4º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Jr 1,4-5.17-19; Sl 70[71]; 1Cor 12,31—3,13; Lc 4,21-30).

1. No domingo anterior, vimos Jesus que vai a Nazaré, sua cidade, e apresenta seu manifesto, seu primeiro ato profético, revelando o seu mistério. A palavra que eles tinham ouvido falava dele. Tudo culmina nele. Seus conterrâneos se encantam com suas palavras, mas ao mesmo tempo têm dificuldade de compreender que Deus possa manifestar-se assim, como um seu contemporâneo e o rejeitam.
2. Dizendo assim as coisas parecem simples, mas o texto apresenta algumas dificuldades interpretativas nas palavras de Jesus e nas atitudes dos nazarenos. Mas podemos interpretar pelo viés que, assim como Lucas nos apresenta o programa de sua missão, ele contemporaneamente nos oferece uma introdução ao que ocorrerá ao fim de sua missão: sua paixão e morte.
3. Para ilustrar essa situação de hoje, nossa liturgia nos traz a narrativa da vocação de Jeremias. Escolhido para a difícil missão de anunciar a Palavra de Deus. Jeremias experimentou muitos momentos de fracasso em sua missão. Mesmo sendo o profetismo algo precioso e necessário a Israel, sempre acabava marginalizado e perseguido.
4. A Palavra que traz consigo é aquela que Deus lhe confia, que constantemente denuncia o distanciamento das pessoas do projeto divino. A dor de Deus passa a ser a sua, ao perceber as escolhas erradas que faz o povo, gerando, muitas vezes situações de injustiça. Ele não consegue calar-se. Em Deus está a sua força e a sua esperança.
5. O que experimenta Jeremias e o próprio Jesus, é algo que faz parte da natureza da fé. Quanto mais dela nos aproximamos, mais clareza vamos tendo da vontade de Deus; difícil não perceber que às vezes, nós mesmos e também outros estão na contramão da proposta divina. Pelo batismo, nos lembra o concílio, somos também profetas.
6. Em nós também habita um espírito de timidez e medo, como em Jeremias, mas também somos convidados a crer que na luta pela justiça não estamos sozinhos. Assim nossos passos se confundem com os de Jesus quando tomamos consciência que o caminho pode ser difícil, mas como, pela fé e pela palavra, esquecermos de nossa vocação de iluminar e estimular, de orientar e corrigir, de confortar e reanimar?
7. Paulo vem nos falando nesses domingos dos dons e carismas da comunidade, de percebermos a importância de cada um para o bem comum, evitando qualquer tipo de rivalidade e competição dentro da mesma. Mostrou-nos isso através da imagem do corpo e seus membros, como tudo deve funcionar harmonicamente para o bem de todo o corpo.
8. Ele agora propõe algo que está acima de todos os dons e carismas; apresenta a imagem de um caminho a ser feito; todo caminho é progressivo, à meta se chega avançando. O caminho é o amor, a caridade, porque Deus é amor. Primeiro ele eleva um hino de louvor à caridade, afirmando sua superioridade aos outros dons.
9. É claro que Paulo conduz os seus ouvintes a perceber que o amor humano tem suas limitações. Só amamos de modo “perfeito” quando imitamos o amor divino. Podemos ter as melhores iniciativas, ser dotados de excelentes qualidades, mas se não nos deixamos mover pela gratuidade e desinteresse, em nós não estar o verdadeiro amor.
10. Como a expressão que já conhecemos: “O amor é o que o amor faz”, Paulo nos insere num segundo momento, mostrando a caridade como alguém que age. Ao final ele compara a caridade com os outros carismas. Tudo passa e nos serviu, divertiu e distraiu por um tempo, só o amor permanecerá, envolto no resultado do bem no que Deus nos permitiu construir. 

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 30 de janeiro de 2016


(2Sm 12,1-7.10-17; Sl 50[51]; Mc 4,35-41) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Depois da sucessão de escolhas erradas, eis que o profeta Natã vai até Davi com uma parábola que num primeiro momento deixa o rei indignado até descobrir que a história falava dele mesmo. Inicia o rei um caminho de penitência ilustrado pelo salmo 50 que a liturgia reza desde ontem. É admirável a sua sinceridade tanto quando é abominável o seu pecado. Seu próprio estado penitencial é uma graça divina, pois ele não esquiva da própria culpa, e isso lhe permitirá um desenvolvimento ainda maior na sua relação com Deus. Dessa narrativa podemos intuir que quando Deus nos leva a tomar consciência do nosso pecado, é a sua misericórdia que está se manifestando. Às vezes um texto, uma pregação, a palavra de um amigo, um fato, pode nos abrir os olhos sobre o mal que praticamos e da nossa infidelidade a Deus. É importante acolher esta oferta que nos vem pela graça de Deus com a mesma sinceridade que Davi, sem refugiar-se na hipocrisia. Assim as nossas culpas se tornam ocasião de crescimento espiritual, de aprofundamento na nossa relação com Deus, porque experimentaremos a sua misericórdia e a sua graça santificante. Penso que seja um pouco disso que o papa Francisco nos propõe para esse ano.


