Terça, 31 de maio de 2016

(Sf 3,14-18; Sl [Is 12]; Lc 1,39-56) 
Visitação de Nossa Senhora.

Somos convidados a uma bela contemplação de Maria no encerramento desse mês de maio. Sob a voz do profeta Sofonias se delineia a alegria da salvação de Deus para o seu povo sempre esperada e que nos tempos futuros atingirá a sua plenitude quando o Deus-conosco se colocar em seu meio vindo da Virgem Maria, reconhecido por Isabel que exalta e exulta pela ação misericordiosa de Deus sobre seu povo através de Maria e Maria por sua vez canta a ação de Deus nela e por ela: “Ó Maria, fostes ‘às pressas, à região montanhosa’ para saudar Isabel, e em seu serviço permanecestes por três meses... Ó Virgem santa, quão fervorosa é a vossa caridade em procurar a graça, quão luminosa vossa virgindade na carne, quão excelsa vossa humildade em oferecer-vos ao serviço do próximo! Se quem se humilha será exaltado, que há de mais sublime do que a humildade, ó Maria? Ao ver-vos, Isabel se admira e exclama: ‘Donde a mim esta honra de vir visitar-me a Mãe do meu Senhor? ’ Ainda mais, porém, irá se admirar ao verificar que também vós, ó Maria, à semelhança do vosso Filho, não fostes a ela para ser servida, mas para servir” (São Bernardo).



Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 30 de maio de 2016

(2Pd 1,2-7; Sl 90[91]; Mc 12,1-12) 
9ª Semana do Tempo Comum.

Hoje temos um trecho da 2ª Carta de Pedro, que é muito breve, apenas 3 capítulos, certamente escrita por um dos seus discípulos que lhe deu o nome do Apóstolo para conferir autoridade ao que afirma. Com tons duros e vocabulário por vezes difícil, manifesta o ímpeto de um anunciador de Cristo, obrigado a assistir à difusão de doutrinas falsas, corruptoras da mensagem evangélica, precisamente no momento em que sente próxima a morte (cf. 1,14) e por isso nota nitidamente que tem pouca margem para intervir. Sua carta é um testemunho de que os seus ensinamentos foram recebidos dos profetas e dos apóstolos.  Nesse trecho ele introduz um pequeno painel da vida cristã, onde os dons de bem e de graça foram derramados por Deus, que devem levar a uma busca de comunhão sempre maior com Ele, e no esforço pessoal que vai da fé ao amor.

Jesus já tinha criado uma certa confusão com a expulsão dos vendilhões do Templo e provocado a ira das autoridades religiosas. Jesus então conta uma parábola que não é de difícil interpretação, pois fala do próprio destino e seus ouvintes compreenderam facilmente ao que Ele se referia e se sentiram expostos (as autoridades). A parábola salienta a paciência de Deus para com o seu povo, só lhe restando um último recurso: enviar o Filho. Jesus ainda aplica a si a imagem do salmo 118, fazendo referência à pedra rejeitada pelos construtores. Talvez o texto nos alerte para uma possível indiferença a esse amor de Deus por nós, impedindo-o de ter em nós alcance envolvente que poderia mudar o nosso modo de viver e de ser.


Pe. João Bosco Vieira Leite


9º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(1Rs 8,41-43; Sl 116 [117]; Gl 1,1-2.6-10; Lc 7,1-10)

1. Não seria precipitado dizer que uma linha de reflexão que toma a Liturgia da Palavra vai de encontro ao tema da descriminação, do preconceito.
* No Antigo Testamento, várias passagens falam da proibição de se ‘entreter’ com o pagão, com aquele que não era da raça eleita. Além da impureza trazida por este, uma palavra poderia desvirtuar da fé.

2. Mas a liturgia insere esse texto de Salomão e da sua oração quando da ‘inauguração’ (consagração) do Templo de Jerusalém.
* Ele insere na sua prece a possibilidade de um estrangeiro dirigir-se a Deus naquele local. A fé despertada em seu coração deveria ser ‘premiada’ ao menos com a escuta da parte de Deus.

3. Em sua limitada compreensão, Salomão não tinha ideia de quem é Deus. É dos lábios de Jesus que brotará a confirmação que Deus ama a todos, independente da raça, religião ou cultura.
* Quando nos abrimos a compreensão do universalismo do pensamento de Jesus, podemos perceber a riqueza escondida no outro, que não faz parte do meu grupo, e que também crê, até mais do que eu.

4. Acompanharemos alguns trechos da carta aos Gálatas por esses domingos. A Galícia está situada na Ásia Menor; esse povo foi evangelizado por Paulo, que fundou várias comunidades.
* Depois por ali passaram alguns cristãos de Jerusalém, presos a certas tradições, que confundiram a cabeça dessa gente. A reação de Paulo é enérgica, pelo risco de confundirem a fé em Jesus com tradições humanas.

5. Não só a Paulo, mas também nos assusta o número de cristãos católicos que se deixam levar por essa gama de novos anunciadores do evangelho que, a nosso entender, desvirtuam a compressão do evangelho.
* alguns enveredam por um caminho de radicalismo que não tinham antes, outros aderem a um evangelho ‘light’ profundamente marcado pela psicologia moderna.
* O risco é aderir a um comportamento meramente externo que nos rouba a alegria, a paz e a liberdade comunicada por Cristo na consciência do que significa a nossa filiação divina.

6. O episódio narrado por Lucas tem sua versão em Mateus (8,5-10) e João (4,46-54). São narrativas diferentes em termos de detalhes, mas que convergem para uma única mensagem.
* Essa prática comum aos evangelhos objetiva chegar aos seus leitores numa linguagem compreensível. Assim temos sempre que levar em conta a quem ele escreve e o que objetiva com sua narrativa.

7. Se a convivência entre os judeus e os estrangeiros nunca foi fácil, imaginem dentro de um cristianismo que se apresenta aberto a todos os povos e culturas. A convivência nunca foi fácil.
* Longe de usar argumentos mais elaborados de convencimento, Lucas, ele mesmo estrangeiro, prefere mostrar qual a atitude de Jesus diante dessa realidade.

8. Na sua narrativa diferenciada, Lucas insere elementos que ajudem aos seus leitores na superação das desconfianças recíprocas.
* Reconhece-se que o centurião mesmo nãos sendo judeu, é um bom homem. Certamente mediou conflitos e ajudou em algumas necessidades do povo perante Herodes Antipas.

