Segunda, 30 de novembro de 2015

(Rm 10,9-18; Sl 18[19A]; Mt 4,18-22) 
Santo André, apóstolo.
Neste último dia do mês, a Igreja festeja Santo André, o primeiro apóstolo a ser chamado por Cristo juntamente com João, ambos eram discípulos de João Batista. É por André que se chega a Pedro. Talvez aqui possamos compreender o discurso de Paulo ao falar da necessidade da pregação para suscitar a fé em Jesus. Segundo uma antiga tradição teria sido crucificado numa cruz em forma de “X”, e por isso chamada de cruz de Santo André. “Durante a vida pública de Jesus, ele viveu quase à sombra do irmão, file e silencioso ‘operário da vinha’, sem outra pretensão que a de ser útil e sem pedir, depois de Pentecostes, uma posição diretiva, em razão de ter sido o primeiro a se pôr no seguimento do Mestre” (Os Santos e os Beatos – Mario Sgarbosa – Paulinas).
O evangelho de Mateus, diferentemente de João coloca o chamado de Pedro e André por primeiro, de qualquer forma veremos sempre os nomes dos dois caminharem juntos na nomeação dos doze. Jesus dá preferência a esses pacientes e insistentes pescadores como os primeiros a partilharem de seu incansável amor pela humanidade, passando junto com Ele, “nas ruas e praças de um mundo sem graça e de paz tão mendigo” (Pe. Zezinho). É o eterno convite de Jesus a nos comprometermos em seu seguimento apaixonado.

Domingo, 1º Domingo do Advento – ano C

(Jr 33,14-16; Sl 21[25]; 1Ts 3,12—4,2; Lc 21,25-28.34-36)

1. Estamos iniciando um novo ano litúrgico e seremos acompanhados pelo evangelista Lucas. Quando tudo parece estar caminhando para o seu final, estamos apenas recomeçando. O profeta Jeremias se dirige ao povo que retorna do exílio  e deve reconstruir sua cidade; os trabalhos seguem lentos e o desânimo se apodera dos que estão tentando fazer acontecer.
2. O profeta quer incutir esperança, a partir dessa semente de justiça para os tempos futuros, que a liturgia nos faz vislumbrar sua realização na pessoa de Jesus. No entanto, a semente virou um Semeador que mesmo vindo até nós como realização da promessa divina, quer que prossigamos na luta por um mundo mais justo.
3. Nos custa seguir, vendo tantas coisas às avessas, mas a mensagem de Jesus nos pede para avançar e acreditar que nossa luta não é vã. Se somos seus profetas, o devemos ser pela esperança que transmitimos.
* Paulo escreve a uma comunidade que espera a vinda do Senhor no final dos tempos. Como fazê-lo? Progredindo sempre mais no amor mútuo. A vigilância deles consiste em não permitir que a desunião predomine.
4. O evangelho é o mesmo que acompanhamos essa semana na liturgia. Lucas se serve de imagens apocalípticas para falar de um recomeço que se dará, não sabemos quando. A desordem cósmica é o contrário da harmonia inicial estabelecida pelo Criador. O pecado humano vai conduzindo este mundo a uma situação dramática.
5. Em meio ao caos, ele vê a esperança naquele que veio e virá restabelecer a harmonia perdida. Assim o texto não que gerar o pânico, mas a esperança e a alegria. Assim, caminhamos para o futuro de cabeça erguida. Há muitos que andam de cabeça baixa, e certamente não é por causa do celular, mas pelas desilusões da vida.  Lucas não crê que seja o fim, que não há saída ou sentido em tudo isso.
6. Também não nos deixemos levar por soluções enganosas. Há muitos que buscam na bebida, na entrega aos prazeres, etc., um caminho de fuga. Tudo isso pode virar uma armadilha, nos prende, tirando-nos a esperança no Cristo que vem.
7. Vigiar e orar são elementos que alimentam a espiritualidade, sem esquecer a própria responsabilidade diante do mundo ao seu redor. Não criar ansiedade, mas sensibilidade para agir e interpretar os acontecimentos alegres e tristes deste mundo com os olhos de Deus. Recomeçar sempre, é a mensagem do advento. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 28 de novembro de 2015


(Dn 7,15-27; Sl Dn 3; Lc 21,34-36)
34ª Semana do tempo Comum.

O próprio livro de Daniel nos concede uma interpretação da visão. A explicação é um tanto concisa, não tão exata, sem caráter messiânico nem individual. Uma interpretação posterior identificou a figura humana com o Messias, e o chifre com o Anticristo.

Jesus continua convidando à vigilância tendo o cuidado de pontuar as muitas distrações que nos oferece a vida ou mesmo o comodismo. A oração faz parte da vigilância e tem como fim estabelecer e manter a comunhão com Deus para que um dia estejamos definitivamente em sua presença. Encerrando esse ano litúrgico, peçamos ao Senhor, cujas palavras são eternas, que continue nos alimentando ao longo do novo ano que se inicia fazendo-nos sempre mais atentos aos movimentos da vida que começam dentro de nós mesmos.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 27 de novembro de 2015


(Dn 7,2-14; Sl Dn 3; Lc 21,29-33) 
34ª Semana do Tempo Comum.

Daniel desta vez tem uma visão que não está associada a nenhum rei, “os quatro ventos cósmicos agitam aqui o oceano da história, e desse oceano surgem poderes ferozes, inumanos, dispostos a dominar o seguimento da história que lhes atribuam”. Assim para cada reinado a uma representação. Deus senta no seu trono para um julgamento da história humana e novamente aparece a figura de um “filho do homem” que “vem” para governar todos os povos. É a Jesus que atribuímos essa vinda salvadora para restaurar a humanidade; já ás portas do Advento a liturgia nos coloca na dinâmica de um tempo de agora e um tempo futuro.

Essa vinda de Jesus nos coloca em alerta e constante leitura dos sinais da vida, que mesmo com suas contradições, estão marcados pela presença do Salvador que veio e que virá.  A proposta do texto é seguir acreditando na Palavra de Jesus. Esta não passará.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 25 de novembro de 2015


(Dn 5,1-6.13-14.16-17.23-28; Sl Dn 3; Lc 21,12-19)
34ª Semana do Tempo Comum.

