18º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Ecl 1,2; 2,21-23; Sl 89[90]; Cl 3,1-5.9-11; Lc 12,13-21)

1. Em cada cultura e em cada tempo algumas figuras se destacam pelo modo de pensar e refletir sobre a vida como se andasse contracorrente. Assim é o autor da nossa 1ª leitura. Diante das mudanças que assiste em sua época, sociais e particularmente econômicas, a ponto de relegar as tradições religiosas, ele faz sua advertência.

2. Suas palavras soam num tom meio amargo: o homem corre tanto em seus desejos, mas para quê? Para onde? A felicidade depende disso? Ele não está aconselhando a não trabalhar, mas a um caminho de moderação que leve seu ouvinte a aproveitar tudo que a vida oferece. Sua reflexão é ainda um pouco rasteira. Ela nos prepara ao evangelho.

3. Enquanto isso Paulo nos aconselha a buscarmos as coisas do alto, onde está Cristo. Sem esquecermos que Paulo está falando do Batismo que, sem acepção de pessoas, nos insere numa vida nova. Sua proposta é na realidade uma mudança gradual de comportamento com relação ao que Cristo propõe como valor, como quem endossa uma nova veste. É preciso um pouco de tempo para nos acostumarmos a ela.

4. Para algumas famílias nada mais complicado e revelador que a divisão de uma herança. Alguém escolhe Jesus para mediar um caso do gênero, mas ele o surpreende com a sua resposta. Jesus não se limita a fazer algumas recomendações que já estão estabelecidas pela lei, nem está sendo indiferente ao sentido da justiça que deveria prevalecer.

5. Ele quer ir mais fundo na questão: a ganância, o desejo de acumular gera situações complicadas para si e para os outros. Não está aí a raiz de tantas injustiças e o que tem alimentado tanta corrupção nesse país? Não se trata de um desprezo pelos bens materiais, mas daquilo que nos cega, que nos impede de perceber a estupidez de certas escolhas e a real necessidade dos outros.

6. O personagem da parábola parece alguém dando voltas sobre si mesmo, sem estar preocupado em construir relações, apenas faz contas, como o empresário encontrado pelo Pequeno Príncipe: as estrelas são úteis para ele, mas ele não é útil para as estrelas. Certamente alguém digno de pena.

7. Deus entra na história como um personagem que foi negligenciado e parece ter uma “mão pesada” com relação ao agricultor. Talvez represente o fator surpresa, aquilo ou aquele sob o qual não temos controle. Provavelmente Jesus queira ensinar aos seus discípulos sobre aquilo que é incompatível com o seguimento: a cobiça, a ganância, o egoísmo, ou deixar-se conduzir apenas pelos interesses pessoais.

8. Diz uma canção: ‘A gente leva dessa vida a vida que a gente leva’. É sempre bom pensar sobre o ritmo e o sentido que estamos imprimindo à nossa existência.  

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 30 de julho de 2016

(Jr 26,11-16.24; Sl 68[69]; Mt 14,1-12) 
17ª Semana do Tempo Comum.

Com a memória de Marta ontem, não acompanhamos o discurso que Jeremias faz no Templo desencadeando uma dura reação tanto do povo como dos chefes e assim move-se um processo contra o profeta que virá com uma sentença de morte. Jeremias se defende e escapa de tal sentença. Aquele que o chamou a essa missão se mostra fiel para com o seu profeta na Palavra empenhada. Tal qual João Batista no evangelho, só lhe resta a fé em Deus.

Mateus documenta a triste morte de João, o Batista, por mão de Herodes. A narrativa tem a intenção de ligar o futuro martírio de Jesus com o destino de João. “Herodes e João Batista, como mais tarde Pilatos e Jesus (cf. Jo 18-19), mostram-no com absoluta evidência o dramático confronto entre poder e verdade, que infelizmente continua tragicamente a repetir-se na História, ceifando sem parar vidas inocentes. Mas o que acontece nas altas esferas da sociedade e que facilmente deploramos não tem uma origem diversa do que acontece na vida ordinária, todas as vezes que procuramos, com o poder da nossa autodeterminação, ‘matar’ a verdade invocada pela nossa consciência, ou quando tentamos fazer inclinar a verdade e a liberdade das pessoas para os nossos interesses, ou quando assistimos impassíveis às injustiças que se perpetuam mesmo ao nosso lado, para que não percamos a nossa vida tranquila. O Evangelho de Jesus recorda-nos que o poder nos torna escravos da opinião comum, condena quem o possui a viver no medo de o perder (cf. Mt 14,4.9), aprisiona quem não consegue obtê-lo, ao passo que a verdade é um dom de Deus que alegra o coração e liberta quem a acolhe como critério de vida  (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite




Sexta, 29 de julho de 2016

(1Jo 4,7-16; Sl 33[34]; Jo 11,19-27) 
Santa Marta, discípula de Jesus.

Para celebrar a memória de Marta, a liturgia traz textos específicos. No primeiro momento somos recordados da dinâmica do amor fraterno como consequência desse amor a Deus.  Como não dizer que o amor de Marta ao próximo não esteja relacionado ao seu acolhimento a Jesus? A hospitalidade nos fala das relações que estabelecemos com o outro. A característica fundamental da hospitalidade é a acolhida e o reconhecimento do hóspede por parte do anfitrião. Hóspede pode ser qualquer pessoa, reconhecê-la como hóspede supõe dar um passo importante para o reconhecimento de todos os seres humanos como hóspedes virtuais.
A censura de Jesus a Marta, mesmo querendo acolher da melhor maneira possível, é porque esquece que toda caridade ou hospitalidade devem ser consequência da escuta da Palavra. A hospitalidade convencional tem seus limites, mas a hospitalidade profunda, recôndita, brota da escuta da Palavra de Deus. Todos devemos alimentar a hospitalidade de uns para com os outros, pois, como dizem as Escrituras judaico-cristãs, todos somos hóspedes nesta terra e não temos aqui morada permanente.
O evangelho de hoje não conclui bem o ocorrido, mas sabemos que Marta aprendeu a lição. No evangelho de João é ela que sai ao encontro de Jesus quando da morte do irmão. Entre eles trava-se um diálogo preciosíssimo onde se revela que ela compreendeu verdadeiramente o seu mistério. Compreendamos também nós os apelos que a Palavra de Deus nos faz sobre o verdadeiramente necessário. 

Pe. João Bosco Vieira Leite





Quinta, 28 de julho de 2016

(Jr 18,1-6; Sl 145[146]; Mt 13,47-53) 
17ª Semana do Tempo Comum.