9. Destaca-se a sua humildade em buscar ajuda na influência dos anciãos judaicos. No seu recado a Jesus, parece respeitar os costumes judaicos, de não entrar em casa de estrangeiro.
* Sua comparação entre o seu agir e o de Jesus é uma grande demonstração de fé e merece um elogio da parte de Jesus. Seu modo de acolher demonstra maior abertura que os judeus. 

10. Lucas é universalista em seu pensamento e que lançar o olhar da comunidade um pouco além. Percebam que aqueles que não pertencem a comunidade cristã ou mesmo nem tenham fé, não são pessoas más.
* Também eles podem realizar obras que procedem de Deus. A atitude de Jesus em ir à casa do centurião demonstra que ele não tem medo de ‘contaminar-se’. Deus não olha essas separações que criamos.

11. Quem observou a narrativa de Lucas mais atentamente, já percebeu os elogios indiretos ao estrangeiro, o marginalizado, ao que é desprezado, desconsiderado.
* É como se nos perguntasse a respeito do nosso posicionamento em relação aos outros, aos que não são cristãos ou simplesmente diferem de nós.

12. Lucas lembra também a força da palavra de Jesus, que pronunciada à distância foi capaz de curar. Celebrando nesses dias a sua ascensão, lembremos que de onde ele estiver, sua palavra tem força de fazer acontecer.
* Celebrando seu memorial, somos recordados das barreiras a serem vencidas entre nós e que nos permitem um intercâmbio enriquecedor de solidariedade, de colaboração recíproca, nos ensina a Palavra.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 28 de maio de 2016

(Jd 17.20-25; Sl 62[63]; Mc 11,27-33) 
8ª Semana do Tempo comum.

Nossa semana termina com esse breve trecho da carta de Judas. Ela é tão breve que nem precisa de subdivisão em capítulos, por isso essa estranha citação, única, da carta, na liturgia. “O tema tratado é só um: o dos mestres do erro, orgulhosos e aduladores, libertinos e escravos das suas paixões, inspiradores e provocadores de divisões na comunidade” (Lecionário Comentado – Paulus). O texto parece dar uma conclusão ao que viemos escutando do autor da Carta de Pedro nos convidando a manter-nos no amor de Deus e ajudar aos que na caminhada ainda não estejam firmes na fé.

A atitude de Jesus e o peso de suas palavras levam os mestres e anciãos a perguntarem sobre sua autoridade, não só sobre o ocorrido no Templo, mas toda a atividade de Jesus até então e que certamente eles tinham conhecimento. Jesus não responde porque eles não acolheriam tal revelação, como não acolheram a João Batista. É impossível convencer a quem se nega a crer, depois de tudo que viu e ouviu. A questão é o fato de Jesus se apresentar como o Messias. João veio preparar-lhe o caminho, mas estes não o acolheram nem acreditaram em João. É o processo da paixão que se acena na narrativa do autor.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 27 de maio de 2016

(1Pd 4,7-13; Sl 95[96]; Mc 11,11-26) 
8ª Semana do Tempo Comum.

O autor da carta parece ter o mesmo pensamento de Tiago que acompanhávamos na semana anterior quanto a vinda imediata de Cristo, mas ele demonstra muita serenidade ao exortar uma contínua ação em meio a espera e não se assustar com as situações de perseguição aos cristãos que eles assistem e sofrem e que leva a uma participação nos sofrimentos de Cristo. Em todo o texto é a dinâmica do amor que os leva a servir ao outro e a Deus com o dom de cada um.

Ao recordar a expulsão dos vendilhões do Templo, Marcos narra o estranho fato da figueira que não tinha frutos, como se Jesus tivesse se aborrecido pelo fato de nada encontrar e simplesmente amaldiçoasse a pobre árvore. A resposta que se segue também não casa com a observação de Pedro sobre a figueira. “Jesus certamente não amaldiçoa a figueira porque esteja aborrecido pelo fato de não poder saciar sua fome com seus frutos. Seria um abuse de poder e expressão de uma mentalidade mesquinha. A figueira – com sua copa frondosa, mas sem frutos – é símbolo de Israel. [...] Assim como a figueira não carrega de frutos, o Templo também está ressequido com toda a ordem religiosa que ele representa. Transformando-se num espaço em que vendedores e cambistas obtêm seus lucros, deixou de ser um lugar de oração e do encontro sincero com Deus. Essa atitude crítica de Jesus em relação ao Templo questiona também nossa própria religiosidade: toda a agitação que se verifica às vezes em torno das coisas sagradas. Quando rezo, estou realmente interessado em falar com Deus, ou faço uso de Deus para o meu próprio bem? Esse é um perigo que ronda toda religiosidade: servir-se de Deus. Para Jesus, a única espiritualidade que condiz com Deus é aquela que dá frutos que servem de alimento aos seres humanos” (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”). Talvez nessa relação entre a figueira e o Templo possamos compreender os três ensinamentos que se seguem no texto sobre a fé, a confiança e a oração. 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 26 de maio de 2016

 Corpo e Sangue de Cristo – Ano C 
(Gn 14,18-20; Sl 109[110]; 1Cor 11,23-26; Lc 9,11b-17)

1. A meditação sobre a Eucaristia neste ano aponta para o gesto de partilha. Assim, a figura de Melquisedec, no Antigo Testamento ganha relevo em seu gesto para com Abraão. Este sacerdote, que não era Judeu, partilha seu pão e vinho com o patriarca de Israel. Além da figura do sacerdote brota do texto essa comunhão dos diferentes em torno desse gesto.

2. A realidade da Eucaristia nos lembra que dela verdadeiramente comunga quem aprendeu o gesto da partilha e da unidade dos diferentes. A fé nos educa para a verdadeira comunhão.

3. O texto de Paulo que a liturgia nos traz é o mais antigo escrito sobre a narrativa da Ceia, mas a recordação de Paulo desse gesto de Cristo, tem por traz sérias divisões dentro da comunidade. Uma delas dizia respeito a uma refeição que antecedia o memorial da Eucaristia. Quem muito tinha se fartava despreocupados dos menos afortunados.

4. Um gesto diz mais que mil palavras: o gesto de Jesus na ceia não só antecipava a sua entrega na cruz, mas traduzia toda a sua vida doada. Se a cada Eucaristia Sua presença é mais sentida, não menos Sua atitude de entrega num memorial que se multiplica em nossa vida lá fora.

5. Adorar alguém ou alguma coisa, sem fanatismo, significa identificar-se com a pessoa ou objeto amado: “Amar como Jesus amou, pensar como Jesus pensou...”. Jesus lembra a samaritana que os verdadeiros adoradores de Deus o adorarão em espírito e verdade. Assim, no exercício de viver a fé, lutemos por eliminar tudo que for oposto ao gesto de partilha, de unidade e de entrega de Jesus.

