Sábado, 30 de abril de 2016

(At 16,1-10; Sl 99[100]; Jo 15,18-21) 
5ª Semana da Páscoa.

Os Atos inicia uma nova etapa em que se volta, particularmente, para o ministério de Paulo que ao separar-se de Barnabé, empreende um novo caminho geográfico, não tanto indicado pela comunidade de fé, à qual ele se mantem fiel na transmissão de suas decisões, mas pela escuta do coração. No cenário desponta Timóteo, companheiro e herdeiro de sua mensagem. É possível perceber com que sutileza Paulo vai ‘lendo’ o que o Espírito lhe propõe como caminho de evangelização; até de noite Ele lhe adverte o coração. Precisamos também dessa capacidade de se deixar conduzir pelo Espírito de Jesus. O Apóstolo não nos revela o segredo, mas nos deixa intuir que ele busca manter uma comunhão com o seu Senhor, seja vivendo na Sua presença ou por uma vida de oração constante.   

A comunhão de vida estabelecida por Jesus com seus discípulos se estende de modo amplo e irrestrito. O discípulo é advertido que muitas vezes ele perceberá a sua própria vida se confundindo com a de Jesus. Então as palavras de Jesus voltarão ao seu coração e ele se alegrará por comungar da vida do seu Senhor. Francisco de Assis tinha muito disso nas peripécias enfrentadas no seu caminho evangelizador. Que a recordação da palavra de Jesus traga força e conforto ao nosso coração quando tivermos que atravessar alguma situação difícil não só pelo testemunho de fé, mas também pelo desafio de aceitar a vida assim como ela se apresenta. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 29 de abril de 2016

(At 15,22-31; Sl 56[57]; Jo 15,12-17) 
5ª Semana da Páscoa.

Por esse texto de Atos podemos entender a importância que tem para a Igreja esses documentos, cartas, exortações... Um modo de comunicar aquilo que foi decidido pelas lideranças sob a luz do Espírito para o bom encaminhamento da vida das comunidades de fé. Nossa vida cristã, na vivência da comunhão e da unidade precisa de nossa atenção ao que diz o magistério de nossa Igreja. Há muita coisa importante e interessante que desconhecemos.

Jesus reforça o que já havia dito no capítulo 13 que acompanhamos nesse domingo passado. O amor de Jesus, referência no nosso agir cristão no amor, tem na entrega de Jesus a sua maior expressão: dar a vida. Jesus os chama de amigos, aqueles com quem compartilhamos nossa vida e nossa intimidade e pelo qual o afeto é livre de qualquer interesse. Quem ama o Filho, ganha a simpatia do Pai, por isso podemos livremente e confiantemente expressar a ele o desejo do coração. “Nessa imagem da amizade, João descreve o mistério da nova relação de Deus com nós homens, que se tornou realidade por Jesus. Somos amigos de Deus. Somos amigos de Jesus. O amor amical é pura dádiva. Não nos sentimos mal em vista da obrigação de retribuí-lo. Ele simplesmente está aí. Quando passamos a ser amigos, o amor flui espontaneamente. Na imagem do amigo, Jesus nos mostra nossa dignidade. Estamos na mesma altura dele. Tornamo-nos íntimos. Ele se abriu conosco. Revelou-nos tudo o que ouviu do Pai. Estamos a par de todos os segredos desse amigo divino. A morte de Jesus não nos deve causar remorsos, como se fôssemos culpados. Pelo contrário, na morte Jesus está especialmente perto de nós, como nosso amigo. É nesse momento que é selada a nossa amizade. Podemos experimentar como somos importantes para Jesus, a ponto de ele entregar a sua vida por nós”  (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta, 28 de abril de 2016

(At 15,7-21; Sl 95[96]; Jo 15,9-11) 
5ª Semana da Páscoa.

Pedro toma a palavra para explicar como Deus não faz acepção de pessoas e Tiago ilumina a compressão dos ouvintes com a própria palavra de Deus, lembrando que para além das observâncias judaicas, Moisés é também ouvido por outros povos. A Palavra e o testemunho abrem caminho para a compreensão desse tempo novo que a fé cristã está trazendo para o mundo. As mentes devem se abrir ao novo e às realidades novas que vão surgindo, como fez Jesus, buscando dar uma resposta o mais próximo possível da fé e da realidade. Penso que seja isso que o Papa Francisco, na esteira da tradição eclesial vem tentando abrir esse espaço de diálogo e do repensar a misericórdia divina em meio às novas realidades.

A metáfora da videira culmina num convite a permanecer em Jesus, tanto quanto Ele permanece no amor do Pai. Comunhão e unidade aparecem como um exercício de perseverança no amor. “O amor se parece com um recinto em que podemos entrar e morar. E o amor se parece com uma fonte à qual estamos ligados, assim como o ramo está preso à videira da qual recebe força e vigor. O motivo do nosso amor é o amor de Jesus com o qual nos amou até a consumação. Esse amor é motivo de alegria. Os Padres da Igreja interpretaram a palavra de Jesus sobre a alegria perfeita que nos dá como a promessa de uma alegria indestrutível, de uma alegria que ninguém pode nos tirar. O ser humano anseia por essa alegria que já não depende do sucesso e da atenção, mas que brota da experiência interior. É a alegria como resposta ao amor incondicional de Jesus. Jesus nos põe em contato com a alegria que é uma qualidade interior de nossa alma. Nele, a nossa alma se expande. A alegria é a expressão da vida que está dentro de nós e com a qual Jesus nos põe em contato por meio do seu amor” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 27 de abril de 2016

(At 15,1-6; Sl 121[122]; Jo 15,1-8) 
5ª Semana da Páscoa.

Esse texto da 1ª leitura é muito importante para entendermos como as soluções de problemas na Igreja passa por um processo de consulta para manter a unidade. Retorna o problema dos pagãos e dos judeus convertidos. A antiga tradição de Moisés sobre a circuncisão estava tão religiosa e culturalmente presente que a novidade cristã não conseguiu dar-lhe ainda uma nova compreensão. Veremos o desfecho amanhã. É importante que compreendamos a estrutura hierárquica com que a nossa Igreja nasceu e como sobrevive a sua unidade, ao mesmo tempo perceber como o cristianismo foi se adaptando ao longo do tempo para cristianizar as realidades.  