Esta bela imagem do vaso que é constantemente remodelado pelas mãos do oleiro e que no texto se aplica ao povo, a espiritualidade cristã a trouxe para o mundo pessoas daqueles que no reconhecimento de suas limitações pede o Senhor que os refaça. Quem melhor poderia nos reconduzir a originalidade desejada se não Aquele que nos criou e que bem conhece o ‘barro’ de que somos feitos? Deus é aquele capaz de não só refazer ou recuperar, mas também de servir-se de nossas imperfeições para fazer Sua vontade acontecer.

Chegamos à última parábola da sequência comparativa de Mateus, numa parábola que também só encontramos em seu evangelho: “É uma parábola do juízo. A rede é uma imagem da Igreja em que são presos peixes bons e ruins. Mas, assim como os pescadores separam os bons peixes dos ruins, os anjos de Deus procederão no fim do mundo com os homens. É uma parábola de advertência que incentiva os cristãos a fazer tudo para pertencer aos peixes bons. Depende da opção deles pelo bem. Com a imagem do juízo, Mateus não pretende confrontar-nos com a imagem do Deus punidor, ele apenas quer chamar a atenção para as consequências acarretadas pelo nosso próprio comportamento. Fazer parte dos peixes bons depende também de nosso esforço e de nossa resposta à palavra de Jesus” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 27 de julho de 2016

(Jr 15,10.16-21; Sl 58[59]; Mt 13,44-46) 
17ª Semana do Tempo Comum.

As duas festas desse início de semana nos tiraram do acompanhamento dos textos de Jeremiais, mas retomamos agora em meio as suas lamentações: “O texto pertence às ‘confissões de Jeremias’, isto é, à série de textos poéticos, autobiográficos, distribuídos no interior dos capítulos 11-20 do Livro, nos quais o profeta ‘confessa’ abertamente o falhanço da sua missão, marcada pela rejeição e pelo abandono geral, e ainda a sua profunda crise interior, produzida pela solidão, pelo desânimo e pelas dúvidas de fé. A lamentação, em tons muitos fortes, é dirigida a Deus numa oração dramática mas ainda confiante e que, precisamente por isso, encontra resposta numa Palavra divina de renovada confiança e esperança” (Giuseppe Casarin – Lecionário Comentado – Paulus).

Jesus segue em suas comparações de realidades humanas com o Reino dos céus, para nos ajudar a perceber o porquê de alguns fazerem opção por ele, essas parábolas são encontradas só em Mateus: “As duas parábolas usam imagens que conhecemos de muitas lendas e contos de fada. O evangelho é tão precioso que vale a pena vender tudo o que possuímos para obtê-lo” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de julho de 2016

(Eclo 44,1.10-15; Sl 131[132]; Mt 13,16-17) 
São Joaquim e Santa Ana, pais de Maria.

A liturgia dá especial atenção e reverência aqueles que geraram Virgem Maria. Ainda que o conhecimento nos venha de um texto não reconhecido pela Igreja, reconhecemos que toda vida que vem a esse mundo não só tem sua origem em Deus, mas ela é também resultado do cuidado humano, daí o elogio aos antepassados que nos é proposto na primeira leitura. Mas não nos perdemos na simples recordação, pois contemplamos o presente com tudo que de magnífico ele contém. Assim Jesus desperta os seus ouvintes para a graça que Deus lhes concedeu de ver o ouvir o próprio Filho de Deus, despertando-nos certa inveja de tal experiência.

“’Pelos frutos conhecereis a árvore’, diz Jesus no Evangelho. E talvez pensasse, nesse momento, nos dois santos avós. Conhecemos o fruto de seu amor, a Virgem Imaculada, santificada desde o primeiro momento no seio materno, portanto, um fruto não deteriorado pelo pecado original; a ‘cheia de graça’, que tão só pela sua presença santificou o Batista no seio de Isabel. E uma vez que Maria, ‘termo fixo do eterno conselho’, como diz Dante, é ‘aquela que a natureza humana enobrece’, pode bem se dizer mediadora da graça sobretudo para seus privilegiados pais” (Mario Sgarbosa –Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente – Paulinas).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 25 de julho de 2016

(2Cor 4,7-15; Sl 125[126]; Mt 20,20-28) 
São Tiago Maior.

Nessa festa do apóstolo Tiago a liturgia nos oferece como ponto de partida essa reflexão do Apóstolo Paulo que reconhece a própria fragilidade e nessa repousa o poder extraordinário de Deus: “pela graça de Deus eu sou quem sou”. Certamente a liturgia pensa na missão evangelizadora de Tiago, chamado com seu irmão João a deixar a barca, o pai e segui-lo, pensa nas dificuldades que se fizeram sentir, na comunhão com os sofrimentos de Cristo, mas pensa naqueles por quem e para quem Deus os enviou. O evangelho nos recorda quando sua mãe intercede junto a Cristo pelos filhos sem se dar conta exatamente do que estava pedindo. “De Tiago, portanto, podemos apreender muitas coisas: a sua prontidão de receber o chamado do Senhor, inclusive quando nos pede para abandonar o ‘barco’ de nossas inseguranças humanas; o entusiasmo em segui-lo pelos caminhos que Ele nos indica para além de nossa ilusória presunção; a disponibilidade para ser sua testemunha com valentia, se necessário até o sacrifício supremo da vida. Assim, Tiago maior constitui para nós um exemplo eloquente de generosa adesão a Cristo. Ele, que no início havia pedido, por meio de sua mãe, sentar-se com seu irmão junto ao Mestre em seu reino, foi o primeiro que bebeu o cálice da paixão, que compartilhou com os apóstolos o martírio. E, por último, podemos concluir que o caminho, não só exterior, mas especialmente interior, do monte da transfiguração até o monte da agonia, simboliza toda a peregrinação da vida cristã, entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus, como diz o Concílio Vaticano II. Seguindo Jesus como Tiago, sabemos que, mesmo nas dificuldades, estamos no caminho correto” (Bento XVI – Os Apóstolos e os primeiros discípulos de Cristo – Planeta).

Pe. João Bosco Vieira Leite




17º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,20-32; Sl 137[138]; Cl 2,12-14; Lc 11,1-13)

1. Aqueles três personagens que visitara Abraão no domingo anterior não tinham só o anúncio do nascimento do filho tão aguardado, eles vieram verificar a situação da cidade de Sodoma. Os três homens passam a ser chamados de Senhor, numa clara revelação divina. Sabendo de tal intento e lembrado de que seu sobrinho Lot lá habitava, resolveu interceder pelo mesmo.

2. Trazendo à tona o tema da oração e da persistência, o texto é construido ao estilo oriental de negociação: o que seja bom para as partes. Assim a ousadia, a liberdade, a confiança e a intimidade são aspectos que nos colocam na esteira da compreensão do que seria a oração na vida do fiel. Por sua vez, o texto também abre a perspectiva iluminadora de que a persistência na escuta e na meditação da palavra permite ao orante ir percebendo a resposta de Deus.