6. Os dois textos já nos prepararam para o evangelho. A multiplicação dos pães sempre foi um texto que remete a instituição da Eucaristia e Lucas não difere dos outros ao fazer certas referências. Há uma palavra que antecede o gesto de Jesus, como nas nossas comunidades. Ela também alimenta, cura, liberta, anima para o caminhar que, às vezes, se assemelha a um deserto. 

7. Encontrar-se com sua Palavra e com Seu pão que sustenta a vida, foi necessário desinstalar-nos por um momento, deixar para encontrar. Interpelado pelos discípulos, Jesus os interpela convidando-os a entender que é possível fazer algo pelo outro quando nos dispomos, confiando em Deus, a colocar em comum o que temos e somos para o bem de todos.

8. Pode parecer pouco, mas um gesto pode inspirar outro. O egoísmo não produz fruto algum. Chama-nos a atenção da divisão em pequenos grupos para a partilha. Realmente, comunidades grandes demais criam o anonimato e geram mais dificuldade na comunicação.

9. Na narrativa do gesto e palavras de Jesus, Lucas entrega a sua clara inspiração na celebração eucarística das comunidades. Para ele, e também deveria ser para nós, a nossa celebração não pode estar dissociada da realidade do dia a dia, da vida também partilhada e entregue pela causa do outro.


10. Pão da Palavra, Pão da Eucaristia, duas mesas que se comunicam e nos comunicam a luz e a força divina que nos faz seguir caminho afora conscientes de que nunca está sozinho quem se propôs a caminhar com Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 25 de maio de 2016

(1Pd 1,18-25; Sl 147; Mc 10,32-45). 
8ª Semana do Tempo Comum.

Pedro retoma a sua reflexão sobre a vida cristã (Batismo) empregando o termo ‘resgate’. Resgatar é o ato pelo qual se recupera uma propriedade familiar alienada ou se deve devolver a liberdade ao escravo indevidamente retido. É claro que tal ato faz referência a Cristo em seu sacrifício, mas a nossa pertença ao Pai desde sempre. Se éramos escravos de pecado, agora somos livres, restaurados e resgatados em Cristo. Nos tornamos ‘puros’ quando acolhemos a verdade do evangelho em nossa vida.

Jesus anuncia pela terceira vez a sua paixão com um pouco mais de detalhes e eis que se dá uma inesperada reação dos discípulos, primeiro pelo ‘adiantamento’ dos filhos de Zebedeu que aspiram lugares de honra. Entenderam mal o projeto de Jesus, mas mesmo assim Jesus lhes dá a entender o verdadeiro caminho da glória a ser atravessado, o seguimento não é tão simples como pensam. Segue-se a indignação dos outros discípulos e Jesus aproveita para discorrer sobre o exercício de poder dentro da comunidade e assim podemos compreender parte do que nos fala Pedro: “Jesus aproveita a discussão sobre o sentido correto das palavras ‘dominar’ e ‘servir’ para propor aos discípulos a sua própria vida como exemplo. Assim, transmite a eles também uma ideia do que seja o verdadeiro sentido de sua vida, a motivação mais profunda de sua morte: ‘Pois o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate pela multidão’ (10,45). A obra plenipotenciária de Jesus é a vida a serviço dos seres humanos. Ele lhes serve livrando-os dos demônios e estimulando a vitalidade”. (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”). Que a sua paixão nos resgate de toda e qualquer escravidão e nos lace sempre mais ao verdadeiro sentido do nosso caminhar.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 24 de maio de 2016

(1Pd 1,10-16; Sl 97[98]; Mc 10,28-31). 
8ª Semana do Tempo Comum.

O mistério da vida cristã já estava prefigurado no anúncio profético, segundo o nosso autor, como que a garantir aos batizados o que neles se realizava. A graça recebida é para cada um de nós um caminho de santidade que tem no Pai o seu único modelo. Do Pai só podemos saber pelo Filho que na sua obediência traçou para nós um caminho de santidade.

Depois de ver aquele homem que tinha todas as condições para o seguimento ir-se, e com as palavras de Jesus, uma certa angústia toma conta de Pedro que não resiste e indaga Jesus sobre a opção feita por eles e o que esperar. “Cada um experimentará o desprendimento e as dádivas à sua maneira pessoal. Aquele que renunciou aos próprios bens para entrar numa ordem religiosa lidará muitas vezes com muito mais dinheiro que seus irmãos. Aquele que tem família e profissão, mas cujo coração não vive agarrado aos bens, muitas vezes experimentará a satisfação de ter o suficiente e de ver ampliar-se seu círculo de amigos. Mas aquele que considera os bens materiais como seu maior valor, nunca estará satisfeito. Nunca receberá toda estima que necessita. Nunca estará realmente contente. As palavras de Jesus sobre a riqueza são, portanto, um convite a deixar de lado tudo o que nos poderia atrapalhar no caminho do seguimento. Só aquele que ficou interiormente livre compreenderá aonde Jesus pretende leva-lo: ao reino de Deus, a um espaço em que o homem descobre seu verdadeiro ser, em que Deus mesmo o plasma, tornando-o repleto de sua glória” (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de maio de 2016

(1Pd 1,3-9; Sl 110[111]; Mc 10,17-27) 
8ª Semana do Tempo Comum.

De hoje até sexta, excetuando a quinta-feira, acompanharemos a leitura semicontínua da 1ª carta de São Pedro. No centro de sua reflexão está a realidade batismal, como se fossem pequenas homilias insistindo sobre sua dignidade, do elevar a natureza humana.  Em nosso pequeno trecho temos a compreensão que toda salvação, desde o começo do batismo, ao longo da existência, até a consumação, é obra de Deus Pai por meio de Jesus Cristo. Nele cremos, e o amamos, mesmo sem ter visto, e isto é também o começo da esperança que nos acompanhará ao longo do caminho. Nele se inclui sofrimentos, que são provações e purificam a fé. Rezamos com Pedro na certeza de comungarmos dessa mesma fé e esperança.


