Quarta, 31 de agosto de 2016

(1Cor 3,1-9; Sl 32[33; Lc 4,38-44)
22ª Semana do Tempo Comum.

O texto de Paulo soa como um lamento sobre uma comunidade que ainda não amadureceu, não se tornou cristã de fato. Atitudes acabam por revelar que a dinâmica do evangelho não foi aplicada ou compreendida, pois, entre outras coisas, se apegam ao pregador confundido o instrumento com o autor da mensagem. Essa realidade ainda se faz sentir em nossas comunidades, demasiado ‘carnais’, no dizer de Paulo.

Os relatos de cura em Lucas têm aspectos diferentes dos outros evangelistas, já que segundo a tradição ele era médico, pelo domínio de uma certa linguagem médica. “A cura é para Lucas o restabelecimento da boa criação. Quando Jesus cura uma pessoa, ele completa a obra do Pai, e torna visível como o ser humano havia sido planejado, como obra saído das mãos de Deus. Nessa combinação da imagem grega do homem com a ideia bíblica da beleza e da perfeição originais da criação mostra-se a maestria do escritor e teólogo Lucas” (Anselm Grun – Jesus, modelo do ser humano – Loyola). Ao final o evangelho revela a sua consciência de expandir a sua presença libertadora a outros.
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 30 de agosto de 2016

(1Cor 2,10-16; Sl 144[145]; Lc 4,31-37) 
22ª Semana do Tempo Comum.

Paulo está chamando a atenção da comunidade para não confundir aquilo que julga conhecer com aquilo que realmente conhece: “portanto, se é verdade que só o Espírito de Deus pode conhecer as profundezas de Deus, é verdade também que o homem tendo um espírito diferente do divino, enquanto criatura limitada, não pode conhecer o que pertence a Deus. Existe por isso uma separação impreenchível entre mundo divino e mundo humano. Ao mesmo tempo, porém, a realidade da Encarnação e da Humanidade de Cristo torna conatural ao nosso mundo humano o pensamento de Deus, consentido ao nosso espírito natural abrir-se à ação do Espírito de Deus, que em Cristo se habituou ao homem” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Esta semana iniciamos a leitura do evangelho de Lucas que nos acompanhará até o final do ano litúrgico. O texto do seu evangelho tem complemento e prolongação nos livros dos Atos dos Apóstolos, também de sua autoria. Muita coisa poderia se dizer desse autor, mas ao longo dessas últimas semanas nós o iremos conhecendo um pouco. O texto que não ouvimos por causa da memória do Batista trata do início de sua missão com a pregação na sinagoga de Nazaré, que já é para nós uma apresentação de Jesus, no qual se realiza e se torna visível toda palavra profética. No texto de hoje, sua autoridade é reconhecida até pelo demônio, causando grande impacto sobre as pessoas ali presentes e assim se expande a sua fama. Sua palavra é capaz de dominar as forças destruidoras do homem. “...Palavra proclamada, que toca as pessoas e sabe ir ao coração das coisas, porque sabe chamá-las pelo nome. O ensinamento do Mestre tem o carisma da verdade, que se revela na eficácia de uma escuta atenta e penetrante” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Aquele que melhor retratou a Virgem, sabe dos efeitos que uma escuta atenta e meditada da Palavra pode provocar numa vida.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 29 de agosto de 2016

(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29) 
Martírio de São João Batista.

Celebramos a memória obrigatória do martírio do Precursor de Cristo; a data escolhida remonta à dedicação de uma cripta de Sebaste (na Samaria), onde sua cabeça era venerada (relíquia) já na metade do século IV. As orações da missa lembram a grandeza daquele que ‘é o maior entre os nascidos de mulher’ e que também é chamado de justo e santo. “A atualidade desse martírio pode ser vista na ligação indissolúvel, estabelecida por Jesus (cf. Mc 10,38; Lc 12,50), entre o batismo e sua morte sacrificial por nós. Ora, ‘o maior dentre os profetas, o mártir poderoso e o cultor do deserto, aquele que não manchou o cândido pudor’, como canta a primeira estrofe do hino das laudes (de Paulo Diácono), convida-nos a vivermos nosso batismo como uma oferta permanente da vida ao ponto de aceitarmos o sacrifício de nós mesmos” (Enzo Lodi - Os Santos do Calendário Romano – Paulus).

Na figura do profeta Jeremias recordamos a austeridade e a vocação profética de João perante as situações de injustiça do seu tempo que lhe custou o seu martírio conforme a narrativa do evangelho, depois de passar um tempo na cadeia; mas João era um homem livre, quem de fato estava preso era Herodes nas próprias paixões desordenadas. Não é à toa que ao ouvir João, Herodes se sentia embaraçado. A morte de João acaba servindo de alerta para Jesus, que busca afastar-se desse ditador, para ser levado precocemente ao tribunal, já que trazia a fama de ser o Messias. Peçamos ao Senhor, na memória desse martírio, o discernimento de espírito e a coragem necessária para denunciar toda a prepotência que tira a vida de tantos inocentes, em suas diversas formas. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

22º Domingo do Tempo Comum – Ano C

 (Eclo 3,19-21.30-31; Hb 12,18-19.22-24a; Lc 14,1.7-14)

1. Não é difícil perceber que a temática da liturgia da Palavra gira em torno da humildade, da gratuidade e também do sentimento de gratidão.
* Talvez, depois de tanta luta e esforço, podemos nos orgulhar de ter chegado a esse momento de nossa vida. É verdade, é uma conquista, mas nada do que temos e somos tem necessariamente a origem em nós mesmos.
2. A humildade nos leva a reconhecer que outros esforços estão por trás de nossas conquistas e que, em última instância, Deus é a origem de tudo.
* O humilde reconhecimento deve nos levar à gratidão e a capacidade de também colocarmos a serviço do outro ou das novas gerações o que sou, o que aprendi.
3. A humildade constrói relações, acaba com o egoísmo, com a competição e com a ostentação, palavra muito comum em nosso tempo como sinônimo de poder. Como me vejo, a partir dessa consciência?
4. O autor da carta aos hebreus lembra a seus leitores que houve um tempo em que as nossas relações com Deus eram caracterizadas por fenômenos extraordinários.
* Deus era assustador. Agora, em Jesus Cristo, a experiência é outra. Deus se tornou próximo, amigo e já não são necessárias tantas mediações como no passado. Como é minha relação com Deus, como O vejo?
5. Essa nova compreensão de Deus aparece claramente no agir de Jesus, mostrando a vontade de Deus a partir das realidades cotidianas, como numa refeição, no evangelho de hoje.
* Todas as culturas têm suas regras com relação ao colocar-se à mesa. Essa busca pelos primeiros lugares o fez recordar-se de um ensinamento de seu povo.
6. Jesus cita um provérbio não como uma tática para a autoafirmação, mas para que seus discípulos se recordem que essa busca pelos primeiros lugares é uma doença que pode destruir a convivência ou a comunidade.
* Não façam propaganda de si. Deixe que Deus mesmo reconheça sua importância. Jesus voltará outras vezes a esse assunto mostrando que o real valor do indivíduo está na sua capacidade de servir, isso o faz importante.
7. O que segue como sugestão de Jesus para quem o fariseu deve convidar, não pode ser tomada ao pé da letra, pois três, da categoria citadas eram justamente dos que estavam excluídos da vida religiosa, do culto.
* O recado se dirige a comunidade cristã, que deve ter como princípio trazer para o seu meio, sua convivência, os que foram excluídos do banquete. Aqueles que de alguma forma se perderam no trajeto.
8. Algo que as comunidades cristãs sempre tiveram dificuldade de compreender. Que o papa Francisco retoma como tema de reflexão; que o nosso falecido Pe. Enaldo tomava ao pé da letra.
* Esses que não podem agradecer materialmente, mas reconhecem no sorriso ou numa prece os que o ajudaram. Que nos livram de uma caridade ou gentileza calculada.
* Quanto menos a mão esquerda souber o que faz a direita, mais pareceremos com Jesus em sua forma de amar e consequentemente seremos reconhecidos como filhos do Pai que está no céu. 


