Segunda-feira, 31 de agosto de 2015


(1Ts 4,13-18; Sl 95[96]; Lc 4,16-30) 22ª Semana do Tempo Comum.


O texto que nos é oferecido como 1ª leitura trata do mistério central da nossa fé e que esteve presente também na pregação de Paulo: A ressurreição de Cristo. Sobre esta afirmação Paulo amplia sua reflexão para dizer que, por causa de Cristo, nós também ressuscitaremos.  Se os seus ouvintes ou leitores tinham alguma dúvida sobre o destino final dos que nele morrerem, fica a afirmação: com Cristo ressuscitaremos.

Agora iniciamos a leitura do evangelho de Lucas e somos lançados, por assim dizer, ao início de sua missão. Estamos em Nazaré, ele é reconhecido e acolhido por seus conterrâneos. A partir do texto de Isaias ele apresenta seu itinerário. É bem provável que Jesus percebe no coração dos seus ouvintes um estranho desejo que aquele cuja fama de milagres o precede, faça ali tantos milagres como fez em outros lugares. Parece que um certo desejo de “posse” ou privilégio se esconde no acolhimento e no maravilhar-se com suas palavras.

Jesus vai na contra mão dos seus desejos e de repente muda também os sentimentos. O afeto possessivo vira ódio violento. Querem matá-lo. Essa experiência de mudança brusca de sentimentos já vimos em alguns dramas passionais, quanto mais forte é o afeto possessivo, tanta mais violenta é a reação contrária.


A questão não é ter Jesus, mas ser com Jesus, não fazendo dele uma posse nossa a satisfazer nossos desejos pessoais, mas comungar de sua alegria, também da Igreja, de sua palavra e de sua graça chegar também a outros. Ao terminar esse mês vocacional rezemos por todos aqueles que de forma mais engajada estão comprometidos com a evangelização.

Pe. João Bosco Vieira Leite

22º Domingo do Tempo Comum – Ano B

(Dt 4,1-2.6-8; Sl 14[15]; Tg 1,17-18.21-22.27; Mc 7,1-8.1-15.21-23)

1. Segundo o autor sagrado, Israel deve observar a lei de Deus e nada lhe acrescentar ou retirar, pois nela se encontra a sua sabedoria.

* De fato, o que distingue os povos e culturas são suas leis e normas vivenciadas e aplicadas. Na palavra de Deus, Israel deveria encontrar a luz necessária para o seu caminhar.

2. Esse texto quer nos preparar ao evangelho que nos adverte das manipulações que a Palavra ou lei pode sofrer por parte do ser humano e perder a sua essência.

* Jesus entra em desacordo com as autoridades de sua época, porque em nome de Deus, roubaram a alegria e a paz que a vivência da lei divina pode trazer ao coração, transformando-a num pesado fardo.

3. Antes de chegarmos ao evangelho, ouviremos ao apóstolo Tiago, por cinco domingos, com seus conselhos práticos. O trecho de hoje versa sobre a Palavra de Deus.

* Ele nos convida a sermos praticantes da mesma, para nela encontrarmos a sabedoria da vida e o que nos salva, como reza o nosso salmo.

4. Contra todo formalismo, cerimônias e devoções fúteis, ele vai ao âmago de quem compreendeu de fato a palavra que leu ou escutou: ele faz o bem e procura distinguir o que é certo do que é errado.

5. Retomamos o nosso evangelho de Marcos e encontramos Jesus e seus discípulos em debate com os fariseus e mestres das leis por causa de costumes ou tradições.

* O problema de não lavar as mãos aqui, não se liga a uma questão de higiene, mas um rito de purificação que dava a entender que tivesse tanto valor quanto a lei divina.

6. Era muito ritual para ser observado. As pessoas mais simples tinham questões mais sérias para observar, por isso negligenciavam certos ritos. Por consequências eram considerados impuros.

* Essa lógica irritava Jesus. É quando ele chama a atenção para a real impureza que impera no ser humano: aquilo que vem do seu coração.

7. Não que Jesus esteja indo de encontro às tradições pura e simplesmente, ele chama a atenção para o “endeusamento” de certas atitudes, quando na realidade a verdadeira impureza é de ordem moral.

* De que adianta, diante de Deus e dos outros, estarmos externamente bem, se não cuidamos do nosso interior por constantes revisões e mudanças?

8. Que nos adianta tanta tradição religiosa, se de fato não abrimos o nosso coração à necessidade real do outro? A mera observação de normas pode nos dar a sensação do dever cumprido, mas não nos salva.

* O que Jesus entendia como forma de amor a Deus era algo sempre mais dinâmico e criativo nas relações que estabelecemos. A Lei e Palavra só querem iluminar.

9. Talvez, em termos de religião, leis claras e definidas podem ser uma boa ajuda para o caminhar, mas também podem gerar tensões, ansiedade, angústia, retirando o clima de liberdade.


* Acolhendo o conselho de Tiago e, sempre mais em contato com a Palavra, encontremos nela o discernimento necessário e a capacidade de perceber o que não vem, em nosso mundo, do coração de Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 29 de agosto de 2015


(Jr 1,17-19; Sl 70[71]; Mc 6,17-29)
Martírio de São João Batista, memória.


De João, o Precursor, a Igreja celebra o nascimento e a sua morte. Por aqui já percebemos a importância do mesmo na história da salvação. A data estabelecida para essa celebração não é a do martírio em si, mas de relíquias do mesmo que foram encontradas. A vida que este santo precursor de Cristo levou no deserto fascinou os antigos monges, que o escolheram como modelo em seus eremitérios.

A liturgia da Palavra se ilumina com este texto de Jr na sua missão, na austeridade e na presença de Deus em sua vida. O salmo expressa a confiança de João no Senhor, sua verdadeira força e proteção desde o seio materno. Por fim, no evangelho, encontramos a narrativa de sua morte por mão de Herodes numa estúpida promessa em uma festa. Mas sua morte traz consigo o selo da fidelidade a Deus ao denunciar que o comportamento de Herodes era reprovável; ele é que, na realidade, estava preso nas suas próprias paixões desordenadas.

Na figura de João muitos elementos bíblicos se misturam, desde a sua escolha e consagração já no ventre materno, a vida de penitência que caracterizou o seu tempo no deserto, sua missão de pregador, seu testemunho a respeito de Jesus. Peçamos ao Senhor pela sua intercessão a coragem de vivermos também a nossa fé nos compromissos do dia a dia. Que seu exemplo profético ilumine também a nossa Igreja no seu testemunho.


“Voz que clama no deserto: voz de alguém que rompe o silêncio. ‘preparai os caminhos do Senhor’. Como se quisesse dizer: eu vou trovejando para introduzi-lo nos corações, mas não encontrarei um coração no qual ele se digne entrar, se não preparardes o caminho...” (Santo Agostinho)


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 28 de agosto de 2015


(1Ts 4,1-8; Sl 96[97]; Mt 25,1-13)
 Memória de Santo Agostinho, bispo e doutor.


