua realidade. A comunidade deve refletir sobre isso.

9. Par dizermos ‘não chores’, é preciso um pouco mais que a certeza da ressurreição. Como responder a situações de desamparo e de solidão que atravessam a nossa estrada?


Pe. João Bosco Vieira Leite