O livro de Daniel dá um salto para situá-lo no reinado de Baltasar que sem nenhum tato do valor do sagrado, se serve dos utensílios (objetos litúrgicos) dedicados do Templo na sua “orgia”. Este disparate lhe custará caro com a condenação traduzida por Daniel. O triunfo do rei é frágil, e seu prazer superficial, pois lhe falta uma relação de comunhão e respeito com algo ou alguém que está acima dele.

Diferentemente do rei Baltasar, os discípulos enfrentam a difícil situação do testemunho, não são merecedores de tal situação violenta, mas ao contrário do rei eles estão numa situação de comunhão com Deus. Isto os faz forte para enfrentar a diversidade e seguir na certeza de que não estão sozinhos. O contraste entre as duas situações é nítido quase nos convidando a refletir sobre as situações da vida em que assistimos aos “zombadores” que se dão bem, e aqueles que mesmo na fé atravessam situações difíceis.

  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 24 de novembro de 2015


(Dn 2,31-45; Sl Dn 3; Lc 21,5-11) 
Santo André Dung-Lac, presbítero e mártir.

Daniel faz a primeira grande interpretação de um dos sonhos de Nabucodonosor, provavelmente vendo na sucessão dos reinos que infligiram força e domínio sobre Israel esta estátua formada de elementos diversos mas que será atingida por uma pedra que se desloca sem ação humana para dar um fim a ação desses reinados. Há uma interpretação que vê a Cristo como essa pedra que veio para proclamar e estabelecer o seu reino e a vitória contra o mal. O próprio Cristo é denominado por Paulo como “pedra fundamental” sobre o qual todo o edifício se ergue (a Igreja como expressão do Reino).

É de pedra que também fala Jesus no evangelho, mas daquelas que formavam o Templo de Jerusalém que também foi destruído. Mas o mais importante está no que segue, quando adverte os seus discípulos para prestarem atenção àquelas figuras que aparecem se proclamando salvadores do mundo, quando não, o próprio Jesus. Os falsos profetas podem ser identificados na confrontação que fazemos entre o que dizem e a Palavra de Deus, que é eterna. Por isso o conhecimento, a leitura, a meditação e o estudo da Sagrada Escritura pode ser um santo remédio contra o medo de certas “novidades” do mercado religioso.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 23 de novembro de 2015


(Dn 1,1-6.8-20; Sl Dn 3; Lc 21,1-4) 34ª Semana do Tempo Comum.

Nesta última semana do Tempo Comum e consequentemente do nosso ano litúrgico, a liturgia nos oferece a leitura de alguns trechos do livro de Daniel, que encontramos na liturgia de ontem. “Os textos litúrgicos referem-se sobretudo à primeira parte do livro: a apresentação do herói da história, o hebreu Daniel, sublinha a sua sabedoria e a sua capacidade de interpretar os sonhos e as visões. Chamado à corte de Nabucodonosor para interpretar dois sonhos desse poderoso rei, Daniel torna-se um dos três governadores da região. Daqui a inveja, a acusação e a condenação à morte na cova dos leões, da qual Daniel é salvo milagrosamente pelo seu Deus.(...) os textos da liturgia sublinham, juntamente com a fidelidade e sabedoria de Daniel, o poder do seu Deus, que domina os acontecimentos da História humana (“Lecionário Comentado” – Paulus).

Jesus lança de novo o seu olhar sobre a pobre viúva e suas duas moedas, símbolo de tudo aquilo que ela podia oferecer naquele momento; mas o que era aquilo que oferecia diante daqueles que ofereciam tanto? Jesus diz aos seus discípulos, de certa forma, que é no coração que se encontra a verdadeira generosidade. Dando pouco ou muito, convém que sejamos humildes no gesto de ofertar, pois em nada se compara os “tesouros” terrenos com aquilo que verdadeiramente Deus nos oferece. Ele é a fonte de todo dom...


Pe. João Bosco Vieira Leite

Cristo Rei – Ano B


(Dn 7,13-14; Sl 92[93]; Ap 1,5-8; Jo 18,33b-37)

1. Oficialmente o ano litúrgico se encerra com essa festa de hoje. A liturgia da palavra para falar do reinado de Jesus se serve de textos um tanto densos e enigmáticos. O escrito de Daniel remonta ao ano 150 a.C., a figura do Messias sempre esperado por Israel é agora vista a partir desse “filho do homem”.

2. Daniel quer transmitir aos seus leitores uma mensagem de esperança depois dessa sucessão de reinados terríveis, dizendo que Deus, o ancião de muitos dias, nos concederá um reinado diferente, o mais próximo possível de nossa humanidade. Não é atoa que Jesus toma esse título para si nos evangelhos; ele entende a sua missão e o seu reinado como um serviço a humanidade; assim deveriam pensar aqueles que atribuem a si qualquer função de liderança.

3. A 2ª leitura reforça esse pensamento sobre a soberania de Jesus, tanto que o autor do Apocalipse insere, em seu escrito, a mensagem de Daniel. Um texto também escrito para alimentar a esperança e inserir coragem aos seus leitores. O destaque do texto, depois de meditarmos esses dias sobre o sacerdócio de Cristo, é a ideia de que ele fez de nós o reino de sacerdotes.

4. Se na origem da palavra, está a ideia de “dom sagrado”, nossa vida, com tudo que ela contém, é o que de melhor oferecemos a Deus. Pra quê sacrifício maior do que abraçar a vida com tudo que ela tem e o fazer nessa consciência de prestar um serviço a Deus e ao próximo?

5. Assim, num último momento, Jesus oferece a Pilatos um retrato de seu reinado, não compreendido por seus discípulos que o quiseram fazer um rei aos moldes dos soberanos da terra. Está ali só e desarmado. Pilatos poderia rir de tal rei, mas se vê embaraçado, pois Ele diz que para além desses reinados marcados pelo poder, riqueza e ambição, há algo que é mais forte e duradouro.