3. Paulo fala agora sobre os efeitos do batismo: uma nova vida inserida no mistério da ressurreição; eliminar o passado e olhar para frente.

4. Sobre o rezar é possível construir um grande mosaico: sobre sua necessidade, porque rezamos, se Deus já sabe de tudo; é possível fazê-lo mudar de decisão? Por que Jesus rezava? Em que consiste a oração? Jesus rezava para manter aberto esse canal de comunicação com o Pai, talvez para apresentar as necessidades humanas, mas certamente não tencionava mudar a Sua vontade; só queria entendê-la.

5. Aos discípulos que querem ter uma identidade no modo de rezar, Jesus oferece uma espécie de síntese da mensagem cristã. Uma espécie de como rezar. Quem é Deus? A ideia da paternidade divina põe por terra vários muros. A santificação do nome de Deus é um esforço conjunto de fazer o reino acontecer, as palavras não bastam.

6. Contemplamos em nosso diálogo com Ele o necessário para vida; precisamos de força para conquista-lo. Conhecendo a Deus, não nos é permitido alimentar o ódio, o rancor, a rivalidade. Para além daquelas limitações que nos fazem cair, que eu não esqueça ou me afaste da proposta divina; a tentação é sempre grande e constante.

7. Perseverar na oração, não no sentido de modificar a Sua vontade, mas de manter-nos no diálogo e abrir o nosso coração ao acolhimento de Sua vontade. Jesus quer oferecer aos que lhe pedem, e o fará para toda a Igreja, o dom do Espírito Santo, aquele que é fruto da relação do Pai e do Filho, não só ilumina, mas nos transporta para dentro dela. 

8. Oração não é mágica, não é forte ou fraca, ela é exercício filial de quem deseja manter aberta essa porta de diálogo com Deus. Jesus quer nos ajudar a perceber que de alguma forma nós somos atendidos, só precisamos nos deixar conduzir da nossa lógica, do nosso ver e querer para a ótica divina.

9. Sim, lá fora as coisas seguem o seu ritmo, aqui pedimos a Deus a transformação de nossa mente e coração para lidarmos com os desafios da vida. Vamos percebendo aos poucos que Ele caminha conosco.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de julho de 2016

(Jr 7,1-11; Sl 83[84; Mt 13,24-30) 
16ª Semana do Tempo Comum.

No capítulo sétimo Jeremias faz um discurso no Templo, recordando, ao início a liturgia de ingresso no tempo: “Senhor, quem entrará no santuário pra te louvar?”. A prática da justiça seria um modo autêntico de louvar ao Senhor. Assim ele denuncia a hipocrisia do culto, como fizeram outros profetas.

Jesus conta a parábola do joio e do trigo, que encontramos só em Mateus. Um texto que serve a muitas interpretações, mas certamente ele está se referindo as pessoas que dentro da comunidade têm dificuldade de lidar ou conviver com os pecados dos outros. Um rigor sempre combatido por Jesus. “Assim como um bom ceifador, a comunidade também deve deixar crescer juntos bons e maus. Não lhe cabe exterminar os maus. Deus mesmo fará isso na hora da colheita, pois só Deus tem o direito de julgar, os homens não” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”- Loyola).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de julho de 2016

(Ct 3,1-4; Sl 62[63]; Jo 20,1-2.11-18) 
Santa Maria Madalena, discípula de Jesus.

Nesse dia fazemos uma particular memória de Maria Madalena, que teve um papel especial no seguimento e na expansão do evangelho. Por isso a liturgia coloca dois textos que se encontram no amor que provocou o seguimento e a constante busca que faz parte do processo da fé. Depois a encontraremos com o ressuscitado, no evangelho, como a primeira a encontra-lo e enviada a divulgar essa boa nova. “A história de amor entre Deus e os homens chega ao seu término na ressurreição. É o que sugere João no encontro de Jesus com Maria de Mágdala. As primeiras palavras do versículo aludem ao Cântico dos Cânticos: ‘... ao alvorecer, enquanto ainda estava escuro...’ (20,1). Ainda é noite quando a noiva se levanta para procurar aquele que sua alma ama (cf. Ct 3,1). Maria de Mágdala é a grande amante. O amor faz com que vá ao sepulcro, não para ungir o corpo, mas para estar com ele. Ela procura aquele que sua alma ama. Já que não pode encontrar o amado vivo, quer pelo menos abraçar o seu corpo morto. Ela nunca se refere ao cadáver, mas diz três vezes que levaram o seu senhor. Isso não é apenas uma expressão para dizer que o corpo de Jesus não está mais no túmulo, é também uma imagem que significa: na morte tiraram de mim aquele que minha alma ama. Quem, à maneira de Maria de Mágdala, não esmorece em seu amor, pondo-se a caminho para procurar Jesus, haverá de encontra-lo. Mas antes disso são necessárias as lágrimas da tristeza em que se exprime a saudade do amado. Igualmente necessária é a conversão” (Anselm Grun –Jesus: Porta para a Vida – Loyola).
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 21 de julho de 2016

(Jr 2,1-3.7-8.12-13; Sl 35[36]; Mt 13,10-17) 
16ª Semana do Tempo Comum.

O profeta começa situando a relação entre Deus e seu povo: o chamado, a juventude do amor, a terra prometida, o distanciamento, a idolatria. Retrato de um drama comum da vida espiritual que é a tentativa e a tentação de saciar a nossa sede em outras fontes.

Os discípulos querem saber de Jesus o porquê desse uso de parábolas para falar ao povo.  A questão gira em torno da escuta, proclamando a felicidade dos que sabem realmente acolher essa Palavra. Falar em parábolas é um modo de provocar os corações. Jogando com tais realidades, a Palavra é sempre atual, pois dispomos de muitos meios para aprofundar o sentido da mensagem cristã, mas quem de fato está aberto a empreender esse caminho? Mentes confusas, olhos e ouvidos tapados estão presentes em todos os tempos.
  
Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 20 de julho de 2016

(Jr 1,1.4-10; Sl 70[71]; Mt 13,1-9) 
16ª Semana do Tempo Comum.

“A partir de quarta-feira da XVI semana até quinta-feira da XVIII semana a liturgia propõe alguns dos textos mais significativos do Livro de Jeremias [...]. O profeta Jeremias viveu entre o século VII e os primeiros decênios do século VI a. C., durante um dos períodos mais complexos da história de Jerusalém. O começo de sua atividade está colocado sob o reinado de Josias, inspirador de uma importante reforma religiosa destina a reconduzir o povo à fé no Senhor, abandonando toda forma de idolatria. A essa época poderia então remontar a vocação do profeta, narrada no primeiro capítulo do livro” (Giuseppe Casarin). Nosso belo texto da vocação de Jeremias transita entre o conhecimento que Deus tem daquele que chama (escolha) e a força transformadora de Sua Palavra.