Enquanto isso, no chamado mar da Galileia, Jesus se vê as voltas com seus temeroso discípulos que ainda não intuíram verdadeiramente quem é Aquele que eles levam na barca. “Os discípulos viveram com Jesus. Ouviram suas palavras. Mas eles continuam não acreditando nele. Estão cheios de medo das forças demoníacas. Ainda não se deram conta de que Jesus tem o domínio sobre os demônios [representado pelas forças das águas e da tempestade], porque nele atua o poder de Deus. Aparece novamente uma visão dos discípulos que é típica de Marcos. Apesar da convivência com Jesus, eles não chegam à fé. Descrevendo os discípulos como incrédulos, Marcos pretende convidar os leitores a crer que Jesus é o senhor sobre todos os poderes do mundo. Ao mesmo tempo, os leitores podem reencontrar-se nos discípulos. Ouviram a palavra de Jesus. Estão lendo o relato de seus milagres e das obras poderosas que realizou. Mesmo assim estão se sentido violentamente sacudidos pelas forças da escuridão, como aconteceu com os discípulos. Nesses momentos Jesus lhes parece distante, parece esconder-se deles, parece dormir. Sobrevém, então, o medo. Marcos nos mostra, nesse episódio, que Jesus nos ajuda, que ele supera nosso medo. No fundo é o medo que nos lança no turbilhão do inconsciente que ameaça engolir-nos. Marcos incentiva seus leitores a se levantarem em seu medo e se dirigirem a Jesus, o senhor deste mundo. Ele tem o poder de acalmar o mar agitado de nossa alma, transformando o medo em confiança” (Anselm Grun – “Jesus, Caminho para a Liberdade” – Vozes).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de janeiro de 2016




(2Sm 11,1-10.13-17; Sl 50[51]; Mc 4,26-34) 
3ª Semana do Tempo Comum.



Esta é a mais triste página do reinado de Davi, que não foi ocultada pelos historiadores. Davi comete três erros seguidos: não vai à guerra com seus soldados, deita-se com a mulher de Urias e provoca a morte de Urias em decorrência da gravidez de Betsabeia. Uma vida abençoada também pode ter seus momentos de distração com relação às bênçãos recebidas e a resposta a ser dada. Davi tem muito a aprender com os seus erros...


Jesus acrescenta duas parábolas ao seu discurso para comparar o processo de desenvolvimento do Reino. Talvez seja ele mesmo a semente oculta na terra, que o próprio Deus se encarrega de fazer acontecer, ou a semente insignificante de mostarda que se transformará numa grande árvore. Olhando o movimento da vida e da natureza “Jesus teve que ensiná-los a ‘captar’ a presença salvadora de Deus de outra maneira, e começou sugerindo que a vida é mais do que aquilo que se vê. Enquanto nós vamos vivendo de maneira distraída a coisas aparentes da vida, algo misterioso está acontecendo no interior da existência. Jesus lhes mostra os campos da Galileia: enquanto eles andam por aqueles caminhos sem ver nada de especial, sob estas terras está ocorrendo algo que transformará a semente semeada em bela colheita [...]. Assim sucede com o reino de Deus. Sua força salvadora já está atuando no interior da vida, transformando tudo de maneira misteriosa. Será a vida como Jesus a vê? Estará Deus atuando silenciosamente no interior de nosso próprio viver? Estará aí o segredo último da vida?” (José Antônio Pagola – “Jesus, aproximação histórica” – Vozes). 






Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 28 de janeiro de 2016


(2Sm 7,18-19.24-29; Sl 131[132]; Mc 4,21-25) 
Santo Tomás de Aquino, presbítero e doutor.

Ao saber das intenções divinas, Davi não se sente preterido em sua intenção de construir uma casa para o Senhor, mas entende que Deus que já fez muito por seu servo e por seu povo, fará muito mais, edificando essa “casa genealógica” para o bem do seu povo. Nesse belo texto ele se “derrama” em reconhecimento e gratidão, e reza sua ação de graças. Os versículos 28 e 29 formam uma bela oração para a bênção da casa, cada vez que passar a habitar um novo espaço.

Jesus prossegue seu longo discurso no capítulo 4 com outras parábolas e ensinamentos. Estas mesmas palavras que ouviremos em Mateus ganham outra conotação, comparação e sentido. Aqui Marcos as emprega numa continuidade com a parábola da semente a aventura da palavra. “O fruto que brota em nós pela força da palavra de Deus é como uma luz que ilumina a vida humana, tornando visível o que está escondido (4,21). Quem deixa a luz entrar nos abismos secretos de seu coração, viverá uma vida fecunda. Quem, ao invés disso, subtrai da luz divina amplas áreas de sua alma, impede o fluxo da vida. Ficará paralisado e insensível. Um outro aspecto da vida consiste em distribuir uma ampla medida (4,24s). quem redistribui generosamente o que recebeu verá que suas mãos não ficam vazias, antes não param de se encher. Dar não quer dizer apenas doar bens materiais aos pobres, significa também repassar o que se ouviu, o que se experimentou, o que se entendeu. Quem guarda tudo isso apenas para si mesmo acaba sufocado. A vida só flui e frutifica naquele que sabe dar”.  (Anselm Grun – “Jesus, Caminho para a Liberdade” – Vozes).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de janeiro de 2016


(2Sm 7,4-17; Sl 88[89]; Mc 4,1-20) 
3ª Semana do Tempo Comum.

Retomamos a leitura do Livro de Samuel. Davi já é rei de Israel e tem a justa iniciativa de construir um templo para abrigar a Arca da Lei. Deus envia Natã para esclarecer qual é a sua vontade. Por um lado, deixar que a Arca continue habitando em tendas significa não permitir a história deste povo que foi nômade e com o qual a relação foi sendo construída ao longo do caminho.  Por outro lado a palavra “casa” segue apenas a um jogo de palavras que anuncia a descendência davídica. Quem fará história é o próprio Deus em sua fidelidade e não Davi. O que seria permitir a Deus construir a nossa “casa”, “edificar” a nossa história?