6. Ele está acontecendo lentamente, como o fermento na massa, como um grão de mostarda que foi semeado. Ali onde o serviço, a doação generosa ao outro, onde o respeito pela sua dignidade; o encontro e o diálogo acontecem, novas relações se estabelecem. Realmente não parece algo desse mundo tão marcado por disputas, de interesses outros.

7. Assim, como ele mesmo afirmou ser a luz do mundo, seu reinado se reflete entre nós cada vez que tentamos construir uma comunidade que tenha por fundamento o amor, a partilha e a compreensão. Com sinais assim podermos sempre distinguir onde de fato ele é rei, onde de fato somos também sacerdotes: dom sagrado, expressão do amor de Deus. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 21 de novembro de 2015


(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 
Apresentação de Nossa Senhora.

Essa apresentação de nossa Senhora, tal como aconteceu com seu Filho no evangelho de Lucas, não faz parte dos evangelhos; essa memória tem sua origem no Proto-evangelho (escrito não considerado inspirado por Deus pela Igreja) de São Tiago. Ela teria sido apresentada aos três anos de idade e permanecido até os doze de onde depois passou a viver sob os cuidados do viúvo José (teriam já Joaquim e Ana morridos?). O grande problema desse texto é que na tradição judaica, as meninas não eram apresentadas no Templo...

Bom, de qualquer forma a memória quer enfatizar essa 1ª grande entrega de Maria ao Senhor, germe de tantas outras que a coloca na esteira do seguimento e entrega tão perfeito quanto o do Filho. Assim, no gesto de Maria, consagrada desde o seio materno, está a primeira exultação por Aquele que vem, pois todas as suas iniciativas estão marcadas pela sua missão, canta Zacarias na 1ª leitura. Mateus nos lembra que a apresentação de Maria foi só o primeiro sinal de sua identificação com essa geração nova que nasce a partir da escuta da Palavra: “esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

  
Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 20 de novembro de 2015


(1Mc 4,36-37.52-59; Sl 1Cr 29; Lc 19,45-48) 
33ª Semana do Tempo Comum

Por fim, depois da tribulação vem a recuperação da paz e se estabelece um dia de memorial para não esquecer o valor da conquista. Hoje também se celebra o dia da consciência negra a partir da memória de Zumbir dos Palmares, nessa luta contínua de nossa pátria contra o preconceito.

Lucas ameniza a visita de Jesus ao Templo e a consequente manifestação de sua indignação diante daquilo que a casa do seu Pai tinha se transformado. Ao mesmo tempo ele oferece “pano para as mangas” dos seus acusadores que ao mesmo tempo se veem perdido sobre que atitude tomar já que Jesus tem grande influência sobre as massas. Lembre-se sempre de avaliar sua relação com Deus na sua oração pessoal, para que seja realmente encontro e descanso e não mero diálogo comercial...

Deixo esta pequena história de Anthony de Melo para ilustrar o dia da Consciência Negra:  “O Vendedor de balões”


- Um homem bem velhinho vendia balões numa quermesse. Evidentemente era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e levar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões. Havia ali perto um menino que observava atentamente o vendedor de balões e, é claro, estava também apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul; depois um amarelo e finalmente um branco. Todos foram subindo cada vez mais até sumirem de vista. O menino, de olhar atento, seguia a cada um. Ficava imaginando mil coisas... Uma coisa o aborrecia, o homem não soltava o balão preto. Então aproximou-se do vendedor de balões e lhe perguntou: - “Se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?” O vendedor de balões sorriu para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão preto e, enquanto ele se elevava nos ares, disse: - “Não é a cor, filho. É o que está dentro dele que o faz subir.”

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 19 de novembro de 2015


(1Mc 2,15-29; Sl 49[50]; Lc 19,41-44) 
Santos Roque, Afonso e João, presbíteros e mártires.

A narrativa dos Macabeus segue com seu requinte de violência misturado ao compromisso da fé, mesmo dentro da religião há atitudes extremistas que colocam em cheque o seu verdadeiro sentido entre a fidelidade a Deus e o respeito à liberdade do outro. Talvez assim possamos compreender melhor porque a palavra de Jesus foi uma revolução no modo de ver e pensar a Deus, e quanto sua palavra continua encontrando resistência nas mentes e corações. Não é atoa que a oração pela conversão de todos aqueles que ainda não “conhecem” a Deus não pode ficar de fora das nossas intenções.

Jesus é o Deus que chora sobre a dramaticidade humana; na casa de Marta e Maria, por não saberem lidar com a perda e nem compreenderem o mistério da vida escondida em Deus; sobre Jerusalém, cujos habitantes não conseguiram abrir os olhos para perceberem que Deus mesmo os visitava de maneira tão identificada com seus dramas pessoais. Aquele Templo e seus arredores onde um dia Ele habitou de modo particular, seria completamente destruído. Hoje assistimos também a dramaticidade com que nossa gente e nossas cidades se afastam de Deus e desconhecem ou negam o seu amor. A proximidade da festa do Natal do Senhor nos coloca também nessa perspectiva de sua visita, de nosso acolhimento.


Padre João Bosco Vieira Leite

Quarta, 18 de novembro de 2015


(2Mc 7,1.20-31; Sl 16[17]; Lc 19,11-28) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Chega a ser comovente esta narrativa da mãe que tem que assistir a morte de seus sete filhos, o texto deixa transparecer não só a sua confiança em Deus, seu testemunho de fé, mas também a fé na ressurreição. Ao falar do mistério da vida, ela crê que aquele que nos criou nos restituirá o espírito que nos foi dado desde o ventre materno. Ela sabe que Deus fará justiça ao seu tempo. Quem dera essa mesma confiança acalmasse nosso coração em momentos de tribulação, sabendo que tudo está nas mãos de Deus e a nós cabe tão somente perseverar nos propósitos da fé que nortearam a nossa vida.


A parábola dos talentos sofre uma releitura em Lucas tendo em vista o reinado de Jesus, enquanto Messias, sobre o povo que o deveria acolher. A todos foi oferecida a possibilidade de perceber e multiplicar a fé naquele que veio para congregar os filhos dispersos, mas como sempre, as reações podem ser diferentes, como inesperada pode ser a reação divina diante da resposta de cada um. O texto conclui enfatizando a subida de Jesus para cidade santa, sede do reinado divino. O texto fala a nós desse período entre sua vinda e sua volta, nessa sua “ausência” muito nos foi confiado. A graça, o dom não nos tem faltado, cada um administra da melhor forma possível, e com alegria. A negligência é um risco, pois a misericórdia não elimina a justiça, mesmo estando acima dela.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 17 de novembro de 2015


(2Mc 6,18-31; Sl 03; Lc 19,1-10) 
Santa Isabel da Hungria.