As preces e lágrimas de Mônica elevadas a Deus, não só efetivaram a conversão de Agostinho, mas as fizeram um santo. Compreendemos, pelo texto de Paulo, que a conversão é só um momento da caminhada, é preciso fazer sempre novo progresso para agradar ao Senhor.

O nosso modo de agir não é regulado por leis abstratas, mas vem ditado pelo desejo de agradar a Deus. Na dinâmica do amor é preciso buscar agradar ao amado. E o Apóstolo recomenda fugir às ocasiões de pecado, como um modo de travar uma luta consigo mesmo e encontrar um caminho de santidade. Deus nos dá a graça necessária para o nosso caminhar, quando nosso coração se volta ao Seu. Assim podemos cultivar a certeza da vitória, na alegre certeza de que “se Deus é por nós, quem será contra nós?”.


A vida cristã é uma vocação, um chamado. Isso exige uma coerência com o caminho que fazemos. Na parábola das virgens se percebe a diferença acentuada de quem toma consciência do chamado e está preparado com suficiente “azeite” para o momento decisivo, e quem imprudentemente, improvisa seu caminhar sem o devido conhecimento e resposta ao chamado. Somos verdadeiramente coerentes com a nossa vocação cristã? Estaremos prontos para entrar com o noivo para as bodas? Certas coisas não se improvisam.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta-feira, 27 de agosto de 2015


(1Ts 3,7-13; Sl 89[90]; Mt 24,42-51) 
Santa Mônica – Esposa, Mãe e Viúva


No meio da exortação de Paulo transparece a alegria de saber pelas boas notícias recebidas da comunidade, mas ele sabe que não deve parar de rezar por essa comunidade para que sempre mais cresça na fé e no amor que os une não só ao próprio Paulo como entre si. É também dessa oração constante que a figura de Mônica recebe a atenção da Igreja nesse dia. Na sua perseverança obteve a graça da conversão do marido e do filho Agostinho, que sobre sua mãe escreve: “Onde teriam ido para tantas preces frequentes? Onde, senão em ti, Deus da misericórdia? Poderias não escutar o coração contrito e humilhado da casta e sóbria viúva que fazia contínuas esmolas, venerava e servia teus santos. Cotidianamente levava a oferta ao teu altar, aonde duas vezes ao dia, de manhã e à tarde, dirigia-se, não para trocar inúteis palavras, como acontece fazerem as velhotas, mas para te escutar durante teus sermões, a fim de que tu a escutasses em suas orações”.


Como diz o evangelho de hoje, Mônica não descuidou dessa atitude de contínua vigilância sobre os seus e na sua relação com Deus. É no cotidiano de nossa existência que se dá o nosso encontro e o juízo de Deus sobre nós. A questão é estarmos atentos e perceber essa presença amorosa que deseja sempre uma amorosa resposta de nossa parte. Peçamos a Ele que nos desperte o desejo de viver atentos à essa presença, com a sua graça.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta-feira, 26 de agosto de 2015


(1 Tes 2,9-13; Sl 138[139]; Mt 23,27-32) 21ª Semana do Tempo Comum


Na sua exortação aos tessalonicenses, Paulo lembra o esforço dele e seus companheiros de missão para levar a Palavra, de como esta palavra foi acolhida e quanto estes devem esforçar-se para serem dignos desse dom. Em outras palavras, o apóstolo lembra o esforço de levar uma vida na presença de Deus na busca da vivência da justiça e da santidade, como ele mesmo busca viver. Como um pai para com seus filhos, Paulo deseja que eles se tornem verdadeiramente pessoas maduras, para isso personaliza o seu cuidado, sabendo o quanto a força da Palavra pode transformar a vida daquele que verdadeiramente crê.

Enquanto isso, Jesus continua o seu embate com os fariseus. É claro que toda chamada de atenção dirigida a estes deve nos levar a refletir sobre o nosso próprio comportamento. Jesus adverte em suas palavras que tendências farisaicas também podem estar em nós: a busca da satisfação pessoal, de estima, prestígio; há sempre a tentação de sermos superficiais naquilo que fazemos para Deus, de nos contentarmos com coisas externas e não fazermos a fadigosa viagem para dentro de nós mesmos.

Podemos pedir hoje ao Senhor a capacidade paulina de viver e testemunhar o que cremos e ao mesmo tempo manter sempre atualizada uma revisão das reais intenções com que vivemos na presença de Deus e do próximo.



 Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça- feira, 25 de agosto de 2015



(1Ts 2,1-8; Sl 138[139]; Mt 23,23-26) 21ª Semana do Tempo Comum


Esta semana acompanharemos trechos da carta de Paulo aos tessalonicenses como 1ª leit. Esta carta é o primeiro texto do Novo Testamento e também a primeira obra literária reconhecida de Paulo, assim temos uma visão do ambiente e dos problemas da primeira comunidade cristã fundada por Paulo.

O texto nos traz o testemunho de um caminho bastante difícil traçado pelo apóstolo. Longe de desencorajá-lo, o que seria normal, Paulo reconhece a audácia e a coragem encontrada em Deus para seguir adiante e levar a eles a boa notícia. Sempre consciente de sua fragilidade, é de Deus que recebe todo dom necessário para sua missão. Por isso se mantém íntegro na mensagem que lhe foi confiada e no amor àqueles a quem deve levar a mensagem.

Na vocação de Paulo resplandece o itinerário da vida cristã que busca unir sempre a busca da santidade, fidelidade a Deus, com a caridade, amor e atenção ao outro. A busca da santidade não deve restringir o coração, mas deve abri-lo sempre mais ao testemunho generoso da caridade de Cristo.

No evangelho Jesus chama atenção a certas atitudes de alguns contemporâneos que também podem ser nossas. A atenção aos detalhes externos só é bom quando se encontra unida a uma íntima conversão. Muitas vezes podemos apenas estar agindo por orgulho, preocupação para consigo mesmo (boa fama).


No próprio zelo de Paulo podemos compreender o que isso significa. Caminhar na presença de Deus de maneira sincera, requer que no íntimo sejamos transparentes, límpidos, para que o externo seja conforme a vontade de Deus. Assim, a fidelidade às pequenas coisas será sinal não de rigidez orgulhosa, mas do nosso amor delicado e atento em agradar ao próprio Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda-feira, 24 de agosto de 2015


(Ap 21,9-14; Sl 144[145]; Jo 1,45-51) São Bartolomeu, apóstolo.


A Igreja celebra um dos seus apóstolos olhando para essa visão do Apocalipse da nova cidade de Jerusalém, concebida como uma noiva para o seu Senhor e nela aparece inscrito os nomes dos apóstolos. Bartolomeu é identificado como esse Natanael do evangelho. Originalmente de Caná, expressa seu preconceito com a cidade vizinha de Nazaré. Pouco sabemos de sua atividade apostólica, mas há muitas narrativas de suas atividades missionárias e sua fama se acentuou depois de sua morte.