Hoje também iniciamos a leitura do clássico texto do semeador e da aventura da semente. Uma série de parábolas no insere na compreensão da dinâmica do reino. Cada terreno parece apontar para a condição com que cada cristão acolhe a palavra de Jesus. “Em cada um, as sementes têm outro crescimento. O fruto da existência cristã é um novo comportamento. Mas há uma segunda imagem que transparece nessas palavras. Vitalidade e fecundidade são os sinais da verdadeira espiritualidade. Quem se deixa transformar por Deus destaca-se pela fecundidade; dele irradiam vitalidade, fantasia e criatividade (13,4-9)” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).
  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 19 de julho de 2016

(Mq 7,14-15.18-20; Sl 84[85]; Mt 12,46-50) 
16ª Semana do Tempo Comum.

As últimas palavras de Miqueias aparecem num tom de súplica e de louvor dirigidas a Deus. Ele reza em nome de seu povo, ao tempo que se identifica com ele. Deus é compreendido como pastor e também a partir de Sua extraordinária e única capacidade de perdoar. O perdão é o prodígio maior por ser capaz de extirpar o mal do coração do homem.

Domingos atrás nós iniciamos a leitura do evangelho de Lucas sobrea decisão de Jesus em subir para Jerusalém, vimos um caminho de seguimento delineado por Jesus e o modo radical que respondeu aos que queriam segui-lo. Tudo isso denunciava um pequeno entrave entre a opção feita e a família, base particular de identidade na comunidade judaica. No evangelho de hoje Jesus deixa transparecer a dificuldade que teve com seus familiares, identificando a nova família a partir da sua comunidade de discípulos. Comumente dizemos que ele não desprezava seus parentes, pode até ser, mas ele teve que se afastar de seu núcleo familiar para encontrar e revelar a nova família que se formava a partir dessa identidade de buscar, tal qual Jesus, fazer a vontade de Deus. Uma família em que ele buscava cultivar os laços da aproximação e de uma nova maneira de ser e de conviver. Nossas comunidades cristãs devem refletir a superação de toda forma de isolamento e separação que vai se acentuando em nossa sociedade, que fazem crescer o medo, a revolta e o estranhamento.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 18 de julho de 2016

(Mq 6,1-4.6-8; Sl 49[50]; Mt 12,38-42) 
16ª Semana do Tempo Comum

Hoje e amanhã acompanharemos textos do profeta Miquéias. Seu livro é composto por sete capítulos. Miquéias testemunha e intervém em meio a uma ordem social em crise devido a corrupção espalhada e a um exercício do poder profundamente injusto que atinge gravemente as camadas mais débeis: os poderosos apossam-se dos campos e das casas e todos os que deveriam condenar a injustiça (juízes, profetas, sacerdotes) ou se calam ou se tornam cúmplices dos abusos. A palavra do profeta é franca e forte de acusação contra tudo isso. O texto de hoje denuncia as raízes de tais malvadezas: a infidelidade religiosa de Jacó e de Judá.

Os fariseus pedem a Jesus um sinal para crerem n’Ele. Jesus sabe que nenhum sinal será suficiente para que eles acreditem. Jesus se refere ao episódio de Jonas e da rainha de Sabá e assim o evangelista evidencia a incredulidade humana, até mesmo daqueles que se consideram sábios e religiosos. Essa realidade tem seus acentos em todos os tempos. Rezando esse texto e recordando de outras passagens, poderíamos dizer que a fé independe dos sinais, assim como os sinais pouco acrescentam à fé de qualquer pessoa. A verdadeira conversão é o melhor sinal de uma fé viva e forte.



Pe. João Bosco Vieira Leite

16º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Gn 18,1-10a; Cl 1,24-28; Lc 10,38-42).

1. Esta cena do acolhimento de Jesus por parte de Marta e Maria, deu à nossa liturgia a possibilidade de refletir sobre o acolhimento, a hospitalidade que prestamos aos outros.  Às vezes podemos nos mover por algum interesse nesse campo, mas os textos recolhidos querem nos situar no campo da gratuidade e do quanto isso faz bem ao que o pratica.

2. O texto do Gênesis nos recorda um dia especial na vida de Abraão, quando foi visitado por três homens, no desenrolar do texto descobriremos que eram anjos com uma mensagem ao velho patriarca. Tal imagem foi interpretada por um pintor como a visita do próprio Deus, em seu mistério trino. Mas o que interessa a nós é perceber o quanto Abraão se desdobra para acolher aqueles estrangeiros.

3. Longe da nossa realidade cultural e dos tempos de insegurança e desconfiança em que vivemos, a liturgia quer saber como acolhemos os que nos buscam. Como são acolhidas as pessoas por nós a partir de nossa própria realidade? Em minha casa, no meu trabalho. Sob pequenos gestos de gentileza, Deus pode nos visitar, trazendo à nossa vida algo de positivo.

4. A carta de Paulo que estamos acompanhando foi escrita a partir da prisão, uma das tantas aflições experimentadas por ele por causa do evangelho. Ele vive essas experiências a partir da sua comunhão com os sofrimentos de Cristo, mas também consciente de que seu trabalho tornou Cristo presente entre eles, dando continuidade à sua obra evangelizadora.

5. Nossa comunidade é ainda jovem, mas pensemos em quantos, a exemplo de Paulo, se comprometeram com a causa do evangelho para tornar possível a comunhão com Cristo em nossas comunidades de fé?

6. Quando Jesus ia a Jerusalém ele nunca se hospedava na cidade mesma, mas ia para Betânia, um povoado próximo, onde os irmãos Lázaro, Marta e Maria lhe davam hospedagem. Certamente era um privilégio poder ouvir assim tão de perto o pregador itinerante; a mesa aparece nos evangelhos como um lugar de comunhão e de partilha não só de alimento, mas da vida.

7. Marta tenta demonstrar seu carinho por Jesus sendo solícita em alimentá-lo, enquanto Maria, despreocupada, está sentada aos pés de Jesus. A discussão se instala sobre quem faz o melhor. A atitude Maria é admirável para o seu tempo, pois nenhum mestre acolhia mulheres como discípula. Jesus rompe com esse parâmetro e Lucas deixa claro que mulheres o acompanhavam no discipulado.

8. Ele não estava inaugurando nenhum movimento feminista, apenas afirmando que homem e mulher estão constituídos da mesma dignidade diante de Deus, ainda que atribuamos a Ele a categoria masculina. Evoluímos um pouco nessa compreensão, mas questões culturais ainda se sobrepõe ao evangelho.

