Terça, 18 de outubro de 2016

(2Tm 4,10-17; Sl 144[145]; Lc 10,1-9) 
São Lucas, evangelista.

Hoje celebramos o evangelista que está nos acompanhando nas missas dominicais, nos oferecendo suas intuições sobre Jesus e tudo que ele aprendeu dos apóstolos. A primeira leitura nos atesta a presença de Lucas junto aos apóstolos, particularmente no ministério de Paulo. O evangelho o coloca na ótica dos outros setenta e dois discípulos enviados por Jesus, à sua frente, nos lugares por onde ele haveria de passar. Não tanto a sua presença física, mas seu Espírito que viajava no coração dos que nele acreditaram e expandiram a sua voz. Tal texto não é uma afirmação de que Lucas estivesse nesse meio concretamente.

Sua particular destreza na composição do evangelho tem suscitado constante curiosidade sobre sua formação e sua fé em Jesus. Lucas é de origem grega, um homem culto, versado na filosofia e na literatura e também conhecedor da tradição judaica. Por traz de sua narrativa está o desejo de fazer chegar aos seus irmãos de origem grega a boa nova de Jesus. Como pintor, ele consegue apresentar Jesus de forma atraente, para que o Espírito de Jesus desperte o coração dos seus leitores para essa nova vida que Jesus nos propõe. Lucas concebeu os seus escritos em dois volumes: o primeiro sobre os acontecimentos em torno de Jesus (O evangelho) e o segundo como história da jovem Igreja (Atos dos Apóstolos). Ele dá ao seu texto uma continuidade com os fatos que já foram narrados, mas ao mesmo tempo imprime um diferencial pelas narrativas que insere e o modo como as faz. “Segundo a Tradição, Lucas foi médico. Muitos exegetas insistem: a linguagem de Lucas sugere que ele se formou em medicina. Ora, se ele foi realmente um médico ou não, o importante é o que está por trás dessa imagem de Lucas elaborada pela Tradição, pois Lucas foi evidentemente um homem que se empenhava pela cura do ser humano. Seu Evangelho e Atos mostram claramente que ele não pretendia, antes de mais nada, doutrinar os outros; para ele, o que estava em primeiro lugar era arte de viver uma vida sadia. [...] Para Lucas, Jesus é aquele que leva à sua perfeição nossa verdadeira imagem. Ele não faz questão de descrever o homem constantemente como pecador. O ser humano possui um núcleo divino, do qual, porém, ele se alienou. Por isso Jesus desceu do céu para lembrar novamente ao homem sua dignidade divina. Tal imagem positiva do humano faria bem à nossa pregação cristã hoje. Temos insistido demais em pensar que devemos primeiramente humilhar as pessoas, para que possam receber a graça de Deus. Lucas abre mão desse tipo de método, que em última análise desvaloriza. Ele vê o ser humano como ele é, na sua dignidade, mas também com suas lesões e os seus ferimentos. Assim, ele pinta Jesus como o verdadeiro médico, que cura as nossas feridas e nos ensina a arte da vida saudável. Aleijados e sem poder enxergar além do nosso horizonte estreito, encontramos em Jesus o terapeuta que nos endireita e nos devolve a nossa verdadeira dignidade” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola). Parabéns a todos os médicos por seu dia. Cuidar da vida é um sacerdócio. 

Pe. João Bosco Vieira Leite