28º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(2Rs 5,14-17; Sl 97[96]; 2Tm 2,8-13; Lc 17,11-19)

1. É possível afirmar que o tema da gratidão se mistura ao reconhecimento, por parte de quem é ‘estrangeiro’, da ação de Deus, rico em misericórdia. Naamã, comandante do exército sírio, contraiu lepra. Um dos seus empregados propôs que ele buscasse Eliseu, o profeta de Israel.
2. Acostumado a certos ritos para chegar à cura, ele estranha que o profeta lhe mande apenas banhar-se no rio. Com certa resistência ele vai e ver-se curado. Desperta-lhe um profundo senso de gratidão e quer oferecer algo ao profeta, que recusa, para que ele saiba que quem o curou foi Deus.
3. Para aquele estrangeiro só lhe restava levar consigo um pouco daquela terra, para erigir um altar ao Deus de Israel e venerá-lo em sua terra. O texto abre uma brecha para a compreensão da ação misericordiosa de Deus para com todos e que mesmo esse estrangeiro não se convertendo ao judaísmo, tem com ele algum vínculo.
4. O texto vai em duas frentes: a capacidade de não atribuir a si o que é mera ação de Deus e compreender que a fé em Deus subsiste mesmo em meio a outras realidades religiosas ou espirituais.  
5. A carta de Paulo que estamos acompanhando foi escrita na prisão, numa situação de abandono dos companheiros, ele lembra a Timóteo que Cristo também passou por isso. Que é importante colocarmos a confiança nele. Poderão até criticá-lo por seu esforço na evangelização e sua atual condição, mas o que foi semeado não se encontra algemado. Isso lhe dá serenidade.
6. A situação do leproso foi se agravando na sociedade judaica a ponto de ser excluído da comunidade e ser considerado como um morto. Símbolo também do pecado. A refilmagem de Ben-Hur nos traz um pouco dessa realidade cultural. É nessa situação de desgraça que um pequeno grupo pede a Jesus que tenha misericórdia deles; não que necessariamente os cure.
7. Jesus os manda seguir o que se prescrevia na época e a cura vem ao longo do caminho e se conclui com esse estrangeiro que volta para agradecer, como na 1ª leitura. É nos pormenores da narrativa que percebemos a intenção de Lucas. Dez é o número da totalidade; tem algo de universal, como se toda a humanidade precisasse dessa cura que vem de Jesus.
8. O que faz esse samaritano em meio aos judeus? Não são inimigos? Sim, quando tudo vai bem conservamos nossas fronteiras, mas a desgraça e o sofrimento derrubam nossas barreiras. Se compreendêssemos que diante de Deus somos todos pecadores e necessitados de sua misericórdia, não olharíamos o outro de cima do pedestal que nós mesmos construímos.
9. O caminho que percorrem até perceberem-se curados é também símbolo da caminhada cristã que compreende que ninguém muda de repente, tudo é um processo. O fato de só o estrangeiro voltar para dar graças a Deus, talvez represente o próprio Lucas, que estrangeiro, soube reconhecer quem é Jesus. Talvez reflexo de tantos outros que aprenderam a dar graças a Deus que revelou o seu rosto misericordioso em Jesus. 
10. Assim, Jesus é a compreensão de que Deus não está longe dos pecadores ou de qualquer raça ou nação. Que não rejeita ninguém e que pode ser o caminho para aqueles que querem fazer a experiência do amor de Deus.



Pe. João Bosco Vieira Leite