Depois da apresentação da situação imposta pelo rei, dá-se início uma série de martírios que se tornam edificantes pelo testemunho deixado como este de Eleazar, que não quer deixar aos jovens a imagem, ainda que não real, de que havia negado a sua fé adotando os costumes estrangeiros. Ele prefere morrer e Deus sabe que ele poderia ter se livrado da morte. Eleazar “com sua morte deixou um exemplo de coragem e um modelo inesquecível de virtude, não só para os jovens, mas também para toda nação”.

A narrativa de Zaqueu é sempre surpreendente pela ousadia desse homem público de não parecer ridículo subindo numa árvore para ver Jesus sem saber que Jesus já o havia visto antes mesmo dele subir nessa árvore, e para além do preconceito que seus concidadãos tinham, Jesus vai à sua casa levando esse homem a uma conversão de raiz, que vê a necessidade de restituir o que a mais ele tomou dos outros pela sua privilegiada posição.  É o pastor encontrando a ovelha perdida, que daríamos por perdida, se Deus não fosse insistente em sua busca.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 16 de novembro de 2015


(1Mc 1,10-15.41-43.54-57.62-64; Sl 118[119]; Lc 18,35-43) 
33ª Semana do Tempo Comum.

Esta semana iniciamos a leitura descontínua do 1º e do 2º Livro dos Macabeus. Os textos apresentados na liturgia desta semana referem-se às narrações sobre a perseguição de Antíoco IV Epifânio e sobre a revolta dos Macabeus. Na origem dos males de Israel está o rei Antíoco  IV Epifânio, que introduz entre os hebreus instituições e práticas pagãs. A promulgação por parte do rei de um decreto que obriga ao abandono da religião dos antepassados provoca duas reações diversas: por um lado, o martírio daqueles que rejeitam a apostasia; por outro lado, a oposição armada, que começa com o sacerdote Matatias e a sua família. Judas Macabeus, depois de seis anos de guerra, consegue a vitória e, entrando em Jerusalém, ordena a purificação do Templo, pública e solene, contaminado por práticas idólatras. A série de textos da liturgia termina com a narração da ruína definitiva do rei ímpio, da sua doença e do seu testamento. Acompanhemos...


Lucas nos traz a sua versão sobre o encontro do cego de Jericó com Jesus, ajudado por alguém que lhe informa quem é aquele que passa e resolve gritar, literalmente, para que Jesus o escutasse, vencendo a oposição da multidão que o seguia. O encontro é direto no pedido e atendimento e também a resposta do cego em seguir Jesus. Para Lucas o mais importante é reconhecer aquilo que Jesus é capaz de fazer, por isso a multidão eleva o seu louvor. E nós com ela porque cremos no que é capaz de realizar pelos outros e por nós, libertando-nos da cegueira que nos envolvia pela luz de Sua palavra.

Pe. João Bosco Vieira Leite

33º Domingo do Tempo Comum


(Dn 12,1-3; Sl 15[16]; Hb 10,11-14.18; Mc 13,24-32)

1. O chamado gênero apocalíptico domina a nossa liturgia da palavra em seus textos principais. Um gênero que busca transmitir um ensinamento através de imagens misteriosas e ao mesmo tempo simbólicas. Daí a necessidade de uma leitura atenta, criteriosa para entender a mensagem, não prendendo-se tanto às imagens, mas ao contexto histórico em que foi escrito, na contínua atualização da mensagem divina. 

2. Comumente nele se reflete um tempo difícil marcado por injustiças e perseguições, e sua mensagem é sempre de esperança, de mudança de cenário. Assim o autor de nossa primeira leitura, se dirige a um Israel perseguido e correndo o risco de abandonar a fé.

3. Em todos os tempos fazemos este tipo de experiência, pois o desânimo também se apossa de nós em meio a situações difíceis e de sucesso daqueles que cometem iniquidades. Eles fazem parecer inúteis os nossos esforços por uma sociedade melhor. Mas, apesar de tudo, nenhum esforço fica perdido, mesmo que não cheguemos a assistir ao resultado. Importa manter-se firme.

4. Ainda na esteira da reflexão sobre o sacerdócio de Jesus, o autor da carta aos Hebreus nos lembra que o sacrifício de Cristo, único e definitivo, alcança de Deus o perdão dos pecados. Ele há de submeter todos os nossos inimigos. Assim o sacrifício que oferecemos não é tanto pelo perdão dos pecados, mas de nossa comunhão com a sua vida e com a certeza de sua vitória.

5. Para entrarmos na linguagem apocalíptica de Marcos no evangelho de hoje, é preciso que tenhamos presente as dificuldades que atravessam as comunidades as quais se dirige. É um período de perseguições, muitos são mortos, fora as dificuldades internas das comunidades. Mas é preciso não temer, o próprio Jesus não permitirá que eles se percam.

6. Em toda e qualquer situação difícil é importante manter-se de pé e fiel àquilo que Jesus já havia insinuado em sua fala. Não perder-se nos comentários daqueles que alarmam o fim do mundo. Mesmo conhecendo os dramas que nos cercam, não perder de vista a alegria da vida cristã pelo anúncio da boa nova que o evangelho traz consigo, como nos lembra o papa.

7. Se existe o “quando” para esse mundo, não sabemos nem o evangelho nos revela, apenas pede que estejamos atentos aos sinais dos tempos. Podemos assumir uma atitude pessimista ante os fatos que assistimos, mas Jesus nos convida a manter-nos firmes e coerentes com o que cremos e acreditar que ele tem a palavra final. Como o verão que se aproxima e traz consigo o seu calor, não esqueçamos que como as estações, a vida tem seu ciclo de sucessões, e nunca deixaremos de esperar uma nova e melhor estação, mesmo que não seja necessariamente nesta vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 14 de novembro de 2015


(Sb 18,14-16;19,6-9; Sl 104[105]; Lc 18,1-8) 
32ª Semana do Tempo Comum.