É por causa dessa unidade que Jesus traz a imagem da videira e dos ramos para que compreendamos como esse permanecer nele, na reflexão de suas palavras, vai nos ajudando a encontrar o caminho que buscamos de sermos fieis ao carisma daquele que nos chamou à fé e ao Seu seguimento. “A tarefa mais importante do discípulo é permanecer em Jesus. A permanência é a condição para poder dar frutos. O ramo só pode dar frutos se permanecer preso à videira. Permanecer em Jesus significa, segundo a metáfora, ficar imbuído do espírito e do amor de Jesus. Assim como o ramo recebe a seiva da videira, assim flui dentro de nós o amor de Jesus manifestado na sua morte de cruz. Trata-se de um permanecer mútuo. Nós devemos permanecer em Jesus. E então ele permanecerá em nós impregnando-nos com o seu amor” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 26 de abril de 2016

(At 14,19-28; Sl 144[145]; Jo 14,27-31) 
5ª Semana da Páscoa.

O trecho que nos é oferecido como 1ª leitura faz parte da liturgia que ouvimos nesse domingo, sendo que foi omitido os versículos que falam sobre o apedrejamento sofrido por Paulo, se bem que tal sofrimento fica subtendido nas palavras que ele dirige aos cristãos nas cidades por onde passa. Se pudéssemos parar um pouco e pensar no quão foi difícil o início da pregação do evangelho, certamente poderíamos compreender a nossa sociedade e sua indiferença e que nosso sofrimento é nada em comparação ao início da pregação, mas será sempre proporcional ao amor que temos por aqueles que gostaríamos que compartilhassem da nossa fé.

Ao desejar a paz aos seus discípulos, antes de sofrer a paixão, Jesus a deixa nesses moldes que o fez seguir adiante em seu sofrimento. Sua paz estava na adesão à vontade do Pai por amor. Talvez essa mesma paz a tenho experimentado Paulo em seus sofrimentos, pois não o vemos reclamar de nada que lhe acontecesse nesse caminho de seguimento que faz a Jesus. Mais tarde ele dirá, Paulo, que completa em sua carne o que faltou à paixão de Cristo... Que Ele nos ouça nesse dia, pois também precisamos dessa paz. Em meio as tribulações que atravessamos nos faça consciente dessa comunhão com os seus sofrimentos para alcançarmos também a vitória de Sua ressurreição em nossa vida. 

Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 25 de abril de 2016

(1Pd 5,5-14; Sl 88[89]; Mc 16,15-20) 
São Marcos Evangelista.

Para essa festa a Igreja escolheu esse trecho da carta de Pedro, pois ao final (v. 12) ele saúda a Marcos chamando-o de filho. O evangelho de Marcos é construído sobre a pregação dos apóstolos, particularmente de Pedro, de quem esteve muito próximo. O texto também menciona a resistência na fé, pois Marcos é que melhor trata desse tema. Ele insiste na fé mesmo em meio a uma realidade que nem sempre é favorável a mesma. Sua preocupação não é tanto de desenvolver o ensinamento de Jesus, mas a pessoa do Messias crucificado. Apresenta Jesus entre pessoas que, depois de um primeiro entusiasmo o rejeitam; mesmo os discípulos têm dificuldade de manter-se fieis. Pedro se sobressai entre eles, pois mesmo professado a fé em Jesus, como Filho de Deus, ele rejeita o caminho da cruz. No entanto, o centurião, ao final do seu evangelho, reconhece no crucificado o Filho de Deus.

O evangelho de Marcos nos ajuda a viver a nossa fé em meio as dificuldades atravessadas, apoiando-a unicamente em Cristo sem buscar provas humanas. Peçamos a sua intercessão para que tenhamos também uma fé forte, que não esmorece em meio a realidade, mas guarda a firme certeza que Deus cuida de nós.


Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Páscoa

(At 14,21-27; Sl 144[145]; Ap 21,1-5a; Jo 13,31-33a.34-35).

1. No domingo anterior vimos a missão de Paulo e Barnabé enfrentando a resistência das autoridades locais e como eles seguiram adiante, apesar de tudo. Hoje contemplamos o feliz retorno, marcado pela passagem pelas comunidades fundadas. “Os que em lágrimas semeiam colheram com alegria”, reza o salmo 126.

2. A visita é um incentivo a perseverarem, mas também para estruturá-las a partir de responsáveis, porque a fé cristã é uma aventura comunitária. Nesse breve retrato podemos perceber a estruturação das comunidades e a percepção de uma fé que é vivida não só pela participação na assembleia, mas pelo compromisso dos seus membros.

3. Se Paulo lembra as dificuldades do caminhar na fé, João contempla o fim da jornada, a chegada. A imagem simbólica de Jerusalém como local da morada de Deus, recebe nova roupagem. Deus habitará em meio ao seu povo, toda ordem de sofrimento será passado. Deus fará nova todas as coisas. Nossa fé vive dessa esperança.

4. Voltamos ao ambiente do cenáculo. O mistério da Páscoa que celebramos foi prefigurado por Jesus como uma glorificação: sua morte na cruz. Ele distorce o nosso conceito de glória, baseado na força e no poder, para falar de entrega, abandono e serviço por sua morte na cruz, pois lá Deus manifesta o seu amor.

5. De irmãos, os discípulos passam a ser chamados de filhos, a quem se deixa um testamento, umas últimas palavras.  O mandamento deixado por Jesus aos seus não é uma imposição, mas um dom a ser conservado, cultivado, como uma espécie de ‘segredo da felicidade’.

6. A novidade das palavras de Jesus está no referencial do amor: ele mesmo. Pois não podemos tomar como referência nossas atrapalhadas escolhas. O amor de Jesus não se movia pelo merecimento, mas pela necessidade. A superação da condição de miséria e pecado só poderia ter o amor como remédio.

7. Assim podemos compreender a alegria de Paulo e Barnabé ao retornar às comunidades fundadas. Ali o exercício do amor acontecia na convivência e na superação das diferenças. É como se Jesus dirigisse a nós, hoje, suas palavras finais, lembrando que para além dessa sociedade competitiva e que busca as glórias humanas, a alegria está em amar ao estilo do próprio Jesus. É Ele que nos espera para celebrarmos a comunhão definitiva que nos faz filhos e filhas de Deus pela imitação daquele que se tornou para nós o caminho, a verdade e a vida.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 23 de abril de 2016

(At 13,44-52; Sl 97[98]; Jo 14,7-14) 
4ª Semana da Páscoa.