9. Jesus não está censurando Marta pelo seu cuidado para com Ele, mas pela agitação com que envolve seu ser sem permitir que a Palavra ilumine as suas prioridades. Jesus salienta mais uma vez a primazia que a Palavra deve ter em nossa vida. Para que as atividades de seus discípulos e discípulas no mundo ou na Igreja não seja um simples ‘bater de panelas’.

10. É preciso deixar-se guiar pela Palavra de Jesus. Há um tempo para parar e escutar e outro de se envolver e fazer acontecer. Um equilíbrio que às vezes nos escapa pelos dedos. Maria nada responde no texto para se defender e não sabemos do desfecho da cena, mas talvez possamos imaginar que ela depois tenha ajudado a sua irmã sem fazer disso um fardo, sem agitação, compreendendo melhor o sentido das coisas da vida. Compreender a necessidade de desenvolver a escuta da Palavra e saber o momento justo de agir quando as realidades que nos cercam pedem um pouco mais de nós.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 16 de julho de 2016

(Zc 2,14-17; Sl Lc 1; Mt 12,46-50) 
Nossa Senhora do Carmo.

A Igreja celebra hoje a festa do Carmelo, essa particular elevação geográfica que remonta ao tempo do Profeta Elias e que depois viria ser, no século XIII, a morada de um grupo de eremitas que ao redor de uma igreja dedicada a Nossa Senhora, se organizaram como “irmãos da ordem de santa Maria do monte Carmelo”. “Nesse contexto claramente mariano (os ‘irmãos’ se consideravam parte da família de Maria), consegue-se captar o significado profundo encerrado em lendas e relatos caros à tradição carmelita. Lembremos a célebre interpretação mariana dada à nuvenzinha que anunciou a Elias a dádiva da chuva (cf. 1Rs 18,44): a nuvem é figura de Maria, aurora da redenção trazida por Cristo. Naturalmente a Mãe de Deus, escolhida como modelo a quem imitar e padroeira a quem obedecer pessoal e comunitariamente, encontra-se no centro da experiência espiritual dos ‘irmãos do Carmelo’ (e de todos os que em seguida participarão de sua espiritualidade: religiosas, confrarias, terciários), experiência centrada na guarda contemplativa da Palavra evangélica que os torna bem-aventurados” (Maria na Igreja em oração – Corrado Maggioni – Paulus).  Assim podemos compreender que a palavra de Jesus no evangelho de hoje tem a intenção de estender esse vínculo que une Mãe e Filho a todos os seus discípulos, pois os laços provenientes da escuta da Palavra são mais fortes que os de sangue. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de julho de 2016

(Is 38,1-6.21-22.7-8; Sl 38; Mt 12,1-8) 
São Boaventura, bispo e doutor.

Saltamos para o capítulo 38 de Isaias, finalzinho do seu primeiro livro, onde encontramos esse trecho narrativo que remonta ao livro de 2Rs 20,1-11. Temos a doença e a cura de Ezequias; o texto coloca sua ênfase na confiança que o rei tem em Deus.

No capítulo de Mateus tem início uma série de controvérsias entre Jesus e os fariseus ou as autoridades religiosas num clima crescente. No texto de hoje, mais uma vez, a observância do sábado entra no centro da discussão. Essa questão do sábado parece não nos dizer respeito, mas podemos trazer para a nossa realidade cristã quando observamos minuciosamente certas regras, mas descuidamos do amor ao ser humano, como tinha Jesus, pois o verdadeiro espírito da lei é a promoção e a defesa da vida que só podemos compreender pela força da intimidade que alimentamos com Deus e na escuta de sua Palavra. 

Pe. João Bosco Vieira Leite



Quinta, 14 de julho de 2016

(Is 26,7-9.12.16-19; Sl 101[102]; Mt 11,28-30) 
15ª Semana do Tempo Comum.

Fazemos um grande salto em nosso texto para situar-nos após o tempo do exílio; nesse breve texto o autor medita sobre o modo como Deus age na história. Ele é o grande protagonista, mesmo nos sendo difícil mostrar a sua ação concreta. Ao final o texto traz na comparação com o parto e lembra o fracasso das iniciativas humanas que geram morte, assim, numa visão de ressurreição, Deus os fará despertar.

Jesus convida-nos a fazer uma experiência de intimidade com Ele. Ele se dirige àqueles que labutam e carregam fardos. A proposta de Jesus, contida em suas pregações, falam de paz e mostra o caminho de atitudes que nos farão encontra a paz: “A primeira delas é a bondade acompanhada de brandura, ou seja, da amabilidade para conosco e para os outros. [...] A segunda é a humildade. Ter humildade significa ter a coragem de descer as profundezas da própria humanidade, para os abismos da alma. Jesus é humilde coração. Ele desceu às profundezas da terra, mas sem esquecer o coração. Quem trilhar esse caminho de Jesus experimentará que o fardo de Jesus é leve e que seu jugo não oprime. Jesus ergue em vez de subjugar. Ele nos dá liberdade interior e leveza, em vez de peso e depressão. A sua mensagem é misericórdia e não sacrifício (cf. 9,13 e 12,7; em ambos os casos, Mateus cita Os 6,6). O cristão não deve ser vítima da legalidade, não deve imolar-se a si mesmo no altar do perfeccionismo, antes, deve ser misericordioso consigo mesmo. A misericórdia é a verdadeira atitude que Jesus quer transmitir aos seus discípulos com todo o seu ser e com as suas palavras” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de julho de 2016

(Is 10,5-7.13-16; Sl 93[94]; Mt 11,25-27) 
15ª Semana do Tempo Comum.

Diante da iniquidade de Israel, Deus se serve da Assíria como instrumento de punição do seu povo. É claro que o inimigo não compreende os planos divinos e impõem seus planos imperialistas; excede-se e tenta aniquilar. Mas Deus agirá a seu tempo para humilhar aquele se ostenta.

Jesus rejubila-se numa oração pelo modo como Deus deixa-se perceber pelos pequeninos. Os pobres, os simples, os marginalizados, os incultos, os humildes e ingênuos: “É a essas pessoas que Jesus oferece, em sua pregação, a participação do seu relacionamento de carinho e amor entre Pai e Filho. E agora o filho introduz também os cristãos nessa relação amorosa com o Pai. Ele os faz participar da experiência mística do Pai” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”). A nossa felicidade consiste no conhecimento de Deus, na união com ele o evangelho de João e a sua primeira carta são o melhor comentário a esse pequeno e denso texto.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de julho de 2016

(Is 7,1-9; Sl 47[48]; Mt 11,20-24)
15ª Semana do Tempo Comum.

Entramos agora numa série de textos voltados para guerra de Damasco e Israel; em meio a esse contexto temos o anúncio de um menino chamado Emanuel, uma resposta da fidelidade divina à dinastia davídica ameaçada. O texto lembra que a fé em Deus deve vencer o medo natural.