Filipe dá o seu testemunho, depois dele mesmo já ter ido e visto onde morava Cristo e o que significava segui-lo enquanto Cordeiro de Deus apresentado por João Batista. A difusão do evangelho e da pessoa de Jesus vai se espalhando como uma onda envolvente que nasce da experiência pessoal de cada um de nós. A experiência da fé nos levará a coisas maiores se deixarmos de lado o preconceito e aceitar ser conduzido pela Palavra de Deus que é Jesus.  

Rezemos por nós, para que a chama da fé sempre se reacenda nesse contato com a Palavra e também por todos aqueles que em seu testemunho tem levado outros a experiência libertadora de acolher Jesus em sua vida. Não só os nomes dos apóstolos vão figurar na cidade santa, também os nossos são candidatos a esse espaço.


Pe. João Bosco Vieira Leite


21º Domingo do Tempo Comum - Ano B


(Js 24,1-2a.15-17.18b; Sl 33[34]; Ef 5,21-32; Jo 6,60-69)


1. Retomamos o nosso tempo comum e o final do discurso de Jesus em Cafarnaum; este se conclui, diante da polêmica gerada pelas palavras de Jesus, com uma escolha.
* Como um tema constante da Bíblia (“escolha”), a liturgia nos oferece esse texto de Josué para nos introduzir no tema. Como sabemos Josué sucedeu a Moisés na condução do povo de Deus e na conquista da terra prometida.
2. Uma vez que o país foi conquistado e agora trata-se de viver uma nova realidade não mais de peregrinos, mas de um povo fixo rodeado de outros povos, surge uma pergunta: a quem eles querem servir?
* A pergunta pode parecer redundante diante de tudo que foi a aventura do deserto e da conquista da terra ao lado de Deus.
3. Mas o texto quer nos lembrar que a escolha feita da fé, não foi feita uma vez por todas. Ela deve atualizar-se constantemente porque as circunstâncias mudam;
* cada nova situação nos propõe perguntas: sobre em quem acreditamos e se acreditamos nele como fonte de sentido e felicidade e se assim é, porque estamos fazendo essa escolha?
4. Concluindo nossa leitura da carta aos efésios, Paulo lança um olhar sobre a convivência familiar e seus conflitos. Seu olhar é generalizado, sua linguagem é de uma época, mas seu ensinamento é universal.
* Tendo a Jesus como modelo de vida que fez de sua vida um serviço a todos, não há outro meio de nutrir relações saudáveis se não for pelo serviço ao outro, a “solicitude” que fala Paulo. Quem ama cuida.
5.  A multidão que buscou Jesus depois do milagre dos pães é levada a compreensão do verdadeiro pão que Deus quer oferecer: seu Filho.
* Ele se dará aos seus sob a realidade eucarística e aquele que o aceitar viverá por Ele, ou seja, buscará uma comunhão sempre maior de vida, identificando-se com seu agir e pensar.
6. A dificuldade inicial de compreensão foi superada, mas o problema agora é aceitar a proposta. A multidão se foi, restaram seus discípulos, perplexos diante de tal desfecho.
* E Jesus não ameniza; fala da ação do Espírito e do desfecho do caminho; outra parcela se vai e restam os doze diante da pergunta de Jesus. Se é difícil agora, na sua presença, mais o será viver só da “visão” da fé.
7. Como o antigo Israel, eles também devem escolher e por tabela também nós que nos colocamos diante desse mistério de buscar não só o pão material, mas dar esse salto de qualidade, buscando a lógica de Deus e acolhendo o dom do pão da vida.
8. A fé não está baseada em provas definitivas e irrefutáveis, mas é a adesão amorosa a uma proposta. Mesmo aderindo, isso não quer dizer que as dúvidas desapareçam.
* A palavra de Deus pode gerar entusiasmos, acender uma luz em nós, mas também pode colocar em crise nosso estilo de vida e nossas escolhas. Não é com pouco esforço que repetimos o nosso “sim”.
9. É longo o caminho que fazemos e só com o tempo podemos avaliar quais escolhas foram coerentes com o que acreditamos, e como pela fé chegamos até aqui.
* Se somos dignos de nos aproximarmos da mesa da eucaristia, só Deus sabe. O que sabemos é que esse pão que Ele se fez, não é para os anjos, é para nós que peregrinamos;
* que carregamos o peso de nossas dúvidas, de nossos pecados, que nos sentimos fracos e cansados e precisamos de apoio. É nessa atitude de fé, pobreza e humildade que queremos experimentar a sua vida em nossa vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 22 de Agosto de 2015


(Is 9,1-6; Sl 112[113]; Lc 1,26-38) 
Memória de N. Sra. Rainha


Oito dias depois de celebramos a Assunção de Maria (15 de agosto), a Igreja a contempla como Rainha do céu e da terra. Esta memória foi instituída por Pio XII em 1954. O mistério celebrado é a estreita ligação que une o Filho e a Mãe; foi o amor filial de Jesus que quis a glorificação da Mãe e por consequência essa comunhão também com o mistério do Reino; cabe-lhe um lugar de preeminência no “Reino dos céus”, junto a Cristo Rei, participando não só da sua realeza, mas também do fluxo vital e santificante do Redentor sobre a Igreja.

A liturgia da palavra nos remete por Isaías ao tempo do Natal, lembrando que Aquele que nos foi dado traz nos ombros a marca da realeza, para dizer que Aquela por quem nos veio o Rei comunga dessa realeza. O evangelho da anunciação nos coloca na sublimidade da vocação de Maria em gerar Aquele cujo reino não terá fim.


“A realeza de Maria é penetrada inteiramente por esta suave humildade, pela qual é muito mais Mãe que Rainha. Todavia, é Mãe-Rainha: sua realeza é benigna e dulcíssima! Dela se vale para trazer aos homens a salvação merecida pelo Filho. Sua materna realeza torna-a poderosa sobre o Coração de Jesus, para obter graças de conversão e de perdão. Poderosa para reconduzir os pecadores, sustentar os fracos, infundir coragem aos desanimados, força aos perseguidos, para atrair os afastados e dispersos”.  (Gabriel de Sta. Madalena, OCD in “Intimidade Divina”). Nossa Senhora Rainha, rogai por nós!


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 21 de agosto de 2015


(Rt 1,1.3-6.14-16.22; Sl 145[146]; Mt 22,34-40) 
São Pio X- co-padroeiro da Arquidiocese de Aracaju.