Esse trecho dos Atos fez parte da liturgia da Palavra do domingo (4º Domingo da Páscoa, ano C) anterior e resume o esquema da ação evangelizadora inicial e suas consequências. Como Jesus, eles se dirigem primeiramente aos judeus, por isso vão à sinagoga, frequentada não somente por judeus, mas também por simpatizantes da fé judaica que queriam também ouvir a Palavra. A inveja pelos frutos e resistência da mudança são dois aspectos salientados pelo texto. Estas terão como consequências o anúncio aos pagãos. A alegria em meio a todas essas situações é consequência da ação do Espírito Santo que confirmava os seus passos. Assim, diz o salmo, a Palavra foi levada aos confins do universo e a salvação do nosso Deus se fez sentir.

Jesus se admira por Filipe não conhecer o Pai, pois tantas vezes já havia dito que quem O vê, vê o Pai. Jesus poderia ter realizado as obras que realizou se o Pai não estivesse com Ele? Incrível a força da fé salientada por Jesus. Por ela somos capazes de realizar obras ainda maiores. A grandeza e o resultado de nosso esforço na fé não é medido em quantidade, mas na qualidade e na força transformadora que esta tem na nossa vida e na vida dos que nos cercam. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 22 de abril de 2016

(At 13,26-33; Sl 2; Jo 14,1-6) 
4ª Semana da Páscoa.

Preparado o terreno, Paulo apresenta Jesus a partir de sua não aceitação, morte e ressurreição. A pregação do evangelho é consequência de uma experiência viva de Jesus ressuscitado. O trecho termina com a citação do salmo 2 que se segue como resposta em nossa liturgia. Assim como escolheu a Davi, Deus escolheu a Jesus a quem deu toda honra e glória. Seus ouvintes são levados a perceber em Jesus uma dessas particulares escolhas divinas. Como não acolhê-lo? Como ignorar Sua palavra a nós dirigida em nome desse Deus?

Na intimidade do cenáculo Jesus fala ao coração dos seus discípulos, e por que não dizer ao nosso também? O processo da paixão que se aproxima é também o processo da despedida dessa convivência mais direta que eles tiveram com Jesus. O discurso de Jesus tem tom de intimidade, na casa do Pai há também lugar apara os amigos. Talvez Tomé se faça de desentendido ou mesmo não tenha a crença necessária na vida eterna. Jesus é o ‘passaporte’ para essa vida em Deus, o acesso depende de mantê-lo atualizado para inesperada viagem a ser feita. “A mensagem mais importante dos discursos de despedida é o apelo à fé. A fé ajuda a suportar os abalos de nossa existência humana. Os abalos são a consequência dos choques entre o mundo e a revelação, entre o caminho interno e externo, entre a intuição de Deus e a realidade externa que não quer saber de Deus. A passagem para junto do Pai só é possível na fé. A nossa insegurança decorre da ausência de Jesus. A fé é uma firme confiança. Ela nos dá a tranquilidade interior e a firmeza de um coração que sabe de Deus e se baseia nele” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).  

Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta, 21 de abril de 2016

(At 13,13-25; Sl 88[89]; Jo 13,16-20) 
4ª Semana da Páscoa.

Seguindo a dinâmica de Jesus, que primeiro foi enviado aos judeus, Paulo vai em dia de sábado à sinagoga, lidas as escrituras, qualquer pessoa presente poderia fazer um comentário, insistia-se com os visitantes; assim Paulo toma a palavra e faz um belo discurso para introduzir a pessoa de Jesus, passando por pontos que considera importantes para o povo eleito. Não se pode perder de vista a história que nos antecede, ela é o berço sobre o qual dorme a novidade, gestada desde sempre.

Jesus está com seus discípulos no cenáculo. Terminado de lavar os pés dos discípulos lhes dirige umas palavras explicativas que deve levar a uma atitude de humildade que tem no servir o seu desdobramento, menciona-se a figura do traidor. Nenhuma comunidade humana, por melhor que seja, está isenta das consequências do olhar para si mesmo, que se esquece dos outros e suas consequências. Como somos uma assembleia de santos e pecadores, o que nos diferencia é a capacidade de reconhecer o erro e pedir perdão. O texto também nos recorda que eles acolhendo Jesus, acolhem o próprio Deus, que em Jesus se faz servidor.  Um mistério de contínua contemplação. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 20 de abril de 2016

(At 12,24—13,5; Sl 66[67]; Jo 12,44-50) 
4ª Semana da Páscoa.

Não era só a palavra de Deus que crescia e se espalhava, nos diz a 1ª leitura, também a consciência de um grupo que por seus carismas assumem o papel de liderança, mas sempre guiados pelo Espírito Santo, lembra Lucas, que determinava as tarefas a serem realizadas. Uma Igreja orante está sempre aberta as moções do Espírito para perceber os caminhos de Deus.

O evangelho nos traz um trecho do último discurso de Jesus, dirigido a um grupo de gregos. Aqui Jesus reafirma sua vinda a este mundo sob a condução do Pai, com quem se identifica, como luz para o mundo; a Palavra de Jesus revela o caminho, a prática, o agir cristão. Cristo não julga, apenas nos mostra o caminho, decidir seguir por ele já nos autodetermina em nossas relações com Ele. Jesus chama a atenção não sobre sua pessoa, mas para a Palavra, d’Ele ou do Pai, como uma coisa só, que nos adverte do caminho para a salvação que desejamos.

Nossa oração pode ser de agradecimento pela Palavra que Ele nos dirige e ao mesmo tempo de pedido de uma abertura sempre maior de nosso coração para acolhê-la.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça, 19 de abril de 2016

(At 11,19-26; Sl 86[87]; Jo 10,22-30) 
4ª Semana da Páscoa.

O que Pedro esclareceu a partir de sua experiência vai se confirmando pelos fatos novos que são narrados pelo livro dos Atos, à expansão do evangelho se agrega a experiência da ação reveladora e transformadora do Espírito Santo que age através dos discípulos e revela o que significa ser cristão. O que parecia ser só mais uma seita que despontava no âmbito da religião vai ganhando contornos bem definidos.

O discurso de Jesus deixou em dúvida os ouvintes. Onde exatamente Ele queria chegar com suas comparações? A resposta vem clara: é em nome do Pai que Ele fala, e sem escutá-lo dificilmente compreenderemos o que Deus espera de cada um de nós: o seguimento de Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Talvez a imagem do Pastor evoque a carência de lideranças em que nos encontramos, em todos os sentidos. Mas acima de todas as instabilidades humanas que atravessamos e também religiosas que experimentamos, Deus está acima de tudo isso, diz Jesus, nos ama e fará chegar sua ação misericordiosa a nós que nos entregamos em suas mãos. “Segundo Jesus, ‘Deus supera a todos’. Que nós estejamos em crise, não significa que Deus esteja em crise. Que nós cristãos estejamos perdendo o ânimo, não quer dizer que Deus tenha ficado sem forças para salvar. Que nós não saibamos dialogar com o homem de hoje, não significa que Deus já não encontra caminhos para falar ao coração de cada pessoa. Que as pessoas abandonem as nossas Igrejas, não quer dizer que elas escapem das mãos protetoras de Deus” (José Antônio Pagola, “O Caminho aberto por Jesus” – João).    


Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 18 de abril de 2016

(At 11,1-18; Sl 41[42]; Jo 10,1-10) 
4ª Semana da Páscoa.

Pedro é questionado por ter entrado na casa de um pagão, por um grupo de judeus convertidos. Ele explica como Deus o conduziu a uma nova compreensão da realidade que Deus não faz acepção de pessoas. Um passo importante na expansão do evangelho que terá em Paulo seu principal instrumento para trazer à comunhão cristã os povos gentios. Uma reflexão para os que se debatem na dúvida de que Deus ama a todos.

Se nesse domingo refletimos sobre o Bom Pastor, vamos retomar o capítulo 10 em dois momentos e ampliar a nossa reflexão. O discurso começa pela imagem do redil, o lugar que abriga as ovelhas, e a porta de acesso, lugar legítimo de acesso ao mesmo. Com essa breve comparação Jesus se faz representar como o porteiro a quem as ovelhas reconhecem a voz e também porta de acesso legítima ao Pai. “A porta sempre foi um símbolo para o homem, pois ela representa a passagem de um âmbito para o outro, por exemplo, do âmbito terreno para o celestial. Em muitas culturas existe a figura da porta do céu que possibilita o acesso ao âmbito divino. [...] Jesus se identifica com a porta. Ele é a porta que conduz ao nosso próprio âmago. Ele tem acesso ao nosso coração. E por meio de Jesus entramos em contato com nós mesmos. [...] Certamente, os primeiros cristãos experimentavam Jesus e as suas palavras como uma porta que os levava a eles próprios. Meditando sobre Jesus descobriam de repente quem eram eles mesmos. Através de Jesus como porta podiam entrar em sua própria casa para sentirem-se em casa. Jesus era para eles a porta para o seu verdadeiro eu. E é esse também o desafio para mim hoje: compreendendo Jesus compreendo a mim mesmo, descubro quem sou eu de verdade, ganho acesso a mim mesmo” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).



Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo de Páscoa - Ano C

(At 13,14.43-52; Sl 99[100]; Ap 7,9.14b-17; Jo 27-30)

1. As dificuldades enfrentadas pelo cristianismo em seu começo, são as mesmas que o nosso tempo tem conhecido em alguns países pela intolerância religiosa e até piores. Encontramo-nos com Paulo e Barnabé, em nossa 1ª leitura, enviados em missão, aceitos pelo povo, repudiados pelas autoridades religiosas locais que se servem de suas influências para livrarem-se dos mesmos.

2. O texto nos leva a refletir também com relação a uma certa posição de defesa que assumimos cada vez que nosso modo de viver a fé é questionado. Algo natural. Mas quem não se deixa questionar perde também a chance de crescer. A experiência dos apóstolos é a mesma de Cristo na sinagoga de Nazaré. Eles seguiram adiante, apesar de tudo.

3. Essa página do livro Apocalipse é lida na festa de Todos os Santos.  Um dos mistérios revelados por Aquele que está sentado no trono de Deus e que se apresenta como o Cordeiro diz respeito aos sofrimentos do mundo.   Estes sempre nos desafiaram na busca de significado, aqui eles aparecem como vitoriosos em suas lutas, pois suportaram perseguições e tribulações pela busca da justiça e de vida para todos, como fez o Cordeiro.

4. Se com o Cordeiro eles se identificam de algum modo, este aparece também como Pastor. Um guia, uma referência do que significa dar a própria vida. Aos perseguidos que escutam essa palavra, João quer levar conforto e ao mesmo tempo luz, para que se deixem guiar por aquele que é ao mesmo tempo Cordeiro e Pastor.

5. Esse 4º domingo da Páscoa é dedicado a temática do Bom Pastor a cada ano. A atividade pastoril é muito explorada como tema de reflexão em toda a bíblia, por essa proximidade social e cultural. Do Deus Pastor do seu povo, passamos a Jesus como bom e verdadeiro pastor. A realização das promessas feitas ao povo não podia ter melhor expressão.

6. Por detrás dessa imagem se esconde uma figura meiga e suave em sua relação pessoal com o rebanho; ao mesmo tempo enérgica e decidida quando se trata de defender as ovelhas. Esse segundo aspecto transparece mais no trecho que escutamos. Casa melhor com tempo pascal pela iniciativa e pela coragem com que Jesus entregou a sua vida por todos.

7. A identificação de cada individuo com esse Pastor nasce de sua escuta e do seu seguimento, para não confundir com nenhuma instituição ou práticas religiosas, mas com os anseios do Reino que Ele nos revelou. Ele nos atrai a si e pela Sua palavra constantemente dirigida nos oferece a chance de discernir quem é o verdadeiro Pastor. É preciso sempre apurar a escuta.

8. Muitas vozes chegam a nós, querem nossa atenção, prometem ‘mundos e fundos’. O discernimento é sempre necessário. Ser cristãos não é fácil; é algo mais que uma simples doutrina religiosa. O processo de escuta passa pelos nossos líderes, atravessa as realidades comuns da vida, seja de alegrias, dores, derrotas e lutas e sentir o que Deus deseja de cada um de nós.

9. Colocar-se nas mãos de Deus é uma atitude; saber-se em suas mãos é uma questão de fé. A unidade de vida que buscamos com Deus, cultivada por Jesus é o nosso modelo. O nosso Pastor orante, acolhedor, compassivo e misericordioso nos convida a ouvir sua voz e a seguir os seus passos, pois às vezes somos também pastor, noutras tantas, ovelha necessitada de cuidados. Saibamos colocar-nos em suas mãos para sermos guiados e cuidados.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Sábado, 16 de abril de 2016

(At 9,31-42; Sl 115[116b]; Jo 6,60-69) 
3ª Semana da Páscoa.

Com um pequeno resumo da vida da Igreja primitiva, Lucas insere novamente a Pedro num contexto de pastoreio. Suas visitas levam a cura e a vida, como o próprio Jesus. O cristianismo se expande pelas obras e sinais que o Senhor lhe concede realizar. Peçamos ao Senhor que também faça de cada um, em meio as atividades cotidianas um instrumento seu. Que nosso agir revele a Sua presença.