Pe. João Bosco Vieira Leite



Sábado, 27 de agosto de 2016

(1Cor 1,26-31; Sl 32[33]; Mt 25,14-30) 
Santa Mônica, esposa, mãe e viúva.

Paulo chama a atenção para o modo do agir divino que sempre confunde a sabedoria ou a lógica humana. Ao mesmo tempo Paulo recorda que tudo é graça da parte divina, pois não é por merecimento o agir o chamado de Deus para conosco.

A parábola dos talentos pode despertar em nós uma certa compaixão para com aquele que só recebeu um talento e o devolveu e foi castigado pela sua atitude. Intencionalmente Jesus quer chamar atenção sobre ele, pois tem algo a nos ensinar. Longe de preocupar-se com rendimento, Jesus foca mais na questão da confiança e do medo. A vida de fé exige riscos, como quem lida com o mercado financeiro, quem teme riscos enterra seu talento. A questão do medo está na imagem que temos de Deus, uma imagem negativa não ajuda muito a mover-nos na vida ou arriscar-se. Certa busca de segurança nos faz demasiado preso a certas coisas, quando na realidade, cedo ou tarde, as perderemos, correndo o risco de perder-nos a nós mesmos. “Para mim, a parábola nos convida a viver em função da confiança e não do medo. Quem procura evitar todo e qualquer erro, acaba fazendo tudo errado. Ele próprio transforma a sua vida num inferno cheio de medos. Quem procura controlar tudo por medo, range muitas vezes os dentes à noite, porque tudo o que ele gostaria de suprimir por medo virá à tona de noite e ele terá de reprimi-lo à força. Assim, a vida dele estará marcada por choro e ranger de dentes. A pergunta é por que Jesus usa imagens tão drásticas. Tudo indica que é necessário levar essa atitude receosa ao absurdo, porque temos pena dela por natureza. Existe em nós a tendência de ter pena de nós mesmos. Facilmente, achamos que fomos prejudicados. Tudo na vida é tão difícil. Não dá para viver direito com o pouco que recebemos. Jesus nos quer livrar dessa atitude, pintando em cores drásticas essa posição diante da vida. Ele usa a parábola para expulsar o medo pelo medo, para que optemos pelo caminho da confiança e do amor” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).  



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 26 de agosto de 2016

(1Cor 1,17-25; Sl 32[33]; Mt 25,1-13)
21ª Semana do Tempo Comum.

Paulo esclarece o seu papel na evangelização como pregador e o faz na humildade daqueles que procuram pregar tão somente a Cristo a partir da sabedoria da cruz, rejeitada pelo mundo intelectual ou racional.

Mais uma parábola vislumbra o mistério do Reino: as virgens prudentes e as imprudentes. Uma parábola que faz alusão aos costumes nupciais judaicos, não sendo necessariamente fiel a eles. A parábola nos convida a um posicionamento. “Os Padres da Igreja entendem por prudência não ficar apenas ouvindo as palavras de Jesus, mas segui-las. Foi pensando nisso que Mateus colocou no encerramento do Sermão da Montanha a parábola do homem prudente que constrói a sua casa sobre a rocha. Para Mateus a vida cristã não consiste apenas em seguir certas ideias, é necessário cumprir concretamente as palavras de Jesus no dia-a-dia, dando-lhe a resposta correta com obras de amor. A fé e as obras são inseparáveis para Mateus. É uma teologia que difere da de Paulo. Ele acentua um aspecto e faz com que sua comunidade se lembre constantemente dele: a fé precisa se expressar, senão ela se desfaz” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 25 de agosto de 2016

(1Cor 1,1-9; Sl 144[145]; Mt 24,42-51) 
21ª Semana do Tempo Comum.

A liturgia nos oferece os textos mais importantes da primeira carta aos Coríntios até o sábado da XXIV semana comum. Essa carta nos permite compreender o grau de elaboração da fé cristã por parte de Paulo. Segundo Lucas, Paulo permaneceu um ano e meio nessa cidade marítima, conhecendo toda a sua realidade, de uma vida livre acima de qualquer ética e de grande efervescência cultural por causa do seu comércio e da paixão pela procura da verdade.

Podemos identificar o costume de Paulo de iniciar a sua carta apresentando os remetentes e os destinatários, ao mesmo tempo que emite sua saudação, reconhece a ação de Deus na vida da comunidade. Uma palavra sempre voltada para uma perseverança na fé.

O nosso texto do evangelho é um convite à vigilância, ao estilo do evangelho de Lucas que acompanhamos há alguns domingos. O retorno de Cristo é comparado à ação inesperada de um ladrão. Quem espera deve estar preparado e não se deixando perder no ócio e na violência. Uma presença a ser percebida no cotidiano de nossa vida. Certamente as palavras de Mateus refletem um forte movimento escatológico presente no seu tempo. Jesus abraçou o aspecto positivo dessa atitude lembrando o sentido com que devemos viver essa expectativa, seja de sua vinda gloriosa ou do fim deste mundo.  Aqui está presente o real valor que damos ao tempo presente e da percepção da brevidade da vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 24 de agosto de 2016

(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) 
São Bartolomeu, Apóstolo.