A 1ª leitura nos oferece um pequeno trecho do também pequeno livro de Ruth (apenas 4 capítulos). Esta narra a história de Ruth, uma mulher estrangeira que desposa um jovem israelita emigrado com os pais para o país de Moab. Quando o jovem morre, Rute, em vez de refazer a sua vida com um homem da sua gente, prefere acompanhar a sogra, Noémi, no regresso à pátria, a Belém. Ali Deus a abençoa e faz-lhe encontrar um novo marido, entre os antigos parentes do primeiro esposo. Deste casamento nascerá um filho, que será o avô de Davi, o rei ideal de Israel. Seu nome vai figurar entre os antepassados de Jesus. Uma das grandes lições desse livro é o modo com essa estrangeira se abre e adere à fé no Deus de Israel, mas também um convite ao próprio povo de Israel a não fechar-se em si, mas compreender como Deus age a partir de novas situações, permitindo uma ação sempre maior de sua misericórdia.

O evangelho de hoje traz a resposta central da vivência cristã a quem, em meio a tantos mandamentos, gostaria de saber a sua essência. É surpreendente que Jesus não tome nenhum dos dez mandamentos como referência mais cite o livro do Deuteronômio e o Levítico, criando assim uma síntese de certo modo já conhecida, mas que ganha especial conotação nos lábios de Jesus.


O amor a Deus é algo dinâmico, nunca realizado plenamente porque será sempre crescente e ao mesmo tempo desafiador, pois Jesus junta a esse o amor ao próximo, porque amar a Deus, a princípio, parece fácil, como não amá-lo? Mas como amar esse ser imperfeito que é o meu próximo? No entanto, os dois mandamentos andam par a par e nos desafiam a crescer tanto em um como em outro, pois os dois se confundem, por absurdo que isso nos possa parecer... Como será que anda esse nosso amor a Deus?


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 20 de agosto de 2015


(Jz 11,29-39; Sl 39[40]; Mt 22,1-14) 
São Bernardo, abade e doutor


Eis um texto difícil de entender, esse da 1ª leitura, pois o Antigo Testamento, Deus por consequência, não admitia os sacrifícios humanos, praticados por alguns povos vizinhos. O final da narrativa é comovente, pois sendo filha única não poderá deixar descendência. Não podemos ser exatos se o texto vai contra o uso pagão dos sacrifícios humanos ou simplesmente denuncia a crueldade humana. Diz a bíblia do Peregrino: “A filha de Jefté e suas companheiras ainda continuam vagando pelos montes”.

Esse texto nos coloca atentos ao que prometemos a Deus e o que Deus, de fato, gostaria de receber da nossa parte como oferenda e reconhecimento de seu amor. Só quem aprendeu a escutar de fato a Palavra de Deus por Jesus encontrará o atual discernimento necessário.


Jesus continua fazendo suas comparações a respeito do Reino de Deus e esta parábola tem um final inesperado com esse convidado que não porta o traje da festa. A lógica da narrativa nos levaria a crer que o mesmo não teve o tempo devido e a sua expulsão seria uma injustiça. Mas lendo na perspectiva do Reino e da proposta de Jesus e do pensamento Paulino, é necessário “revestir-se” de um outro modo de ser e viver para entrar na verdadeira dinâmica do Reino, na festa que Deus mesmo quer nos oferecer nas núpcias do Cordeiro. Que esforço tenho feito para revestir-me de uma verdadeira vida cristã?


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 19 de agosto de 2015


(Jz 9,6-15; Sl 20[21]; Mt 20,1-16) 20ª Semana do Tempo Comum


A 1ª leitura da nossa liturgia traz uma parábola que é uma crítica mordaz à realeza. Israel sentia uma certa inveja dos povos vizinhos que tinham seus reis. Até então Deus era o rei de Israel, não um simples soberano caprichoso, mas “alguém” que verdadeiramente amava e cuidava. Poderia se esperar isso de um soberano comum?

Por outro lado, o texto traz uma grande lição de humildade para aqueles que ambicionam o poder, que querem estar acima dos outros. O texto quer conduzir a uma reflexão, a uma tomada de consciência da relativa esterilidade da posição de um rei ou soberano. Comandar, de per si, não é uma atividade produtiva; se não fosse aqueles que trabalham, que produzem, quem comanda não serviria para nada. Isso não elimina a necessidade de dirigentes, coordenadores ou coisas do gênero. Como o próprio Jesus lembrará aos seus discípulos, toda autoridade deve ser um serviço efetivo, não um simples “balançar-se” acima dos outros, desfrutando egoisticamente da capacidade dos outros.

No evangelho Jesus conta a “problemática” e incômoda parábola dos trabalhadores da última hora que são equiparados aos que trabalharam o dia todo. Se usarmos os óculos da justiça comum, humana, sempre veremos o injusto desfecho. Se usarmos os óculos da misericórdia divina, podemos entender, e até nos alegrarmos, com o desejo de Deus de conceder a salvação a todos.  Seja como responsável, líder, coordenador etc., como me vejo e como me veem os outros? Como vejo o agir misericordioso de Deus em Jesus Cristo? Certas atitudes ou palavras d’Ele não me assustam?


Pe. João Bosco Vieira Leite




Terça-feira, 18 de agosto de 2015


(Jz 6,11-24; Sl 84[85]; Mt 19,23-30) 20ª Semana do Tempo Comum


Eis na 1ª leitura a escolha de um juiz para combater pelo povo de Deus. O chamado segue um esquema próprio do Antigo Testamento, com dúvidas, alegação de ser pequeno, frágil, indigno etc., mas depois vem a promessa da força de Deus que estará com o escolhido.

A escolha de Gedeão não é nada comparada ao que virá depois na narrativa quando Gedeão forma um grande exercício e Deus o faz reduzir a 300 soldados para mostrar a Sua força, Sua grandeza e para que o homem não possa atribuir a si o que na realidade vem de Deus. “Quando sou fraco, então é que sou forte”. Esta expressão paulina serve de chave de interpretação para a aventura de Gedeão e também para não nos lamentarmos quando as dificuldades parecem maiores do que o que somos capazes. É hora de confiar e fazer o que devemos fazer da melhor maneira possível e deixar o resto com Deus, Ele manifestará a sua força e a sua bondade, e dará fecundidade apostólica ao nosso esforço, por menor que ele possa parecer.

O evangelho nos recorda uma expressão ouvida também por Maria: “Para Deus nada é impossível”. Assim se vêm os discípulos diante das palavras de Jesus sobre o jovem rico e a própria pequenez destes diante da proposta salvífica. Quando se busca a graça de Deus, tudo é possível. Nele se perder, Nele confiar.


Pe. João Bosco Vieira Leite




Segunda-feira, 17 de agosto de 2015

 
(Jz 2,11-19; Sl 105[106]; Mt 19,16-22) 20ª Semana do Tempo Comum


Com a morte de Josué tem início uma nova etapa da caminhada do povo, que julgávamos suficiente maduro para viver na presença do Senhor, diante de tudo que testemunharam. O texto nos fala o contrário e nos recorda a escolha de personagens (juízes) que de tempos em tempos trazia ao povo a consciência de sua vocação. A história se repete. É a fidelidade de Deus vencendo as nossas resistências e displicências.