O episódio do homem que possui riquezas, que observa os mandamentos divinos, mas não consegue dar esse salto na fé para seguir a Jesus, não assusta só aos discípulos, a nós também. O que nos falta para verdadeiramente seguir a Jesus? Que teríamos que abandonar? “Para outros seguidores de Jesus, não é dos bens que eles devem desfazer-se; o que os atrapalha pode ser igualmente o próprio sucesso, sua própria imagem de Deus, a imagem de si mesmo, suas concepções de vida, seus hábitos, seus relacionamentos. [...] No jovem do evangelho, o medo foi maior que o desejo da vida eterna, da verdadeira vida. Por isso ele se afastou com tristeza. O episódio está aí para me advertir: não devo ficar triste e ir embora, devo separar-me daquilo que me amarra. Assim experimentarei a liberdade e a amplidão no seguimento de Jesus” (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Santíssima Trindade – Ano C

(Pr 8,22-31; Sl 08; Rm 5,1-5; Jo 16,12-15).

1. Retomamos o tempo comum meditando sobre um dos mistérios de Deus que, se por um lado tenta compreendê-lo, por outro nos fala de identificação enquanto cristãos. Falar sobre o mistério trinitário requer bastante cuidado com as palavras, pois elas tanto ajudam como podem dificultar a compreensão. 

2. Acreditamos que Deus é um só, mas que Ele se revelou como Deus Pai que criou o universo e que o governa com sabedoria e amor. Cremos que ele veio a nós na imagem do Filho, se fez um de nós para melhor comunicar o seu amor por nós. 

3. Acreditamos também que ele permanece entre nós com a sua força, o Espírito Santo, para dar continuidade ao seu projeto de amor. Em linhas gerais é isso um pouco do que podemos falar. Mas o que nos dizem ou revelam os textos escolhidos para esse fim de semana?

4. A primeira leitura destaca o Deus criador, mas tal revelação vem dos lábios da sabedoria, uma sublime criatura que Deus colocou ao seu lado. O texto finaliza de forma poética, mas tem por objetivo chamar a nossa atenção e reforçar a certeza que mesmo em meio ao caos que por vezes contemplamos, existe uma sabedoria que rege e conduz a nossa história.

5. Há quem se pergunte se a sabedoria seria personalização de uma das pessoas da Santíssima Trindade; o Filho, talvez. O Espírito Santo? Não sabemos de certeza. Talvez seja apenas a intuição de um autor do gesto amoroso e criativo de Deus que ele contempla na natureza, no mundo de uma forma geral.

6. Esse Deus que habita desde sempre lá no infinito um dia veio a nós em seu Filho Jesus, lembra Paulo. Ele nunca cessou de criar e salvar, Jesus é o grande revelador dessa obra do Pai. Se há algo de que podemos nos orgulhar, pobres seres humanos, é que nunca deixou de nos amar, é essa a esperança que não decepciona e nos faz avançar mesmo em meio aos nossos fracassos pessoais.

7. Tanto esse texto da 2ª leitura quanto o evangelho, estão colocados aqui também por mencionarem as três pessoas em seu agir, sempre em favor do homem. Assim, no evangelho, Jesus promete o Espírito Santo como Aquele que não só consolará na Sua ausência, mas permitirá uma melhor compressão de tudo que lhes foi falado.

8. Os discípulos ainda têm pela frente o processo da Paixão que os deixará atordoados, perdidos. O Espírito Santo como unificador os trará ao centro da mensagem de Jesus e da própria missão evangelizadora. Em tudo isso o Pai é glorificado, diz Jesus, pois o Seu projeto de salvação está acontecendo, também com a colaboração humana.

9. Longe de enveredarmos por caminhos de raciocínios complexos para entender Deus, é suficiente que contemplemos esse mistério como um desejo amoroso de salvação. O fiel, a comunidade que vive a partir desse mistério, sabe-se envolvido nessa ciranda de amor e fará o seu melhor para colaborar com esse projeto maior cujo início e o fim desconhecemos, mas se concretiza nas ações solidárias que efetivam o amor de Deus que nunca é algo abstrato. 


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 21 de maio de 2016

(Tg 5,13-20; Sl 140[141]; Mc 10,13-16) 
7ª Semana do Tempo Comum.

A oração diante das necessidades da vida, pelos enfermos, em comunhão com a Igreja, assumindo as próprias falhas (pecado). O esquema proposto pelo autor sagrado retoma o pensamento do Antigo Testamento, de alguns salmos particularmente, que associam doença e pecado. Esse texto deu base ao sacramento dos enfermos em sua forma ritual, já que Jesus não usou nenhuma forma de ‘unguento’, a não ser a própria saliva.

Mais uma vez aparece a criança como referencial dos que abraçam a dinâmica do Reino. Elas não possuem mérito, pois não podem observar as leis estabelecidas, e, no entanto, é a elas que Jesus quer franquear a entrada no Reino. Um gesto carregado de ensinamento. O Reino deve ser acolhido na simplicidade, sem preconceito, no abandono confiante e em espírito filial. Tudo isso se revela na criança em atitude e no adulto é um processo de conversão que o levará também ao abraço de Jesus.
  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 20 de maio de 2016

(Tg 5,9-12; Sl 102[103]; Mc 10,1-12) 
7ª Semana do Tempo Comum.

Quase ao apagar das luzes de seu texto, Tiago exorta à paciência e à perseverança, há quem creia que tal convite esteja vinculado a espera eminente do retorno de Jesus. Jó é oferecido como modelo, mas certamente só contempla os primeiros capítulos e o último do citado livro. Por fim ele cita o texto de Mateus sobre o julgamento. Indicações práticas para todos os tempos.

No evangelho temos o texto mais antigo sobre a discussão dos fariseus com Jesus sobre a lei do divórcio. Na sua origem a lei de Moisés tentava proteger a mulher, ainda que desse mais vantagens ao homem. Mesmo em voga, ela soava como uma vergonha. Jesus retoma o projeto original divino que busca a igualdade dos cônjuges, a entrega total e duradora que unifica. “Mas Jesus não está interessado numa discussão jurídica. Ele constata apenas que tanto o repúdio vindo do homem quanto o repúdio vindo da mulher desrespeitam o sentido do casamento. Suas palavras não se referem a categorias como pecado e culpa, proibição e permissão. Por isso sua palavra continua válida até hoje. Quem já viu fracassar seu casamento, seja por qual motivo tenha sido, sabe que não se pode trocar de casamento como se troca de profissão. É um rompimento. A intenção original não se realizou. De alguma maneira tal fracasso está ligado também a alguma culpa. Mas isso não significa de modo algum que por isso os divorciados não podem casar de novo, ou que estejam vivendo sem o beneplácito de Deus. Eles precisam, isto sim, admitir que para eles esse sentido do casamento não se realizou. Não alcançaram seu objetivo. Mas a culpa pode ser perdoada. As palavras de Jesus não têm nada a ver com a prática da Igreja de não permitir que os divorciados se casem novamente. Essa é uma questão ligada ao direito canônico. E não é a esse nível que Jesus está se referindo” (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”).Penso que esta reflexão do autor está muito próxima do pensamento do Papa Francisco.