O discurso sobre o pão do céu termina numa delicada situação de dispersão, certamente por não entenderem o sentido das palavras e Jesus, que serão iluminadas pelo evento de Sua Páscoa. É mais uma vez Pedro que aparece como aquele que expressa a fé dos demais: a quem iremos nós? Viver o cristianismo também para nós em nossos dias, requer uma escolha, uma decisão e uma certeza. Resta a fé em Jesus e em Sua Palavra para não sucumbirmos a um modo de vida que negue a nossa fé. Foi esta mesma certeza que fez de Pedro o que nos relata o Atos dos Apóstolos. 




Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 15 de abril de 2016

(At 9,1-11; Sl 116[117]; Jo 6,52-59) 
3ª Semana da Páscoa.

Finalmente Saulo é surpreendido pelo próprio Jesus no caminho para Damasco. Essa é a versão de Lucas, também ouviremos do próprio Saulo a sua conversão sob sua própria perspectiva. Entre outros elementos, destaca-se na narrativa a identificação de Jesus com seus discípulos e como Saulo, instrumento chamado e escolhido pelo próprio Jesus difundirá o evangelho, mas não sem um sofrimento amoroso por parte deste já enamorado do Senhor. O salmo explicita a sua missão.

João chega ao discurso eucarístico propriamente dito, emprega os verbos comer e beber de modo tão explícito que seus ouvintes não entendem fora de um contexto ‘canibalístico’ e faz a distinção entre a experiência do maná e a experiência que farão com o próprio Jesus em suas vidas. “A eucaristia leva a mais intensa relação com Jesus Cristo que se pode imaginar. A relação se transforma em integração. Jesus está dentro de mim e eu estou nele. Nessa união com ele completa-se o amor de Deus para conosco. Cumpre-se o que Jesus prometeu em 3,16: Deus nos entrega o seu filho nas mãos, para que o assimilemos crendo e comendo. Isto é vida eterna, vida divina, amor divino que nos transforma” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 14 de abril de 2016

(At 8,26-40; Sl 65[66]; Jo 6,44-51) 
3ª Semana da Páscoa.

A figura de Filipe ganha um certo destaque na narrativa que apresenta-se simples, mas bastante significativa. Alguém que tem contato com as Sagradas Escrituras se pergunta sobre seu sentido, Filipe explica sobre quem se refere o autor sagrado, numa clara leitura do Antigo Testamento à luz do Novo que é Jesus. Este encontro leva à fé e esta ao batismo como rito que inaugura um tempo novo. Vislumbra-se aqui essa nossa disposição para explicar ao outro o mistério que se esconde na Palavra e como ela nos fala da própria vida que experimentamos.

A fé como dom de Deus já é claro para nós, mas para os ouvintes de Jesus era uma percepção que somente Deus poderia lhes abrir a mente e o coração para aproxima-los da verdade que é Jesus. Esse pão que é Jesus é carne que se ‘aproxima’ de nossa carne para imprimir nela a semente da ressurreição. Quem dele ‘comunga’ não morrerá.  “Antes de interpretar esse versículo sob o aspecto eucarístico, devemos entendê-lo à luz da morte de Jesus. Jesus avisa aqui que ele mesmo se entregará, com sua vida terrestre, para a vida do mundo. Na morte, ele se entregará para que nós tenhamos a vida eterna. É uma espécie de troca divina. Jesus morre para que vivamos. Jesus entrega a sua vida para que a tenhamos para sempre. No discurso do pão, João visa, portanto, em primeiro lugar, interpretar a morte e a Ressurreição de Jesus” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 13 de abril de 2016

(At 8,1-8; Sl 65[66]; Jo 6,35-40) 
3ª Semana da Páscoa.

A morte de Estevão desencadeia uma perseguição, esta leva a dispersão, a dispersão leva a evangelização em outros lugares. Um processo em cadeia que vai mostrando como Deus vai agindo nas mais estranhas circunstâncias. E mais estranho ainda será quando Ele alcançar Saulo. Textos como esses nos levam a respirar fundo em meio as confusões e desalentos que experimentamos. Como pode tudo isso? Onde nos levará? Só Deus sabe...

Jesus reafirma ser o “pão da vida”. Essa vida n’Ele escondida tem a ver com a fé e a ressurreição que essa mesma fé provoca em quem nele crer. Vislumbra-se uma relação de cuidado: “A fé sacia a sede, a relação pessoal com Jesus sacia a fome. Sede significa desejo de vida. A fome remete à sensação de falta de comida, de não ter tido alimento suficiente na infância para se saciar. Por isso, a fome é, em última análise, sempre fome de atenção, de amor” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 12 de abril de 2016

(At 7,55—8,1; Sl 30[31]; Jo 6,30-35) 
3ª Semana da Páscoa.

O discurso de Estevão se assemelha, em alguns tons, a certas verdades sobre os judeus proclamadas por Jesus. O autor sagrado põe em seus lábios as palavras de que expressam a sua união com Cristo na sua visão e na dinâmica do perdão. Nesse quadro aparece a sombra ainda não iluminada por Jesus de Saulo, o perseguidor. Talvez a morte de Estevão o tenha inquietado interiormente, mesmo aprovando tal execução, pois toda conversão é processo que culminará numa decisão a ser tomada.

Certamente os judeus não entenderam o sinal oferecido por Jesus ao multiplicar os pães; Jesus faz uma ligação entre o Maná, enviado por Deus, não por Moisés, e a sua pessoa: “pois o pão do céu é aquele que desce do céu”. “O maná sempre foi visto como um alimento divino, como alimento que nutre a alma, o interior do homem. Deus mesmo alimentou o povo no caminho para a terra prometida. Se Jesus se diz pão do céu, quer que saibamos que ele mesmo nos alimenta no caminho para a liberdade, no caminho para a terra prometida, na qual poderemos ser totalmente nós mesmos, para que não morramos de fome. A relação pessoal com Jesus nos fortalece no caminho pelos desertos de nossa vida” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”). 

                                 
Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 11 de abril de 2016

(At 6,8-15; Sl 118[119]; Jo 6,22-29) 
3ª Semana da Páscoa.

A figura de Estevão, um dos primeiros diáconos da Igreja primitiva, vai despontando não só com aquele que serve, mas como aquele que prega a Palavra. Ao mesmo tempo na sua figura vai se delineando traços da paixão de Jesus com as difamações que culminarão na sua morte, mesmo inocente. É um retrato de identificação que vai marcar o surgimento dos mártires cristãos que impactaram os observadores do cristianismo na época levando a se perguntarem que fé é essa que leva uma pessoa a entregar sua vida?