Não é difícil nos vermos nesse contexto. Sempre precisaremos de guias que nos recordem a nossa vocação, o nosso chamado, por isso vivemos a dimensão comunitária da fé. Por isso alguém procura Jesus para saber como herdar a vida eterna. Algo lhe falta. Mesmo no caminho de santidade que particularmente fazemos, há sempre a necessidade de um complemento divino.

Para aquele rapaz na verdade não faltava nada, o problema é que tinha demais e era necessário esvaziar-se para Deus ser mais nele. Criar espaço para o verdadeiro tesouro. Uma confiança maior na providência. O que me atrapalha e me impede de acolher o amor generoso de Cristo?

Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo, 16 de Agosto de 2015


Assunção de Maria – Missa do Dia
(Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab; Sl 44[45]; 1 Cor 15,20-27 a)


1. No terreno da devoção à Nossa Senhora um dos desafios é não permitir que se tire dela a experiência humana comum a todos os cristãos.

* que ela percorreu um caminho de fé às vezes obscuro e cansativo, que não entendia tudo, mas meditava querendo entender.

2. É ela, que segundo o Ato dos Apóstolos, perseverava com os apóstolos em oração. Digo isso porque nossa devoção a Maria corre o risco de tirá-la desse contexto de “companheira de viagem” e coloca-la num mundo distante do nosso.

* O que celebramos hoje é o reconhecido mérito de quem fez a travessia, perseverou em meio as dificuldades e dúvidas e mereceu o devido prêmio: estar definitivamente ao lado de Deus.

3. Nossa liturgia da palavra se abre com essa cena grandiosa, carregada de simbolismo; nosso autor escreve para uma comunidade perseguida no fim do I sec.

* A mulher representa a comunidade, como no AT simbolizava também Israel. Ela deve dar à luz ao Messias, sabe que não é fácil, mas nas dificuldades encontrará em Deus o apoio necessário.

4. Ao aplicar esse texto a Maria, a liturgia talvez queira nos lembrar que, mesmo para ela, gerar esse Messias, viver dessa fé, não foi fácil nem tão simples como possa parecer.

* Só quem experimentou a dificuldade do caminho pode ser solidário com quem está a caminho. Acreditamos que nessa luta, no nosso peregrinar, não estamos sós...

5. Paulo toca o centro da festa de hoje: o mistério da ressurreição. A vitória de Cristo constitui a verdade central da nossa fé.

* O mistério da morte também nos acompanha, não só como realidade final, mas como experiência existencial: na doença, na dor, na desilusão, na solidão, na perda do vigor físico, vamos sendo tocados...

6. São muitas as perguntas que trazemos em nosso coração em torno dessa realidade, mas a fé em Deus nos convida a aceitar com serenidade essa nossa condição humana.

* Porque em tudo isso há um processo que culminará num modo de vida mais pleno e definitivo. Maria já goza desse estado novo de vida.

7. Tem a visão plena do que agora desconhecemos, porque soube fazer essa travessia que agora fazemos, buscando o olhar de Deus sobre essas realidades de morte que hoje contemplamos.

* O Termo “assunção” deixa um espaço aberto para entendermos que ela foi “assumida” por Deus, “transportada”, “transferida” dessa realidade para o mundo de Deus.

8. Para nós que caminhamos a proposta é a mesma, mesmo não tendo os mesmos privilégios que teve a Virgem. * enquanto esta história não tem um fim, recorremos àquela que pode interceder e ser uma luz para os que estão a caminho.

9. Para falar ainda mais do porque Maria já habita esse mundo de Deus, a liturgia nos oferece esse texto de Lucas; este não deve ser lido como uma crônica de um fato tal como está escrito;

* pois encontraremos vários problemas interpretativos, mas tomemos como uma catequese do autor sagrado a partir de gesto de Maria ou fato na vida de Maria.

10. Na saudação usual judaica “shalom”, Maria se insere no canto de paz que a presença de Jesus traz aonde chega através de cada um de nós que o acolhemos em nossa vida.

* A exclamação de Isabel traz consigo o selo do reconhecimento da ação de Deus através de instrumentos frágeis, mas disponíveis de todos os tempos.

11. Lucas é um conhecedor do AT e imprime nessa cena outras imagens e expressões próprias desse encontro de Deus com seu povo. Maria é, ali, a arca do encontro, que transporta em si o autor da graça.

* A alegria que Maria transmite com sua presença, deveria ser também a que transmitimos com nossa presença nos nossos espaços existenciais.

12.  Lucas proclama Maria como bem-aventurada por sua fé, que não obriga Deus a fazer demonstrações, mas que se funda somente na escuta da palavra e se manifesta na sua adesão incondicional à própria Palavra.

* Acreditar também requer coragem, pois implica mudança de atitudes. Maria nos ensina que vale a pena confiar nas palavras do Senhor sempre.

13. Nosso texto se conclui com o canto do Magnificat; visto, grosso modo, parece um texto de auto exaltação, mas Lucas se serve de um texto do AT para expressar novamente a fé de Israel num Deus capaz de reverter os processos da história.

* Em Maria, essa história de um Deus misericordioso tem continuidade; assim celebramos a bondade de Deus que a faz habitar consigo e perseguimos os seus passos para podermos também comungar do mesmo mistério.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Sábado, 15 de agosto de 2015


(Js 24,14-29; Sl 15[16]; Mt 19,13-15) 19ª Semana do Tempo Comum


A despedida de Josué é marcada por uma renovação da Aliança entre Deus e o seu povo. Josué fez passar aos olhos dele toda ação favorável do Senhor e assim os conduz a uma atitude de resposta: “serviremos ao Senhor”. Mas servir a Deus não é tão simples assim, lembra Josué: Ele é “um Deus santo, um Deus ciumento, que não suportará vossas transgressões e pecados”.

Josué “carrega na tinta” ao descrever Deus, mas mesmo assim eles insistem em “servir” e a tirar da sua vida os outros deuses. Mesmo com todo o peso que essa Palavra nos chega, é sempre bom rever como estamos levando nossa relação com Deus, no que Ele espera de cada um de nós como resposta ao seu amor. Amar a Deus como convém exige atenção, escuta contínua, revisão sincera. Há sempre o perigo da superficialidade.

Jesus acolhe as crianças que o buscam como sinal dessa abertura necessária, do novo e do desejo de aprender que reside em cada uma delas.  Deus conserva nossa liberdade de escolha, porque o amor só pode se expressar plenamente no respeito a liberdade do outro. Como a Virgem Maria, sejamos também capazes de refletir e de responder positivamente ao seu chamado: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim a sua vontade”.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Sexta-feira, 14 de agosto de 2015


(Js 24,1-13; Sl 135[136]; Mt 19,3-12) 
São Maximiliano Kolbe


Na primeira leitura de hoje, Josué faz um grande memorial onde Deus aparece falando de toda a sua ação em favor de Israel, por isso o salmo proclama a sua misericórdia. Talvez a leitura nos esteja sugerindo uma espécie de recordação que hoje podemos tomar na nossa oração de tantos momentos difíceis que atravessamos e percebemos a ação favorável de Deus a nós: “Eterna é a sua misericórdia!”.