Bartolomeu ou Natanael foi conduzido a Jesus por Filipe, nos lembra o evangelho. Interessante é que ele é de Caná, cidade vizinha de Nazaré, mas a rivalidade entre as cidades aí aparece no seu preconceito. Filipe o desfaia a deixar dela tal premissa e conhecer Jesus para chegar à fé. De sua atividade apostólica temos apenas a tradição armênia: “’O apóstolo Bartolomeu, que era da Galileia, dirigiu-se à Índia, que lhe fora designada para evangelização do sorteio. Pregou àquele povo a verdade do Senhor Jesus. Depois de ter convertido muitos a Cristo naquela região, sustentando não poucas fadigas, passou à Armênia maior...’, onde, depois de ter convertido o próprio rei e sua esposa, suscitou a reação dos sacerdotes que açularam contra ele o irmão do rei, Astíages, o qual mandou esfolá-lo vivo e decapitá-lo” (Mario Sgarbosa - Os santos e os beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas). A ele é atribuído um evangelho apócrifo (não reconhecido pela Igreja); suas relíquias se encontram em Roma.

Jesus se mostra bastante acolhedor no evangelho, permitindo até que seus primeiros discípulos também chamassem outros para o seguir, seu desafio foi congregar tão diferentes posturas, mas tudo começa com seu gesto de acolher a cada um assim como se apresenta e depois transformá-los pela sua graça. Que o Senhor faça também esse milagre em nós.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 23 de agosto de 2016

(2Cor 10,17—11,2; Sl 148; Mt 13,44-46) 
Sta. Rosa de Lima, padroeira da América Latina.

Sta. Rosa de Lima é a primeira santa do Continente Americano, cujo nome Isabel Flores y de Oliva, já identifica sua linhagem espanhola. Seu nome (Rosa) veio de uma empregada que se admirou de sua beleza, tanto que quando entrou para a ordem terceira dominicana adotou o nome de Rosa de Santa Maria. Não tendo ainda um convento feminino em sua terra, fez no jardim de sua casa uma cela e mesmo com o empobrecimento de sua família não se escusou do trabalho braçal nos campos ou na costura e viveu uma vida de marcada penitência, que lhe trouxeram sofrimentos e doenças. Nem por isso Rosa deixou de colher nesse ‘jardim’ a verdadeira alegria e experimentar a graça divina. Aprendeu com paciência a aceitar e suportar os sofrimentos. Foi canonizada em 1671.


A liturgia da palavra utiliza o texto de Paulo para recordar a consagração de Rosa a Cristo, como seu único esposo. O evangelho salienta essa particular descoberta de Rosa da sua opção de vida como um tesouro escondido que ela encontrou, abrindo mão de tudo para obtê-lo. Em sua consagração e seu sofrimento, difícil à compreensão comum, ela encontrou a sua alegria, o sentido de sua vida e fez a experiência do Reino numa dimensão mística em sua entrega total. Que ela continue a interceder pelos povos latinos, nos ajudando a compreender e buscar essa alegria do Reino em meio as nossas labutas diárias.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 22 de agosto de 2016

(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 
Nossa Senhora Rainha.

Para coroar o mistério da Assunção de Maria aos céus, a Igreja conserva essa antiga memória que a reconhece, em sua devoção, como Mãe e Rainha, uma vez que ela foi ‘sentar-se à direita do Rei’, conforme canta o salmo 44 da celebração de 15 de agosto (transferida para o dia de ontem). Certamente a realeza de Maria não se confunde com os reis e rainhas da terra; trata-se de um mistério do Reino dos céus e que a piedade mariana explicitou com uma série de títulos: rainha da misericórdia, da paz, dos anjos, dos confessores etc.

“Um dos oráculos do Antigo Testamento relacionados ao Reino de Deus é proposto como primeira leitura: Is 9,1-6. Falando da chega do Rei Messias, o profeta descreve seu senhorio a começar pelo nascimento: ‘Um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado... [...]. O evento da Anunciação manifesta que o antigo oráculo se cumpriu em Jesus: da Virgem de Nazaré ‘nos foi dado um filho, o Príncipe da paz’. Para esta ‘necessária’ presença de Maria, Cristo associa ao próprio senhorio Aquela que, dando-lhe um corpo de homem, lhe deu condições de assumir o Reino e que, cooperando com sua missão até sob o trono da Cruz, mereceu participar de sua glória nos céus e do seu reinado nos corações dos fiéis. Recorda-o a Lumen gentium: ‘A Virgem imaculada,... terminado o curso de sua vida terrena, foi levada à glória celeste em corpo e alma, e exaltada pelo Senhor como Rainha do universo, para que se conformasse mais plenamente com o seu Filho, Senhor dos senhores e vencedor do pecado e da morte’ (n. 59)” (Corrado Maggioni – Maria na Igreja em Oração – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Assunção de Maria – Missa do Dia

(Ap 11,19a; 12,1.3-6a.10ab; Sl 44[45]; 1Cor 15,20-27a; Lc 1,39-53).

1. Esse trecho entrecortado do livro do Apocalipse é um retrato da Igreja na sua difícil missão de anunciar a mensagem cristã ao mundo. Ela está à mercê das perseguições que já começaram. A imagem da arca que aí aparece no templo, serve de símbolo e indicação da presença de Maria na glória de Deus, como nos indicava a liturgia da missa da vigília.

2. A mulher em processo de parto é uma imagem da Igreja perseguida, e ao mesmo tempo é Maria enquanto figura da Igreja, tendo nas doze estrelas o símbolo do povo de Deus ou dos apóstolos. Aquela que acompanhou o Filho até a cruz e participou dos seus sofrimentos, estende sua maternidade à todos aqueles que acreditam em seu Filho. A liturgia que nos levar a perceber que aquela que está tão junta ao Filho no céu, também está junto a nós que peregrinamos nessa terra, que acreditamos e esperamos.

3. O nosso salmo é um cântico nupcial, dessa relação de Deus com o seu povo. Na beleza da esposa os antigos teólogos da Igreja viram a beleza de Maria elevada ao céu.

4. No cap. 15 de sua carta Paulo faz uma profunda e longa dissertação para nos introduzir no mistério da ressurreição inaugurado por Cristo. Tudo isso para dizer que se Cristo ressuscitou, nós ressuscitaremos, pois somos membros do seu corpo. Desse confronto entre Adão e Cristo, a Igreja confronta Eva com Maria. Maria está tão unida nesse mistério redentor ao seu Filho, que acreditamos que toda vitória do filho sobre o pecado e a morte, alcança de imediato a sua mãe. 

5. Uma vez que Maria deu o seu sim a Deus, Lucas nos conduz a um retrato sobre Maria e de sua vocação nessa visita a Isabel. A anunciação e a visitação se completam. Jesus que já habita o ventre de Maria, faz dela uma verdadeira arca da Aliança; a alegria que sentia o povo de Deus em sua presença é a mesma de Isabel e do filho que ela traz em seu ventre.