Jesus conta a parábola do semeador e dá aos seus discípulos mais próximos a chave de leitura para que compreendam a força das circunstâncias em que a sua pregação viverá a partir das aventuras da semente em busca de um solo fecundo. As parábolas de Jesus conservam um fundo enigmático. “Hoje, essa afirmação nos parece estranha. Mas é dessa maneira que Marcos justifica o número reduzido de pessoas que acreditam em sua mensagem. Tudo permanece enigmático para aqueles que não adotaram o caminho proposto por Jesus. É uma palavra consoladora para nós que vivemos hoje. Muitos cristãos sofrem com o fato de serem tão poucos os que se abrem à mensagem de Jesus. Quem está do lado de fora, quem não entrou no Reino de Deus, quem não está em contato com seu mundo interior, com sua alma, não pode entender as palavras de Jesus. Elas continuam enigmáticas até que Deus mesmo toque o coração do indivíduo para abri-lo ao mistério de sua palavra” (Anselm Grun – “Jesus, Caminho para a Liberdade” – Vozes)

  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de janeiro de 2016


(2Tm 1,1-8; Sl 95[96]; Lc 10-19) 
Santos Timóteo e Tito.

A Igreja reúne hoje sob uma mesma memória dois discípulos de Paulo, por assim dizer, na comunhão da fé em Cristo Jesus. Timóteo viveu em Listra e teve contato com Paulo na primeira viagem do Apóstolo; uma vez convertido ao ensinamento do evangelho seguirá os passos de Paulo em suas viagens e serviu de comunicador entre Paulo e as comunidades. Ficou como responsável pela comunidade de Éfeso e mereceu do apóstolo duas belas cartas de incentivo e orientação, como esta cujo trecho acompanhamos na liturgia de hoje. Entre outras coisas importantes que se encontrão nesse trecho, certamente nos chama a atenção o convite de Paulo a reavivar a chama do dom de Deus que ele recebeu pelas mãos de Paulo. Certamente Paulo fala do dom do Espírito Santo recebido por Timóteo para o exercício do seu ministério. É como se Paulo o chamasse a consciência do exercício na vida de fé, pela oração, de invocar, buscar e ao mesmo tempo deixar-se guiar pela Luz que vem do alto. A palavra do Apóstolo também se volta para nós nesse dia.

Tito foi batizado por Paulo e o acompanhou em sua terceira viagem. Ele foi colocado à frente da comunidade cristã fundada por Paulo em Creta. A ele também foi escrita uma carta de cunho pastoral, rica em informação sobre a vida interior das primeiras comunidades cristãs.

A partir desse breve retrato podemos compreender o evangelho de hoje que narra o envio dos outros setenta e dois discípulos por Jesus, ou seja, para além do trabalho dos apóstolos, o evangelho encontrou em muitos homens e mulheres uma adesão significativa a tal ponto de se comprometerem com sua expansão e crescimento do reino, a partir de todas as recomendações de Jesus sobre o despojamento necessário por parte do discípulo, para que nele apareça a força de Quem o enviou.


Podemos rezar nesse dia por todos quantos se lançam na causa do evangelho assumindo responsabilidades diante das comunidades e, ao mesmo tempo, que o próprio Jesus faça de nosso viver cotidiano um testemunho de comprometimento com as causas do Reino em nossas escolhas e vivências.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de janeiro de 2016


(At 22,3-16; Sl 116[117]; Mc 16,15-18) 
Conversão de São Paulo

Hoje a Igreja celebra Paulo, o apostolo dos gentios (pagãos). Essa festa é de suma importância para a Igreja, pois a expansão do evangelho deve muito a esse discípulo de Cristo, surpreendido no caminho de Damasco pela inesperada locução interna que o fez entender que a perseguição aos cristãos era também a Ele. Os Atos faz memória dessa singular experiência e mostra os rumos novos para ele. Certamente cada um daqueles que vivem sua fé de um modo mais consciente e ativo traz consigo aquela recordação do momento em que o próprio Deus lhe falou ao coração, acompanhado ou não de alguma motivação externa.  Como foi a sua experiência forte de conversão?

Tudo aquilo que Jesus recomendou aos apóstolos logo após a sua ressurreição fez parte do itinerário evangelizador de Paulo, por isso ele é considerado também apóstolo por sua missão e comprometimento. Assim como Paulo, muitos homens e mulheres que não conviveram com Cristo descobriram na palavra a luz necessária para compreender o seu papel na história salvífica e da própria Igreja. Que o nosso testemunho ajude as futuras gerações a descobrirem o valor que tem a fé e como ela faz a diferença no itinerário não só pessoal.  Ler as cartas Paulinas pode nos dar uma ideia do seu trabalho evangelizador e do processo de mudança experimentado pelo Apóstolo.


Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Ne 8,2-4a.5-6.8-10; Sl 18b[19]; 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21)

1. Vez ou outra a nossa celebração exalta o significado e a força da Palavra de Deus; a traz ainda mais para o centro, como hoje.
* O texto da 1ª leit. retoma um período em que o povo de Deus, após retornar do exílio da Babilônia tenta reorganizar sua vida, mas as coisas parecem que não vão bem.

2. O diagnóstico daquela triste situação se encontrava no distanciamento do povo de Deus de Sua palavra, por isso o sacerdote Esdras resolve fazer uma convocação para um dia especial de celebração em torno da Palavra.
* Tudo é muito bem preparado, como deve ser cada celebração, o povo escuta de modo atento, se comove e toma consciência do quanto se distanciaram da proposta divina.

3. Esdras convida a uma atitude de alegre retomada da proposta de Deus. Aqui está o esquema da nossa liturgia da palavra, que herdamos das comunidades judaicas.
* o lugar mais alto, as reverências, o estar de pé, por reconhecer, para além do livro, aquele que nos fala. Antes da mesa da eucaristia, vem a mesa da palavra.
* Quando nos sentimos distantes de Deus ou espiritualmente fracos, podemos encontrar alimento e nutrição e alimento espiritual na Palavra de Deus. Que ele renove em nós esse desejo de escuta.