Quando nós celebramos os santos, celebramos, como lembra o nosso texto, as obras maravilhosas que deus realizou nestes. Todo processo de santificação é uma resposta ao amor generoso de Deus com todo o nosso ser. Assim soube responder Maximiliano Kolbe a ponto de dar a própria vida por alguém que ele julgou mais necessária a sobrevivência nos campos de extermínio.

A santidade também passa pela fidelidade. Jesus não aceita os motivos que no seu tempo consideravam lícito o repúdio da mulher. E retoma o querer originário de Deus. A fidelidade é uma coisa essencial. Devemos entender o quanto é salutar a exigência do evangelho, que é a expressão do amor do próprio Jesus por nós. A nossa relação com Deus e com o outro exige um crescimento contínuo num amor generoso.

O remédio para a dificuldade não está no repúdio, no divórcio, na infidelidade, mas no amor capaz de superar as dificuldades. Aqui está a nossa verdadeira dignidade, a nossa alegria plena. Fomos criados a “imagem” de Deus, isto é, para viver como Deus e com Deus um amor fiel. São Maximiliano, rogai por nós!



Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta-feira, 13 de agosto de 2015


(Js 3,7-11.13-17; Sl 113A(114); Mt 18,21-191)


Na sequência que estamos acompanhando da sucessão de Josué a Moises, temos o episódio da travessia do Jordão com tons de recordação da travessia do Mar vermelho. A Arca, presença de Deus no meio do seu povo, ganha um especial destaque. As coisas parecem se repetir e ao mesmo tempo são diferentes, são novas, porque Deus não se repete. Nosso olhar “embaçado” pela rotina às vezes custa a ver o diferente contido no cotidiano da existência, da criação que nos cerca em sua explosão de cores e diversidades. Custamos até mesmo a perceber que nós não somos mais os mesmos.

A presença da Arca em meio ao povo nessa travessia, serve de sinal para quem haverá de vencer os obstáculos para a posse definitiva da nova terra: a presença de Deus e a união com Ele. A Arca traz em si as tábuas da Aliança, onde a vontade de Deus se expressava em seu caráter de amor e liberdade. Todo amor traz consigo suas exigências e é preciso estar atento às suas necessidades.

Pedro sentiu o peso em seu coração ao ouvir de Jesus sobre a necessidade do perdão contínuo na vida comunitária. O amor tem suas exigências e que nos levar para além daquilo que pensávamos ser o máximo que podíamos ir. Não esqueçamos que a “travessia” não se dá por um esforço pessoal, mas pela presença do Amado que quer nos guiar à outra margem. Deus abençoe o seu dia e fortaleça o seu coração.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Quarta, 12 de agosto de 2015


(Dt 34,1-12; Sl 65[66]; Mt 18,15-20)


A primeira leitura nos remete à morte de Moisés, a sucessão por parte de Josué e o grande elogio que se eleva a Moisés por sua missão, nos chama a atenção no texto. Caberá a Josué a introdução do povo na terra prometida, assim esse grande final serve de ponte ao que virá. A história do povo de Deus é feita de recomeços constantes e de reafirmações da presença de Deus entre eles.

Assim Jesus nos lembra que onde dois ou mais estiverem reunidos, ele se faz presença. A habitação de Deus é antes de tudo a comunidade dos crentes reunida.  A presença de Deus é sempre uma relação entre pessoas e toda a relação, fora aquela que Deus tem no mistério de Si mesmo, não está isenta de conflito, por isso o esforço contínuo para restabelecer a comunhão. Toda divisão cria um obstáculo à presença do Senhor.

Toda ação deve ser discreta, só envolvendo a comunidade em última instância, porque assim ficará evidente que a rejeição não é a uma pessoa tão somente, mas ao espírito de comunhão que a comunidade representa e que é rejeitado pela incapacidade de reconciliação.


O texto salienta que tudo foi tentado. Aqui se respeita a liberdade e se aceita, com toda dor que isso pode causar, o afastamento do irmão, para que se restabeleça a comunhão perdida momentaneamente. Algumas decisões na vida comunitária e pessoal são difíceis, mas é preciso sempre avaliar dentre as atitudes que devemos tomar quando o ideal não é possível, aquilo que chamamos de “um mal menor”, pois toda decisão de afastamento ou rejeição será sempre um mau.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça-feira, 11 de Agosto de 2015


(Dt 31,1-8; Sl [Dt 32]; Mt 18,1-5.10.12-14) 
Memória de Santa Clara, virgem e fundadora.


A 1ª leitura nos coloca, hoje e amanhã, nos capítulos finais do Deuteronômio, da despedida de Moisés e passagem da condução do povo de Deus para Josué. Moisés dirigi-lhe palavra de entusiasmo e confiança no Senhor. Como nós precisamos, às vezes, de quem nos faça avançar no caminho da vida e das situações a serem enfrentadas...

Santo Inácio de Loyola dizia que devemos esperar tudo de Deus e pedir com confiança imensa tudo que precisamos; porém, devemos fazer tudo que somos capazes de fazer, como se Deus não fizesse nada. Bem antes de Inácio, Santa Clara viveu essa confiança. A esperança que carregamos não pode ser um pretexto para permanecer parado, esperando que Deus intervenha sem que nós façamos nenhum esforço.

Na figura da criança do evangelho percebemos que a coragem cristã se faz acompanhar de uma significativa humildade. Não temos a pretensão de ter o controle sobre tudo, mas saber que Deus é quem na realidade realizará comigo e conforme o Seu querer.

Neste dia queremos pedir a graça da verdadeira confiança filial, fonte de tranquila coragem. Saber-nos colaboradores de Deus na obra que Ele deseja realizar por nós, com humildade e com entusiasmo, com esperança e com dinamismo.


Peçamos também a Santa Clara a intercessão de colocar-nos na presença do Senhor e aprender a amar no seu jeito contemplativo de viver. “Coloca os teus olhos diante do espelho da eternidade, coloca tua alma no esplendor da glória, coloca o teu coração naquele que é a figura da divina substância e, transformada interiormente por meio da contemplação, na imagem da sua divindade. Então também tu provarás aquilo que está reservado somente aos amigos e gozarás a secreta doçura que Deus mesmo reservou desde o início para aqueles que o amam. Sem conceder nem mesmo um olhar às seduções que, neste mundo falaz e irrequieto, estendem laços aos cegos que atacam seu coração, ama por inteiro aquele que por teu amor se deu” (santa Clara de Assis, Carta a Santa Inês de Praga).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda-feira, 10 de Agosto de 1015


(2Cor 9,6-10; Sl 111[112]; Jo 12,24-26) – Festa de São Lourenço, diácono e mártir (+258)


Nessa festa de São Lourenço a Igreja faz memória do ministério diaconal, particularmente dos diáconos permanentes, presentes em muitas comunidades do nosso país e do mundo. São homens, em sua maioria casados, que se dispuseram a colaborar com o trabalho de evangelização da nossa Igreja através do primeiro grau do sacramento da Ordem. Celebram o batismo, assistem aos matrimônios, amparam os enfermos e podem acompanhar as exéquias. Mas isso é uma participação na dimensão litúrgica que não os limita para outras atividades, pois a grande ênfase da Palavra nesse dia é a doação de si, a generosidade que marca uma existência e a atenção aos pobres, marca comum a todos os cristãos, nos lembra o Papa.