6. Pela voz de Isabel, movida pelo Espírito Santo, se proclama a bênção que Maria recebeu de modo particular, pois traz em seu seio o autor de toda bênção. Sentindo-se agraciada por tal visita, lhe é impossível não afirmar toda felicidade que Maria alcança pela sua fé. É quando Maria, em sua humildade, toma a palavra para conduzir ao autor de tudo isso: Deus.

7. A solenidade da Assunção quer nos conduzir no amor a Maria e também à Igreja, pois junto com ela invocamos a Maria como advogada, auxiliadora, socorro, medianeira. Sem com isso subtrair ou acrescentar alguma coisa à dignidade e à eficácia de Cristo, único mediador. Como diz a frase: ‘Peça a mãe que o filho atende’, sabemos bem a origem de tudo que recebemos.

8. A liturgia quer nos provocar também esse desejo ‘das coisas do alto’, como diz são Paulo. A festa da Assunção aponta para aquilo que nos espera. E ao mesmo tempo espera que cresça em nós os sentimentos celestes e que adotemos comportamentos morais que correspondam ao nosso desejo. Sim, contemplamos Maria em sua glória ou na glória divina. Sua vida em Deus é objeto de nossa meditação, mas também de nossa decisão de, com seu auxílio, alcançarmos a mesma meta.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 20 de agosto de 2016

(Ez 43,1-7; Sl 84[85]; Mt 23,1-12) 
São Bernardo, abade e doutor.

O retorno de Israel à cidade santa teria que ser acompanhado de presença do Senhor que enche de glória o Templo, repouso dos seus pés. Esta visão do profeta traduz uma renovada espiritualidade do povo após a amarga experiência do exílio. 

O capítulo 23 de Mateus é caracterizado pela crítica de Jesus aos escribas e aos fariseus, que não deve ser lido como uma crítica ao povo judeu. Provavelmente esse capítulo reflete o conflito da comunidade primitiva hostilizada pelos fariseus, o grupo mais forte e influente naquele momento histórico. Assim as suas críticas são uma chamada de atenção à própria comunidade para o risco de esconder-se atrás da observância de certas normas, ao estilo farisaico. “Jesus confirma a autoridade dos escribas e fariseus. O que eles ensinam está perfeitamente correto. Mas ele os acusa de não mexerem um dedo sequer ‘para remover os fardos’ (não é ‘tocá-los’ ou ‘movê-los’, como dizem algumas traduções). Nada fazem para interpretar a lei de maneira que não se torne um peso desnecessário para os homens. No fundo, eles não se interessam pelas pessoas, porque não dividem a sua vida com elas, colocando-se antes acima delas. Esse perigo não existia só naquele tempo, para os fariseus, ele existe também para qualquer exegeta e teólogo, para qualquer agente pastoral. Jesus nos admoesta a verificar se em nossa pregação estamos realmente atentos às preocupações e necessidades das pessoas, ou se nos satisfazemos com uma teologia abstrata e com regras morais exageradas que não fazem jus ao ser humano. Jesus quer uma teologia misericordiosa que não despreze o ser humano, uma moral misericordiosa que não escravize nem provoque uma consciência pesada” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 
  
Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 19 de agosto de 2016

(Ez 37,1-14; Sl 106[107]; Mt 22,34-40)
20ª Semana do tempo Comum.

Outro belo texto de Ezequiel traduz para nós o sofrimento de Israel no exílio, traduzindo com imagens quase fantasmagóricas o estado de prostração desse povo sem esperança. A palavra do Senhor restaura a vida infundi-lhe o Espírito e trazendo esperança. Assim podemos nos sentir em algum momento da caminhada e nesse momento podemos invocar o Senhor e experimentar a sua misericórdia restauradora: “Mas gritaram ao Senhor na aflição, e ele os libertou daquela angústia” (Sl 106[107]).

Jesus lembra aos fariseus, para os calar, que na nossa relação e obrigação para com Deus tudo se resume no amor a Ele e ao próximo. Não existe mandamento maior ou menor, menos ou mais importante, tudo depende do modo como o vivemos essa compreensão da vontade de Deus que se esconde em cada um deles. Certamente já nos demos conta da incapacidade de cumprir a todos eles, por isso é melhor apostar nesse amor de Deus por nós e de sua misericórdia infinita.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 18 de agosto de 2016

(Ez 36,23-28; Sl 50[51]; Mt 22,1-14) 
20ª Semana do Tempo Comum.

Se o Senhor permitiu que o seu povo fosse para o exílio, ele mesmo cuidará de trazer de volta o seu povo, restaurá-lo e infundir um novo espírito para que restaurado em seu coração a sua relação com o seu Deus pudesse recomeçar e retomar a sua posição de luz para o mundo de como age o Deus de Israel. A imagem da água será retomada no Novo Testamento como símbolo do Espírito de Deus derramado por Jesus em nossos corações. Um coração novo para um mundo novo. 

Escutamos mais uma parábola de Jesus, a partir de realidades conhecidas pelos seus ouvintes. Ele sabe com atrair a atenção dos seus ouvintes e isso é apaixonante. Se bem que nos incomoda essa imagem de Deus que, enfurecido pela má recepção dos convidados, manda matar e incendiar suas cidades. Ainda que Deus convide a todos, é preciso entrar na dinâmica própria do reino. Uma parábola para muitas interpretações, uma delas: “Mateus realça em sua versão da parábola contada por Jesus a prevalência da graça sobre qualquer esforço humano. Mas, ao mesmo tempo, exige que o ser humano responda à graça por meio de seus atos, pela transformação de sua mentalidade e pela disposição de aceitar com serenidade o mistério da graça. Dessa forma, tornam-se visíveis os contornos de sua imagem, da Igreja e do ser humano: a Igreja não é uma comunidade de seres perfeitos, e sim de bons e maus, de fortes e fracos, de conscientes e inconscientes. A Igreja e seus dirigentes não têm o direito de excluir certas pessoas do banquete comum. Essa medida caberá ao rei, ou seja, ao próprio Deus no fim dos tempos. Como a Igreja, o ser humano também está cheio de equívocos e contrastes. No ser humano há coisas boas e más, luz e trevas, disponibilidade e recusa. Mateus admoesta a tomarmos consciência daquilo que está em nós, colocando por cima de tudo a veste que Deus nos oferece, isto é, a veste do amor incondicional que nos aceita como somos. Se continuarmos vivendo no estado de inconsciência, sem vestir a melhor roupa de que dispomos, então a recusa se transformará em autodestruição, em choro e ranger de dentes” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 17 de agosto de 2016

(Ez 34,1-11; Sl 22[23]; Mt 20,1-16) 
20ª Semana do Tempo Comum.

Esse texto de Ezequiel, recordado na festa do Coração de Jesus, expressa a preocupação e o cuidado de Deus por seu povo, mas também a censura sobre aqueles cuja missão seria cuidar do povo e não o fizeram. A ruina de Jerusalém é consequência dessa falta de cuidado, e não só isso, se aproveitaram do rebanho. Mas Deus vem sempre em socorro do seu povo, pois mesmo antes de Moisés e de Davi, Ele já era o pastor de seu povo.