João evangelista não narra a instituição da Eucaristia, mas oferece nesse capítulo 6 que estamos acompanhando e meditamos numa série de domingos durante o ciclo B da liturgia dominical, todo um discurso que gira em torna dessa realidade. Parece que João lança uma crítica sobre a prática do seu tempo, convidando seus ouvintes a ficarem atentos e não fazerem da Eucaristia um rito mágico, mas lembrando-lhe que essa exige conversão. As palavras de Jesus ao fim do texto são claras quanto a busca que fazem d’Ele. João liga à realidade do sacramento a vivência da fé concretamente em Jesus, que o Pai enviou. Ao usar o termo sinais, João deixa claro que não se tratam de milagres, mas fatos, acontecimentos que remetem a algo mais profundo. Peçamos ao Senhor essa mesma clareza da força desse sacramento salutar para que busquemos não só o pão, mas o Cristo todo, cuja Palavra de vida norteia a nossa vida.
                                 

Pe. João Bosco Vieira Leite

3º Domingo de Páscoa

(At 5,27b-32.40b-41; Sl 29[30]; Ap 5,11-14; Jo 21,1-19)

1. A 1ª leitura repete um dos textos da semana que nos recorda a convocação de Pedro e demais apóstolos diante do sinédrio após serem admoestados de não pregarem o nome de Jesus. Para eles não havia outra opção diante do que testemunharam. Como para muitos cristãos, fica difícil aceitar certas realidades presentes em nossa sociedade.

2. A moral cristã impregnou a nossa sociedade ocidental e ela se faz sentir mesmo por aqueles que não são cristãos. Vale aqui aquela expressão de Jesus ao entrar em Jerusalém e o povo o aclamava: “Se eles se calarem, as pedras gritarão”. Até mesmo nós cristãos seremos incomodados por uma falta de posicionamento a despeito do que nos ensinou Jesus a respeito da justiça e das outras coisas que nos ensinou.

3. Nas visões de João, o capítulo 5 de cujo texto retiramos a 2ª leitura, abre uma página especial. O Cordeiro imolado, que representa Cristo e é aqui reconhecido e reverenciado, receberá o livro e romperá os selos, trazendo à tona a compreensão dos muitos mistérios da vida. É curioso, que não só os seres humanos se unem nesse louvor. Toda a criação se faz um só coro para celebrar a ação libertadora de Cristo sobre o criado.

4. Se estamos lembrados, o evangelho do domingo anterior trazia uma conclusão, dizendo das tantas coisas que Cristo fez e disse não caberiam num único livro, mas o que foi conservado é para a nossa fé n’Ele, para que tenhamos vida. Ponto. Mas eis que o evangelho prossegue com uma outra narrativa. De uma aparição de Jesus aos discípulos, desta feita na Galileia, onde tudo havia começado.

5. Esse texto foi acrescentado ao evangelho, um texto carregado de significados. São sete os discípulos na barca, sem Jesus, que tentam empreender uma pescaria. A dificuldade se faz sentir. Talvez essas informações representem a Igreja e sua missão, tanto quanto a dificuldade da pesca e da sensação de estarem sós. Pode ser que determinadas iniciativas tinham dado em nada por não terem se deixado guiar pela palavra de Jesus.

6. Jesus está na margem, onde um dia estarão eles. De lá vem uma palavra que os desafia a continuarem sob outra orientação: é necessário confiar nessa voz. O exercício da fé levou-os a acreditar, em outros tempos e agora quer levá-los a compreender que aquele que está na glória, está aqui também. Há um novo jeito de se fazer presente. Por isso o texto joga com essa dificuldade de reconhecer quem lhes fala.

7. A quantidade de peixe pescado, que não se sabe quem contou, esconde o simbolismo numérico da totalidade e também dos povos até então conhecidos, sobre os quais as redes deveriam ser lançadas. A realidade eucarística aparece na refeição que partilham. É Jesus que oferece o pão e eles o fruto do trabalho. Sinal que se perpetuará até a ceia definitiva.

8. A particular missão de Pedro é descrita na parte final com muita habilidade e beleza. Jesus exige de Pedro uma doação, uma entrega sem limites. O amor a Jesus o colocará num caminho de conversão até descobrir que o seu “apascentar” deve traduzir-se num serviço pleno a Igreja, a ponto de dar a própria vida. E assim o foi.

9. Assim o evangelho se conclui, novamente, com esse retrato que deve servir à perseverança dos pescadores e a compreensão do serviço que exercem as lideranças na comunidade. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 9 de abril de 2016

(At 6,1-7; Sl 32[33]; Jo 6,16-21) 
2ª Semana da Páscoa.

Esse breve trecho da 1ª leitura nos situa no âmbito da organização da comunidade a partir do serviço dos diáconos para o “atendimento da mesa” ou serviço aos mais pobres, enquanto os apóstolos deviam se preocupar coma pregação da Palavra. Paulo será quem melhor desenvolverá a reflexão sobre a vida e a organização da comunidade cristã comparando-a com um corpo e seus vários membros a serviço do todo, sem esquecer-se dos problemas que são inerentes a qualquer convivência.

Assim a barca dos apóstolos que singra o mar é uma imagem também da Igreja/comunidade que deve navegar a partir de então sem a presença física de Jesus. Mas ele estará sempre com eles e nos momentos mais difíceis se fará sentir. Nosso medo não pode ser maior que a certeza da presença e da ajuda daqueles que nos lançou ao mar e nos ampara até que a travessia se realize.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 08 de abril de 2016

(At 5,34-42; Sl 26[27]; Jo 6,1-15) 
2ª Semana da Páscoa.

Deus se serve dos instrumentos mais inesperados para deixar que sua Palavra continue seu curso na história para chegar até onde menos esperávamos e a quem, só Ele sabe, precisa chegar. Na 1ª leitura encontramos o episódio de Gamaliel que permite aos apóstolos continuarem o processo desencadeado pela ressurreição de Jesus.

O milagre da multiplicação dos pães marca profundamente a identidade de Jesus que transparece nos quatro evangelhos: a preocupação pelas necessidades humanas. Ao mesmo tempo que as necessidades podem ser superadas quando aprendemos a compartilhar, como uma criança que dispõe o que traz consigo e confiamos no Senhor que fará multiplicar os dons. Tais fatos revelam a proporção do quanto a dimensão pascal nos afeta a partir de novas atitudes.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 7 de abril de 2016

(At 5,27-33; Sl 33[34]; Jo 3,31-36) 
2ª Semana da Páscoa.