O autor do livro da Sabedoria faz sua leitura do evento do êxodo mostrando de forma poética e grandiosa a ação de Deus em favor do seu povo. Grandes narrativas surgem depois dos fatos acontecidos muitas vezes tecidos pelos sentimentos do coração. Assim também podemos compreender e reler a nossa vida a partir da memória das ações de Deus em nosso favor. Podemos também compor nossos momentos épicos em nosso diário de vida.

O evangelho de hoje já diz ao que veio, em termo de lição, ao introduzir a parábola da viúva e do juiz iníquo. No seu desamparo social ela insiste com o juiz porque este deveria compreender a sua situação. Ele resiste, mas para se livrar do aborrecimento resolve fazer justiça. Deus sabe das nossas necessidades e não se aborrece com as nossas repetidas orações, porque tem um coração de Pai, Ele só não quer que nos cansemos de confiar e esperar.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 13 de novembro de 2015


(Sb 13,1-9; Sl 18A[19]; Lc 17,26-37) 
32ª Semana do Tempo Comum.

É interessante esse trecho do livro da Sabedoria, pois supõe que a contemplação da criação pode nos levar ao Criador, como fala o nosso catecismo, mas ele constata também que é possível que alguns fiquem no meio do caminho e passem a adorar alguns elementos criados, como muitos povos primitivos se encantaram com a força do fogo, com o sol, com a lua e as tratam como divindades. Mas esse ficar “no meio do caminho” é algo comum a todos os tempos, pois mesmo aqueles que ainda investigam esse vasto universo, são incapazes de admitir que algo ou alguém esteja por trás de tudo isso. Nossa liturgia lembra com o salmo que os céus proclamam a glória do Senhor. Rezar com a natureza, em atitude contemplativa, pode nos levar a uma especial experiência do poder, da sabedoria e do amor com que todas as coisas foram criadas.

Esse intrigante texto de Lucas fala da volta de Cristo, que se dará quando menos as pessoas estiverem esperando que aconteça. Alguns chamam a esse evento de “arrebatamento” e a partir daí se daria o fim deste mundo como o conhecemos. Não podemos ter a certeza que será dessa forma que descreve o autor, mas sabemos que ela se dará de algum modo, mesmo desconhecendo o dia e a hora. O que nos resta, em meio aos sinais que contemplamos desse mundo decadente em que vivemos é não perdermos a comunhão com Ele, de vivermos a dimensão do Reino, nem esquecer suas palavras. Por isso é que se diz: enquanto temos tempo, pratiquemos o bem.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 12 de novembro de 2015


(Sb 7,22—8,1; Sl 118[119]; Lc 17,20-25) 
São Josafá, bispo e mártir.

O autor sagrado descreve a sabedoria de uma forma multifacetária. Jesus é visto como a sabedoria de Deus, mas a tradição cristã costuma ver mais a ação do Espírito Santo aí descrita, mesmo sabendo que o Antigo Testamento não conhecia a revelação trinitária. Há muito de divino na descrição do nosso autor.

Assim como a sabedoria, a presença do Reino também não é fácil de ser descrita. O reino ora se confunde com coisas e pessoas, ora está acontecendo em nosso meio, mas ele está principalmente dentro de nós. O seguimento de Jesus, o acolhimento de sua palavra cria dentro de nós o desejo desse reino e nos faz viver em sua perspectiva terrestre, mas também divina ou definitiva. A ação do reino se torna transformadora de indivíduos e de situações.  O reino inaugurado por Jesus sobrevive em cada pessoa que vive a sua realidade batismal.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 11 de novembro de 2015


(Sb 6,1-11; Sl 81[82]; Lc 17,11-19)
São Martinho de Tours.

O autor sagrado diz que todo poder humano (governo, reinado, soberania) tem sua origem em Deus, mas seguindo o princípio evangélico, a quem muito é dado, muito será cobrado. A base do juízo divino é o proceder de acordo com a vontade divina. O homem sábio, pobre ou rico, deve buscar a sabedoria na palavra divina.

Esse encontro de Jesus com os dez leprosos deixa entrever que Ele espera de nós a capacidade de sermos gratos pela ação divina a nosso favor, ao menos no reconhecimento maior da origem de todo bem. Os outros nove cumpriram, a princípio, o que foi proposto por Jesus, mas esse “um” foi além porque buscou pensar em sua fonte primeira. Assim, ao simples respirar de um novo dia, nosso coração pode se elevar num hino de gratidão pelo simples fato de estarmos vivos e aí podemos fazer o encadeamento do quanto está ao nosso redor, das pessoas que fazem parte da nossa história, do fato mais simples que acontece no cenário da vida. Por um instante, ainda que breve, podemos fechar os olhos e deixar o coração transbordar de gratidão, tomar fôlego e partir pra luta, pois mesmo Deus agindo, há muita coisa que depende da minha participação.  



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 10 de novembro de 2015


(Sb 2,23-3,9; Sl 33[34]; Lc 17,7-10)

Segundo o autor do livro da sabedoria, a morte entrou no mundo pelas mãos do diabo, como reação a sua inveja pela criação do homem, assim, só morrem de fato os que a ele pertencem, pois a vida daqueles que creem está em Deus, mesmo que atravessem o vale da morte. Esse texto é muito presente em celebrações exequiais (pelos mortos), pois traduz o mistério da fé diante da tragédia da morte aos olhos humanos. Que o Senhor nos dê a mesma confiança e certeza que deu ao autor sagrado.