A liturgia salta o comentário de Jesus a respeito de João Batista para nos apresentar a recriminação às cidades que assistiram a muitos milagres de Jesus, elas pertencem à região da Galileia, onde Jesus iniciou seu ministério. Jesus fala em tom comparativo com o Antigo Testamento para dizer que Corazim e Cafarnaum representam as cidades que recusaram a ocasião oferecida de arrependimento como preparação para acolher o anúncio evangélico. Aplicado a cada um de nós, o texto nos questiona nossa pouca conversão diante do amor de Deus por nós demonstrado em Jesus.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 11 de julho de 2016

(Is 1,10-17; Sl 49[50]; Mt 10,34—11,1) 
São Bento, abade e pai dos monges.

Depois de relatarmos a vocação do profeta, retroagimos ao início de sua missão e sua pregação. No texto de hoje ele dirige um oráculo sobre a relação culto e justiça. O culto se apresenta viciado, pois a injustiça é constantemente praticada. Mas o profeta deixa claro que Deus nunca rejeita, atrai e oferece alternativa.

Chegamos ao final do discurso da missão e, segundo Mateus, o discípulo leva consigo não só a paz, mas também a separação (espada). Aparece aqui o contexto do seguimento a partir daquilo que meditamos em Lucas no 13º Domingo Comum com relação à decisão tomada e dedica uma palavra à todos quanto acolherem aqueles que são enviados. “A palavra de Deus que anunciamos é como uma espada de dois gumes: ela divide os pensamentos dentro de nós. Ela separa os nossos pensamentos de perdição dos pensamentos de salvação. A palavra exige decisão: não uma palavra descompromissada que pode ser ouvida e desfrutada. Por meio de nosso anúncio, a palavra de Deus quer penetrar no coração dos homens, para separar os pensamentos que trazem vida dos outros que prejudicam o ser humano. A palavra do anúncio pretende conclamar os homens a se decidir a favor de Deus, distanciando-se de tudo que é antidivino” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”). 


Pe. João Bosco Vieira Leite

15º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Dt 30,10-14; Sl 68[69]; Cl 1,15-20; Lc 10,25-37).

1. A pergunta do mestre da lei no evangelho, sobre como herdar a vida eterna, fez com que a liturgia tomasse esse texto do Deuteronômio a respeito da lei divina. Ela não é simplesmente algo que vem do alto, como uma imposição, mas ela nasce do coração humano. O que Deus quer de nós é a mesma coisa que o nosso coração deseja.

2. Podemos assim compreender a palavra de Jesus, quando chama de bem-aventurados os puros de coração. Quando não nos deixamos cegar pelas paixões; quando não nos deixamos levar por frios raciocínios, nosso coração permanece aberto às inspirações divinas. 

3. Antes de chegarmos ao evangelho, a liturgia nos propõe nesses quatro domingos que se seguem a leitura de trechos da carta aos colossenses. Como sempre Paulo está tentando corrigir certa compreensão errônea de algum elemento da fé. Esses assimilaram certa doutrina que afirmava a existência de misteriosos espíritos.

4. Tais espíritos seriam superiores a Cristo, por isso Paulo insere em seu texto esse hino a Cristo que proclama a primazia de Cristo sobre todas as coisas e poderes. Quando a nossa fé não é firme podemos facilmente ser vítimas do medo que pode nos levar a recorrer a outras forças que nos protejam, correndo o risco de acender uma vela para Deus e outra para o diabo.

5. Voltando a nossa reflexão provocada pela 1ª leitura, Jesus trava um diálogo com um mestre da lei. Jesus lhe recorda que não basta saber o que Deus nos pede, é preciso praticá-lo. A questão começa a girar em torno do texto do livro do Levítico que acrescenta ao amor a Deus o amor ao próximo. Quem é esse próximo?

6. Para os judeus a compreensão era limitada, territorialmente, para Jesus a questão era mais humana que cultural, está vinculada à própria natureza humana. Para melhor esclarecer sua visão das coisas ele conta uma história universalmente conhecida, onde a prática da misericórdia transcende raça, cultura e religião.

7. Há uma riqueza de detalhes que se esconde na narrativa, mas Jesus apresenta esse homem sem nenhuma identificação para caracterizar a universalidade de sua narrativa. Mas identifica aqueles que por ali passam: dois judeus piedosos e um samaritano. Jesus cutuca assim uma prática religiosa que não transcende o mero formalismo; para dizer o mínimo. Ao mesmo tempo mostra que o estrangeiro, o que tomamos por inimigo, o desconhecido pode nos surpreender.

8. O homem move-se tão somente por compaixão; perceber a necessidade do outro o fez identificar quem era o seu próximo. Que outra resposta poderia dar o mestre da lei? Se o seu coração for honesto, puro e simples, ele identificará as situações que seriam a real preocupação divina: a vida do ser humano, constantemente ameaçada.

9. Não existe um manual para entender certas coisas. Podemos ter imagens diferentes de Deus em nossa mente, mas aquela que se traduz universalmente é o da solidariedade, da compaixão e da misericórdia pelo outro. Independente da religião, nela se traduz o verdadeiro Deus que Jesus veio nos ensinar.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 9 de julho de 2016

(Is 6,1-8; Sl 92[93]; Mt 10,24-33) 
Santa Paulina de Jesus, religiosa e Virgem.

Na 1ª leitura semanal de hoje até a próxima sexta teremos alguns trechos da primeira parte do livro do profeta Isaias (caps. 1-39). Nosso profeta é contemporâneo de Amós e Oséias e desempenhou seu ministério entre os anos 740 e 701 a.C. O tema que perpassa a sua pregação é o da fé enquanto resposta do homem ao Deus que age na história. Esta consiste em permanecer na calma e na fidelidade perante as ameaças adversas da vida, dirigindo com confiança o seu coração para Deus que é o nosso salvador. Diferentemente de outras narrativas, a vocação do profeta não vem descrita logo ao início, mas sim no capítulo seis. No templo, ele tem uma visão clara da transcendência e da absoluta majestade de Deus, daí a expressão: ‘santo, santo, santo’, isto é Santíssimo. A reação do profeta é a do ser humano no reconhecimento do abismo de pecado que o separa do Senhor. Mas Deus suprime tal abismo, purificando os seus lábios para que possa responder positivamente ao chamado divino.

