29º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 (Ex 17,8-13; Sl 120[121]; 2Tm 3,14-4,2; Lc 18,1-8)

1. O tema da oração é retomado em nossa liturgia sob a perspectiva da perseverança, da necessidade de rezar sempre. Ilustra esse tema essa narrativa do combate de Israel aos amalecitas, um dos povos que ele teve que enfrentar ao longo da travessia pelo deserto e pela conquista da terra prometida.
2. O foco da narrativa é essa intercessão de Moisés que permanece com os braços erguidos em oração; mas a batalha persiste e seu cansaço se faz sentir. Em situações parecidas da vida, experimentamos o cansaço, mas a oração de Moisés era importante, tanto quanto a nossa.
3. São muitas as situações em nós e ao nosso redor que precisa desse combate contínuo pela oração. Não deixar cair os braços. Muitas coisas na vida precisam de nossa oração. Nossa oração e nossa vida, ou ao menos em que direção rezar brotam também de nossa comunhão com a Palavra de Deus. Por isso Paulo insiste com Timóteo sobre as coisas que ele recebeu como ensinamento e base da fé.
4. Uma palavra que não só inspira a oração, mas também a vida. Daí essa preocupação com a pregação e o estudo da Palavra. Um recado não só para ele, mas para todos.
5. Na minha última participação no programa da Rádio Cultura, uma mãe perguntava por que Deus não curava o câncer de seu filho. Uma pergunta desconcertante e ao mesmo tempo próxima de nossa experiência de fé. Apesar de nossa perseverança, parece que nem sempre Deus atende aos nossos pedidos. Seria Ele como esse juiz da narrativa de Jesus?
6. Não, diz Jesus a nós. Israel, tanto quanto nós rezamos em nosso tempo, pedimos a vinda do Reino de Deus, que parece nunca se concretizar. Essa realidade está por trás da parábola narrada. Ao nos ensinar a rezar, Jesus tinha plena consciência que o agir e o tempo de Deus estava distante da compreensão humana. Ele pede que rezemos, mas que saibamos esperar.
7. Se a pressa é inimiga da perfeição, ela também o é da nossa oração. Já ouvimos sobre essa paciência necessária com a narrativa do joio e do trigo: é preciso esperar o tempo certo de separá-los. Como há um tempo para tudo nessa vida, a perseverança na oração deverá nos levar a uma abertura de coração sincera para Deus. E cada um tem seu tempo e sua hora.
8. Se é verdade a expressão de que ‘quando Deus não muda a tempestade, muda o coração de quem conduz a barca’, rezar nos coloca numa atitude de comunhão com Ele e nos ajuda a acolher a sua vontade. A questão final do evangelho é a mesma que perpassa a nossa liturgia: será que no andar da carruagem não nos cansaremos e desistiremos de Deus? O senhor pede não só perseverança, mas vigilância sobre nós mesmos.


Pe. João Bosco Vieira Leite