Paulo diz que dar aos pobres é investir na graça de Deus, a “colheita” não se reduz ao plano material. Deus é louvado em cada ação praticada em favor dos seus “pequeninos”. Madre Teresa de Calcutá dizia que os pobres nos ajudam permitindo ajuda-los. É um mistério que experimentamos sob o plano da graça, onde o doador se enriquece. O salmista enfatiza que o homem caridoso e prestativo não vacila pois sua confiança está em Deus que o tem sob seus olhos.

Lourenço é um santo que traz consigo muitas lendas, mas chamou a atenção dos seus contemporâneos o modo como suportou o martírio em meio a perseguição aos cristãos daquela época. É dessa semente lançada por terra que nos fala o evangelho, que não se apegou à sua vida, mas fez dela semente de novos cristãos, pelo sua coragem e testemunho.


Duas coisas: como está a nossa atenção para com os pobres que nos cercam? Até que ponto meu testemunho de fé, sem exibicionismo, tem chamado a atenção dos outros no sentido de perseverança e certeza no que acredito? 

Pe. João Bosco Vieira Leite


19º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(1Rs 19,4-8; Sl 33[34]; Ef 4,30—5,2; Jo 6,41-51)


1. Algumas narrativas proféticas nos deixaram textos belíssimos e atuais sobre nossa relação com Deus e resposta ao seu chamado.
* Para ilustrar o discurso eucarístico de João no cap. 6, temos a experiência do profeta Elias. O texto recolhe a dramática situação do profeta cansado, rejeitado e perseguido, a ponto de desejar morrer.
2. Há por trás dessa cena toda uma história de injustiças sociais, corrupção religiosa e moral no tempo do rei Acab que o profeta teve que denunciar.
* Enfraquecido diante do quadro enfrentado, ele resolve fazer um caminho espiritual, uma peregrinação ao mesmo monte onde Moisés se encontrou com Deus, para fortalecer a sua fé.
3. É no meio da travessia que lhe vem um desalento, era demais o que Deus pedia dele. Um retrato de alguns desertos que atravessamos, onde nos deparamos com situações difíceis;
* onde nos desencantamos de pessoas, instituições... o desejo de largar tudo. Assim como Deus não abandona o seu profeta, mesmo permitindo que atravesse situações difíceis, assim se dá conosco.
4. No simbolismo do n. 40 está uma vida inteira, onde sentimos fome, sede, não só de pão e de água, em que não sabemos que atitude tomar, desanimamos, desesperamos.
* O alimento do profeta é a Palavra que Deus lhe dirige, que dirige a nós em cada momento para comunicar-nos força e infundir coragem. Luz, conforto, energia e esperança habitam o pão da Palavra para quem o busca...
5. É pela força e pela graça do Espírito Santo que habita no texto inspirado, que Paulo lembra a comunidade de Éfeso, a condição do cristão.
* Há vícios que devem ser evitados e virtudes que devem ser praticadas. Ele situa ações no campo do falar que podem tornar insuportável a convivência, mas lembra outras que se inspiram na misericórdia de Deus para conosco. Um texto de reflexão prática.
6. Jesus tendo afirmado ser o verdadeiro pão do céu provocou a reação dos judeus. Que pretende, pensavam. Jesus deixa transparecer a sua divindade por sua relação com o Pai.
* Eles se escandalizam com tal pretensão. Deus não se revelaria num homem comum. Na nossa busca de Deus algumas coisas facilitam e outras se tornam um obstáculo.
7. Jesus nos revela que encontra-lo é um dom que Deus concede a alguns, particularmente se o descobrimos como pão do caminho, da vida.
* Quando encontramos, primeiramente na sua palavra, a fonte do viver, o sentido do caminhar. O pão da eucaristia reforça essa fé e busca uma comunhão mais íntima, levando a vida a um sentido mais pleno.
8. Ele oferece o que o maná não pode oferecer: a vida eterna, a plena realização do criado no criador. Para isso ele veio na fragilidade de nossa carne.
* Se rebaixando para nos elevar, nos convida a essa aventura da fé, que não é linear, mas que nos desafia a nos levantarmos e recomeçar alimentando-nos continuamente dele, de sua palavra.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 8 de Agosto de 2015


(Dt 6,4-13; Sl 17[18; Mt 17,14-20) – Memória de São Domingos


O livro do Deuteronômio trás a frase com a qual Jesus responderá ao mestre da lei qual é o maior mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças...” (cf. Mc 12,29-30). É uma mudança significativa esse apelo de Moisés, pois até então, se temia o Senhor, agora é a dinâmica do amor que deve marcar a relação entre Deus e o seu povo.

Para chegar a esse momento, Deus foi preparando o caminho. Se fez conhecer numa relação pessoal com Abraão, demonstrando-lhe uma maravilhosa benevolência que se estenderia a todos os seus descendentes, guardando-os, protegendo-os, defendo-lhes, libertando e cumulando-os de benefícios. Assim Deus demonstrou seu amor gênero, terno e forte.

Por isso ele pode pedir para ser amado, não para proveito próprio, mas para sendo amado por dar-se ainda mais e introduzir-nos em Sua vida de amor. Se uma pessoa recebe algo de outra pessoa sem corresponder com amor que é o dom manifestado, a relação permanece incompleta. Não se trata tanto da materialidade do que é doado, mas daquilo que há de pessoal e espiritual no gesto realizado. O bem maior e mais precioso é a comunhão interpessoal. O resto é secundário.

“Amarás o teu Deus” é verdade ele se fez “teu” e quer ser sempre mais, para vivermos plenamente, na confiança, na alegria, na comunhão com Ele e com todos. Para amar a Deus de todo o nosso coração sem a mínima reserva, é preciso compreendê-lo como bondade infinita. Na nossa realidade terrena as criaturas têm os seus limites e também seus defeitos, que tornam impossível amá-las sem nenhuma reserva. Deus, ao contrário, é digno de um amor sem reserva, ilimitado. Posso e devo amá-lo com todo o meu ser, porque é d’Ele que vem todo o meu ser, por puro amor. De nenhuma pessoa se pode dizer algo igual. Algumas pessoas me deram dons preciosos com muito afeto, mas nenhum me deu o meu ser. E continuamente Ele me dá tudo: o ar que respiro, a luz que alegra os meus olhos, o mundo e suas maravilhas, as pessoas que me circundam: “olho em tudo, e sempre encontro a Ti...”