Pe. João Bosco Vieira Leite



Quinta, 19 de maio de 2016

(Tg 5,1-6; Sl 48[49]; Mc 9,41-50)
7ª Semana do Tempo Comum.

O texto pode parecer um tanto assustador pelo tom com que Tiago adverte aqueles que fizeram fortunas com a injustiça, não pagando o que era devido aos trabalhadores; esse é o sentido com que podemos ler esse texto. É como se a riqueza com essas raízes se voltasse contra quem as possui. O texto é apenas um alerta, uma advertência.

O evangelho de hoje parece uma colcha de retalho, reunindo expressões de Jesus, que pelos outros evangelhos nos parece deslocadas do seu contexto. O precioso dom da água para aquela realidade desértica soa para nós como algo pequeno, mas na realidade é um gesto bastante significativo. Ao falar do escândalo, o que faz tropeçar, o autor está tratando da fé. Eu posso levar alguém a perder a fé ou eu mesmo posso me conduzir por situações que me levarão a perda da fé. As penas e mutilações querem chamar a nossa atenção para algo tão grave que é perder a fé. A tradução ‘fogo do inferno’ ou ‘forno’ fazem alusão a um local onde se jogava os cadáveres que eram consumidos pelos vermes ou mesmo se ateava fogo. O verme não morre e o fogo não se apaga até consumir tudo. Guardemo-nos de nos perder atentos ao olhar, ao que tomamos sem ser nosso e aonde nossos pés podem nos levar.  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de maio de 2016

(Tg 4,13-17; Sl 48[49]; Mc 9,38-40) 
7ª Semana do Tempo Comum.

Nossos antepassados parecem que leram essa carta de Tiago. Todo e qualquer projeto pessoal ou comunitário sempre era finalizado pela expressão: ‘se Deus quiser’. Numa compreensão de que tudo está na mão de Deus, por mais que o homem possa se afadigar por alcançar os seus objetivos. Talvez essa fosse a consciência comum de que muitas coisas escapam ao nosso controle e que nem sempre é sábio insistir em certos planos que percebemos não dar muito certo. O texto também critica fortunas muito rápidas e o acúmulo: para quem vai ficar tudo isso uma vez que a existência é breve?

Jesus convida seus discípulos a um exercício de tolerância, seu nome não é monopólio da comunidade cristã. É provável que o texto faça alusão a exorcistas existentes no tempo de Jesus que passaram a acrescentar seu nome em tais práticas. Um olhar mais global ajuda-nos a perceber as sementes do cristianismo espalhadas em ambientes que não são declaradamente cristãos. Um olhar mais sereno e humilde nos faz perceber a ação de Deus para além do nosso alcance e onde não podemos chegar. Sejamos gratos por isso.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de maio de 2016

(Tg 4,1-10; Sl 54[55]; Mc 9,30-37) 
7ª Semana do Tempo Comum.

O trecho que hoje nos é oferecido é o mais difícil da carta por sua construção e citações enigmáticas dos vv. 5-6. “A análise psicológica das causas é a contribuição do autor, talvez influenciado pela filosofia estoica popularizada. O esquema é o seguinte: denúncia do pecado e análise das causas – ameaça – exortação a converter-se – promessa. No começa está a cobiça, como em 1,4, seu objetivo imediato são os prazeres; espécie de força militar, cujo campo de batalha é o homem. Do interior brota ao exterior social com efeitos desastrosos: a cobiça pode levar até ao homicídio. Dirige semelhante acusação aos cristãos?” (Bíblia do Peregrino – Paulus).

Em seu evangelho, Marcos por três vezes traz o anúncio da paixão (8,31-33; 9,30-32; 10,32-34). Acompanhamos o segundo anúncio; não muita diferença entre eles, mas a cada anúncio dá-se um novo enfoque. “Em 9,31 Jesus diz que o Filho do Homem será entregue às mãos dos homens. É um enigma que joga com as expressões: Filho do homem- mãos dos homens. O enigma consiste no fato de Deus mesmo entregar e abandonar o Filho do Homem. Jesus é exposto ao enigma de Deus, pois, mesmo defendendo os homens em nome da plenipotência de Deus, cai nas mãos dos homens. Aparece aí o mistério de Deus que, num primeiro momento, permanece incompreensível, destruindo totalmente as imagens que fazemos de Deus. Só depois o Evangelho mostrará que Ele é o Deus que quer a salvação dos homens e erguerá na cruz seu Filho e o abandonará, para finalmente fazê-lo sentar-se à sua direita” (Anselm Grun, “Jesus, caminho para a liberdade”). Acrescenta-se ao texto a incompreensão dos discípulos gerada pela preocupação entre eles de quem seria o maior. Jesus usa uma criança, símbolo do desamparo, do último, a quem Jesus dedica a sua preferência. Essa deveria ser a preocupação de quem quer ser o maior: o serviço, como o de Jesus, tem a última palavra. Ele dá a sua vida, nós damos o melhor de nós mesmos por aqueles que nos foram confiados ou que necessitam de nossa ajuda.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 16 de maio de 2016

(Tg 3,13-18; Sl 18[19B] Mc 9,14-29) 
7ª Semana do Tempo Comum.

Retomamos o tempo comum a partir da sétima semana, ano par para a 1ª leitura da celebração semanal. Na sexta e sétima semana lê-se a carta de São Tiago como primeira leitura (nessa passagem entre o Tempo Comum e ciclo pascal, ‘perdemos’ a 6ª semana), mesmo constando como carta apostólica, não é certo que tenha sido o Apóstolo Tiago, identificado como ‘Menor’, o seu autor. O texto parece uma homilia exortativa ou uma espécie de catequese de tom moralista. O autor procura responder à permanente tentação de separar as opções da vida cotidiana, da fé e da expressão religiosa. No trecho de hoje ele nos convida a adquirir uma autêntica ‘sabedoria cristã’ e ai contrapõe as atitudes, sentimentos ou comportamentos que vão denunciar a nossa sabedoria. Quem cultiva a paz dentro de si terá sempre uma atitude conciliadora e assim será capaz de promover a paz.