4. Esse longo texto que ouvimos na 2ª leitura é sequência do domingo anterior. Paulo vê na comunidade cristã a diversidade de dons como uma riqueza.
* Todos são úteis e importantes, por isso deve-se evitar que o ciúme e a inveja desestabilize a vida da comunidade, que é comparada a um corpo com seus diversos membros.   

5. É curioso que ao apresentar uma certa hierarquia eclesial ele apresente em 1º lugar os apóstolos, os profetas e os que tem a missão de ensinar (catequistas).
* A intenção de Paulo não é exaltar tais pessoas, mas a importância que Palavra tem na comunidade, como a formação é importante, só depois vem as outras coisas.
* numa sociedade de valores invertidos, até a religião pode virar de ponta cabeça: muitos buscam primeiro os milagres, as curas, dom de línguas: e tudo vira um espetáculo. Onde está a verdadeira raiz da fé?

6. Depois das narrativas da infância, da figura do Batista e do Batismo de Jesus, Lucas nos introduz em seu evangelho propriamente dito.
* Ele não conheceu Jesus diretamente; apenas conviveu com aqueles contemporâneos de Jesus: os apóstolos, a Virgem Maria, alguns discípulos e o próprio Paulo.

7. É na fidelidade ao que ouviu e em suas pesquisas que empreende uma narrativa. O ministério da Palavra exercido pelos que o antecederam lhe permitiu tal façanha.
* Assim ele nos convida, durante esse ano, em cada celebração dominical, trazer um pouco mais de luz ao caminho de fé que estamos fazendo, pela renovada escuta e meditação da Palavra.

8. Na 2ª parte, Lucas nos apresenta Jesus iniciando o seu ministério público, num dia de sábado, quando a comunidade judaica se reunia para ouvir a palavra, sendo ele também membro dessa comunidade.
* Lucas é um artista no uso das palavras e isso exige atenção de nossa parte. Jesus abre o livro; como se quisesse nos dizer que todo o Antigo Testamento agora se torna compreensível.

9. Após a leitura ele se senta, como um mestre; os olhares se voltam para ele. O texto que ele escolheu falava de um tempo difícil onde o profeta aparecia, em nome de Deus, como um consolador.
* Ele afirma que aquela palavra acabara de se cumprir. É Ele o novo consolador, o profeta, o Filho de Deus que vem para fazer um tempo novo.

10. Aqui podemos compreender porque continuamos a ler o Antigo Testamento em nossas celebrações à luz do evangelho: pelo seu sentido que vai se consolidando no próprio Jesus e na vida dos que abraçam a sua causa.
* A missão de que nos fala Jesus foi prefigurada por ele e continua no compromisso de milhares de homens e mulheres nesse mundo.

11. Há os que se dedicam a ensinar, outros enveredam pelas pesquisas científicas com novas descobertas que curam e facilitam a vida dos seres humanos.
* Alguns lutam por justiça para todos combatendo as desigualdades e os desmandos. Muitos talvez nem tenham consciência de participarem desse movimento de Jesus para trazer alegria e libertação.
* Como nos lembra Paulo, cada um é importante, desde que tome consciência, na fé, do seu papel no plano da salvação que Deus quer oferecer a todos.



Pe. João Bosco Vieira Leite



Sábado, 23 de janeiro de 2016


(2Sm 1,1-4.11-12.19.23-27; Sl 79[80]; Mc 3,20-21)

A morte de Saul e Jônatas traz dos lábios de Davi um belo reconhecimento da realeza de um e da amizade do outro, convidando Israel ao luto devido por tal perda. Assim aparece sempre mais uma personalidade moldada pelo coração de Deus, já que deveria sentir-se aliviado pela morte daquele que o perseguia. Na realidade sua atitude já vem sendo moldada quando não respondeu ao ódio com o ódio na perseguição sofrida. Aqui há muito que aprender com seu exemplo, se também desejamos ser pessoas segundo o coração de Deus.

A atitude de Jesus para com seus familiares é marcada não por um afastamento deles, mas por uma consciência do caminho escolhido, que para eles poderia parecer loucura. Não lhes nega o amor, apenas lhes deixa claro que não o podem compreender nem apreender. Talvez aqui possamos intuir que certas escolhas que fazemos podem nos “atrapalhar” no caminho espiritual que fazemos. Por isso, o discernimento é sempre necessário, o rompimento pode parecer drástico, mas é a única atitude a ser tomada quando não se respeita a nossa liberdade em viver a fé. Pense nisso.   


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de janeiro de 2016


(1Sm 24,3-21; Sl 56[57]; Mc 3,13-19)

Davi cria em torno assim um grupo de simpatizantes que juntamente com ele deve manter-se longe de Saul. Este, com seus altos e baixos comportamentais, busca matar Davi. A cena de hoje contrapõe o caráter de Davi ao de Saul, fazendo brotar dos lábios deste todo reconhecimento da grandeza da personalidade de Davi em relação à sua capacidade de reinar. Mas as coisas não são assim tão simples. Saul ainda fará das suas em seu caráter bipolar.

Por vezes somos levados a agir pela nossa humanidade naquilo que julgamos ser o nosso direito. Davi tinha esse direito de reagir à perseguição de Saul de modo a defender a sua vida. Mas Davi pensa a partir do olhar e da perspectiva divina, reconhecendo a escolha e a dignidade de Saul dentro do povo de Deus. Esse olhar o faz rever a sua ação. Também nós, que nos dizemos cristãos e filhos de Deus, deveríamos ser capazes de rever nossas atitudes a partir do olhar divino. Ser misericordiosos como o Pai é um desafio para o nosso caminhar na fé. O convite pode ser bonito como “slogan”, mas a conversão é dura e complicada. 