Jesus volta a fazer uma comparação sobre o reino com essa parábola do patrão que contrata trabalhadores em horas diversas, mas que ao final do dia recebem o mesmo salário. Certamente o viés aqui não é econômico, mas do chamado que Deus faz a cada um para participar do seu reino, que não é medido pelo tempo, pelo que realiza, mas pelo comprometimento com esse reino: “O ser humano se sente valorizado quando é chamado, convidado, aliciado. Quando me dedico ao trabalho que me é confiado, sem querer comparar-me com os outros, torno-me um comigo mesmo, com Deus e com os homens. Não preciso de mais nada para viver. Mas se eu desviar o olhar do meu trabalho para observar os outros e me comparar com eles, ficarei internamente dividido e descontente” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 16 de agosto de 2016

(Ez 28,1-10; Sl Dt 32; Mt 19,23-30) 
20ª Semana do Tempo Comum.

O profeta se dirige ao rei de Tiro, que se acha um deus, para adverti-lo sobre sua real condição. Como no pecado das origens, o homem se ilude a respeito de si mesmo. Cabe ao profeta revelar que ele morrerá como tanto outros nas mãos do rei de Babilônia. Só Deus poderia salvá-lo de si mesmo, se fosse mais humilde.

Assim também só Deus pode salvar um rico de sua condenação, diz Jesus, quando este se permite envolver na dinâmica do Reino que o convida a uma qualidade de vida mais generosa para com o próximo. Assim os apóstolos podem também compreender que a generosa entrega e seguimento que eles vivem não ficarão sem reconhecimento da parte de Deus. Peçamos ao Senhor que nos dê a sabedoria do coração para sabermos avaliar a fragilidade dos bens que passam e procurar os bens eternos, que se encontram na nossa opção pelo Reino.
                                                   

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 15 de agosto de 2016

(Ez 24,15-24; Sl Dt 32; Mt 19,16-22) 
20ª Semana do Tempo Comum.

Numa atitude simbólica, Ezequiel não deve chorar a morte de sua esposa, alegria dos seus olhos, tanto quanto o povo não deverá lamentar a destruição do Templo. Deverão apenas reconhecer, no seu luto diferenciado, que eles são os responsáveis por tudo que está acontecendo. O texto do Deuteronômio que funciona como salmo complementa a compreensão do texto.  A proposta do texto é não entrar numa espécie de depressão, mas esperar humildemente pela libertação que Deus fará acontecer. Quando a nossa vida parecer ‘destruída’ sejamos capazes de administrar nossa dor esperando em Deus. Desesperar jamais...

Mateus segue a linha narrativa de Marcos e nos traz o episódio do jovem rico com sua reflexão sobre o perigo do apego aos bens terrenos. A pergunta do jovem a Jesus é sua consciência da vida futura com Deus e que ao mesmo tempo nessa existência ele deve fazer o bem. Ele observa a lei, mas não ama tanto a Deus quanto julga amar pela prática da mesma. É preciso dar um passo a mais e lançar-se numa atitude confiante na proposta de Jesus para que Deus realmente esteja em primeiro lugar em nossa vida, pois se formos realmente sinceros, descobriremos que não observamos todos os mandamentos...


Pe. João Bosco Vieira Leite

20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Jr 38,4-6.8-10; Sl 39[40]; Hb 12,1-4; Lc 12,49-53).

1. Nossa liturgia da palavra se situa na dramaticidade daqueles que se comprometem com a verdade e sofrem toda forma de represália. Aspectos da vida do profeta Jeremias, servem de referência para o próprio drama vivido por Jesus. Assim podemos acolher esse texto.

2. O cerco imposto por Nabucodonosor à Jerusalém estava matando o povo de fome. Observando a situação, Jeremias recomenda a rendição. Visto como um traidor do povo é jogado numa cisterna, mas depois retirado pela intercessão de um outro homem sensato. Deus tem seus modos de agir em favor dos seus.

3. Essa espécie de luta entre o bem e o mal se repete ao longo da história e se reveste de formas diversas, nem sempre se recorrendo à violência física. A marginalização, o desprezo, a difamação e a calúnia são também métodos de conter os que criticam os poderosos e toda ordem de injustiça de uma sociedade.

4. Jeremias entra na lista do autor da carta aos Hebreus, de modo geral, ao falar daqueles que em meio as maiores dificuldades não abandonaram a fé. O autor tenta incentivar a comunidade cristã a seguir firme, pois assim se pode testemunhar a fidelidade a Cristo, a quem temos claramente a nossa frente, como referência de nossa perseverança.

5. Os textos que antecedem o evangelho nos ajudam a situar essas enigmáticas palavras de Jesus que fazem referência ao Espírito Santo como fogo renovador, fruto do seu batismo: paixão, morte e ressurreição. Por causa desse mesmo Espírito, a paz é algo que está para além de certas aparências de unanimidade, onde a mentira e a injustiça subsistem. Fogo e água podem resumir qualquer tipo de perigo.

6. A palavra de Jesus leva a repensar e quer provocar o sadio debate, onde a verdade nos liberta de falsas expectativas. Não devemos temer as divisões que a Palavra pode provocar. Ela nos deixa claro que certas mudanças devem ocorrer para uma honesta e sadia convivência e que a verdade trazida à tona gera divisões. Diante de Jesus as pessoas terão que tomar partido.

7. Assim Jesus prepara os seus discípulos para o que virá: oposição, difamação, por causa da verdade. A paz de consciência nos obriga a ser coerente com o que acreditamos. A paz de Jesus situa-se sobre um outro plano: não compactuar com o mal e a injustiça. A partir dessa realidade sabemos que as divisões são inevitáveis. Não se trata de uma guerra declarada, mas de uma consciência que temos pontos de vista diferentes e que por causa deles nos determinamos na vida.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 13 de agosto de 2016

(Ez 18,1-10.13.30-32; Sl 50[51]; Mt 19,13-15) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Esse texto traz uma nova compreensão à justiça divina para o povo de Deus com relação a responsabilidade comunitária dos erros cometidos por gerações anteriores. Segundo Ezequiel cada um é responsável dos seus atos e não Deus que seguia castigando quem não teve nada a ver. No caminho pessoal que fazemos escolhemos entre o bem e o mal. Assim a conversão é sempre necessária para que haja um novo começo.