Amar a Deus não é tanto um mandamento, mas uma vocação que corresponde à aspiração mais profunda do nosso ser. Por outro lado, amar a Deus “de todo coração” é uma obra em longo prazo, pois pressupõe a eliminação completa do nosso egoísmo, o que não se pode fazer num piscar de olhos. Mas todo progresso, por menos que seja, nessa direção, é uma vitória que enche o coração de uma verdadeira alegria.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 07 de Agosto de 2015


(Dt 4,32-40; Sl 76[77]; Mt 16,24-28) – 18ª STC


O autor do Deuteronômio (1ª Leit.) atribui a Moisés essa contínua lembrança ao povo escolhido da ação de Deus a seu favor (amor pessoal) e como é importante manter a Aliança, renunciando aos próprios caprichos, escutando a voz de Deus e conformando-se às divinas instruções que indicam o justo caminho da fidelidade.
Não é possível permanecer no amor sem renunciar ao egoísmo. Não é possível manter-se uma ótima relação com a pessoa amada se não se busca corresponder aos seus desejos, quando esses são sensatos.
Com a vinda de Jesus, essa reação pessoal com o próprio Deus se tornou mais evidente, mais forte, mais íntima. A encarnação do Verbo permitiu uma comunicação mais clara do amor do Pai por nós. Para permanecer nesse amor Jesus pede tomar a nossa cruz e segui-lo, renunciando ao egoísmo, não colocando mais o nosso “eu” ao centro de tudo. Por Ele é possível aprendermos a perder para reencontrar.
Nesse paradoxo se encontra uma revelação para nós. É Verdade que Deus nos criou para a felicidade e o amor, mas quem busca só a própria felicidade se afasta do amor, pois o amor pede a renúncia da busca da própria felicidade. Somente buscando progredir no amor é que se encontra a felicidade.

Também hoje é preciso rever o nosso caminhar na presença de Deus. Como o discípulo amado, João, recostar-se no seu peito e ouvir do seu coração o que é preciso deixar, perder, renunciar para reencontrar na visão da lógica divina, o sentido da minha vida, do meu caminhar.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta-feira, 06 de agosto de 2015


(Dn 7,9-10.13-14; Sl 96[97]; Mc 9,2-10) 
Festa da Transfiguração do Senhor


Essa festa comemora, com toda probabilidade, a dedicação das basílicas do Monte Tabor. É posterior à festa da Exaltação da Santa Cruz, da qual depende para a fixação de sua data. Segundo uma tradição, na realidade, a transfiguração de Jesus ter-se-ia dado quarenta dias antes da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro).
Surgiu no Ocidente, meados do século IX, em Nápoles, nos países germânicos e na Espanha. No oriente, “a Transfiguração de nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” é celebrada com tanta intensidade quanto as maiores festas do ano. Nela se exprime a teologia da divinização do homem: “Neste dia, no alto do Tabor, Cristo transformou a natureza obscurecida de Adão (cheia de trevas); cobrindo-a com sua claridade, ele a divinizou” (E. Mercenier). Para nossa meditação transcrevo um texto de são Leão Magno, vale a pena conhecer o voo teológico e espiritual dos primeiros Padres da Igreja:

“Animado pela revelação dos mistérios e tomado do desprezo e do desgosto pelas coisas terrenas, o apóstolo Pedro estava como que raptado num êxtase, no desejo das coisas eternas e, repleto do gáudio por aquela visão, desejava habitar com Jesus no lugar em que sua glória se manifestara, constituindo a sua alegria. Eis por que disse; ‘Senhor, é bom estarmos aqui. Se queres, levantarei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias’ (Mt 17,4).
Mas o Senhor não respondeu a tal sugestão; não – é evidente – para mostrar que tal desejo seria mau, mas para significar que estava fora de hora, não podendo o mundo ser salvo sem a morte de Cristo. Assim, o exemplo do Senhor convida a fé dos que creem a compreender que, sem nenhuma dúvida, em relação à felicidade prometida, devemos, contudo, em meio às provas desta vida, pedir paciência antes que a glória. A felicidade do Reino não pode, de fato, preceder o tempo do sofrimento. 
E eis que “ainda falava, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra e uma voz, que saiu da nuvem disse: ‘Este é o meu filho amado, em quem me comprazo, ouvi-o! ’” (Mt 7,5). O Pai, sem nenhuma dúvida, estava presente no Filho e naquela luz que o Senhor tinha mostrado aos discípulos. A essência daquele que gera não estava separado do Unigênito gerado, mas para evidenciar a propriedade de cada pessoa, a voz saída da nuvem anunciou o Pai aos ouvidos, assim como o esplendor difundido do corpo revelou o Filho aos olhos. Ao ouvirem a voz, os discípulos caíram com rosto no chão, muito amedrontados, tremendo não somente diante da majestade do Pai, mas também diante do Filho. Por uma moção da mais profunda inteligência, com efeito, eles compreenderam que a divindade de ambos era única. E, como não havia dúvida na fé, não houve discrição no temor. Esse divino testemunho foi, pois, amplo e múltiplo”. 


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 05 de agosto de 2015


(Nm 13, 1-2.25—14,1.26-30.34-35; 105[106]; Mt 15,21-28)


Nesse texto entrecortado da 1ª leitura aparece a comprovação de que aterra prometida é também uma terra a ser conquistada, só que eles esquecem com Quem essa conquista será realizada, medem as próprias forças e se rebelam, como se tivessem caído numa armadilha. No nosso caminhar na fé, quando as coisas se complicam, tal sentimento pode se tornar presente. Para muitos é difícil perseverar no ideal em meio às dificuldades, muitas vezes porque nossa confiança não está em Deus, mas no nosso próprio desempenho ou daquele que está à frente. A perseverança é um dom precioso, devemos cultivá-la e pedir a Deus a constância, pois coisas mudam e nós também mudamos.

Quantos hoje não se casam, mas convivem simplesmente pela falta de coragem de comprometer-se com um matrimônio indissolúvel: não acreditam na graça de Deus. E o divórcio é a resposta, em algumas situações, para a incapacidade de manter-se firme pois julga que os desafios sejam grandes demais.


A falta de fé “fere” o coração de Deus, e o autor sagrado justifica esse longo período no deserto como uma iniciativa do próprio Deus para purificar uma geração.  O salmo lembra esse pecado, esse esquecimento de quem é Deus. Bem outra é a fé da mulher pagã no evangelho. Não tem direito a nada, ela reconhece; Jesus não lhe promete nada, mas na sua insistência plena de fé obtém a cura da filha e o elogio do Senhor. Os textos nos convidam a refletir sobre o quanto nossa fé se apoia em Deus e quanto somos capazes de saber do que Ele é capaz e que por isso insistimos, perseveramos no que nos é proposto. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite