Quinta, 31 de dezembro de 2015


(1Jo 2,18-21; Sl 95[96]; Jo 1,1-18) 
Oitava de Natal

João é o autor de uma nova denominação: “Anticristo” ou o antimessias ou pseudomessias. Não é bem uma pessoa, e aqui mora o perigo, mas trata-se de um certo “movimento” que semeiam confusão e enganos. Algo como o que acontece em nossos tempos, mas certamente não os denominamos com tais termos nesse mundo do “politicamente correto”. Ele pede discernimento pela ação do Espírito em nós e firmeza no que foi aprendido sobre Cristo e nossa fidelidade a Ele.  

O evangelho retoma o texto da missa do dia de Natal. Diferentemente dos outros evangelistas João não narra os fatos em torno do nascimento de Jesus, prefere escrever um hino sobre o mistério da humanização de Deus. Para ele isso é o mais importante. Um canto lida melhor com o mistério, pois trabalha a partir de imagens. Isso já sabemos pelo próprio cantar na liturgia e na vida. Se formos descrever parte por parte levaremos bastante tempo, e muito já se escreveu sobre esse hino. Mas levando em conta o fim de mais um ano, colocamo-nos numa atitude de profunda gratidão, pois recebemos ao longo do ano as graças necessárias segundo a necessidade de cada um de nós. Esse ano certamente precisaremos renovar o perdão misericordioso de Deus para as nossas faltas, que nunca nos faltou e nos tem permitido avançar: “De sua plenitude todos nós recebemos graça por graça”. Uma boa passagem de ano para todos, que o Senhor nos abençoe nos guarde nos caminhos do novo ano que está para começar. Amém.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de dezembro de 2015


(1Jo 2,12-17; Sl 95[96]; Lc 2,36-40) 
Oitava de Natal

Na esteira dos encontros que nos trazem a liturgia desses dias, João nos lembra que encontrar o Salvador traz como primeiro dom o perdão dos pecados, aquilo que em nós é eliminado por sua misericórdia é também o que fez com que  Ele nos encontrasse: “Ó feliz culpa que nos fez merecer tão grande redentor...”, cantaremos na Páscoa celebrando a vitória de Cristo. Mas o Seu objetivo não é tanto os pecados em si, mas restabelecer nossa comunhão com o Pai, revelando quem é Deus em sua origem. Ele não é indiferente, nem um Deus dominador: ele é a origem da vida, a fonte do amor. Para ser também nosso Pai nos enviou o seu Filho. É pelo Pai que recebemos a força de superar todos os obstáculos, para que em nós a vida se transforme e nos permita vencer todo mal.

Na continuidade do evangelho de ontem, “ao lado de Simeão aparece Ana. Enquanto Simeão é descrito como homem piedoso e justo, Ana é chamada de profetisa. A  fé, como Lucas entende, nunca é representada somente pelo homem. Ao lado do homem precisa ser colocada uma mulher, para expressar um outro aspecto da aceitação de Jesus pela fé. Lucas tinha descrito o homem como justo e piedoso. O caráter da mulher, Lucas o esclarece descrevendo a história de sua vida e o que ela fazia na época. É a arte do escritor, revezando descrição com narração. Ana passara por todas as fases da vida feminina: virgindade, vida de esposa e de viúva. É uma mulher orante. Ela fica constantemente no templo. E é uma profetisa. Enxerga profundamente. Ela percebe aquilo que Deus está fazendo em Jesus. Em Jesus, a salvação que todos os piedosos israelitas ansiavam tornou-se realidade para todo o gênero humano. Todos serão libertados do seu cativeiro, libertados da sua alienação. E hão de tornar-se seres livres, assim como Deus os tinha idealizado ao criá-los” (Anselm Grun – “Jesus, modelo de ser humano” – Loyola).


Lucas conclui esses episódios da infância salientado o crescimento de Jesus em sabedoria e graça diante de Deus, apoiado em Maria e José e sua experiência de fé e de vida. Alguns elementos da vida comum com que Jesus ilustrará suas parábolas nascem daí. Rezemos hoje para que nossas famílias tenham também a estabilidade necessária, o amor e o cultivo da fé para que possam ajudar os mais jovens nesse processo de crescimento humano e divino.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça – 29 de dezembro de 2015


(1Jo 2,3-11; Sl 95[96]; Lc 2,22-35) 
Oitava de Natal

Para João o nosso amor a Deus se traduz no conservar o seus mandamentos, mais que um conjunto de regras, o nosso referencial é Jesus, o seu modo de ser. Um proceder como Jesus particularmente no amor que devemos ter ao próximo para que todo nosso ser seja iluminado. Um programa de vida inspirado na purificação do olhar e dos desejos e julgamentos do coração.
O evangelho nos adianta hoje a festa da apresentação do Senhor, que se dará no dia 2 de fevereiro, oficialmente encerrando o ciclo natalino, mesmo já distante no tempo. É interessante perceber como Lucas vai desenvolvendo vários encontros em seu evangelho e nestes se dão alguma experiência de Deus. “Maria e José, levando o menino a Jerusalém para consagrá-lo ao Senhor, cumprem a Lei de Moisés. [...]No meio do rito prescrito acontece o surpreendente: o encontro com Simeão e Ana. [...]Lucas não apenas nos conta sobre o mistério de Jesus cantado por Simeão no seu hino. Ele nos apresenta Simeão também como exemplo. Simeão é o modelo da pessoa que, ao ver-se perto da morte, pode se lembrar da sua vida com gratidão. Sim, ao morrermos como cristãos podermos confessar: ‘Agora, Senhor, podeis deixar teu servo ir em paz, segundo a tua palavra, pois meus olhos viram atua salvação que preparaste em face de todos os povos’ (Lc 2,29s). após o hino, Lucas descreve o contraste no coração de Simeão, mas também no coração de todos nós. Jesus é para nós a paz e a luz, mas também uma espada, um sofrimento. Uma espada há de traspassar Maria. Ela participará do sofrimento de Jesus. Jesus traz a salvação, mas também julgamento. Por ele revelam-se os pensamentos humanos. Ficará visível como os homens tentam se fechar diante de Deus. Nessa tensão entre luz e sofrimento, Lucas deixa claro que ele não escreve simplesmente uma narração, e sim uma tragédia, no sentido da tragédia grega, que também ela, graças a contrastes emocionais, pretendia atingir e purificar os sentimentos humanos.” (Anselm Grun – “Jesus, modelo de ser humano” – Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 28 de dezembro de 2015


(1Jo 1,5—2,2; Sl 123[124];Mt 2,13-18) 
Santos Inocentes.

Este período do Natal é complementado com alguns textos do evangelho, mas o que predomina é a 1ª carta de São João, lida praticamente na íntegra durante os dias da semana. O texto é atribuído a João, o Evangelista, cujo dia celebramos ontem, alguns estudiosos atribuem a outro João ou outro autor. Alguns elementos são comuns ao evangelho, outros são um tanto divergentes com o texto do evangelho. Mas isso aqui não tem muita importância. Busquemos recolher o que nos é possível desse texto durante esses dias.

Ele começa o texto lembrando o tema da Luz em oposição às trevas. Essa simbologia já aplicada no evangelho diz respeito à conduta humana com suas consequências. João quer que evitemos o autoengano , pois quem nega seu pecado não pode receber a purificação pelo sangue de Jesus; quem o confessa o recebe. Este tema introdutório nos coloca na esteira do ano Santo e do perdão que buscamos a partir de um verdadeiro reconhecimento e arrependimento.

Hoje também celebramos os santos inocentes, um possível “massacre” perpetrado por Herodes buscando eliminar o Menino Jesus, tendo a Sagrada família que fugir para proteger o Menino. “A fuga para o Egito e o massacre dos meninos de Belém, ordenado por Herodes, mostram novamente o paralelismo que Mateus desenvolve entre o nascimento de Jesus e de Moisés. Também Moisés foi salvo da perseguição do faraó que tinha ordenado a matança de todos os filhos homens dos hebreus porque ficara com medo, depois que os astrólogos o tinham prevenido contra o nascimento de um libertador de Israel. Como Moisés, Jesus também precisou fugir para o exterior até que Deus o chamasse de volta. [...]Jesus não nasceu em meio a um mundo intato. Desde logo se viu rodeado de assassinato e violência, de intriga dos governantes, de expulsão e miséria. Jesus precisou fugir para o exterior, onde viveu como exilado. É uma situação bem atual em nossos dias. Jesus nasceu numa situação que se assemelha à nossa. Ele experimentou a existência humana em todos os seus altos e baixos. Assumindo tudo, estava em condição de salvar tudo”.  (Anselm Grun – “Jesus, mestre da salvação” – Loyola)



Pe. João Bosco Vieira Leite

Festa da Sagrada Família – Ano C


(Eclo 3,3-7.14-17a; Cl 3,12-21; Lc 2,41-52).

1. Vivenciado esse mistério da entrada de Jesus no mundo feito criança, é natural que nos perguntemos como se desenvolveu a sua infância, como era sua convivência familiar.

2. Os evangelhos nos permitem entrever certa normalidade no modo como Jesus se insere não só na vida do seu povo, mas também no convívio familiar. Aquilo que eles não dizem ou detalham da tradição judaica nos é ilustrado por outros  textos, como do livro do Eclesiástico, cheio de conselhos valiosos e úteis para todas as situações da vida, aos quais todo bom judeu prestava ouvido.

3. Grande parte está voltada para a convivência familiar como este que aponta para a situação do envelhecer e das debilidades que traz consigo. Honrar é respeitar, reconhecer o valor e a dignidade do outro. Com a linguagem de um tempo, ele nos traz valores que são eternos e quase divinos, pois estão sob o olhar da dinâmica de um Deus que tem por princípio o cuidado com a vida.

4. Paulo vai um pouco além, pois a compreensão já avança no tempo e as comunidades cristãs revelavam facilmente a difícil, mas necessária convivência humana.  Para uma convivência perfeita, sete atitudes ou virtudes são indicadas, como uma espécie de roupa a cobrir o corpo, como Adão e Eva que se dão conta da sua nudez, não física, mas da fragilidade e pobreza humana.

5. Ao final ele lança um olhar sobre a família nesse núcleo esposos e filhos, o amor é a recomendação central que se traduz em atitudes práticas num testemunho desses novos caminhos apontados por Cristo.

6. A família de Nazaré nos é apresentada como modelo a partir dos seus encontros e desencontros, mesmo tendo a Jesus em seu meio. Lucas lança um olhar teológico sobre uma experiência vivida por Maria e José, quando pela 1ª vez levaram o filho nessa peregrinação anual a Jerusalém e na volta o garoto aparentemente se perdeu.

7. Aquele que havia sido levado ao templo ainda garoto tem a oportunidade de mais livremente andar por ele e escutar os mestres e fazer-lhes perguntas. É nisso que ele se entretém esquecidos dos pais. Quando os pais retornam e o encontram a resposta de Jesus já denuncia sua atitude, em todo o tempo, de fazer a vontade do Pai, nos diz Lucas.

8. Maria e José não compreendem, mas são tocados por essa lembrança de a quem verdadeiramente ele pertence. Mas Jesus retoma o sentido de sua convivência familiar e dela faz também a vontade de Deus.
* nesse encontro de Jesus com a cidade o Templo, se escondem, no pensamento de Lucas, todos os processos da paixão de Jesus, desse perder e reencontrar a partir da cruz e da constante releitura da palavra de Deus.

9. Às famílias ficam algumas recomendações práticas: ajudar os filhos nesta entrada no mundo religioso, na importância da Palavra e da transmissão da fé. Há muita coisa que estamos delegando a terceiros e não estão funcionando. A compreensão de sua missão de inserirem os filhos nesse campo mais amplo da vida; eles não são propriedade, o que não tira dos filhos a obrigação de escutar os pais, de honrá-los.

10. São muitos os fatos dramáticos e quase inexplicáveis que atravessam as famílias, por isso precisamos sempre nos reaproximarmos da Palavra de Deus e sob a sua luz meditar sobre tantos eventos. Com Maria também nós colocamos nesta humilde atitude de tentar entender nesse processo desacelerador que é o meditar e o refletir que podem nos ajudar a melhor entender e agir.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 26 de dezembro de 2015


(At 6,8-10; 7,54-59; Sl 30[31]; Mt 10,17-22) 
Santo Estevão, diácono e mártir.

Passada a celebração da noite e dia de Natal, entramos no período chamado Oitavas de Natal.  Até o século oitavo era privilégio da Páscoa ser celebrada durante oito dias. Pentecostes ganhou uma oitava semelhante, devido à catequese que era feita para os neobatizados, Natal não podia ter essa pretensão. E, no entanto, a festa ganhou um oitavo dia. Este oitavo dia foi primeiramente consagrado a honrar a maternidade divina de Maria e, posteriormente, se celebrará nela a Circuncisão do Senhor.

Os três seguintes dias ao Natal eram dias de festas populares. Eram sucessivamente comemorados Santo Estevão, São João e os Santos Inocentes. Nas igrejas e mosteiros estes dias eram festejados em honra dos diáconos (Santo Estevão), dos padres (São João), dos estudantes, dos jovens clérigos (Santos Inocentes).

Nos domingos após o Natal (ou dia 30 de dezembro), celebra-se na Sagrada Família de Jesus, Maria e José o modelo da vida familiar dos cristãos. A festa foi instituída em 1921. Ligada em 1969 à oitava do Natal, viu-se provida de três séries de leituras, sendo que os evangelhos se referem à fuga para o Egito (A), à apresentação no templo (B) e ao reencontro de Jesus no Templo por Maria e José (C).

Temos ainda, no tempo do Natal, a festa da Epifania e do Batismo de Jesus. Esta última encerra o período do Natal. Juntamente com o nascimento de Jesus e a visita dos Magos ela comemora a manifestação do Salvador dos homens.

A Liturgia de hoje traz o texto dos Atos em dois momentos sintéticos: sua ação pastoral e oposição; testemunho e morte de Estevão. Ele repete a palavra de Cristo na cruz e assim se identifica com o próprio Jesus em sua absoluta atitude de confiante entrega. O evangelho quer apenas confirmar que na vida de Estevão se concretizou aquilo que o próprio Jesus havia advertidos aos seus discípulos. Assim o martírio não é um acidente, mas uma consequência do caminho escolhido, de resposta a um chamado.
                
Hoje é um dia para recordar os cristãos que estão espalhados no mundo inteiro e particularmente onde são minorias constantemente ameaçadas e cujas vidas são tiradas pela intolerância religiosa. Que Deus os fortaleça na fé, e a nós também para viver o testemunho brando em nossa realidade.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Sexta, 25 de dezembro de 2015


Natal do Senhor – Missa do dia 
(Is 52,7-10; Sl 97[98]; Hb 1,1-6; Jo 1,1-18).

Na missa da noite cantamos o nosso hino de glória a Deus nos mais alto dos céus junto com os pastores que foram até Belém ver o Menino que veio para ser Rei não em oposição a Cesar ou Herodes, mas para além deles, na humildade de um Deus que pede passagem pelas nossas casas para nascer num frio estabulo aquecido pelo calor dos pais e dos próprios seres que Ele criou. Tudo isso se envolve de mistério e beleza quando percebemos que o amor de Deus se manifesta primeiro àqueles pastores que guardam o rebanho. Se nos sentimos sós ou esquecidos, Ele nos lembra que nos tem em conta, sempre.
Mas toda essa poesia natalina abordada por Lucas fica para trás com a visão clara de João que o Natal é uma realidade do cotidiano, em cada momento que deixamos a luz de Deus entrar em nossas vidas. Pela força da Palavra, o Verbo encarnado, nossa vida se ilumina e nos tornamos aptos a combater toda espécie de escuridão que habita em nós para deixar transparecer toda beleza do criador em cada criatura que o acolhe; como fez Maria e José e se tornaram seres iluminados a iluminar tantos outros pelo caminho da vida nessa longa jornada que fazemos ao encontro de Deus, do sentido da vida, para nos reencontrarmos todos no Filho, pois por Ele e para Ele todas as coisas foram feitas. Feliz Natal, com muita luz de Jesus! 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Mensagem para o Natal de 2015


“Ora, quando os anjos os deixaram, indo para o céu, os pastores disseram entre si: ‘Vamos, pois, até Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer’. Eles foram para lá apressadamente e encontraram Maria, José e o recém-nascido deitado na manjedoura”.

Hoje nos juntamos aos pastores e vamos também nós, em meio às pressas do nosso tempo buscar ver o que o Senhor nos deu a conhecer. É mais um ano que caminhamos sob a luz da Palavra, e nos deixando iluminar vamos encontrando o significado do nosso caminhar. Encontrar a criança que perdemos com tudo aquilo que encantava a nossa vida e nos fazia caminhar com absoluta leveza. É verdade, crescemos, mas a criança segue conosco até o momento de voltarmos aos jardins eternos e podermos brincar de novo, com plena leveza diante daquele que nos criou. Tudo isso Ele nos deu a conhecer em seu Filho, que veio criança, brincou conosco e nos mostrou o caminho de volta. Um Santo e iluminado Natal, a partir de dentro de você mesmo, onde brilha a luz do Verbo que estará conosco até o fim dos tempos.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 24 de dezembro de 2015


(2Sm 7,1-5.8-12.14.16; Sl 88[89]; Lc 1,67-79) 
Missa da manhã.

A celebração do Natal traz uma série de missas, esta da manhã, uma missa da tarde, uma à noite (conhecida como missa do galo), a missa da madrugada e a missa do dia. O mesmo mistério de desdobra nessa várias celebrações destacando aspectos diferentes. 
Nesta missa da manhã ouvimos a intenção de Davi e a resposta de Deus quanto à casa que ele pretende construir para o Senhor. Na realidade a verdadeira casa já está sendo construída pelo Senhor a partir do seus cuidado e da descendência davídica que não será eliminada; em Jesus ela retoma seu brilho e se revela o verdadeiro templo de Deus, a casa por excelência: o ser humano. Enquanto isso Zacarias canta a ação divina daquele que “fez aparecer para nós uma força de salvação na casa de seu servo Davi”, ao mesmo tempo que fala do filho e sua missão que precede o sol do alto que nos veio visitar. Esse é um dos cantos de Lucas que fazem parte da nossa Liturgia das Horas. Ele está colocado na manhã por essa imagem do despertar pela visita de Deus que em Jesus quer “dirigir os nossos passos no caminho da paz”. Cantemos também nós, o Senhor está perto!


Pe. João Bosco Vieira Leite




Quarta, 23 de dezembro de 2015


(Ml 3,1-4.23-24; Sl 24[25];Lc 1,57-66) 
4ª Semana do Advento


Eis que nasce João Batista, esperado e profetizado, segundo o texto de Malaquias, como um novo Elias, como um anjo do Senhor para preparar os corações para chegada do Senhor. Em poucos dias vivemos o que levaram séculos para se realizar. É difícil ter claro e rápido todo valor e dimensão de fé que teve essa espera. João nasce envolto em mistério e seu nascimento permite ao pai Zacarias voltar a falar para pronunciar o seu nome. “O que virá a ser este menino?” Só tempo dirá. Sua vida é conduzida pelas mãos do próprio Deus até deixar de ser um sacerdote como o pai para se recolher ao deserto, envolver-se de silêncio e deixar que Deus lhe fale ao coração; por isso suas palavras saem como labaredas de uma experiência intensa. Mesmo com toda a agitação que nos cerca, é importante que busquemos um momento de recolhimento para respirarmos desse “ar de salvação” que essa Criança nos traz e deixar-se levar por esse bálsamo de misericórdia que nos vem do seu coração. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de dezembro de 2015


(1Sm 1,24-28; Sl 1Sm 2; Lc 1,46-56) 
4ª Semana do Advento

Estamos ainda no contexto da visita de Maria a Isabel. A liturgia se serve do texto de Livro de Samuel, do seu nascimento e sua consagração a Deus para ilustrar a vida do Batista; ambos nascem de uma situação de esterilidade. Tanto Ana como Isabel tem suas razões para agradecer a Deus, mas é Maria que eleva o seu canto; nele me apoiei para a reflexão de domingo de manhã, a partir de um texto de Raniero Cantalamessa que aqui resumo: Num grito de alegria, Maria projeta sua mente diretamente em Deus, acima de tudo e até de si mesma; quando somos tocados pela graça, sentimos necessidade de nos elevar acima de todas as coisas. Podemos sentir esse desejo de gratidão não por causa daquilo que nos dá, mas por causa daquilo que Deus é. Quando Maria menciona a humildade da serva que ela é não faz de si um auto reconhecimento ou elogio, mas fala da pequenez real e insignificante da criatura diante de Deus. Ela passa a contemplar a ação grandiosa de Deus em tudo que acontece, mas nem por isso esta distância infinita a esmaga porque ela está cheia da misericórdia e da condescendência de Deus; Deus se inclina por ternura, como faz um pai, para que esta pequenez seja reconhecida e aceita na verdade. A humildade evangélica é um modo de ser diante de Deus, mais do que o modo de ser diante de nós mesmos e dos outros. A voz da mãe quase se confunde com a do Filho quando censura aqueles que se sentem saciados seja pelo poder, pela riqueza, ou por sua posição ou conduta, numa palavra, consigo mesmos. De olho na justiça divina, esses famintos de justiça procuram fazer o possível para cumprir a vontade do Pai e para procurar o alimento material se têm necessidade também deste. Mesmo com toda essa humildade reconhecida, ela sabe e reconhece porque todos os povos a bendirão. Tudo o que ela canta e diz é sobre Deus e seu estilo de agir; a chave de compreensão de tudo isso está na declaração de Isabel: Bem aventurada aquela que acreditou. A fé está na origem de todas as outras bem aventuranças. Crer é confiar em Deus sem “ver”, isto é, sem compreender tudo e logo aquilo que estava acontecendo e onde isso acabaria.  É esse processo que vive Maria.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 21 de dezembro de 2015


(Ct 2,8-14; Sl 32[33]; Lc 1,39-45) 
4ª Semana do Advento.

A liturgia se serve de texto de Cântico dos Cânticos para falar dessa proximidade do amado: “Tu vens, tu vens, eu já escuto os teus sinais...”. Ao mesmo tempo somos chamados a nos colocarmo-nos nessa atitude de busca e desejo que possibilita o encontro. Talvez o texto esteja mais relacionado ao encontro de Jesus e João Batista, ainda no seio de suas respectivas mães e vivem com elas a alegria do encontro. Tiremos todo contexto de atração homem e mulher e restará somente o amor que atrai e que completa.

O evangelho é o desse domingo. Maria saúda Isabel e das palavras da Virgem um aglomerado de sentimentos se manifesta. Isabel também fica cheia do Espírito e por meio Dele exalta Maria, a bem-aventurada porque acreditou. Na ação inspiradora do próprio Espírito, Maria descobre que deveria ir ao encontro de sua prima anciã da qual Deus libertou da dor de não poder gerar. É o amor que a leva, no seu dia a dia, a escutar o próprio Deus e se deixar mover numa obediência da fé. Peçamos também a graça de nos deixarmos envolver por essa atitude amorosa de escuta para que saibamos responder positivamente às suas inspirações. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo do Advento – Ano C


(Mq 5,1-4a; Hb 10,5-10; Lc 1,39-48).

1. Miqueias é mais um desses profetas do Antigo Testamento que tem que lidar, a mando de Deus, com toda a mudança de direção de Israel dos caminhos do Senhor; ele anuncia a intervenção de Deus com um novo nascimento; humilde, como sempre foi a ação divina para mostrar o poder de Deus através da fragilidade humana.

2. O pequeno texto que nos é oferecido é um retrato perfeito de tudo aquilo que se tornou Jesus para o novo povo de Deus. Ele porta consigo a paz e todo aquele que segue sua proposta de vida encontrará a paz. Sua missão é trazer de volta ao coração de Deus aquele que dele se afastou.

3. A novidade introduzida por Cristo, para que o homem encontre a paz seguia pelos caminhos do perdão, da não violência e da renúncia ao acúmulo de bens materiais. Mas há algo mais precioso ainda que o autor da carta aos hebreus traz à tona. O dom maior da nossa comunhão com Deus é o dom de si mesmo.

4. Numa época em que ainda se oferecia sacrifícios no Templo, seja para reparação dos pecados ou por agradecimento, ele aponta para algo mais precioso e comprometedor. Muito do nosso culto a Deus corre sempre o risco de ficar na exterioridade de coisas que fazemos, sem uma autêntica adesão à vontade de Deus.

5. Se Cristo veio para fazer a vontade de Deus, sua mãe não poderia comungar de outro desejo. O texto que Lucas nos oferece é uma narrativa teológica, não um simples dia na vida de Maria de Nazaré. A saudação de Paz que Maria traz em seus lábios, conforme a tradição judaica, soa como a realização de uma antiga promessa, por isso Lucas enche seu texto de reações emocionais.

6. O diálogo entre as duas mulheres foi pinçado pelo autor de textos do Antigo Testamento, Juízes, Judite, 2 Samuel etc. Trazem o selo de um Deus que realiza grandes coisas a partir de frágeis instrumentos.  Maria não é só símbolo de um frágil instrumento, ela é também a casa onde Deus habita de um modo particular, para sinalizar um novo âmbito das relações. Chega de tendas e templos.

7. Esse é o único domingo da liturgia em que Maria é colocada no centro; mesmo quando celebramos a Assunção é apenas um deslocamento de data. É um domingo envolvido na alegria daqueles que descobriram na escuta da Palavra de Deus sua fonte de alegria e de esperança, por isso é chamada de “Bem-aventurada”.

8. Acreditar nunca foi fácil, particularmente quando se vai na contra mão de uma sociedade decadente em seus valores, insistindo na construção da paz, da não violência, do não vingar-se. Maria nos deixa a vivência e o convite a também acreditarmos na palavra de Deus. A celebração do Natal pode ser um encontro de pessoas que dão um pouco de si para aliviar o peso da vida.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de dezembro de 2015


(Jz 13,2-7.24-25; Sl 70[71]; Lc 1,5-25) 
3ª Semana do Advento.

A liturgia de hoje anuncia o nascimento do Precursor ilustrado pelo nascimento de Sansão no Antigo Testamento, o paralelismo é evidente por serem casos extraordinários de esterilidade e velhice, neles agem o Deus do impossível. Ambos têm uma clara missão, mas dos nascidos de mulher “ninguém foi maior que João Batista” dirá Jesus do seu precursor.  A nota dissonante da narrativa é a dúvida de Zacarias que é “punida” com o silêncio, diferente de Maria que queria entender o processo.  Nesta manhã podemos contemplar o maravilhoso quadro que Deus vai pintando para introduzir Jesus em nossa história (e Lucas é um verdadeiro artista em seu modo de narrar), acreditando que na nossa própria história pessoal, vários elementos e pessoas foram e vão se somando para revelar a ação de Deus junto a nós.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 18 de dezembro de 2015


(Jr 23,5-8; Sl 71[72]; Mt 1,18-24) 
3ª Semana do Advento

A profecia de Jeremias sobre o descendente da casa de Davi, que aqui lemos como o Messias, será encarregado de uma nova etapa do povo de Deus: reconduzir. Dessa palavra compreendemos bem o ministério de Jesus como bom Pastor, cuja tarefa ele mesmo identificará como resgate de muitos. Reconduzir ao Pai as ovelhas desgarradas, a outras revelar o Seu amor.

Deus envia seu anjo para conduzir o coração de José a uma atitude justa com relação a Maria. Na vida, são muitas as situações que nos levam a refletir sobre o que é justo e sobre o que seria sensato fazer em dado momento. Todos nós precisamos de uma luz a mais que vem do próprio Espírito de Deus ou de um desses “anjos” que atravessam a nossa estrada. A um ou a outro, é importante prestar ouvido. Escuta Israel! 

“A gravidez fora do casamento era punida com a morte por apedrejamento. José era um homem justo, mas não obedece a lei cegamente. Ele procura coadunar a justiça com a misericórdia. Esse é um assunto de maior importância para Mateus. Se José visasse apenas o cumprimento da lei, deveria ter entregue Maria à execração pública. Mas ele não quer fazer justiça à lei, e sim ao ser humano”.  (“Jesus, Mestre da salvação” - Anselm Grun, Edições Loyola).

                         

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 17 de dezembro de 2015


(Gn 49,2.8-10; Sl 71[72]; Mt 1,1-17) 
3ª Semana do Advento

Entramos na etapa imediata de preparação ao Natal a partir de textos selecionados do Antigo Testamento e textos do Novo testamento que falam diretamente do nascimento de Jesus. A primeira leitura remonta à bênção dada por Jacó a seu filho Judá. Da tribo de Judá descenderá Davi e José o pai adotivo de Jesus: “O cetro não será tirado de Judá, nem o bastão de comando dentre seus pés, até que venha aquele a quem pertencem e a quem obedecerão os povos”. É Jesus, o filho de Davi, o Rei de Israel. Eis a leitura que fazemos do texto.

Mateus está preocupado em afirmar a descendência judaica de Jesus e abre seu evangelho com essa genealogia. Veja que ele fala em origem (Gênesis), Deus está criando um novo começo. Na sua visão universalista, ele insere o nome de quatro mulheres estrangeiras nessa sua genealogia. Podemos perceber no texto que ao nome masculino é atribuída a geração: “Jacó gerou José”, mas no caso de Jesus, nasceu de Maria, deixando claro a sua virgindade e a diferença desse nascimento com relação aos anteriores.

“Mateus construiu a árvore genealógica com muita arte: são três vezes catorze gerações. Trata-se de dois números simbólicos. Três é o número da perfeição. Catorze é o número da cura e da transformação. Na Babilônia havia catorze deuses propícios. Com o seu nascimento, Jesus libertou a humanidade de sua desintegração, para integrá-la. Entrando nesse mundo, ele recuperou a história humana que, muitas vezes, se transforma em história desastrosa. Os três grupos de catorze marcam o auge da história da salvação em Davi; o seu ponto mais baixo ocorre no exílio; e ela se cumpre, finalmente com a vinda de Jesus. Todos os altos e baixos da história de Israel são percorridos e transformados por Jesus”. ( “Jesus, Mestre da salvação” - Anselm Grun, Edições Loyola).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de dezembro de 2015


(Is 45,6-8.18.21-25; Sl 84[85]; Lc 7,19-23) 
3ª Semana do Advento

Isaías nos traz a afirmação da soberania de Deus enfatizando a criação e a força de sua Palavra criadora, na realidade a liturgia faz uma leitura desse orvalho que desce sobre a terra com a própria vinda de Cristo: discreta e eficaz, capaz de trazer vida ao solo ressequido; como diz o canto: “que as nuvens chovam o Salvador” e o nosso coração se renove pela força de sua Palavra.

A última citação sobre João Batista, antes de entrarmos nesse período que antecede o Natal com textos mais específicos. O próprio João Batista ficou embaraçado com a “performance” de Jesus. Ele esperava um Messias mais severo, de acordo com a sua própria pregação. Jesus mostra o Reino acontecendo por suas mãos, a vida sendo restaurada e renovada. Entender Deus nunca foi fácil. Feliz daquele que consegue ler o seu agir inusitado e perceber seus passos entre nós. Se foi difícil para João, mais ainda para nós que não assistimos essa “revolução” da criação. Pensar Deus exige sempre uma flexibilidade de nossa parte...


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de dezembro de 2015


(Sf 3,1-2.9-13; Sl 33[34]; Mt 21,28-32) 
3ª Semana do Advento

O texto de Sofonias que nos é oferecido faz menção a “um punhado de homens humildes e pobres” que será ‘conservado’ por Deus depois dos desmandos e castigos sofrido por Israel. É do meio desses pobres que descenderá Maria no futuro, acreditamos, pela sua humilde condição social e religiosa de profunda dependência e escuta do Senhor. Isso nos leva a compreender o seu canto e o seu trato nas relações com Isabel e com o próprio Filho. Deus é aquele capaz de sempre aproveitar o que de melhor existe entre nós, mesmo quando aparentemente tudo parece perdido.

O evangelho é mais uma referência a João Batista. Jesus “joga na cara” dos chefes dos sacerdotes a sua incapacidade de acolher Jesus e de se converter. Os publicanos e as prostitutas, o que de pior poderia se pensar na época, ouviram a João e mudaram de vida e eles não deram a mínima a esse pregador, provavelmente julgando-se não necessitados de conversão e não crendo que ele viesse de Deus. Por vezes não nos damos conta, fechados em nosso mundinho, da necessidade de rever certos elementos de nossa caminhada, de nos deixar questionar para desacomodar, para mudanças significativas. Qual dos filhos somos?  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 14 de dezembro de 2015


(Nm 24,2-7.15-17; Sl 24[25]; Mt 21,23-27) São João da Cruz, presbítero e doutor.

A liturgia se serve de uma profecia do livro dos números, se bem que Balaão é apenas um vidente do qual Deus se serve para lançar um olhar positivo sobre Israel, manifestação dos cuidados divinos e se acrescenta em sua profecia um olhar para uma estrela que provavelmente remete à dinastia davídica e que por tabela nos levará ao Messias. Em síntese, um olhar de esperança, daqueles que nos fazem crer e esperar pelas promessas divinas.
O texto do evangelho quer inserir um pouco mais a figura de João Batista no contexto do Advento. Jesus se aproveita da influência que a pregação e ação de João teve sobre o povo para desarmar os sacerdotes e os anciãos que colocavam em cheque a autoridade de Jesus. O fato de não saberem responder a pergunta de Jesus os coloca na delicada posição de não assumir a verdade do próprio modo de ver as coisas para adequar-se as conveniências que os tiram de certos riscos. Para Jesus, João é mais que um mero profeta, é aquele que lhe preparou o caminho. O povo reconhece a autoridade de João e a Sua e isto lhe basta.
Não nos pode passar despercebida essa memória obrigatória dentro do Advento de São João da Cruz; foi o grande místico e reformador do Carmelo, sofrendo muito no seu intento; encontrou em Teresa de Ávila a santa companheira de ideal e inspiradora do seu projeto. No tempo de sua prisão compõe as primeiras poesias que o colocarão entre os maiores autores da literatura espanhola.  Suas obras são um verdadeiro tratado da vida mística dando-lhe o título de doutor da Igreja.



Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo do Advento – Ano C


(Sf 3,14-18a; Fl 4,4-7; Lc 3,10-18)

1. A 1ª leitura e a 2ª são convites a alegria. A liturgia nos convida a alegrar-nos porque a festa do Natal já está próxima, mas a verdadeira alegria é saber que Deus caminha conosco e manifesta a sua misericórdia. Nesse sentido podemos ler o texto de Sofonias, que tem ao início do seu livro uma ameaça divina aos desmandos de Israel.
2. Não que Israel tenha mudado significativamente de atitude, mas porque o amor de Deus tem a vitória sobre o mal que se tinha instalado. Assim o texto se coloca no contexto da vinda de Cristo como um ato de amor do próprio Deus que em todas circunstâncias só deseja uma coisa: salvar o homem. Como não alegrar-se?
3. A carta aos filipenses é conhecida como um hino a alegria, tanto é o convite a alegrar-se que se espalha pela carta. O motivo é obvio: a proximidade de Deus.   O texto é dúbio, pois originalmente ele se remete à vinda última de Cristo, enquanto a liturgia se utiliza do mesmo pela proximidade do Natal e ao mesmo tempo de uma real e contínua presença ao nosso lado.
4. A alegria cristã não significa que tudo vá bem, que a saúde está perfeita, que nada nos falta, que não temos preocupações... nada disso. Paulo quer que tenhamos a certeza de que Deus caminha conosco, que não nos deixemos tomar pelo desespero, pela ansiedade ou angústia, mas aprendamos a partilhá-las com o próprio Senhor, que está perto.
5. Se a pregação de Sofonias comportava ameaças, a pregação de João Batista não era diferente, preparando a chegada do Messias. Mas ameaças em si não mudam as pessoas pela simples dinâmica do medo. São as atitudes os grandes indicadores de mudanças.
6. Para isso as pessoas buscam em João conselhos práticos para viver esse tempo de espera. O texto identifica três categorias que o buscam. Ao povo, de um modo geral, ensina que a partilha é o melhor caminho para acolher a mensagem de Jesus, e muitos o fazem de maneiras bem diversas e criativas a partir da própria realidade.
7. Os cobradores de impostos sabem bem aonde devem mudar em suas atitudes, pois sempre tiram mais que o necessário do povo. Essas categorias nunca deixaram de existir, a esperteza, a vantagem, são atitudes que não só nos afastam de Deus por explorar e enganar o outro, mas que levam um país a falência.
8. Por último aparecem os soldados, um mal necessário para manter a ordem, já que Jesus é contra toda forma de violência. Tudo indica que os maus salários os conduziam a certas atitudes ilícitas. Eles representam toda forma de abuso pela posição ocupada. João convida a rever tal atitude.
9. Todas as indicações tocam o âmago das nossas relações com Deus e com o próximo. João não fala de sacrifícios no templo ou severas penitências. O caminho da verdadeira conversão passa pelas mudanças significativas. Passado o momento dos conselhos, João retoma o tom severo de sua pregação, a qual Lucas chama de boa nova.
10. Lucas não vê castigos no que diz João, mas uma renovação pelo Espírito, na vida daqueles que verdadeiramente acolheram o Messias. A verdadeira alegria brota de um coração que sabe ter feito o que deveria fazer, criando um caminho sempre mais amplo para sua comunhão com Deus. Preparemo-nos também para acolher o Senhor.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de dezembro de 2015


(Gl 4,4-7; Sl 95[96]; Lc 1,39-47) 
N. Sra. De Guadalupe

Dentro da nossa caminhada para o Natal, a Igreja celebra mais uma festa mariana. Recordamos suas aparições ao índio Juan Diego e seu desejo de se fazer presente ao lado dos “pequenos” do Reino. Paulo recorda esse momento de plenitude da história em que Jesus entra em nossa história mudando completamente nossas relações com Deus: agora somos filhos e herdeiros da vida divina. Dessa vida divina, experimentou por primeiro a Virgem Maria encontrando em si as ressonâncias do Espírito que a levam à casa de Isabel na tentativa de auxiliar sua prima. As duas mergulham no mistério de Deus e no reconhecimento da ação divina em favor do ser humano. Quando as palavras não são suficientes, Maria eleva um hino de louvor e reconhecimento.

“O cântico de Maria é o mais velho cântico do Advento. Ao mesmo tempo, é o cântico de Advento mais apaixonado, mais selvagem, quase diríamos: o mais revolucionário que já foi cantado. Nele não transparece aquela Maria doce e sonhadora das imagens correntes, mas uma Maria apaixonada, comprometida, entusiasta e audaz. Nada daqueles acordes melífluos e melancólicos de muitos cânticos natalinos; porém um cântico duro, forte e implacável contra tronos que se desmoronam e senhores que se abatem. É o cântico do poder de Deus e da impotências dos homens”. (D. Bonhoeffer). 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 11 de dezembro de 2015


(Is 48,17-19; Sl 01; Mt 11,16-19)
2ª Semana do Advento

Os dois textos da nossa liturgia se unem numa espécie de lamento. Isaias dá voz ao Deus que sempre ensinou coisas úteis para conduzir o seu povo à salvação. Caminhos de sabedoria e paz que teriam ressonâcias para o futuro. A espiritualidade do povo de Deus foi construída sob a atitude de contínua escuta. Jesus acrescentará que não basta escutar, é preciso praticar. Por isso Jesus compara seus contemporâneos a crianças “birrentas” as quais nenhuma brincadeira satisfaz. A “brincadeira” a que Jesus faz referência diz respeito ao modo como veio João Batista, em sua austeridade e como veio Jesus, em sua ternura e humanidade. Dois tempos diferentes que se complementam. Quando nada satisfaz fica clara a nosso indisposição para a conversão, para entrar no “jogo” de se deixar conduzir por Deus. Estamos sempre reclamando de algo, murmurando como eternos insatisfeitos. Teria Deus alguma razão para lamentar-se comigo?


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 10 de dezembro de 2015


(Is 41,13-20; Sl 144[145]; Mt 11,11-15) 
2ª Semana do Advento

O profeta segue numa visão bastante bela e surpreendente da ação de Deus de modo forte e caloroso que faz o aparentemente insignificante um poderoso carro de batalha. Talvez o profeta esteja se referindo as conquistas de Israel. O texto traz imagens antigas da travessia pelo deserto para anunciar um novo êxodo. Em todas as situações da história o homem é chamado a reconhecer, pela fé, a ação de Deus que supera o simples ato de criar, Ele quer salvar.
No domingo anterior foi nos apresentada a figura do Batista, recolhemos de Mateus um elogio do próprio Jesus. “Nenhuma figura bíblica, a não ser Maria, aparece com tanta freqüência no calendário litúrgico como João Batista, filho de Isabel e Zacarias. Seu nascimento é celebrado com uma Eucaristia na véspera, do dia 23 de junho, e com uma missa própria no dia seguinte. No dia 20 de agosto, a Igreja celebra o seu martírio. Mas será no Advento que sua presença será mais notada. No segundo domingo, o Batista, falando em nome do Senhor, nos indica o caminho do retorno à alegria e à luz. E para isto, ele nos propõe a Conversão da mente e do coração. Ele nos convida a esperar na oração e com humildade aquele ‘que vai limpar a eira e recolher seu trigo no celeiro’ (Evangelho do Ciclo A – Mt 3,1-12). João prega a penitência, a renúncia a toda sorte de maldade e injustiça... Sua vida no deserto, a austeridade no vestir e a maneira parca de alimentar fazem dele a testemunha qualificada da única alegria. João apaga-se diante de Cristo afirmando: ‘Depois de mim vem o mais forte do que eu. Não sou digno de, abaixando-me, desamarrar a correia a correia das sandálias dele’ (Evangelho do Ciclo B – Mc 1,1-8). João não constrói nada para si mesmo, quer somente prepara os caminhos do Senhor. O próprio Deus o quer Precursor e prepara-o para isto. Desempenhando plenamente a sua missão de indicar o cordeiro de Deus, já presente entre os homens, João Batista  é feliz, muito feliz. Considera-se amigo de Cristo: ‘Aquele que tem a esposa é o esposo. O amigo do esposo, porém, que está presente, e o ouve, regozija-se sobretudo com a voz do esposo. Nisto consiste a minha alegria, que agora é completa’ (Jo, 3,29)”. (Pe. Joviano)