Nossa vida muitas vezes se move na esperança que reconheçam o bem ou favor que praticamos nem que seja com um simples obrigado. Naturalmente normal. Mas nas nossas relações com Deus, Jesus nos adverte para não ficarmos sempre esperando que Ele nos “agradeça” por termos feitos o que devemos fazer, nos ensina a parábola. Na realidade o que fazemos não é um “favor”, mas um reconhecimento que andar na sua presença e agir como nos pede é pura graça dele mesmo. No evangelho desse domingo, a segunda viúva nos ensinava que nem sempre Deus responde de forma imediata às nossas preces, nem do modo que esperamos e que a as bênçãos de Deus não são necessariamente para esta vida. Há coisas que nos estão reservadas que desconhecemos.
  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 9 de novembro de 2015


(Ez 47,1-2.8-9.12; Sl 45[46]; Jo 2,13-22) 
Dedicação da Basílica de Latrão

A Igreja celebra hoje a dedicação da primeira basílica cristã, sede do papa, no século IV. Mais do que a história desse templo queremos reconhecer esse espaço privilegiado do encontro entre Deus e o homem a partir da dinâmica simbólica que comporta a própria liturgia e a arte que compõe muito desse ambiente de encontro da família cristã.

Para expressar o mistério em que estamos envolvidos, a partir desse local de encontro, a liturgia nos traz um texto de Ezequiel que traduz uma visão do profeta dessas águas que emanavam do templo e que levavam vida aonde chegavam. Assim podemos entender os vários aspectos da vocação de cada comunidade que gera e sustenta a vida ao seu redor em todos os sentidos.

O texto de João nos traz o zelo de Jesus por este mesmo espaço da visão profética, condenando toda desvirtuação do sentido primeiro, o que pode parecer um exagero por parte do Nazareno, reflete a fragilidade da própria religião do risco de perder o seu verdadeiro sentido. Cada comunidade cristã é um espaço consagrado, dedicado ao exercício da fé e da comunhão com Deus e exige da nossa parte atenção e zelo, sem deixar de reconhecer que o verdadeiro templo de Deus somos nós mesmos, casa primeira onde Deus quer morar. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

32º Domingo do Tempo Comum


(1Rs 17,10-16; Sl 145[146]; Hb 9,24-28; Mc 12,38-44)

1. Neste domingo, de um modo geral, a liturgia da palavra nos leva a refletir sobre partilha, hospitalidade, generosidade e confiança na providência divina. Inicialmente temos essa narrativa sobre Elias. Ele segue seu enfrentamento contra as divindades que desvirtuam a fé do seu povo no Deus único e verdadeiro. Para provar quem é Deus e talvez o Seu ciúme, Elias prevê três anos de seca. Mas nem Israel suportou tamanha “provação” e ele teve que fugir.

2. Em território estrangeiro, Elias se aproxima dessa mulher pobre e viúva que também sofre o drama da seca e pede água e pão. Ela resolve confiar no profeta e tem como sinal o suficiente para sobreviver. O texto quer nos conduzir para esse olhar de Deus para os pobres e sofredores e ao mesmo tempo da generosidade dessa mulher para com o profeta.

3. A grande lição que brota do texto é de que Deus abençoa os que sabem partilhar, mostrando que essa mulher foi capaz de vencer em si o apego que tanto nos domina e determina. O egoísmo humano é que tem provocado a fome, a nudez e a miséria. E para os nossos tempos, a conivência com certas estruturas políticas corroídas tem sido também o gerador de tantos males...

4. O autor da carta aos hebreus segue com sua comparação entre o sacerdócio do AT e o sacerdócio de Cristo, lembrando-nos que enquanto um oferece sacrifícios contínuos pelo perdão dos pecados, Jesus ofereceu-se a si mesmo, em uma só vez para o perdão dos pecados e um dia voltará para resgatar a todos que pela fé foram remidos por seu sangue.

5. Sabemos que Jesus não simpatizava com a elite religiosa do seu tempo, todas aquelas deferências e exibicionismos mereceram pontuais comentários de Jesus que ao mesmo tempo revelava suas intenções e lhes reservava uma dura condenação por parte de Deus por tais comportamentos: “Ouçam o que eles dizem, mas não faça o que eles fazem”.

6. A gente sabe que certos comportamentos se repetem e são admirados em nossa sociedade, e sabemos o quanto de exploração do mais fraco se esconde em certas estruturas. Jesus chama a atenção para nos acautelarmos de certas atitudes, tanto quanto nos adverte do olhar de Deus sobre todas essas coisas.

7. É seu olhar que vislumbra no meio daquela multidão uma pobre mulher que vai levar sua oferta ao templo, do modo mais discreto possível. Mas ela não é só discreta, ela é desapegada, pois Jesus salienta sua atual condição, diferentemente daquele jovem rico que o havia buscado dias atrás.

8. Essa mulher não faz parte dos seus discípulos, mas vive a seu modo a dinâmica do evangelho. A generosidade aqui salientada não está no que sobra, mas no quanto comprometemos de nossa vida pelo bem do outro, sejamos pobre ou rico.

9. O que não significa alimentar a preguiça alheia que não busca a autossuficiência, mas percebermos a real necessidade do outro; e não nos perdermos em justificativas para não fazer nada. O egoísmo também sabe usar as suas máscaras...


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 7 de novembro de 2015


(Rm 16,3-9.16.22-27; Sl 144[145]; Lc 16,9-15)

Paulo encerra sua carta com uma série de saudações aos membros da comunidade que de um modo e de outro se fizeram próximo a ele, sem esquecer a própria comunidade a quem ele dirige o seu evangelho, sua boa notícia do amor de Deus e da sua graça salvífica. A lembrança e a atenção revelam a sua humanidade e humildade de saber que as coisas foram se construindo com a participação de muitos, dentro da própria imagem do corpo da igreja na diversidade dos seus membros.

Aquele que acabara de elogiar o administrador esperto arremata o seu pensamento recordando a nossa relação com o dinheiro, que traz em si as marcas da injustiça, no bom uso do mesmo para outros “lucros”, sem tornar-se escravo do dinheiro. Internamente a gente pode até rir desses pregadores que nos mandam ter cuidado com o “vil metal”, mas para além deles é o próprio Deus que sonda o nosso coração, lembra Jesus. Peçamos ao Senhor sabedoria e discernimento para o uso correto dos bens que nos foram confiados.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 6 de novembro de 2015


(Rm 15,14-21; Sl 97[98]; Lc 16,1-8) 
31ª Semana do Tempo Comum

No texto de hoje Paulo parece tentar esclarecer algo do seu ministério apostólico e evangelizador. Seu trabalho junto aos pagãos e locais não antes evangelizados, movido pela graça de Cristo e pelo poder do seu Espírito. Tomemos como um testemunho e defesa pessoal, que aliás, Paulo faz muitas vezes em suas cartas, o que revela que teve que enfrentar certas críticas de dentro e de fora da comunidade cristã.