“É preciso obedecer a Deus antes que aos homens”, responde Pedro ao sumo sacerdote quando são novamente presos por proclamarem o nome de Jesus. Que é preciso obedecer a Deus nós já o sabemos, tanto quanto nos é difícil perscrutar a Sua vontade. A frase de Pedro nos coloca em nossas situações diárias onde o testemunho nos foge por várias circunstâncias. Que nos resta se não pedir a Deus o discernimento necessário para as situações que não conseguimos distinguir bem entre a Sua vontade e a nossa; a Sua vontade e a do mundo que nos rodeia e pressiona.

O discurso de Jesus desenvolvido por João vem em camadas que vão descortinando novas ideias e ao mesmo tempo reforçando o que foi dito anteriormente, de um certo modo ele repete o mesmo argumento para acrescentar algo. Na consciência que tem de si mesmo Jesus afirma pertencer a um plano superior, acima de nós, que na linguagem comum chamamos de céu, por isso seu testemunho deve ser aceito. Vendo e ouvindo todas as coisas, ele participa do ser de Deus; e assim João quer nos convidar à fé em Jesus para que também sejamos possuídos por essa vida eterna que ele veio nos oferecer.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 6 de abril de 2016

(At 5,17-26; Sl 33[34]; Jo 3,16-21) 
2ª Semana da Páscoa.

O modo de viver a fé a partir da novidade que despontava no cristianismo devia ser anunciada, apresentada como proposta para os tempos novos. Extraordinariamente os apóstolos são colocados em liberdade para proclamar as maravilhas realizadas por Deus. Os saduceus, os chefes da religião judaica ainda não se deram conta que estão lutando com algo maior que eles e que não podem deter ou conter, pois o processo já foi iniciado com a ressurreição de Jesus.

No diálogo que prossegue com Nicodemos, Jesus aprofunda ainda mais o sentido de sua morte: o amor de Deus pela humanidade. A fé nessa realidade muda tudo, o modo de ver e viver a vida nesse mundo. O tema da luz é particularmente desenvolvido no evangelho de João desde o seu início; constantemente retomado vai criando uma “trilha” para o significado de Jesus, do seu ensinamento e das consequências daqueles que vivem a partir desse ensinamento: também se tornam luz, e Deus transparece em seu agir: “A fé nos abre os olhos para que conheçamos a verdade, para que a nossa escuridão se dissolva e nossa existência se clareie. A fé é o caminho pelo qual participamos da vida eterna, da salvação que Jesus trouxe e do amor que é a causa de todo o ser e também a cauda da vinda de Jesus a este mundo. O leitor do evangelho de João deve reconhecer agora em todas as palavras e atos de Jesus o amor de Deus. Se ele se deixar inundar por esse amor, a sua vida será transformada” (Anselm Grun, “Jesus, porta para vida”). 


Pe. João Bosco Vieira Leite



Terça, 5 de abril de 2016

(At 4,32-37; Sl 92[93]; Jo 3,7-15) 
2ª Semana da Páscoa.

Uma das consequências da ressurreição de Jesus foi a organização dos seus discípulos a partir das pequenas comunidades de fé, marcadas pelo testemunho de uma vida nova e pela partilha que desde sempre caracterizou o estilo de vida de Jesus. É disso que nos fala a 1ª leitura.
Passadas as narrativas das aparições de Jesus a seus discípulos, é hora de aprofundarmos um pouco esse mistério pascal. Jesus conversa com Nicodemos, que o procura as escondidas, para ouvir o novo mestre. É o chamado “Discípulo da Madrugada” que o Pe. Fábio de Melo desenvolve em seu livro, numa espécie de ficção religiosa. Jesus lhe fala de um novo nascimento que se dá pela força do Espírito, o mesmo que Jesus soprará em abundância sobre os seus discípulos para gerar homens novos. Ao mesmo tempo Jesus anuncia a sua Paixão como ato que inaugurará esse tempo novo. Ressuscitar é a experiência que parte do interior para alcançar toda a vida do indivíduo: “O homem nascido do alto, do espírito, entende-se como alguém que tem o seu fundamento mais profundo em Deus. Renascimento não significa melhora moral do ser humano, e sim contato com a verdadeira origem em Deus” (Anselm Gurn, “Jesus, porta para a vida”).  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 4 de abril de 2016

(Is 7,10-14;8,10; Sl 39[40]; Hb 10,4-10; Lc 1,26-38) 
Anunciação do Senhor.

A solenidade da Anunciação do Senhor nesse ano caiu na Sexta-feira Santa e depois seguiu-se as oitavas de Páscoa onde nenhum santo ou festa é celebrado. Foi uma particular coincidência que ocorre de tempos em tempos onde o mistério da encarnação e da redenção se encontram e fazem parte de um único aspecto celebrado em tempos distintos.

As leituras desta solenidade nos falam não somente da resposta de Maria ao Anjo, mas também dos sentimentos de Jesus no momento da encarnação; assim a liturgia nos convida a perceber as semelhanças entre as palavras de Maria e o que Jesus disse ao Pai ao entrar no mundo. É só compararmos o que diz a segunda leitura e o evangelho no “sim” de ambos. Essa identificação dos dois com a vontade divina é algo por si só digno de alegre contemplação.

Apesar de ser uma festa do Senhor e não mariana, a figura de Maria ganha especial destaque nessa sua abertura a Deus, ao Seu amor. Algo que nos é apresentado como modelo a estarmos prontos, em qualquer circunstância, a fazer a vontade de Deus, na fé e na alegria, sabendo que Deus é bom, e mesmo na dificuldade de realizar a Sua vontade, Ele sempre fará o melhor para nós, ainda que desconheçamos todos os efeitos do nosso sim.


Pe. João Bosco Vieira Leite


2º Domingo da Páscoa – Ano C

(At 5,12-16; Sl 117[118]; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31).

1. A ressurreição de Cristo inaugurou um tempo novo para os seus discípulos. A vivência da fé passa a ser também um evento comunitário. O cristão não é alguém que trata diretamente com o seu Deus, mas encontra na comunidade um modo de expressar a sua fé, e ao mesmo tempo superar o isolamento, o egoísmo e o preconceito.

2. Pequenos retratos da vida comunitária são apresentados nesse período pascal na 1ª leitura a experiência comunitária deve levar também a uma mudança positiva, de modo que os que não a frequentam possam perceber e se encantar com tal experiência.