Retomando a narrativa de Marcos após a transfiguração de Jesus diante dos discípulos, um momento de oração por excelência, temos a cura de um menino epilético. A narrativa é bem detalhada para conduzir a um ensinamento superior: Jesus já havia anunciado a sua paixão e ao mesmo tempo revelado a sua glória, mas ele é também compassivo e misericordioso, pois empregará seu poder para salvar a outros, não si mesmo. Jesus presta ajuda ao menino doente, à fé vacilante do pai, à ignorância dos discípulos: Só quando percebemos na oração que somos filhos e filhas amados de Deus, conseguimos livrar-nos das amarras demoníacas, e a glória de Deus pode resplandecer também em nós.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Solenidade de Pentecostes

(At 2,1-11; Sl 103[104]; 1Cor 12,3b-7.12-13; Jo 20,19-23)

1. Na missa da vigília com a narrativa de Babel, lembrávamos como Lucas se serviu desse fato para nos falar do Espírito Santo como fonte de unidade.
* Mas outros elementos também se escondem simbolicamente nessa narrativa. Ao situar a Sua vinda no dia de Pentecostes, na festa do dom da Lei, Lucas nos encaminha para outra compreensão.

2. O Espírito é aquele que dita a nova lei deixada por Jesus e a nova interpretação da Lei de sempre deixada pelo próprio Deus.
* Para que não reste dúvida que é algo divino, Sua vinda é envolvida por um forte barulho, vento forte, como aos moldes do Antigo Testamento. O Espírito não é só dom de Deus, Ele é o próprio Deus.

3. Sua universalidade aparece na compreensão que todos têm da palavra dos apóstolos. Ele chega a todo ser humano que se abre à sua ação. Assim o escritor sagrado nos apresenta esse dom Maior.
* Paulo diz que Ele não só reza em nós, mas nos revela o próprio mistério de Jesus. É Ele o autor das diversidades de dons e sem nos darmos conta, a ação de cada um torna possível esse mundo maravilhoso que vivemos.

4. Reconhecendo esses elementos que a Palavra nos revela, cantamos pedindo que esse Espírito continue a renovar a cada um e a todos nós com os seus dons, Sua ação benfazeja.

5. Essa ação identificada por nossos autores é fruto da promessa de Jesus, que não nos deixaria só. Esse mundo novo que ele tenciona realizar começa na vida dos homens e mulheres que se abrem a seu sopro de vida.
* Por isso João situa a vinda do Espírito no dia mesmo da ressurreição. A Páscoa, a passagem, o novo, se dá sob a ação do Espírito.

6. Esse impulso íntimo e irresistível para viver a partir de Cristo, é o que Ele mesmo sopra sobre os seus. Como que a expulsar tudo que é contrário à Sua proposta de vida.
* A Igreja assume a missão de criar condições para que o Espírito se confirme no coração humano. Perdoar os pecados é criar condições para que algo novo possa surgir.

7. Celebramos hoje essa consciência de que nos movemos ao bem pela ação do Espírito. Se amamos, é porque Deus nos comunica o seu amor.
* Sopro, vento, água, fogo, luz, são elementos naturais e vitais a existência humana. Tudo mudou quando o homem descobriu o fogo. Na nova consciência ecológica, buscamos no vento uma energia limpa.

8. São coisas simples, mas que não deixam de nos admirar. Deus também opera a partir de sinais simples e sensíveis.
* Ele provoca em nós a busca da unidade, pois percebemos que a diversidade de dons torna a vida mais rica, diversificada e até feliz, se aprendemos a arte de conviver.
* Encerramos o tempo pascal, mas não esqueçamos que Deus ainda continua querendo renovar a nossa vida, por isso, a cada dia, ao tomarmos consciência desse Seu sopro de vida, rezemos ou cantemos, pedindo que se reacenda em nós esse amor de Jesus: “A nós descei Divina Luz... Em nossas almas acendei, o amor , amor de Jesus.”

Pe. João Bosco Vieira Leite



Sábado, 14 de maio de 2016

(At 1,15-17.20-26; Sl 112[113]; Jo 15,9-17) 
São Matias, apóstolo.

Certamente estamos lembrando da loucura cometida por Judas em sua dúvida sobre o amor de Jesus por ele. O colégio apostólico precisou escolher alguém para substituí-lo. Sua escolha nos é recordada pela 1ª leitura. O evangelho é o mesmo que acompanhamos essa semana, cheio de comunhão entre os discípulos e Jesus pela permanência em seu amor. “A tarefa mais importante do discípulo é permanecer em Jesus. A permanência é a condição para poder dar frutos. O ramo só pode dar frutos se permanecer preso à videira. Permanecer em Jesus significa, segundo a metáfora, ficar imbuído do espírito e do amor de Jesus. Assim como o ramo recebe a seiva da videira, assim flui dentro de nós o amor de Jesus manifestado na cruz. Trata-se de um permanecer mútuo. Nós devemos permanecer em Jesus. E então ele permanecerá em nós impregnando-nos com o seu amor. E esse amor nos faz dar frutos” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 13 de maio de 2016

(At 25,13-21; Sl 102[103]; Jo 21,15-19) 
7ª Semana da Páscoa.

Os eventos que se sucedem na prisão de Paulo vão conduzindo-o para Roma; um pequeno processo jurídico se instala, pois ele é também cidadão romano e pode requerer tal julgamento pela autoridade romana, quiçá para escapar de uma possível condenação ou mesmo de morrer pelas mãos dos judeus (se Paulo fosse levado por eles para Jerusalém), mas em seu interior sabe bem o que o espera.  

No texto do evangelho de hoje, que já meditamos sua 1ª parte nas oitavas de Páscoa, sobre o seguimento de Pedro até as últimas consequências poderíamos tirar o nome de Pedro e colocar o de Paulo. Teria o mesmo sentido que a liturgia nos quer dar. Encerramos o período Pascal com o testemunho desse apóstolo, do seu amor por Jesus. “Encerrando o evangelho, João quer colocar-nos, na figura de Pedro, diante da pergunta: até que ponto nosso amor por Jesus é autêntico? E ele quer lembrar-nos que existe dentro de nós o desejo do amor desapegado e sincero. [...] Quem puder dizer com Pedro que ama Jesus já não se importará com o que vai ser da sua vida. Ele já não precisará comparar o seu destino com o dos demais. Estará pronto para seguir Jesus à sua maneira pessoal, sem olhar para os outros e para a maneira deles de seguir Jesus”. (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).   Peçamos à Virgem de Fátima, modelo de seguimento, essa força interior e convicção de expressar o nosso amor a Jesus.  



 Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 12 de maio de 2016

(At 22,30;23,6-11; Sl 15[16]; Jo 17,20-26) 
7ª Semana da Páscoa.