Jesus escolhe aqueles que deverão ficar com Ele, aprenderem dele, que tem um coração manso e humilde, e depois enviá-los. Marcos fala que Jesus sobe a montanha, lugar simbólico da presença de Deus, de busca, de elevação, dispensando de comentar o ato de orar ao Pai que sempre marcou as escolhas de Jesus. Façamos da oração também nossa atitude de recolhimento e reflexão diante das decisões importantes da vida que precisamos tomar. Deus abençoe o seu dia!


Pe. João Bosco Vieira Leite



Quinta, 21 de janeiro de 2016


(1Sm 18,6-9; 19,1-7; Sl 55[56]; Mc 3,7-12) 
Santa Inês, virgem e mártir.

O retorno vitorioso de Saul suscitou do povo um cântico que enaltecia não só a Saul, mas principalmente a Davi, despertando no coração do rei o ciúme. O elogio a terceiros requer de nossa parte certa prudência, principalmente se o fazemos na frente de outros, despertando a inveja. O próprio elogio a Jesus por parte de quem foi agraciado por sua misericórdia despertou a inveja dos escribas e fariseus, tanto foram perturbados em seus sentimentos que já articulam a sua morte, nos diz Marcos continuamente no seu evangelho, como se quisesse nos dizer o motivo de sua morte. O papel de Jônatas é providencial como aquele que busca remediar e reconciliar para evitar um mal maior. Vez ou outra é preciso estar atento aos descaminhos que se vão construindo ao nosso redor e ajudar a ver a verdade das coisas, como fez Jesus.

Marcos faz uma espécie de resumo da ação de Jesus, que passa, em meio a pobre multidão curando e libertando. Ele elenca algumas regiões privilegiadas pela ação de Jesus, confirmando a sua abertura a todos. Alguns estudiosos chamam a atenção do fato dele subir a uma barca tendo o mar, símbolo do caos, daquilo que não se pode dominar, como elemento sobre o qual ele domina para trazer o bem ao ser humano. Não sei dizer exatamente a situação que você possa estar vivendo nesse momento, mas na sua oração, lembre-se de falar a Jesus sobre ela e que seu coração possa experimentar a ordem que Jesus pode trazer à sua vida. Reza, confia e espera...


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de janeiro de 2016


(1Sm 17,32-33.37.40-51; Sl 143[144]; Mc 3,1-6)

Na narrativa do Livro de Samuel eis que chega o momento em que Davi, pelo braço de Deus, derruba o gigante filisteu. Diante dos soldados de Saul emerge a figura de um bravo guerreiro e líder. O texto está centrado nessa confiança depositada por Davi no Deus que já atuou na sua história livrando-o do perigo e que continuará agindo dessa forma, porque Ele é fiel. O salmo de Davi é colocado como confirmação dessa confiança. Podemos também rezar fazendo memória e pedindo que o Senhor continue ao nosso lado em meio às situações de enfrentamento que desafiam o nosso caminhar.

Mais um confronto entre Jesus e os fariseus, desta vez na sinagoga e em dia de sábado. Jesus cura o homem da mão seca e desafia os seus rivais a responder se era lícito ou não salvar uma vida em dia de sábado. Jesus fica cheio de tristeza com o silêncio ao seu redor porque presos às normas eles são incapazes de admitir que o Deus de Jesus é a favor da vida. Dar uma resposta é comprometer-se, por isso o silêncio pode ser uma pura e simples omissão. Para Jesus, pessoas são mais importantes do que dogmas. Que seja também para nós.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de janeiro de 2016

(1Sm 16,1-13; Sl 88[89]; Mc 2,23-28) Tempo Comum

Queridos amigos, estamos retomando nossas reflexões diárias da Palavra de Deus; algumas indicações importantes para nos contextualizarmos e algumas pistas que nos permitam refletir. Sempre que encontro um comentário esclarecedor ou inspirador acrescento o texto entre aspas e cito a fonte. Continuemos juntos e que a Palavra de Deus permaneça como luz em nosso caminho.

Nessas quatro primeiras semanas do Tempo Comum acompanharemos o 1º e 2º livros de Samuel, onde nos são apresentadas as três grandes figuras de Samuel, Saul e David. Já acompanhamos o chamado de Samuel a ser juiz de Israel em tempos de crise. Vimos a perda e o retorno da Arca da Aliança; a oposição de Samuel ao desejo do povo de um rei, que por fim acaba cedendo e dando-lhes um rei: Saul. Acentua-se a difícil relação entre Samuel e o rei e cria-se espaço para o anúncio do reinado do futuro Davi, ungido no texto de hoje. Temos nesse contexto uma forte crítica ao reinado humano para reafirmar a soberania de Deus sobre o seu povo. O grande problema do rei está no afastamento sistemático da Palavra de Deus; aqui podemos encontrar um “gancho” para nos perguntarmos sobre nossa fidelidade à Palavra do Senhor, que nos fez profetas, reis e sacerdotes pelo batismo.

Durante as nove primeiras semanas do Tempo Comum, acompanharemos o evangelho de Marcos. Como já perceberam, ele aparece como segundo no Novo Testamento, mas um estudo mais apurado revelou que na realidade ele é o mais antigo dos evangelhos. A 1ª coisa que Marcos nos tenta esclarecer é quem é Jesus. Ele vai nos conduzindo nesse descoberta e identificação, pois num segundo momento vai se delineando a figura do discípulo, sua dificuldades no seguimento e na percepção dos próprios obstáculos que traz no coração. Seu texto tem alguns momentos chaves que veremos mais adiante em nossa leitura e meditação.