Esse belo e curto texto de Mateus, muitas vezes proclamado na celebração do batismo de crianças, nos lembra essa consciência materna da necessidade que os pequenos têm de serem introduzidos nessa dinâmica da fé, recebendo de Jesus uma bênção para sua vida. “As crianças precisam de proteção dos mais crescidos, sobretudo da proteção do maior de todos, o Deus altíssimo. Jesus deve impor-lhes as mãos e invocar sobre elas a proteção e a graça de Deus. Os Apóstolos não compreendem a grande confiança das pessoas e já não têm presente a imagem do discípulo como a de uma criança que Jesus lhes apresenta (Mt 18,3). O seu Mestre não só permite que as crianças venham a Ele, mas afirma que o Reino dos Céus está preparado para elas. Também eles são chamados e não estão excluídos das promessas do Pai. Crianças e mulheres eram pouco consideradas pelos rabinos do tempo: a religião era assunto para homens. Como Jesus promoveu a mulher, assim faz agora com as crianças. Porventura, estas conhecem a Deus melhor do que os adultos: o Senhor escondeu aos inteligentes e aos sábios aquilo que revelou aos pequeninos (Mt 11,25). A Igreja seguiu esta atitude de Jesus concedendo o Batismo às crianças, mesmo que não sejam capazes de confessar a sua fé. A elas se dá o Corpo de Cristo, logo que sabem distinguir o pão eucarístico do pão comum” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 12 de agosto de 2016

(Ez 16,1-15.60.63; Sl Is 12; Mt 19,3-12) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Descrevendo o desenvolvimento de uma menina desde o seu nascimento, o profeta mostra como Deus cuidou de sua noiva (Jerusalém) desde sempre até a sua prostituição. Um texto profundamente carregado de simbolismo e detalhes culturais. De enjeitada à rainha, Ezequiel chama o seu povo a responsabilidade de seus atos ao ter abandonado Deus para seguir outros deuses. O exílio é apenas consequência desse modo contínuo de rejeitar ou não considerar os cuidados de Deus para com seu povo. Como Israel, somos convidados a perceber esses cuidados de Deus e indagar qual tem sido a nossa resposta.

E por falar em relação amorosa, Mateus traz o texto clássico do posicionamento de Jesus com relação ao divórcio praticado em seu tempo diante de uma pergunta cheia de ambiguidade; Jesus estende seu comentário à condição daqueles que fizeram a opção pelo reino e são convidados a viver uma outra forma de amor: “Jesus enfrenta problemas que são da vida de todos os dias. Evidentemente no Seu tempo, tal como hoje, o tema da relação afetiva e matrimonial entre o homem e a mulher era motivo de muitas preocupações. A pergunta ao longo dos séculos não muda: por que é que o homem e a mulher, uma vez casados, devem permanecer juntos toda a vida, fiéis ao seu pacto de amor? A resposta de Jesus é claríssima: porque para isto foram criados. Este é  plano primitivo de Deus a seu respeito. Como é que então os matrimônios continuam a desfazer-se? Jesus aponta a causa no coração endurecido do homem. [...]Respondendo depois à objeção dos discípulos, Jesus teve a oportunidade de falar de uma segunda via, ainda que nem todos compreendam as palavras que dirá. Aquele que as compreender deverá somente agradecer ao Senhor. O Reino de Deus exige o total empenho do homem. Pode exigir até a renúncia total ao matrimônio e a renúncia livre e permanente à realização da força sexual. A Igreja testemunhará ao longo dos séculos os grandes frutos do Reino de Deus produzidos por esta palavra” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado - Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 11 de agosto de 2016

(Ez 12,1-12; Sl 77[78]; Mt 18,21—19,1) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Numa marcante e simbólica encenação, Ezequiel anuncia a queda de Jerusalém e o exílio babilônico. É um modo do autor sagrado insistir com o seu leitor sobre certas realidades que deveríamos observar, mas que não damos a devida atenção. Quantas vezes Deus nos tem dado pequenos sinais de advertência, mas não lhe prestamos ouvido?  A intenção de Deus é sempre a mudança de rota, a nossa conversão.

Nessas questões ligadas a vida comunitária, nada mais importante que a prática do perdão constante para que esta sobreviva. A pergunta de Pedro vem dentro dessa realidade: “Fica claro nessa parábola que Jesus, em sua resposta a Pedro, não pensa na quantidade, e sim na qualidade do perdão. Ele visa um perdão perfeito, um perdão que vem do fundo do coração. Como pode acontecer isso? Precisamos abrir o nosso coração e todos os seus recantos à misericórdia divina, para que não haja mais lugar para nenhum ressentimento. Muitos acham que uma atitude dessa é algo impossível. Eles bem que gostariam de perdoar, mas em seu interior sentem raiva, dor e tristeza. Para mim, o perdão do fundo do coração significa que permito a entrada do amor perdoador de Deus justamente nesses sentimentos negativos. Não posso realizar o perdão apenas por um ato de vontade. O coração não o acompanharia. Continuaria cheio de amargura e ódio. Para que possamos perdoar do fundo do coração, precisamos ter uma noção do perdão de Deus com a sua total ausência de limites, para que esse perdão nos torne capazes de perdoar. Depois de ter experimentado no fundo do meu coração que sou incondicionalmente aceito com a minha dívida e as minhas faltas, o perdão poderá brotar também do meu coração. Mas não posso saltar por cima dos meus sentimentos. Preciso permitir que eles sejam transformados, para que tudo em mim participe do perdão” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 10 de agosto de 2016

(2Cor 9,6-10; Sl 11[112]; Jo 12,24-26) 
São Lourenço, diácono e mártir.

A Igreja celebra hoje a festa de São Lourenço (= ‘o adornado com louros’), nascido na Espanha e depois residindo em Roma foi ordenado diácono (para saber mais ver o comentário do ano anterior sobre tal ministério) pelo Papa Sisto II. Na perseguição empreendida por Valeriano, Lourenço quis acompanhar o Papa ao seu martírio, mas este preferiu que ele cuidasse da Igreja e dos seus pobres. Ele segue ao papa em seu martírio logo depois sendo queimado vivo, segundo a tradição, numa grelha: “Numa imagem linguagem figurada: nossa vida deve ser bem assada, atravessada pelo fogo do amor. Pode-se dizer que só assim nos tornamos nutritivos, só assim os outros poderão viver de e por meio de nós. Mas não é apenas no fogo do amor que a vida nos assa, mas também no fogo da paixão que arde em nós. As paixões não podem ser cortadas. Elas devem ser transformadas. Nelas reside uma grande energia de que precisamos para nos tornar bênçãos para os outros. O fogo é também imagem dos apuros da vida, do calor da luta em que sempre caímos no dia a dia. Onde as coisas esquentam, onde se luta e labuta, onde enfrentamos as controvérsias da vida, é aí que acontece a transformação” (Anselm Grun - Cinquenta Santos -  Edições Loyola).