Nesse ‘julgamento’ de Paulo, parece que ele usa de uma estratégia para escapar de uma prévia condenação ao provocar a discussão sobre a crença na ressurreição, ponto nevrálgico entre fariseus e saduceus. Assim o seu julgamento se arrasta até Roma, onde dará o testemunho final, conforme o Senhor lhe falara. O salmo que se segue expressa o pedido de ajuda, mas também na confiança em Deus que na realidade está na condução de todo o processo.  

Retorna, na oração de Jesus, o tema da unidade em sua parte final com um pouco mais de ênfase e com clareza. A unidade servirá de testemunho ao mundo sobre a fé da Igreja. “Mas além da Igreja, João visa com esse pedido pela unidade também o indivíduo. [...] Jesus, em quem Deus se fez carne, é símbolo dessa unidade. Nele se realizou a unidade entre o divino e o humano, entre a luz e as trevas, entre o espírito e a matéria. Jesus nos mostra o caminho da unificação. Devemos ser como o Pai e o Filho são um. Descendo à terra, Jesus elevou tudo o que está disperso, integrando-o na unidade de Deus. Como Jesus, também nós devemos descer aos abismos de nossa alma para elevar a Deus tudo o que é treva, caos, doença, desventura. Quando tudo o que há dentro de nós for penetrado pela luz e pelo amor de Deus, brilhará em nós a glória de Deus e tudo será uma coisa só com Deus”. (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).   


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de maio de 2016

(At 20,28-38; 67[68]; Jo 17,11-19) 
7ª Semana da Páscoa.

Paulo segue com seu discurso de despedida aos anciãos de Éfeso. Há alguma semelhança em suas palavras com as de Jesus quando adverte das dificuldades a serem enfrentadas no pastoreio, a serem vigilantes, precaverem-se da ganância, etc. Tudo isso justifica a primeira recomendação: ‘cuidai de vós mesmos’. Aqui aparece uma expressão de Jesus que não se encontra nos evangelhos: ‘há mais alegria em dar do que em receber’. O texto se encerra de modo comovente. Rezemos por nossos pastores, líderes, coordenadores, para que o exemplo de Paulo possa influenciar o seu ministério.

Jesus prossegue rezando por seus discípulos. Reza pela unidade dos mesmos, que os guarde da ação do maligno. O guardar a Palavra transmitida conserva o elo de comunhão que já existe entre o Pai e o Filho. A primeira leitura e o evangelho correm quase que em paralelo nos convidando a perceber como a figura de Jesus se reflete em Paulo e a figura de Paulo há de se refletir sobre aqueles a quem dirige suas últimas palavras; guardando as devidas proporções, é como se Paulo pudesse afirmar: quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Quando ele afirma: ‘ já não sou em quem vivo, é Cristo que vive em mim’, podemos compreender o seu esforço em ser fiel a Jesus. Peçamos também nós essa fidelidade ao transmitir a Palavra para que não acabemos por transmitir a nós mesmos. Todo pregador passa por essa tentação...


Pe. João Bosco Vieira Leite



Terça, 10 de maio de 2016

(At 20,17-27; Sl 67[68]; Jo 17,1-11) 
7ª Semana da Páscoa.

Não é só Jesus que está se despedindo dos seus discípulos. Paulo já cansado e pressentindo a morte se aproximar (no texto é o Espírito santo que o adverte sobre o que está por vir) também enceta uma despedida. Junto aos encarregados das comunidades de Éfeso, faz uma espécie de avaliação do seu ministério, testemunhando a sua entrega pela causa do Reino. Indiretamente Paulo o exorta a perseverança, uma vez que não deixou de oferecer a eles o essencial da fé em Cristo. Nossa Igreja deve especial reconhecimento ao trabalho evangelizador de Paulo. Acompanhamos seus últimos passos.

No meio de seu discurso, Jesus eleva uma oração ao Pai que tem como início a consciência de que sua morte é a sua glorificação, seu amor se completa na cruz. Estranhamente ele parece estar contente por ter chegado a sua hora. Esse trecho é também conhecido como oração sacerdotal: Jesus intercede pelos seus. Nesse amor que se revela entre Ele e o Pai, nós somos incluídos: essa é uma das mensagens principais de Cristo, essa vida de comunhão já é uma experiência de eternidade. “A morte que o aguarda não lhe causa pavor, já que é passagem que o levará ao Pai. Nela se dará a verdadeira Páscoa, a passagem da terra da alienação e do cativeiro para a terra da promessa que é a terra do amor e da glória de Deus. Como cristãos devemos participar desse desejo de Jesus de deixar este mundo e ir ao Pai. Na fé já realizamos essa passagem. E sempre que rezamos, entramos nesse lugar, sentimos saudade da verdadeira pátria em que estaremos em casa para sempre, onde nossos olhos se abrirão e onde veremos Deus como ele é” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).


Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 09 de maio de 2016

(At 19,1-8; Sl 67[68]; Jo 16,29-33) 
7ª Semana da Páscoa.

Entramos na última semana do período pascal. É a semana da unidade, rezamos particularmente pela unidade das Igrejas cristãs; em alguns locais acontecem eventos que contemplam essa realidade. É a semana de preparação à festa de Pentecostes, a festa do Espírito Santo, novenas em algumas cidades e folguedos populares se misturam para celebrar a terceira pessoa da Santíssima Trindade, mistério da nossa fé. A primeira leitura já vislumbra o desconhecimento do Espírito. Este nos vem com o Batismo e é confirmado pela imposição das mãos dos apóstolos nos lembra o texto dessa tradição que permanece em nossa Igreja. Pelo Espírito rezamos e profetizamos, como faz Paulo ao insistir sobre as realidades do Reino de Deus aos que ainda não acreditavam ou desconheciam. Desde já, peçamos a confirmação desse mesmo Espírito, nós que fomos feitos, pelo batismo, sacerdotes, profetas e reis. 

Prosseguimos acompanhando o discurso de despedida de Jesus. Jesus anuncia a dispersão gerada pela sua prisão e morte, apesar dessa situação, Jesus reafirma que o Pai está com ele, que nunca o deixa só, assim contemplamos Jesus que atravessa uma situação difícil, e nos exorta à fé em meio às situações que por certo atravessaremos. Ele vencedor em Deus, nós vencedores n’Ele pela coragem que nos concede seu Espírito: ‘força do alto’. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Ascensão do Senhor – Ano C

(At 1,1-11; Ef 1,17-23; Lc 24,46-53).