Hoje encontramos Jesus que passa com seus discípulos por uma plantação de trigo e a fome os faz retirar algumas espigas; a fome justifica essa invasão em campos alheios, mas o problema é o sábado e as atividades que não se podem exercer nesse dia; começa aqui as controvérsias com os fariseus. Jesus deixa claro a sua compreensão da vontade de Deus para o seu humano: o sábado foi criado para o homem e por causa do homem. Se a vida corre perigo, é possível transgredir a lei, pois a rigidez da observância pode esvaziar seu verdadeiro sentido. Nós que vivemos a fé a partir de certas observâncias temos que tomar a consciência que elas são indicadores e não um fim em si mesmo. 




Pe. João Bosco Vieira Leite


Missa do 2º Domingo do Tempo Comum – Ano C


(Is 62,1-5; Sl 95[96]; 1Cor 12,4-11; Jo 2,1-11)

1. Esse ano tudo é um pouco mais cedo na liturgia, mas antes de chegarmos ao Tempo da Quaresma, temos alguns domingos do Tempo Comum. Depois da apresentação de Jesus a partir do seu Batismo, a liturgia o apresenta de novo sob a imagem da relação esponsal para significar a relação nova entre Deus e a humanidade.
2. Isaias contempla uma Jerusalém abandonada depois de suas infidelidades e recorda o amor sempre fiel de Deus, que não visa tanto a sua beleza, mas a aliança estabelecida. Isaias está falando, mais uma vez, do retorno dos exilados e da reconstrução da cidade destruída; processo esse encaminhado pelas mãos do Senhor.
3. O texto está profundamente carregado de esperança e de misericórdia. Quem experimentou o peso do pecado em sua vida e suas consequências, poderá sempre experimentar o amor restaurador de Deus, ele é fiel.
4. Somos inseridos meio que inesperadamente nesse contexto da carta aos Coríntios onde Paulo inicia o seu discurso sobre os carismas ou dons que a comunidade recebeu do próprio Deus. Paulo tenta convencer a comunidade que estes foram dados para o bem de todos e não deveriam gerar inveja, discórdia ou ciúmes.
5. Ninguém está privado dos dons de Deus. A diversidade só enriquece a comunidade espiritualmente e ela se torna mais bonita e rica pela variedade de dons que nela se manifesta. Talvez alguns pareçam mais importantes que outros, mas são todos necessários ao bem comum.
6. Sabemos que João tem um peculiar modo de escrever e apresentar a pessoa de Jesus. Seu escrito se reveste de um simbolismo nas imagens e expressões que utiliza. Assim não buscamos uma lógica em sua narrativa, nem nos perdemos nos detalhes, mas apreciamos o conjunto da obra.
7. Estamos em Caná da Galileia, onde Jesus vai a um casamento. Essa aparente festa comum onde Jesus intervém com um milagre necessita de uma leitura atenta. A ausência do vinho denunciada por Maria fala de uma festa incapaz de continuar. Ela empresta sua voz a um povo. O vinho é símbolo da felicidade e do amor.
8. As relações de Deus com o seu povo há muito não aparece como uma expressão alegre e amorosa, a religião é cheia de prescrições rituais (as seis talhas vazias) e marcada por suas infidelidades. Uma religião meramente ritual não traz felicidade nem alimenta uma verdadeira comunhão com Deus. Daí compreendemos porque a narrativa não fala dos esposos.
9. Jesus é o esposo que celebrará as núpcias com a comunidade, a sua hora ainda não chegou (a paixão), quando ele entregará a sua vida pela esposa, por isso ele traz o vinho novo que permite à festa continuar. Tudo isso serve de sinal com relação ao que está por vir; João oferece um pequeno e rico aperitivo aos convidados.
10. Jesus inaugura um tempo novo restabelecendo a verdadeira imagem de Deus que se revela na ternura e no amor para com a humanidade, capaz de entregar por ela o próprio Filho. João convida a alegrar-nos por essa revelação e a recuperar na nossa prática religiosa a alegria do seguimento na liberdade e no amor que não está preso a meras prescrições, mas a verdadeira alegria daquele que está em nosso meio e nos convida a crer sempre mais em sua capacidade renovadora, para que entre nós reine a alegria, o amor e a paz.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Batismo de Jesus


(Is 42,1-4.6-7; Sl 28[29]; At 10,34-38; Lc 3,15-16.21-22) 
Tempo do Natal.

1. A festa do batismo de Jesus encerra o tempo do Natal e nos faz cair, já na segunda, na 1ª semana do tempo comum. É a apresentação pública de Jesus, início do seu ministério, após longo e misterioso tempo de vivência em meio ao seu povo.
2. A liturgia nos traz o texto de Isaias que nos apresenta a figura do “Servo do Senhor”, uma imagem que os estudiosos não conseguem identificar muito bem, mas que os cristãos associaram logo a Jesus, particularmente no processo da paixão percebe-se uma identificação com esse personagem, o que permitiu entender como Deus age em contraposição a violência e a injustiça humana.
3. O texto é a apresentação inicial do “Servo”, do porque ele foi escolhido e qual a sua missão. O importante é ver que ele não terá a conduta que comumente caracteriza os poderosos deste mundo. A liturgia insere esse texto porque tudo quanto escreveu o profeta sobre tal “Servo”, Jesus o realizou. E assim nos apresenta sua pessoa, escolha e missão.
4. A 2ª leitura é caracterizada pela constatação feita por Pedro que Deus não faz acepção de pessoas e assim os pagãos são acolhidos dentro do cristianismo. A fé em Jesus advém não da raça, de uma cultura, mas de uma adesão à sua Palavra. Pedro também faz uma breve apresentação de Jesus.
5. Por fim aparece aquele que as duas leituras e o próprio João Batista menciona e que se insere na fila dos que vão receber o batismo de João. A expectativa das pessoas daquela época era produto de várias situações de pobreza, exploração, domínio romano, injustiças e de tantas outras mudanças que tornassem as relações possíveis. Também nós carregamos nossas expectativas para as nossas celebrações em relação as situações que vivemos em nosso dia a dia.
6. Era fácil confundir o Messias esperado com a figura de João Batista, ele percebe e esclarece quem ele é numa atitude de profunda humildade. Mas o Messias apresentado por João parecia ainda mais severo que ele em suas atitudes. João é fruto do seu tempo, de uma espiritualidade que alimentava o temor de Deus.
7. Segundo a 1ª leitura, ele será bem diferente da figura desenhada por João. Ele já começa se inserido na realidade do seu povo, mesmo sem ter pecado, recebe o batismo de conversão de João. Ele se mistura ao seu povo, ele não julga, não tem repugnância, não condena ninguém. Junto com eles fará o caminho que conduz à verdadeira libertação.
8. Lucas faz questão de salientar a oração de Jesus enquanto recebe o batismo. Oração é busca de comunhão com Deus. Ele reza ao Pai constantemente, avaliando os fatos que vão acontecendo, fazendo projetos e acima de tudo descobrindo a vontade de Deus. Dessa intimidade ele recebe a luz necessária e a força para seguir adiante. No mais a narrativa de Lucas segue o esquema de Marcos e Mateus.
9. Os céus se abrem numa expressão de que Deus não está mais distante, ele habita agora em meio aos homens, não está mais “zangado” com a humanidade. O Espírito desce não como fogo, mas como uma pomba, símbolo do carinho, da ternura e da bondade que é Deus mesmo quando vem sobre o ser humano.
10. A voz denuncia e fecha a apresentação de quem é Jesus: o Filho predileto do Pai. Assim a face misericordiosa do Pai se revela em Jesus. Ao longo desse ano, Lucas nos revelará ainda mais quem é Jesus e por tabela compreenderemos quem é Deus em sua natureza e em seu amor por nós.
11. Que nossas comunidades saibam se identificar com os pobres e pecadores para atraí-los sempre mais ao coração de Deus e que encontre na oração a comunhão, a força, a ternura e o amor de Deus que pode transformar vidas, inclusive a nossa. Renovemos também nossas promessas batismais nesse dia.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Modificações durante as férias do pároco



Queridos(as) paroquianos(as) e amigos(as),
Paz e bem!

Informamos que durante esta primeira quinzena de janeiro ocorrerão algumas modificações em nossas atividades, por conta das férias do nosso pároco. Serão elas:

1) a reflexão do nosso pároco sobre a liturgia diária, exibida em nosso blog na aba "Tua Palavra é Luz" durante este período de férias ocorrerá apenas aos Domingos (sendo postada já nas tardes de sábado, sobre a liturgia dominical);

2) em nossa comunidade permanecem os mesmos horários de Celebrações, porém durante as sextas-feiras desta quinzena não haverá Missa;

3) não haverá confissões em nossa comunidade durante as férias do nosso pároco.

Agradecemos a compreensão de todos. Aproveitemos este momento de descanso e revigoremos nossas forças para bem servirmos ao Senhor durante este ano!

Att. 
Paróquia Nossa Senhora da Luz, Aracaju - SE.

Epifania do Senhor – Ano C


(Is 60,1-6; Ef 3,2-3a.5-6; Mt 2,1-12)
Tempo do Natal

1. O texto de Isaias que abre a nossa liturgia da Palavra, como no Natal, situa-se no tempo do exílio e do retorno dos exilados a Jerusalém. O profeta enche seu texto de imagens bonitas e simbólicas para expressar os sentimentos que a cidade deve ter como uma mulher que recebe de volta seu marido e filhos.
2. Mas ele contempla essa ordem de coisas novas que os acompanham de outras culturas que lhe chegam como reconhecimento de seu valor. Por onde estiveram, foram capazes de testemunhar a fé no Deus único de Israel.
3. Jesus é a nova luz que brilhou sobre Jerusalém e sobre o mundo. Para nós cristãos, a Igreja é essa mulher convidada a alegrar-se pela luz de Cristo que nela brilha e atrai a muitos. Tudo isso pode ser a expressão do processo de enculturação pelo qual o evangelho passou e pela riqueza cultural que cada um que segue a Cristo traz consigo.
4. Nossas comunidades são reflexos dessa atração que Cristo exerce em todos, somos diferentes, e em certo momento do caminho tivemos que renunciar algo para seguir a Cristo; mas não podemos esquecer que tudo aquilo que é bom e belo, deve ser preservado e bem vindo ao crescimento da comunidade, sob a luz de Cristo somos capaz de discernir o que constrói ou não.
5. Paulo lembra que em Cristo, o muro da separação foi eliminado; em Cristo aprendemos a viver como irmãos, se isso não acontece em nossas comunidades é porque sua palavra não brilhou ainda suficientemente em nós.
6. Sob essa ótica podemos compreender a narrativa de Mateus que coloca esses magos do Oriente na direção da estrela de Belém. Esses personagens sempre atiçaram nossa curiosidade, mas certamente não passavam de estudiosos dos movimentos da vida e dos astros que perceberam o surgimento de uma nova estrela.
7. Na realidade não se tratava de um astro no céu, mas de alguém aqui na terra.  Mateus constrói seu texto no movimento daqueles que, de diferentes povos e culturas se aproximaram de Jesus. Como na 1ª leitura, a vida cristã encantou também a outros que se aproximaram da luz do Evangelho e abraçaram Seu modo de ver e viver a vida em meio a sua realidade cultural.
8. Nem por isso precisamos retirar os magos do presépio, mas esclarecer às nossas crianças quem é a verdadeira estrela que ilumina os seres humanos. Os magos representam aqueles que se deixam guiar pela mensagem de paz e de amor de Cristo. São a imagem também da Igreja, formada de gente de todas as raças, línguas e culturas.
9. Para fazer parte da Igreja não é preciso renunciar à própria identidade, ao contrário, a Igreja e o próprio evangelho se enriquece com modos diferentes de viver uma mesma fé e suas expressões. A humildade de ajoelhar-se diante do menino para adorá-lo e a atitude de reconhecimento dessa Palavra que ilumina todos os povos, independente da cultura, pois nossos anseios de plenitude se identificam de alguma forma e se encontram em Cristo, luz do mundo.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 02 de janeiro de 2016


(1Jo; Sl 97[98];Jo 1,19-28) 
Tempo do Natal.

Como no evangelho, João volta constantemente a alguns temas para reforça-lo e acrescentar algum novo elemento. Ele nos repete o convite a permanecer no Filho e no Pai. Quem crê no Filho já possui também o Pai e não necessita mais de mestres, pois interiormente é movido pelo Espírito do Pai e do Filho.
A fé exige de nós humildade e constantes revisões do que cremos e como cremos. João Batista em seu estilo um tanto severo se faz confundir com o Messias juiz, o Elias que luta pela pureza da fé. Ele não tem a intenção de chamar a atenção sobre si, mas sobre Aquele que virá. Insistiu sobre quem ele não era para que não houvesse confusão e assim o caminho do Messias estivesse desimpedido para atuar de modo pleno. Uma humildade a ser imitada quando não nos sentimos reconhecidos pelo que fizemos, esquecidos de sermos meros instrumentos de uma ação que é mais de Deus que nossa. É difícil saber sair de cena. Peçamos ao Senhor que nos ajude nesse processo de conversão para não acabarmos magoados e rancorosos.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 01 de janeiro de 2016


(Nm 6,22-27; Sl 66[67]; Gl 4,4-7; Lc 2,16-21) 
Santa Maria, Mãe de Deus.

1. Voltamos ao clima da noite de 24 de dezembro e nos encontramos com José, Maria e o Menino. Nosso encontro litúrgico quer situar-nos nessa presença divina ao começo de mais um ano, como o temos feito sempre ao longo do ano que findou e pedimos a Virgem Maria que lance um olhar de misericórdia sobre nós e nos ajude nessa travessia.
2. A 1ª leitura está ligada ao fato de celebrarmos o 1º dia do ano: é a bênção de Deus que buscamos para vivermos esse novo, com as expressões do Antigo testamento que foi retomada por Francisco de Assis e passou a ser conhecida como bênção desse nosso santo (desconhecer as Sagradas Escrituras criam vários equívocos). 
3. Essa bênção, mesmo antiga, tem seu valor, tanto que inspirou as bênçãos solenes de nossas celebrações em seu aspecto tripartido. Três é um número perfeito, como o próprio Deus é perfeito, nada mais perfeito do que começarmos assim...
4. Nessa progressão do conhecimento de Deus, de experiência de fé e comunhão, é Jesus a própria bênção de Deus para nós com sua presença; mais que um nome, temos uma pessoa que está em nosso meio e que é para nós o rosto humano de Deus: “quem me vê, vê o Pai”, dirá Ele mesmo.
5. Sim, a face de Deus brilhou para nós de um modo novo e inesperado. A bondade e fidelidade de Deus se revelam para nós em uma pessoa cujas palavras e ações conhecemos. Por Ele aprendemos a chamar a Deus de Pai. Seu Espírito reza em nós e nos coloca nessa dinâmica da comunhão trinitária, nos diz Paulo. Esta é a bênção maior que recebemos: aquele que nasceu para nos salvar, também se sacrificou por nós.
6. A bênção passa ser mais que uma pessoa em meio a nós, pelo Espírito ela vive em nós. Ele suscita em nós essa consciência de que somos Filhos de Deus, que Ele mesmo nos desejou e seguiremos guardados por Ele ao longo desse novo ano. Essa consciência afasta de nós o medo e nos permite avançar, porque em tudo isso que vivemos no passado somos mais que vencedores, graças Àquele que nos amou.
7. Mesmo tendo presente a Virgem que nos traz o Menino e o glorioso São José, a liturgia da palavra nos revela a verdadeira bênção de hoje e sempre que nos vem pelo Pai (1ª leitura), pelo Filho (Evangelho) e pelo Espírito Santo (2ª leitura).
8. Abramos largamente o coração neste primeiro dia do ano, não só por nós mesmos, mas por todo mundo que espera as bênçãos de Deus.
9. Lucas salienta a atitude silenciosa de Maria em seu evangelho: “Maria guarda as palavras no seu coração; ela as interpreta, a fim de entender o que aconteceu. Mas não se trata de uma compreensão intelectual, e sim de um movimento da palavra divina dentro do coração, de uma interpretação clara e acertada do agir divino, no nível do sentimento. É assim que devemos ponderar no nosso coração a história do nascimento de Jesus. Devemos deixa-la mover-se, para cá e para lá, até que a nossa sensibilidade saiba acompanhar a misteriosa oscilação do amor divino, que no nascimento de Jesus invadiu a história, aparecendo visivelmente para nós”. (Anselm Grun – “Jesus, modelo de ser humano” – Loyola).


Feliz Novo Ano com a bênção de Deus!

Pe. João Bosco Vieira Leite