Penso que a figura do administrador da parábola do evangelho pode se confundir com certas artimanhas da vida comum que nos leva a investir em situações ou pessoas que nos garantira algum benefício no futuro. Em parte, o texto está falando disso, mas o aplica a vida cristã nas suas relações com Deus, prevendo, no futuro, uma “prestação de contas” de nossa “administração”. A vida, as relações, as práticas cotidianas são nosso cartão de visita a um Deus que espera que façamos o melhor da nossa existência. Que façamos frutificar os dons, que cada homem e mulher que atravessa a nossa história sejam o nosso melhor cartão de visitas, a dizer ou testemunhar o nosso esforço em sermos amáveis. Racional, de uma parte, motivador de outra.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 05 de novembro de 2015


(Rm 14,7-12; Sl 26[27]; Lc 15,1-10) 
31ª Semana do Tempo Comum

Uma vez feita a experiência de Cristo em sua vida, Paulo compreende que o sentido de todo o seu caminhar findará no próprio Jesus, na vida ou na morte, tudo é oferecimento a Deus de si mesmo. Mas viver na presença do Senhor tem suas particulares implicações, e uma delas diz respeito ao próximo, tão filho de Deus quanto eu. Então devo ser vigilante dos meus próprios pensamentos com relação ao outro.

Lucas nos traz as duas primeiras parábolas da misericórdia, dentro da proporção de uma entre cem e de uma entre dez. O clima final é sempre o convite a envolver-se com a alegria daquele que encontrou o que estava perdido. O convite do santo padre para esse novo jubileu quer nos conduzir aos sentimentos de Deus por cada um de seus filhos e filhas e como gostaria que participássemos de Sua alegria. Por isso podemos concordar com a advertência que Paulo nos faz na 1ª leitura, e uma vez convertido a esse desejo divino, serei eu a alegria de Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 4 de novembro de 2015


(Rm 13,8-10; Sl 111[112]; Lc 14,25-33) 
São Carlos Borromeu, bispo.

“O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da lei”. Nas palavras de Paulo ressoam o mandamento maior de Jesus que já estava presente no Antigo Testamento, dando-lhe uma dimensão universal: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”, para Jesus não basta tão somente não fazer o mal, é preciso fazer o bem, para que nossa atitude não passe de mera indiferença.

Jesus se admira da multidão que lhe segue, então resolve trazer à tona alguns pontos de reflexão para ela, e também para nós, em qualquer tempo. O seguimento de Jesus gera uma outra família que será capaz de superar o apego aos laços de sangue; o seguimento deve ser feito de modo pleno com os defeitos e qualidades que possuo, a cruz de cada dia compreende a pessoa no seu todo, mas é Jesus que vai a nossa frente, não estamos sós nem caminhamos para o nada. A ressurreição (vida) é a última palavra. Mas tudo isso exige cálculo, ponderações do que me é exigido e do que de fato posso oferecer em termos de minha pessoa e capacidade de deixar para abraçar o novo. Jesus não podia ser mais claro e objetivo.






Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 03 de novembro de 2015


(Rm 12,5-16a; Sl 130[131]; Lc 14,15-24) 
31ª Semana do Tempo Comum

Paulo nos oferece em sua carta um dos mais belos retratos da comunidade e da Igreja, comparando-a com um corpo a partir das funções e ações para o bem do todo. Quase como a lembrar também aquela máxima do concílio Vaticano II no que diz respeito a liturgia: “Cada um faça tudo e somente aquilo que lhe compete”. E aí ele segue lembrando que tudo isso só é possível no amor, na esperança, na paciência, na solidariedade, no perdão. Tudo isso sustentado pela oração.

Para entendermos o evangelho de hoje e sua parábola, recordemos que Jesus foi enviado primeiramente aos judeus para comunicar-lhes a boa nova e anunciar o desejo de reuni-los, na dinâmica do Reino, para o grande banquete que Deus dará aos seus. Alguém bendiz a Jesus pela beleza deste momento final; com certa tristeza, Jesus insere a parábola. Os que foram convidados não aceitaram com desculpas mil, ele então resolve dar a festa aos pobres, aos mendigos aos marginalizados da sociedade. Independente dos que foram convidados por primeiro aparecerem ou não, a festa não deixará de acontecer. O que seria impensável acontece. Já nos demos contas que essa palavra possa estar sendo dirigida a mim, que ainda não respondi positivamente ao chamado de Jesus em minha vida?



Pe. João Bosco Vieira Leite

Finados 2015


(Is 25,6a.7-9; Sl 24[25]; Rm 8,14-23; Mt 25,31-46).

1. A festa de todos os santos e a celebração do dia de finados estão ligadas ao fato de tratarem sobre as realidades últimas de nossa existência.  A liturgia de ontem queria nos conduzir a uma visão que dá um sentido à nossa existência: há um destino, há uma meta, o nosso agitar-se não é sem objetivo.

2. Dessa luz que nos vem da palavra de Deus, compreendemos que a nossa vida é uma sucessão de saídas e entradas, guiadas não por um destino cego, mas pelo amor Deus por nós. Do nascimento, às sucessivas etapas da vida, chegaremos entre entradas e saídas, ao momento de deixarmos esse mundo em que vivemos e, mais das vezes, em demasiado nos apegamos.

3. Se contemplamos atentamente a dramática existência a que estamos submetidos e se entendemos a dinâmica amorosa do querer divino, certamente essa não é a última resposta de Deus para nós. A ideia dessa passagem, desse êxodo, pela morte não nos agrada, nem agradou ao próprio Jesus em sua humanidade. Sua redenção se torna completa quando ele atravessa as águas da morte para entrar no reino do Pai. Assim acolhemos a sua palavra de não temer, com sua mão a nos levantar do susto e do medo cada vez que contemplamos essa realidade.