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 9 de dezembro de 2015


(Is 40,25-31; Sl 102[103]; Mt 11,28-30) 
2ª Semana do Advento

É de uma delicada beleza esse texto de Isaias. Nos fala de como Deus está atento a tudo que nos acontece e a tudo fez com sabedoria. Ao final ele diz que os que n’Ele esperam renovam as suas forças. Penso que esse é um desejo de cada dia, dado ao peso das preocupações e os desgastes da vida moderna; mas ao final do ano, mesmo empolgados com as festas e as possíveis férias e viagens, o cansaço pode sempre aumentar. Esperar em Deus implica não se deixar levar pelo redemoinho das tantas coisas e aprender a descansar no coração do próprio Deus. Uma oração, um momento de meditação, uma pausa para respirar com alguma frase do evangelho do dia, mergulhar na letra de uma canção religiosa... é como um sopro de vida nova, pelo Espírito em nosso próprio espírito.
Acolhamos o convite de Jesus nesse dia, para não esquecer d’Ele e nele reencontrar-nos em nossa condição de Filhos amados. Deus cuida de nós. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 8 de dezembro



Imaculada Conceição de Maria 
(Gn 3,9-15.20; Sl 97[96]; Ef 1,3-6.11-12; Lc 1,26-38)

1. Esse ano a festa da Imaculada se dá sob o chamado do Papa Francisco a vivenciarmos esse Ano Santo extraordinário da misericórdia.
* Dois motivos se escondem por trás desta data: primeiramente o encerramento do Concílio Vaticano II em 1965; um abrir-se da Igreja para as novas realidades do mundo moderno; manter o diálogo e renovar as estruturas evangelizadoras e ao mesmo tempo motivar a continuidade desse processo iniciado com o Concílio.

2. Mas a celebração da Imaculada Conceição de Maria é, para nós cristãos, o início da realização das promessas divinas, onde a misericórdia de Deus se manifestou após o pecado humano.
* O autor do Gn quis deixar para nós, através de uma narrativa simbólica, como Deus, desde sempre vem em busca do homem, manifestando o seu amor incansável.

3. O autor sagrado quis lançar luzes sobre várias questões da existência humana, das relações e da sobrevivência. É um texto que vale a pena debruçar-se como reflexão e estudo.
* O trecho que nos é oferecido vem depois do pecado de Adão e Eva, da não aceitação dos seus próprios limites. Eles queriam ser como Deus.

4. A serpente personaliza a insensatez humana, as astúcias que o homem emprega para alcançar a felicidade. Em síntese, diz ele, erramos cada vez que rejeitamos a luz divina para seguir nossos caprichos.
* Enquanto não nos desfizermos dessa imagem do Deus legislador para entendê-lo como Deus amor, não compreenderemos seus mandamentos.  Só se pode confiar em Deus se estivermos convencidos do seu amor.

5. Caso contrário, tornamo-nos vítima da serpente: confiamos em nossas próprias intuições, nos nossos vãos pensamentos. A nudez é apenas símbolo de nossa condição criatural e natural que devemos aceitar.
* Desses processes humanos da fome, da dor, do cansaço, da ignorância sobre tantas coisas.  Se não aceitamos, buscamos esconder o que nos parece uma derrota.

6. A pergunta de Deus “onde estás?” é sempre atual. Pode ser que nesse momento eu não esteja onde deveria estar. Talvez fechado em meu mundinho, Deus e os outros me são indiferentes ou uma ameaça.
* A proposta de Deus, diz o autor sagrado, é colocar-nos em luta contra tudo aquilo que nos afasta da proposta divina, a vitória será de Deus, ao final; o texto nos lança ao coração do evangelho.

7. Essa vitória de Deus é cantada por Paulo já na 2ª leitura. Ele fala da nossa vocação a sermos santos e irrepreensíveis; algumas traduções trazem: imaculados.
* É sob esse título que invocamos o nome de Maria nesse dia. No projeto divino ela foi a escolhida para ser um sinal do triunfo de Deus sobre o mal.

8. Na totalidade de sua existência, suas escolhas sempre estiveram em sintonia com as de Deus. É justa a alegria de Paulo, pelos inúmeros benefícios já concedidos e por aqueles que ainda concederá.
* Sim, é verdade que às vezes a vitória em nossa vida é da serpente, são muitos os dramas e sofrimentos nessa vida, mas suas mãos criadoras ainda tecem os fios da história e nos conduzirá a vitória final.

9. Esse ano da Misericórdia tem Lucas como o grande ilustrador do rosto misericordioso do Pai em Jesus Cristo. Ele se inspira nas antigas narrativas de nascimentos extraordinários para nos dizer como Jesus entrou em nossa história.
* É Deus que mais uma vez intervém para mudar o curso, mas diferentemente das outras vezes, é seu Filho mesmo que Ele vai nos enviar.

10. Ele gosta de surpreender, e nunca se repete. Longe dos palácios reais, dos grandes heróis de Israel, ele escolhe uma virgem de um pobre e insignificante vilarejo.
* pobreza e virgindade, aqui, significam abertura, capacidade de acolhimento. Lucas terá uma predileção pelo pobre material, mas contempla também aquele que nada tem ou se esvazia para deixar-se inundar pela graça.

11. O diálogo entre Maria está repleto de referências ao Antigo Testamento, e não vou aqui entrar em detalhes. A intenção de Lucas é deixar claro que no filho de Maria, todas as profecias se realizam.
* Tudo converge para a santidade do Filho que trará em seu ventre, mas como ser inundada de santidade e não tornar-se também santa?

12. O hino de Paulo ganha aqui sua primeira fonte inspiradora. Antes mesmo de ter todas as respostas, ela resolveu confiar naquilo que Deus é capaz de fazer: “Porque para Deus nada é impossível...”.
* Maria é esse sinal de vitória que hoje celebramos. Mesmo em nossa pobreza, medo, pecados, incertezas, ele continua sendo o Deus do impossível, o Deus que nos procura: “Onde estás?”.



Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 7 de dezembro de 2015


(Is 35,1-10; Sl 84[85]; Lc 5,17-26) 
Santo Ambrósio, doutor e bispo.

“A solenidade da Imaculada Conceição é precedida pela memória obrigatória de Santo Ambrósio, um dos grandes doutores da Igreja e bispo de Milão, de onde se originou um rito litúrgico aprovado por Roma, o Rito Ambrosiano ou Milanês. Ambrósio compôs vários hinos para esse rito. O dia 7 de dezembro marca sua ordenação episcopal, aclamada pelo povo de Milão. Lutou contra o paganismo, o arianismo e a degradação social. Sempre preocupado em atender os pobres. Santo Agostinho se converteu diante de sua pregação e pelas suas mãos tornou-se cristão, recebendo o sacramento do Batismo. As orações trazem como temário: a função do pastor, a fidelidade aos ensinamentos do santo celebrado, a coragem em percorrer os caminhos do Senhor.” (“O Ciclo do Natal” – Bruno Carneiro Lira – Paulinas).
Esta segunda semana do advento segue com a entusiasta voz do profeta Isaias na sua maravilhosa visão dos tempos novos. Tempo que certamente ele não experimentou, mas suscitou como esperança no coração dos seus ouvintes, assim valeria a pena continuar caminhando nos caminhos do Senhor esperando a plena realização de suas promessas, mesmo sabendo que nas palavras do profeta havia muita poesia. Jesus age de modo mais concreto, imediato e maravilhoso. Ele contempla a fé daqueles homens que descem um paralítico pelo telhado. O texto é claro no olhar de Jesus para a fé desses homens, não tanto do paralítico. Nas palavras de Jesus se encontram aquilo que fundamentalmente restaura o ser humano, o perdão de Deus para os seus erros, pois sabendo-se perdoado é possível retomar o caminho, ser novamente criado. Mas Jesus vai além, para encantar os olhares dos que estão ali: ele restaura a saúde física daquele homem.
Muitos dependem, no caminho da fé, de alguns outros que insistem em levá-los ao encontro com Deus para serem curados de suas mazelas. Isso exige paciência e perseverança para ver o encontro acontecer. Hoje podemos rezar por tantos irmãos e irmãs que se dedicam a esse difícil serviço da fé, de conduzir outros ao próprio Jesus, porque acreditam na sua capacidade de realizar algo novo na vida dos que se encontram debilitados no corpo ou na alma. Com certeza isso é uma obra de misericórdia.