Jesus reforça a ideia de identificação do discípulo com o mestre, a quem também desconheceram e disseram o que não era verdade e recomenda também tolher do coração esse medo que lhes atrapalha. “Está aí o motivo da falta de medo: ter conhecimento do que há de secreto dentro de nós. Se não tivermos medo dos pensamentos secretos e das paixões dentro de nosso coração, os homens tampouco conseguirão amedrontar-nos quando procurarem descobrir os segredos de nosso coração. Se mostrar a Deus o que há de encoberto em nós, cheio de confiança de que a sua luz desvelará o encoberto e iluminará o que há de escuro, conseguiremos viver sem medo. Deus que conhece todos os abismos de nossa alma, é a verdadeira libertação do medo humano” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 8 de julho de 2016

(Os 14,2-10; Sl 50[51]; Mt 10,16-23) 
14ª Semana do Tempo Comum.

Nosso último texto do profeta e também último capítulo do seu livro não tem o ‘castigo divino’ como último elemento, mas um forte apelo à conversão. Uma renúncia das alianças políticas e da idolatria se percebe pela nessa oposição entre as obras de suas mãos e as de Deus. É a vitória do amor sobre a ira e para isso recorre às mesmas imagens do Cântico dos Cânticos, retomando a comunhão nupcial como retrato simbólico.

Jesus recorre a uma comparação para expressar dos perigos que comporta a missão cristã no mundo e os instrui. “Ele os instrui a ser astutos e ingênuos. Parece uma contradição. A maioria dos exegetas lança-se de imediato sobre a ingenuidade e pureza das pombas. Essa atitude corresponde melhor ao ideal cristão: viver na pureza de coração, sem segundas intenções, sem se deixar contaminar pelas agressões dos adversários. Mas Jesus recomenda também a astúcia das serpentes. [...] Jesus usa esse símbolo negativo, entre os judeus, em sentido positivo. Os cristãos devem ser astutos como as serpentes. Eles devem manter-se em contato com a sua vitalidade, com a sabedoria da natureza, com a energia da sua sexualidade. Eles não devem guiar-se apenas por elevados ideais, mas devem viver a partir da sabedoria do mundo dos instintos, da astúcia natural das serpentes. Quem está em harmonia consigo próprio não precisa defender-se logo de qualquer ataque. Como a serpente, ele se subtrai àquele que quer ataca-lo. Na verdade, nos sentimos atacados sempre que alguém menciona algo que não podemos aceitar em nós próprios. Quem puder observar tudo o que há dentro de si, mesmo a característica de serpente, com o olhar puro das pombas, para esse tudo será puro. Ele pode viver entre os lobos, sem ser despedaçado por eles. Suas agressões nada podem contra ele (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta, 7 de julho de 2016

 (Os 11,1-4.8-9; Sl 79[80]; Mt 10,7-15) 
14ª Semana do Tempo Comum.

As duras palavras do profeta se revestem agora de um poema de amor paterno de Deus, com traços maternais e viva memória da libertação do Egito e de outros momentos da história de Israel com o seu Deus. Aqui se reflete os mesmos sentimentos da imagem das núpcias já apresentadas pelo profeta. Quando tudo parece perdido pela resistência do ser humano, o amor invencível de Deus salva tudo. Esse amor não se confunde com o amor humano, ainda que o inspire.

O anúncio do Reino é o primeiro elemento que os discípulos devem ter presente, o que não é uma questão tanto de palavras, mas de ação concreta em favor da humanidade. Certamente Jesus vê o nosso agir no esforço dos meios que restabelecem a saúde, mas importa mesmo a mensagem e o tratamento que lhe prestamos na aceitação das limitações e na abertura a Deus. Segue-se uma série de orientações práticas e ao mesmo tempo simbólicas que não nos permite tomar o texto ao pé da letra, como fez Francisco de Assis, mas a dinâmica da paz ele bem o compreendeu e praticou: “Com nossa mensagem queremos anunciar a paz, levando a paz para dentro da casa das pessoas. Não queremos exigir demais dos seres humanos, queremos tão somente mostrar o caminho da paz àqueles que se atormentam a si mesmos, que vivem em discórdia consigo próprios e com o seu meio. Mas quando as pessoas não querem essa paz, não devemos atormentar-nos, atribuindo toda culpa a nós mesmos. Devemos deixa-las. ‘E volta a vós a vossa paz’ (10,13). Não levaremos conosco a decepção, e sim a paz interior. Respeitamos a liberdade das pessoas e reconhecemos também nossos próprios limites que experimentamos durante o anúncio da Boa Nova” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Quarta, 6 de julho de 2016

(Os 10,1-3.7-8.12; Sl 104[105]; Mt 10,1-7) 
14ª Semana do Tempo Comum.

A imagem da videira, aqui explorada por Oséias, também aparece em outros profetas. Aqui ela é símbolo de prosperidade e tudo indica que quanto mais prosperava, mais altares eram erguidos não só ao Senhor. O que seria multiplicação aparece como divisão. Não obedecem a Deus nem ao rei. Eis que o velho pecado de infidelidade e idolatria retorna tanto quanto o castigo divino.  Um grito de desespero clama por cair na mão de Deus e não dos inimigos. Que caminho lhe resta se não voltar ao Senhor?

Entramos no capítulo décimo de Mateus conhecido como o segundo grande discurso de Jesus, desta vez voltado para a missão dos seus discípulos. Certamente uma coletânea de ensinamentos de Jesus colocados num mesmo espaço, uma vez que os encontramos em Marcos e Lucas num outro contexto. Num primeiro plano estão os doze escolhidos, que representam os discípulos de todos os tempos, particularmente as lideranças apostólicas. Neles o agir como o de Jesus prolonga Sua presença entre nós. “Hoje em dia, precisaríamos, na Igreja, dessa arte de Jesus de unir numa missão comum pessoas das mais diversas tendências políticas e sociais, uma vez que os diversos movimentos trabalham mais um contra o outro que em conjunto” (Anselm Grun, “Jesus mestre da salvação”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 5 de julho de 2016

(Os 8,4-7.11-13; Sl 113B[115]; Mt 9,32-38) 
14ª Semana do Tempo Comum.

Saltamos, em nossa leitura de Oséias, para a segunda parte do livro, nesta aparece a condenação do pecado de Israel e o convite à conversão. O que está por trás do nosso texto: a separação do reino do Norte é condenada por separar-se da casa real de Davi, elegendo reis não pertencentes à estirpe escolhida por Deus. Uma crítica também ao sincretismo religioso e a vivência da idolatria. O texto lembra que as ações humanas nunca ficam sem consequências, embora pareçam impunes. É contra os idólatras que a palavra se dirige com promessas de castigo, pois a ira do Senhor que aqui se revela, brota do seu amor.