3. É bem verdade que a comunidade primitiva se viu marcada por sinais extraordinários que confirmavam a fé dos seus membros; mas as comunidades cristãs que vieram depois aprenderam a fazer funcionar os dons que Deus lhes havia concedido para o bem de todos; outros ‘milagres’ se tornaram possíveis pela fé e pela partilha.
* Pedro foi importante nesse começo não tanto por sua autoridade ou cargo, mas sim por seu amor. Estava pleno de Jesus; Jesus transbordava através do seu olhar, de seus gestos, de sua ‘boa sombra’.

4. Mas nem tudo foi fácil e tranquilo em seu começo, essa introdução ao livro do Apocalipse nos coloca diante do testemunho de João, desterrado na ilha de Patmos por causa de sua fé em Cristo. É para aqueles que também atravessam os aperreios de viver a fé que ele escreve, de modo simbólico, para que permaneçam firmes na fé.

5. Esse “filho do homem” que lhe aparece é a figura do Cristo ressuscitado a quem seus leitores devem prestar culto e não ao imperador romano. É como se o texto nos perguntasse de novo quem está no centro da nossa fé? A quem ou a quê prestamos culto?

6. O nosso evangelho nos leva, em sua primeira parte, à manhã da ressurreição. Jesus aparece aos seus discípulos e comunica-lhes, de modo insistente a paz. As portas fechadas que o ressuscitado teve que atravessar deixava clara a situação de temor dos discípulos diante do que tinham visto e ouvido.

7. O Senhor sopra-lhes o Espírito, e lhes recomenda alguns cuidados na missão. Mas tudo isso passa quase que desapercebido diante da atitude de Tomé que atrai nossa atenção. Oito dias depois, novamente domingo, o Senhor lhes aparece e Tomé vira o centro da atenção. Certamente João o toma como exemplo para uma comunidade que não viu, não conviveu nem tocou em Jesus.

8. Dúvidas na fé? Não foi só um privilégio de Tomé. Também os outros discípulos fizeram seu caminho para chegar à fé no ressuscitado. A fé não consiste no tocar, constatar, ver. No dizer de Ignácio Larranaga, “fé não é sentir, é certeza”. É no próprio Evangelho, no que Jesus disse e fez que encontraremos as razões de nossa fé. É a única prova que temos.

9. O evangelho coloca em evidência dois marcos da fé cristã: o domingo, o dia que o Senhor aparece aos seus discípulos e a reunião dos mesmos. É na celebração eucarística que nos encontramos com o Senhor. Ele nos fala, nos deseja a Sua paz e nos comunica a Sua verdade.

10. Fora dela é bem possível que a dúvida nos assalte de modo a esvaziar o pouco que conservamos; fora da comunidade o “meu Senhor e meu Deus” vira outra coisa que nos faz refém. Nesse domingo da misericórdia, em que somos convidados a reafirmar: “Jesus, eu confio em vós!”, não percamos de vista a necessidade de alimentar essa fé. Que a nossa dúvida não seja maior que a certeza da fé nos traz.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 02 de abril de 2016

(At 4,13-21; Sl 117[118]; Mc 16,9-15) 
Oitava de Páscoa.

A “corte” religiosa do tempo apostólico é obrigada a reconhecer que verdadeiramente um milagre havia sido operado pelos apóstolos, mas mesmo assim resistem a acreditar em Jesus. O pedido para que os apóstolos se calassem a respeito de Jesus era realmente algo impossível, seria como não obedecer algo estabelecido pelo próprio Deus, e assim o foi. Não calar-se sobre o que viram e ouviram resume e determina o testemunho e o caráter missionário dentro da Igreja e nela estamos também nós chamados ao mesmo testemunho.

Para fechar as oitavas de Páscoa que encerram amanhã, Marcos nos oferece um resumo dos últimos episódios: a aparição a Madalena e aos discípulos de Emaús, às quais os apóstolos não deram crédito. O próprio Jesus os repreende, episódio de ontem. Mas como vimos na 1ª leitura, eles experimentaram a força da ressurreição e tiveram coragem e partiram

Para os estudiosos esse resumo foi acrescentado ao texto original que se encerraria no versículo oito desse capítulo, ficando um final meio ‘em aberto’. Já que as recomendações de encontra-lo na Galileia já haviam sido dada pelos anjos.  Do processo da experiência com o Ressuscitado ou de Jesus em minha vida, culmina com o envio a anunciar para que outros façam a mesma experiência. O estilo de vida que adotamos diz muito do que verdadeiramente acreditamos. 



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 01 de abril de 2016

(At 4,1-12; Sl 117[118]; Jo 21,1-14) 
Oitava de Páscoa.

Depois da forte impressão deixada pelo milagre e pelas palavras de Pedro, no cenário surge a oposição a pregação de Pedro e dos apóstolos. Pedro é aquele que toma a palavra deixando clara a sua precedência diante do grupo. Seu testemunho é bastante corajoso.

É o mesmo Pedro que toma a decisão de ir pescar, no contexto pós-ressurreição; o evento que se segue com a aparição de Jesus pela terceira vez e a pesca que se sucede fica claro para eles o sentido missionário que essas aparições de Jesus imprimem. Alguns autores dizem que o número de peixes corresponde aos povos até então conhecidos, aos quais eles seriam enviados como a mesma proposta inicial de Jesus quando os convidou a segui-lo: eu vos farei pescadores de homens. O que esteve no início deve estar também no fim. “Depois da pescaria bem-sucedida, João descreve uma cena estranha e misteriosa: o desjejum justo às brasas. Ninguém ousou perguntar a Jesus quem era, pois ‘eles bem sabiam que era o Senhor’(21,12). É a situação da eucaristia. Os cristãos sabem que o próprio Senhor está no meio deles. Não perguntam. Acreditam. E por ser o Senhor que está no meio deles, a manhã cinzenta se transforma num clima de intimidade e amor. No meio de uma terra estranha, surge a sensação de aconchego, no meio da frustração surge a satisfação. Como na eucaristia, Jesus se aproxima, toma o pão e o dá aos seus discípulos. Só que nesse caso o pão não vem acompanhado de vinho, e sim de peixe. Para os antigos, o peixe é a comida da imortalidade. A nossa mortalidade se mistura à sua imortalidade, participamos da vida eterna, imperecível, indestrutível de Deus. Para João, a Ressurreição não acontece em forma de coisas mirabolantes. É nas coisas simples do dia a dia, na refeição em torno do braseiro, que o véu é tirado, de modo que os discípulos podem entrar em contato com a realidade, unindo-se ao fundamento de todo ser, com o Deus de amor” (Anselm Grun, Jesus, porta para a vida). 


João Bosco Vieira Leite