Pe. João Bosco Vieira Leite

2º Domingo do Advento – Ano C


(Br 5,1-9; Sl 125[126]; Fl 1,4-6.8-11).

1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse cenário descrito pelo profeta Baruc do retorno dos expatriados a Jerusalém, a quem compara com uma viúva. Ela é convidada a abandonar a viuvez e revestir-se de alegria e beleza, pois Deus está agindo com misericórdia e reconduzindo-a a glória passada.

2. O texto, cheio de nuances poéticas, quer nos servir de ilustração ao evangelho que nos apresenta a figura do Batista e seu convite a aplainar os caminhos para preparar a vinda do Senhor. Talvez possamos ler o texto do profeta como um convite a renovar nossa esperança, ao celebrar a vinda do Senhor. Há um tempo de tristeza, mas a alegria voltará lembra o salmista.

3. Esse otimismo da 1ª leitura escorre para a 2ª leitura nesse agradecimento a Deus que Paulo faz pela comunidade de Filipos, reconhecendo o quanto cresceram na fé. Como o caminho da fé é sempre progressivo, ele pede a Deus que eles cresçam sempre mais; como vimos no domingo anterior, ao Senhor se espera agindo da melhor maneira possível.

4. Lucas precisa para nós como era o ambiente político/religioso em que Jesus começou o seu ministério. Ele quer deixar claro a veracidade de sua narrativa e a intervenção de Deus em nossa história. Podemos dizer que a verdadeira fé se insere nas realidades humanas sejam elas quais forem, para transformar essa realidade.

5. É dentro dessa solene introdução que ele nos apresenta o Batista, o último dos grandes profetas. Depois de um longo silêncio, Deus volta a falar, no momento oportuno. Ele aparece no deserto, um lugar geográfico, mas principalmente simbólico, onde Israel viveu experiências profundas com Deus; é quase um desejo de revivê-las, pois a realidade político/religiosa em que vivem necessita de renovação, por isso vão ao deserto.

6. Lucas, diferentemente de Mateus não nos dá detalhes da figura estranha que poderia ser João Batista nos seus hábitos, sua única preocupação é a mensagem que ele traz. A voz que grita no deserto fala da chegada do Messias e da preparação necessária para acolhê-lo.

7. As margens do Jordão foram um marco para a entrada do povo na terra prometida. A partir de Jesus, uma nova travessia deverá ser feita, novos caminhos deverão ser percorridos e outros refeitos a partir dos corações que o acolherem. Eis o esforço necessário, em meios as distrações que nos rodeiam, de aproveitar cada momento litúrgico para renovar a nossa fé e celebrar essas constantes vindas do Senhor em nossa vida e em nossa história.

8. Todos os anos João nos lembra como devemos nos preparar para o Natal do Senhor com uma nota um tanto séria. Em que caminho tortuoso me meti? Que “vale” está me separando dos irmãos ou da família? Lucas encerra com uma nota também positiva: a salvação de Deus é para todos: corramos ao seu encontro. Qual será o lugar simbólico para ouvir sua palavra?






Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 5 de dezembro de 2015

(Is 30,19-21.23-26; Sl 146[147A]; Mt 9,35—10,6-8) 
1ª Semana do Advento.

O tempo do Advento como expectativa, chama o cristão a vivê-lo em plenitude para poder receber dignamente o Senhor no momento em que vier. Isso requer algumas atitudes interiores: Manter-se vigilante, na fé e oração, reconhecendo os “sinais” da Vinda do Senhor em todas as circunstâncias e momentos da vida até o fim dos tempos; Tentar sempre andar nos caminhos traçados por Deus, numa atitude contínua de conversão; Testemunhar a alegria trazida por Jesus pela vivência da caridade; Manter um coração pobre e vazio de si, para reconhecer em Jesus o Filho de Deus que veio salvar o mundo.
                Essa breve catequese litúrgica sobre o Advento deve nos ajudar a situar-nos nesse período em que a Igreja nos convida a tomar consciência dessa vinda de Cristo e ao mesmo tempo reacender o desejo e a esperança. Por isso o profeta Isaias nos acompanha como 1ª leitura nessa primeira fase do advento repleto de promessas ao seu povo traduzidas em imagens fantásticas. Se é Jesus o realizador das promessas proféticas, suas ações, de modo geral, não eram um espetáculo, mas uma ação misericordiosa a partir das necessidades dos que encontravam pelo caminho. Seu agir não tinha nada de anormal, tanto que associava a si todos aqueles que nele creem.  O Reino acontece também pelas mãos dos seus discípulos. Se acreditarmos que qualquer gesto ou palavra nossa, por menor que seja, realizado na fé, é capaz de trazer de volta a esperança a alguém.  “De graça recebestes, de graça deveis dar!”.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 4 de dezembro de 2015

(Is 29,17-24; Sl 26[27]; Mt 9,27-31) 
1ª Semana do Advento

O tempo litúrgico do Advento renova, na comunidade, o dinamismo da fé e suscita esperança na busca do Reino de Deus. Pertence à longa tradição da Igreja, tanto no Oriente como no Ocidente, preparar o Natal de Cristo, abrindo o livro das Escrituras. Na Bíblia, ela encontra as promessas messiânicas sobre o futuro de Israel e da humanidade. Nas amarguras do exílio brotou, com força, na consciência do povo de Israel, a imagem do Reino de Deus trazendo a salvação para toda a humanidade. Hoje, também, o Advento acorda nas comunidades o compromisso de fidelidade ao Reino inaugurado, na terra, pela presença e pregação de Jesus de Nazaré.
Dessas indicações acima sobre o tempo do Advento podemos acolher a palavra que Deus hoje nos dirige pelo profeta. Ele continua a sonhar e a esperar essa salvação de Deus que se dará num tempo futuro pela presença e ação do Messias de Deus, para “casar” com o evangelho, o nosso texto fala da recuperação da vista, “os olhos dos cegos verão no meio das trevas e das sombras”. Dois cegam buscam Jesus e pede-lhe a cura da cegueira. Jesus quer ter a certeza que eles acreditam nessa capacidade de Jesus de curá-los. Eles disseram que sim e foi feito conforme a fé de ambos.
                Aos pouco o tema da luz é introduzido em nossa liturgia do Advento. Aquele que afirmou ser “a luz do mundo” nos oferece, por sua palavra, a possibilidade de enxergar em meio a escuridão que nos rodeia. As primeiras sombras estão dentro de nós mesmos, as outras ao nosso redor. Se acreditamos que Jesus pode fazer isso por nós, a consequência é debruçarmo-nos sobre sua Palavra e deixar-nos iluminar.  Pode ser que precisemos recuperar nossa esperança, nossa dignidade, nossa consciência de sermos filhos de Deus...


Pe. João Bosco Vieira Leite