Mateus encerra sua narrativa dos milagres de Jesus. A cura do homem mudo e possuído pelo demônio tem um caráter também simbólico. Jesus realiza tudo aquilo que o profeta Isaias havia dito do Messias, mas os chefes do judaísmo são incapazes de reconhecer. Jesus aqui não entra em debate com os que não creem, apenas contempla uma multidão cansada e nos convida a rezar pelos missionários do evangelho. “Certamente também nós somos chamados a ter parte neste desígnio, e os talentos humanos devem frutificar ao serviço do Reino, ao compromisso missionário, mas não a ponto de se tornarem objeto de idolatria. O próprio Senhor providenciará pela Sua messe, se nós nos abrirmos a Ele com confiança, com a oração insistente” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus). 


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda, 4 de julho de 2016

(Os 2,16-18.21-22; Sl 144[145]; Mt 9,18-26) 
14ª Semana do Tempo Comum.

Esta semana acompanharemos alguns textos do profeta Oséias, uma pequena amostra de sua pregação. Viveu, como Amós, no sec. VIII a. C. no reino do Norte, próspero e iníquo. Não há muitas informações sobre a sua origem, o que o texto nos revela é seu drama familiar. Casado com Gomer, uma mulher que exerce a prostituição sagrada nos ritos pagãos, da qual teve três filhos que têm nome de maldição. Oseias lê na sua vida o drama do amor ferido, ou seja, do amor de Deus pelo seu povo infiel, que é o amor tenaz e incapaz de ceder perante a traição. Assim, o profeta traz à linguagem bíblica uma novidade: a utilização da linguagem do amor esponsal para representar a aliança com de Deus com o povo. A imagem de Deus como parceiro esponsal, originalidade própria de Oseias, irá encontrar atuação plena na condição esponsal de Cristo-esposo anunciado nos evangelhos, nas cartas paulinas e no Apocalipse. Nesse retrato geral é que vamos acompanhar os textos dessa semana. No texto de hoje, acompanhamos um oráculo em que a voz de Deus ressoa no coração da esposa infiel para a seduzir de novo, fazer-lhe reencontrar a frescura do primeiro amor e enche-la de bens. No texto está condensada toda a força do amor esponsal de Deus que, ferido pela traição do seu povo, todavia não desiste, até que tenha reconquistado a Amada. Podemos tomar para nós esse apelo amoroso e insiste de Deus.

Duas curas são relatadas hoje por Mateus, elas acontecem num processo de deslocamento de Jesus, o caminhar, e estão profundamente ligadas à fé em Jesus. O mistério da morte aparece como um sono e a ressurreição é um despertar. O poder de Jesus atinge até a morte. Aquela mulher no meio da multidão acredita que só em tocar em Jesus ela poderá ser curada. “A fé do pai da menina defunta (evangelho): é uma fé aberta, contra toda esperança, contra toda a evidência, perante a morte. A fé da hemorrágica: é a fé de uma pessoa que vence a vergonha e o isolamento em que está envolvida a sua existência, e encontra coragem de se aproximara às escondidas para conseguir misericórdia. Sobre tudo isso, a imagem de Cristo-esposo, prefigurada na experiência de Oséias [...], é o amor esponsal a levar Jesus junto da fraqueza do homem, junto de cada um de nós, para sarar as feridas, para restituir a vida. Este amor esponsal dirige-nos continuamente o seu apelo doloroso a fim de que escutemos a sua voz, acolhamos a sua intimidade, abramos o nosso coração, e ressuscitemos da morte para vida eterna” (“Lecionário Comentado” – Giuseppe Casarin – Paulus).


Pe. João Bosco Vieira Leite

São Pedro e São Paulo – Missa do dia

(At 12,1-11; Sl 33/34; 2 Tm 4,6-8.17-18; Mt 16,13-19)

1. Na solenidade de Pedro e Paulo, a liturgia nos oferece, a respeito dos dois apóstolos, dois textos em si diversos, mas que se complementam. Pedro e Paulo experimentaram, ao longo do seu ministério a oração contínua da Igreja e também a maravilhosa intervenção divina em algumas situações particulares do ministério de ambos.

2. Às vezes, aos moldes do Antigo Testamento, se destaca o extraordinário, que prende a atenção do leitor, mas que deve levá-lo a compreensão da mensagem maior: Deus jamais abandona quem põe sua vida em perigo pelo evangelho. Pedro e Paulo não só escaparam miraculosamente da morte, mas foram libertados do medo de oferecer a própria vida. Disto nos fala a 2ª leitura.

3. A liturgia nos convida a rezar sempre, por aquele que está colocado à frente da nossa Igreja, mas também a sermos conscientes que não se vive a fé, de fato, sem nenhuma contrariedade. No evangelho da vigília, Jesus alerta Pedro sobre o que o espera. Paulo, escrevendo a Timóteo, sabe o que espera e abre seu coração ao companheiro de evangelização.

4. Paulo faz um breve balanço de toda a sua vida, comparando-se a um atleta. Sabe de como Deus esteve ao seu lado e espera de Deus a recompensa final. De Pedro e Paulo a liturgia destaca a dedicação, o amor e a coragem com que desenvolveram o seu ministério e nos servem de referência em meio aos medos e dificuldades em que vivemos a fé cristã.

5. Esse relato do evangelho, que se repete várias vezes ao ano, está no centro da narrativa dos 3 evangelistas. Ele se desenvolve num ambiente particular, povoado de beleza natural, mas também sede do poder político. Este diálogo de Jesus serve também de introdução ao anúncio de sua paixão. Daí a pergunta que ecoa nos ouvidos e corações dos seus discípulos de ontem e de hoje: Que dizem de mim?

6. Por vezes ficamos chocados com a diversidade de opiniões, com o que alguém escreveu, com os espetáculos que denigrem a nossa fé. As opiniões e os pontos de vista são tão diversos como divergentes. Para não nos perdermos em tanta informação, Jesus nos conduz ao essencial: “Quem sou eu para você?”.

7. Nossa resposta pode ter sido aprendida, decorada, mas ele continuará insistindo conosco, como fez com seus discípulos, numa resposta que faça toda a diferença. Como a fé em Jesus afeta concretamente a minha vida? Que escolhas fiz e faço por causa dele?

8. É claro que a liturgia quer destacar a resposta solene de Pedro, que é também de Paulo e de Francisco em nossos dias. Não importa tanto saber se a rocha sobre a qual se ergue a Igreja seja a frágil fé de Pedro, importa sermos cientes que a fé de Pedro está fundamentada sobre Cristo, a pedra fundamental, que menciona Paulo.

9. Assim a nossa fé católica contempla na figura do Papa esse elo de unidade que Cristo deixou aos seus discípulos. E acolhemos de seu ministério essa necessidade contínua de conversão, de um retorno às origens de nossa fé, para compreender que o pastoreio não é um privilégio, mas uma forma de colocar em prática esse amor que dizemos ter à Cristo que se expressa na prática concreta da caridade, do acolhimento, do perdão, da paciência e do cuidado.

Pe. João Bosco Vieira Leite