Da Palavra de Deus acolhemos a exortação de Paulo a um coração generoso; Lourenço se empenhou esmeradamente em cuidar dos pobres da comunidade de Roma. Paulo crê que Deus agirá generosamente para com aqueles que semeiam sem receio. O evangelho enfatiza a realidade da entrega da própria vida para que haja mais vida na imagem do trigo que morre para renascer na dimensão do seguimento e do serviço.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 09 de agosto de 2016

(Ez 2,8—3,4; Sl 118[119]; Mt 18,1-5.10.12-14) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Ezequiel recebe a missão de Deus pela força da Palavra que deve comunicar. Doce, ao início, se tornará amarga não só a quem escuta, mas também ao profeta que deve transmiti-la na mais perfeita obediência, mesmo não sabendo exatamente o que isso significará em sua vida.

O capítulo dezoito de Mateus reúne as palavras de Jesus a respeito da vida na comunidade cristã: “Para Mateus, a Igreja é essencialmente comunidade. E isso implica conflitos e tensões. Ainda não descreve os cargos da comunidade eclesial, mas esses cargos devem ter existido. E Mateus sabia que tais cargos podem facilmente ensejar abusos. Assim, pode surgir até entre cristãos a questão de quem seja o maior. Por isso, insiste com aqueles que ocupam algum cargo, mas também com a comunidade, que o convívio deve orientar-se antes de tudo na misericórdia. Em vez de fazer alarde, a comunidade deve dar atenção aos pequenos, às pessoas sem importância e aos desprezados. E quando um membro da comunidade erra, este deve fazer de tudo para trazer de volta a ovelha desgarrada” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 08 de agosto de 2016

(Ez 1,2-5.24-25; Sl 148; Mt 17,22-27) 
19ª Semana do Tempo Comum.

Na linha da leitura profética que estamos fazendo, chega a vez de Ezequiel (= ‘Deus fortaleça’), que é sacerdote e, ao mesmo tempo, profeta. Seus escritos correspondem ao exílio babilônico. Ele escreve tanto para os que estão no exílio quanto para os ficaram em Jerusalém. O texto nos traz o seu chamado, que acontece no exílio, e que se reveste de particular simbolismo de um Deus que se movimenta indo ao encontro do seu povo onde ele se encontra e suscitando um seu mensageiro.

Encontramos Jesus e seus discípulos numa situação comum daqueles que frequentavam o Templo e deviam colaborar com a manutenção do mesmo. Os cobradores buscam a Pedro sobre tal contribuição. Trava-se um diálogo com Jesus sobre a validade do mesmo, uma vez que todos eram filhos de Deus: “O homem que é realmente livre pode submeter-se perfeitamente a certas regras, sem perder por causa disso a sua dignidade. Jesus ilustra essa verdade, mandando Pedro ao lago pescar um peixe. No primeiro peixe que ele apanhar, encontrará uma moeda de um estatér com a qual poderá pagar o imposto do templo para si mesmo e para Jesus. A justificativa de Jesus é a seguinte: ‘Para não escandalizarmos’. Quem é livre continua livre mesmo submetendo-se a regras externas. Ele se curva para não magoar ou escandalizar as pessoas. Muitas pessoas interpretariam a nossa liberdade como arbitrariedade e anomia, como anarquia, enfim. Por isso, é prudente submeter-se a certas regras. Mas essa convicção deve nascer da liberdade, não do medo de receber um castigo ou de não obter a salvação de Deus. Por isso existe nesse pequeno episódio um significado fundamental: Jesus vê o ser humano como filho ou filha livre de Deus. Essa liberdade deve encontrar a sua expressão no seu inter-relacionamento. O homem está livre da incerteza de encontrar ou não a salvação. Ele vive essa salvação. Ele já está em Deus. Mas essa experiência de liberdade e dignidade exige também a disposição de aceitar os outros na comunidade em as suas estruturas” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).

Pe. João Bosco Vieira Leite

19º Domingo do Tempo Comum Ano C

(Sb 18,6-9; Sl 32[33]; Hb 11,1-2.8-19; Lc 12,32-48).

1. Todos os povos conservam um memorial de sua história, monumentos, celebrações reavivam a sua identidade. Foi assim que Israel conservou a memória da libertação do Egito. A celebração anual da Páscoa lhes renovava a certeza de que aquele que agiu no passado agirá novamente e assim antecipam o seu louvor.

2. O nosso memorial da Eucaristia é mais que uma simples lembrança; é um tornar presente, na palavra e na eucaristia Aquele em cujas mãos se esconde o desfecho de nossa história.

3. Deixando a carta aos Filipenses, acompanharemos dois trechos da carta aos hebreus. Dentre os vários temas por ela abordados, a liturgia nos reserva esse sobre a fé. Depois de uma breve explanação sobre a mesma, ele parte para exemplos concretos de vivência da fé, tendo em Abraão e Sara um protótipo desse caminhar na fé.

4. Mesmo com idades avançadas eles se tornaram peregrinos de uma terra prometida e de um filho cuja geração lhes traria grande descendência. Eles não chegaram a ver a plena realização de tais promessas, apenas pequenos sinais de que Deus as realizaria. Assim também caminhamos, na esperança da realização das promessas divinas.

5. Vislumbramos alguma coisa aqui ou acolá, mas não plenamente aquilo que Jesus falou. Assim como Abraão, nossa fé também passa por momentos de desânimo ou de teste. A proposta é manter-nos firmes. Também para nós a libertação esperada se dará, não talvez de modo pleno nesta vida.

6. O medo é inimigo da fé, lembra Jesus aos seus discípulos, emendando no seu discurso um comentário que parece ligar-se a parábola do sábado passado, sobre o bom uso do que se tem. O tema principal do nosso evangelho parece ser a vigilância. Como caminhar nessa vida, em meio a tantos fatos e situações que nos amedrontam e roubam a confiança? Ele emenda três parábolas.

7.  Primeiro fala de uma vigilância em permanente disponibilidade. Um cristão que se fecha completamente às realidades que o cercam perde a sua identificação com Jesus. A presença de Deus pode se dar a qualquer momento em nossa vida e o único modo de acolhê-lo é estando vigilante.

8. À Pedro que o indaga sobre a direção da parábola Jesus lembra que vigiar deve ser uma atitude de todos e particularmente daqueles a quem foi confiada a condução da comunidade. Há quem confunda liderança com autoritarismo e abuso de poder. Jesus se serve de imagens próprias do seu tempo para chamar a atenção dos seus discípulos.

9. Caminhar na fé exige uma vigilância contínua sobre as realidades que nos cercam, mas também sobre nós mesmos. Será que vivo e pratico aquilo com que me comprometi no caminho da fé?

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 06 de agosto de 2016

(Dn 7,9-10.13-14; Sl 96[97]; Lc 9,28-36) 
Transfiguração do Senhor.