4. A nossa liturgia da palavra se abre com um alegre convite a um banquete onde Deus reunirá todos os povos da terra para além de seus conflitos pessoais e perdas. O autor poeticamente vislumbra o fim da morte e do pranto e canta a realização da salvação divina alimentada em nossa esperança e porque não dizer, em nossa perseverança. É provável que o autor contemple os tempos messiânicos, e realmente, se contemplamos a Jesus em seu caminhar conosco e na sua morte redentora, entendemos bem a alegria do profeta e a realização de nossa esperança.

5. Como na 2ª leitura de ontem, Paulo nos recorda a condição filial que o batismo nos trouxe. Pelo Espírito nos unimos a Cristo em sua morte e em sua ressurreição. Para Paulo, ninguém, nem nada nesse mundo pode nos separar do amor de Deus, da realização de nossa esperança, a não ser nós mesmos, nos diz Jesus no evangelho.

6. A alegria da 1ª leit. e a certeza de Paulo desse amor de Deus por nós parecem esbarrar nesse texto de Mateus, gerando certa inquietação. Estamos diante de uma parábola, que é sempre uma imagem ilustrativa de ensinamento que se quer transmitir e aqui o autor sagrado quer sublinhar para nós aquilo que é importante termos presente na vida.

8. Certamente Mateus não teve a intenção de revelar-nos o que acontecerá no fim do mundo, mas conduzir-nos a uma reflexão, um abrir os olhos, para as escolhas que estamos fazendo aqui e agora. A solidariedade, a caridade, o bem que fazemos ao outro, ainda que não sejamos religiosos, será sempre o canal que nos une ao Deus que nos quer salvar, e nos faz provar de sua santidade.

9. Não buscamos a recompensa, buscamos ser humanos, a identidade fraterna que nos levou a descobrir que Deus é comunhão de pessoas. O que virá depois? Não sabemos com exatidão. Para além da misericórdia que sempre age para além de nossos cálculos, resta-nos construir o nosso céu no esforço contínuo de responder ao amor que Deus tem por nós em Cristo Jesus.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Solenidade de todos os Santos – 2015


(Ap 7,2-4.9-14; Sl 23/24; 1 Jo 3, 1-3; Mt 5, 1-12a)

1. Toda a nossa celebração gira em torno do reconhecimento e exaltação da santidade de Deus. Nós a afirmamos explicitamente no canto do glória e do santo durante a oração eucarística. A santidade de Deus é a consciência de que ele está acima desse mundo perecível e efêmero em que vivemos. Ele é o totalmente Outro.

2. Talvez por isso, num dado momento da nossa história, sem termos ainda assimilado o Deus amoroso revelado por Jesus, mas o Deus temeroso do AT, nossa relação com Ele passou a ser feita pelo mecanismo intercessor de homens e mulher que se destacaram na caminhada fé, a quem passamos a chamar de santos e santas.

3. O desejo de Deus que habita em nós, nos obriga a elevar-nos, a buscarmos uma comunhão sempre maior. Sim, Deus é o santo por excelência, mas sua santidade nos é comunicada. O próprio Jesus nos recomenda a busca de um caminho de perfeição: sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito. Nesse caminho só Ele mesmo nos pode guiar.

4. Podemos dizer que Paulo popularizou o uso de termo “santo”. Ao se dirigir aos cristãos que em suas comunidades tentavam responder ao chamado de Cristo em sua vida, ele os chamava de santos. Para eles não soava estranho, pois a santidade era vista como uma vocação, uma resposta, um elevar-se em Cristo para encontrar o sentido da própria vida.

5. A nossa liturgia nos oferece primeiramente esse olhar do livro do Apocalipse sobre o mistério de nossa existência marcada por tantos fatos estranhos e até absurdos e do sofrimento que tudo isso gerou. Um dia, diz ele, seremos reunidos a uma grande assembleia, em vestes brancas da alegria e palmas de vitória, ouviremos do próprio Deus o significado dessa trama que vai tecendo a história humana.

6. Mas o primeiro elemento que deve dar um significado a nossa existência, e deve ser o motivador de nossa busca, é o fato de conhecermo-nos como filhos de Deus. O mundo não nos conhece, diz o autor, porque desconhece o seu criador e ignora o seu chamado por trás de toda criação e da palavra que a nos foi dirigida pelo próprio Jesus.

7. Dessa palavra que nos foi dirigida por Cristo, a liturgia nos reserva as bem-aventuranças. E ele, simbolicamente, as pronuncia de um lugar alto; não há como entendê-la se não fazemos o esforço de elevar-nos um pouco além dessa realidade que nos cerca. Descobrir o querer de Deus exige de nós um olhar que saiba transcender a nossa dura realidade.

8. A primeira bem aventurança diz respeito aos bens materiais, numa clara recomendação a não prender a eles o coração, a fazer bom uso do que nos foi confiado. A mansidão é uma outra palavra para o convite a não fazer uso da violência, a ser paciente, tolerante; o que não significa deixarmos de expressar o nosso próprio pensamento.

9. A sede e fome de justiça de Deus não estão caracterizadas pelo sistema de punição de nossa sociedade, mas pelo desejo de mudança nas relações. O Santo padre nos convida a meditar sobre a misericórdia no próximo ano litúrgico, a descobrir que mais que um sentimento de piedade é uma ação em favor de quem tem necessidade de ajuda.

10. A pureza de coração tem como objetivo viver a partir da ética de Deus, procurando a integridade e ao mesmo tempo não ter um coração dividido entre Deus e algum tipo de idolatria.  Os pacíficos são filhos de Deus, pois em meio aos conflitos existenciais, busca o diálogo, a concórdia e a paz.


11. Por fim, quem disse que tentar viver dessa forma não nos fará vítima da incompreensão ou perseguição por parte dos que enxergam tão somente essa existência como um fim em si mesma? Homens e mulheres viveram e vivem aspectos diferentes da santidade que tem sua origem plena em Deus, e com muito esforço buscam a superação dos limites estreitos dessa existência construindo um mundo melhor para si e para os outros, mesmo consciente de estar aqui de passagem, mas quem disse que o céu que buscamos não passa pela trama da vida que estamos tecendo?


Pe. João Bosco Vieira Leite