1. Todos os anos se reptem as leituras para a festa da Ascensão, mudando somente o evangelho. Assim temos dois textos de Lucas: a 1ª leitura e o evangelho. Os dois textos trazem diferenças significativas sobre o mesmo fato. Há mais gritante é a respeito do quando: o evangelho situa o fato no mesmo dia da páscoa, enquanto os Atos falam de 40 dias depois.

2. É provável que em sua narrativa ele esteja tentando responder às dúvidas surgidas na comunidade a qual se dirige. Sem dúvida, sua narrativa é influenciada pelo Antigo Testamento e carregada de simbolismo. Lucas convida a deixar de lado a pergunta sobre o quando o Reino se estabelecerá, quando será o fim, para preocupar-se com o testemunho a ser dado.

3. O modo como Jesus se eleva e desaparece faz referência ao profeta Elias (2Rs 2,9-15), no modo como foi ‘levado’ por Deus e continuava sendo esperado. Permanece uma ‘aura’ de mistério sobre o como exatamente, Cristo deixou de aparecer aos seus discípulos; o que fica claro é que o olhar deles deve estar voltado para as realidades que os cercam.

4. Mas que um evento, estamos celebrando uma tomada de consciência, após a ressurreição, do verdadeiro papel da Igreja no mundo através dos seus membros. No bojo do mistério pascal, celebramos uma nova presença de Cristo no coração dos seus irmãos e irmãs pela presença do Espírito santo, enquanto esperamos a sua volta.

5. Esse retorno de Cristo é também uma tomada de consciência, lembra Paulo na 2ª leitura de como vivermos nesse mundo em meio a todas as preocupações que nos cercam. Somos cidadãos do céu. Deus nos espera, depois de nossas lidas terrenas, pois em Cristo fomos chamados a uma plenitude de vida que desafia a nossa simples visão das coisas comuns.

6. O evangelho de Lucas finaliza como começou: um convite a alegrar-nos. Sua vinda entre nós marcou novo tempo, nova etapa na história da salvação. Sua partida também inaugura um novo modo de estar entre nós, não mais limitado ao espaço e ao tempo e também marcado por sua vitória sobre as realidades impossíveis da vida, tendo a morte como primeiro elemento a ser superado. Não é para menos a alegria dos discípulos. 

7. A vida aqui na terra seguiu seu curso com todas as suas facetas. O que mudou foi o modo de ver a vida. Sua palavra, se renova a nossa vida, renova nossas relações com o mundo e as coisas que nos cercam. A sua ressurreição não só nos tirou o medo da morte, mas nos ensinou a lutar e esperar em meios as situações adversas da vida.

8. Jesus reafirma que nos fortalecerá com a força do alto, o seu Espírito trará renovada compreensão de suas palavras que têm a força de transformar nosso modo de pensar. Essa é a chave de leitura para a compreensão dessa alegria na despedida de Jesus. E nós somos convidados a nos envolver nessa mesma alegria e certeza do caminho.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 7 de maio de 2016

(At 18,23-28; Sl 46[47]; Jo 16,23-28) 
6ª Semana da Páscoa.

Nos é apresentada a figura de Apolo, batizado por João Batista, ainda não tinha recebido o batismo cristão e é introduzido por Priscila e Áquila nesse conhecimento ainda melhor da pessoa de Jesus. O compromisso de Apolo com Jesus será um importante suporte para Paulo em Corinto, pois ele deverá seguir viagem para confirmar os irmãos na fé. Dirigindo-nos ao coração da Mãe, poderíamos pedir que suscite sempre mais pessoas comprometidas com a causa do evangelho e com os dons necessários para o trabalho evangelizador.

Jesus se revela aos discípulos como o grande intercessor, talvez o único que comungue verdadeiramente com o querer do Pai. E como o Pai nos ama, certifica Jesus, temos a liberdade de pedir compreendendo que esse amor de Deus por nós medirá, em seu coração, a verdadeira necessidade que temos do que pedimos. Que o Senhor fortaleça a nossa confiança. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 6 de maio de 2016

(At 18,9-18; Sl 46[47]; Jo 16,20-23)
6ª Semana da Páscoa.

O ministério de Paulo em Corinto parece estender-se por mais tempo que em outras cidades. Ali ele é confirmado nessa presença do Senhor a seu lado, tanto que a investida dos judeus contra ele, dessa vez, não deu em nada. O texto salienta sua vocação profética: “Não temas!... pois estou contigo”. Não sabe Galião que o que preocupa os judeus afetará também, no futuro, o império romano. A força libertadora da palavra transmitida pelos apóstolos será capaz de modificar impérios. Não se sabe o voto feito por Paulo. E cá pra nós isso tem pouca importância. Importa perceber como foi importante fortalecer a comunidade de Corinto profundamente influenciada pelo seu entorno.

A comparação de Jesus dessa Sua passagem e aflição dos apóstolos com as dores do parto e o nascimento de uma criança é, de certa forma, terna. Mesmo fazendo referência velada ao Antigo Testamento, João contempla o maravilhoso resultado de todo esse processo anunciado por Jesus. Com todas as dificuldades a serem enfrentadas, nada poderá lhes roubar a alegria da vida nova que a ressurreição de Jesus inaugurou pela força do seu Espírito em nós. Ao coração de Jesus, pleno de misericórdia, lançamos nosso olhar para que nos ajude a suportar as dores dessa vida que geram vida nova, para que assim estejamos abertos a todo esse misterioso processo de redenção.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 5 de maio de 2016

(At 18,1-8; Sl 97[98]; Jo 16,16-20) 
6ª Semana da Páscoa.

Esse pequeno trecho da ação pastoral de Paulo em Corinto revela-nos sua habilidade artesanal que lhe permitiu sobreviver, mas que muitas vezes teve que deixar de lado para comprometer-se mais com a palavra. Onde a resistência se fez sentir Paulo soube estrategicamente buscar outras pessoas sedentas desse anúncio transformador. Aprendamos dele a não sermos demasiado insistente com quem o Espírito ainda não criou abertura suficiente. Não é necessário ‘sacudir as vestes’, mas retirar-se para voltar em momento oportuno.

E por falar em retirar-se para voltar em momento oportuno, Jesus joga com as palavras e com o tempo para falar-lhes do mistério da ressurreição, mas a liturgia nos fala da Ascensão que estamos para celebrar. Ele fala também dos sentimentos que se apoderaram de seus corações, dominando enfim a alegria de saber que Ele nunca nos deixou. Essa experiência de perda e reencontro faz parte de nossa espiritualidade, a nossa alegria é feita desse perder e reencontrar, pois o coração precisa se esvaziar para provar de novo essa renovada inundação da presença divina.

Pe. João Bosco Vieira Leite