A Transfiguração de Jesus faz parte do mistério da salvação, por isso São João Paulo II o introduz nos mistérios luminosos do Rosário. No período quaresmal essa narrativa do evangelho está em profunda relação com um outro momento: a agonia de Jesus no horto das Oliveiras: “Entre os dois episódios, as testemunhas são as mesmas: Pedro, Tiago e João. Tabor e Getsêmani, dois momentos que que desvelam aos três apóstolos – isto é, ao vigário de Cristo, ao primeiro mártir dos Doze e ao discípulo predileto – a real identidade do Messias preconizado pelos profetas [Daí o texto de Daniel...]. Na transfiguração, Jesus abre uma fresta de luz que reveste seu corpo de glória, como natural consequência da visão beatífica a qual desfrutava sua lama unida à natureza divina do Verbo. [...] O tema do misterioso colóquio – depreende-se diretamente do pedido que os discípulos fazem a Jesus – era a confirmação da Paixão e morte do Messias e, ao mesmo tempo, o anúncio da ressurreição, conforme o plano divino de redenção, pouco compreendido pelos próprios apóstolos” (Mario Sgarbosa – Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 05 de agosto de 2016

(Na 2,1.3; 3,1-3.6-7; Sl Dt 32; Mt 16,24-28) 
18ª Semana do Tempo Comum.

Terminado o livro de Jeremias, a liturgia introduz um trecho do profeta Naum. Seu pequeno livro, três capítulos, data do VII século a. C.. Seu conteúdo é marcado por oráculos contra Nínive, a orgulhosa capital da Assíria, devastada e ocupada pela Babilônia. O texto que nos é oferecido contém um alegre anúncio para Judá, que já havia sido aterrorizada pela Assíria, e a desgraça para Nínive.  Não há aí uma dimensão cristã na mensagem.

Diante da dificuldade de Pedro compreender o processo da Cruz, Jesus adverte aqueles que o querem seguir sobre o processo de abrir dos próprios pontos de vista para abraçar a lógica da Cruz. “Quem segue Jesus fica com o coração alargado e oferece a Deus o seu eu frágil. A verdadeira experiência de Deus só é possível quando soltamos o nosso ego, o ser humano fica e perde o rumo. Portanto, a palavra da renúncia a si mesmo não é uma palavra de cunho ascético, e sim místico. Nela aparece Jesus como mestre da sabedoria mística. Jesus quer introduzir os seus discípulos numa espiritualidade que deixa Deus ser Deus e que enxerga a realidade como ela é, sem querer apropriar-se de Deus nem da realidade” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 04 de agosto de 2016

(Jr 31-31-34; Sl 50[51]; Mt 16,13-23) 
São João Maria Vianney.

Nesse belo texto, Jeremias expressa o desejo por parte de Deus de estabelecer uma nova aliança com o seu povo a partir de uma nova relação. Tal ideia projetada pelo profeta será concretizada em Jesus, onde o passado não impede de recomeçar. Um conhecimento não só intelectual, mas afetivo e efetivo, estabelecerá essa nova relação com Deus. Eis que faço novas todas as coisas.

Reencontramo-nos com o texto sobre a profissão de fé em Jesus encabeçada por Pedro, revelando na intenção do autor sagrado salientar o seu papel pontifical na comunidade primitiva. “Como Pedro, o cristão também crê e duvida, é discípulo de Cristo e também seu adversário, professa a sua fé e o renega, é forte e fraco, é movido pelo amor e pela covardia. Mas o que interessa mesmo é sua ligação a Jesus. Se o discípulo procede como Pedro, dirigindo-se sempre a Cristo e professando-o como o Messias, então ele é realmente discípulo, no sentido que Jesus dá ao termo e no sentido também do evangelho de Mateus” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). Nesse dia de São João Maria Vianney, o cura de Ars, rezemos por todos os sacerdotes diocesanos que exercem a função de pároco, para que conduzidos pelo espírito de humildade que marcou esse santo, possam conduzir o rebanho que lhe foi confiado no caminho da santidade. E lhes dê a perseverança necessária.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 03 de agosto de 2016

(Jr 31,1-7; Sl Jr 31; Mt 15,21-28) 
18ª Semana do Tempo Comum.

Jeremias canta a beleza e a alegria do retorno a Jerusalém, como um novo êxodo, depois da trágica experiência do cativeiro na Babilônia. Mas por trás de tudo isso está a fidelidade de Deus para com o seu povo, que restaura não só o templo, mas ao seu povo devolvendo-lhes motivações para seguirem adiante. O salmo, tirado do mesmo capítulo, complementa essa bela imagem.

Mateus nos oferece essa bela narrativa sobre a mulher cananeia e sua fé perseverante no diálogo com Jesus. Pode nos parecer estranho que Jesus use a expressão ‘cachorrinho’, mas os pagãos eram considerados como cães pelos judeus, tamanho era o preconceito. Isso nos dá uma ideia do quanto não foi fácil quebrar, na comunidade cristã, essa resistência aos pagãos. Mateus mostra como essa mulher foi capaz de ultrapassar qualquer preconceito para expor a situação de sua filha. Ela acredita na possibilidade, ainda que pequena ‘migalha’, de conseguir de Jesus alguma coisa. “De fato, o medo egoísta de perder espaços e recursos jugados de exclusiva posse pessoal ou coletiva, ou então o simples receio de quem é ‘diferente’ de nós levaram e levam a opções de encerramento e de entrincheiramento sociais evangelicamente injustificáveis. O amor evangélico deve levar a responder positivamente às exigências de quem precisa, fora e para além de cálculos mesquinhos e conveniências imediatas, mediante opções quotidianas praticáveis no interesse do bem comum. Jesus morre na Cruz por todos e o Seu amor não se mede segundo uma lógica setorial ou sectária. É oportuno que nos recordemos disto, todas as vezes que encontramos algum ‘cananeu’ que pede auxílio, e não somente quando corremos o risco de nos tornarmos ‘cananeus’” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado - Paulus).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 2 de agosto de 2016

(Jr 30,1-2.12-15.18-22; Sl 101[102]; Mt 14,22-36) 
18ª Semana do Tempo Comum.

Um texto poético e de caráter consolador do profeta Jeremias toma lugar em nossa liturgia. Ele se dirige aos judeus que permaneceram na pátria depois da deportação para a Babilônia.  Ele não deixa de salientar a responsabilidade do povo pela situação em que se encontra. Mas o amor de Deus resiste ao abandono, mesmo não percebendo um desejo de retorno à aliança.

Mateus nos traz o expressivo texto de Pedro que caminha sobre as águas a convite de Jesus: “Jesus os acompanha em todas as dificuldades e os livra de sua angústia. O pensamento confiante voltado para Jesus faz os discípulos caminharem sobre as águas de seus temores e de sua insegurança, das aflições e dos perigos” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).



Pe. João Bosco Vieira Leite