Quinta, 31 de março de 2016

(At 3,11-26; Sl 08; Lc 24,35-48) 
Oitava de Páscoa

As pessoas espantadas com o milagre ocorrido com o paralítico se aproximam de Pedro e João e estes aproveitam para anunciar o Querigma (pregação/anúncio cujo conteúdo gira em torno da paixão, morte e ressurreição de Cristo), que se repete na palavra que escutamos nesses dias, cuja finalidade é a conversão. Os discípulos surpreendidos no caminho de Emaús vão anunciar aos outros a sua experiência. O próprio Jesus aparece a eles e lhes abre a mente para compreender, mais uma vez, tudo quanto foi escrito a respeito dele e também como conta com eles. “Nas refeições dos discípulos entre si, o próprio ressuscitado está no meio deles. Para Lucas, a Eucaristia é sempre um encontro com o ressuscitado. A intimidade e a alegria de que fala a sua descrição da refeição pascal devem também caracterizar a celebração da Eucaristia. Jesus explica a Escritura aos seus discípulos e discípulas, e se mostra a eles como Deus e homem, como aquele que se tornou realmente ‘ele mesmo’, a fim de que nós ressuscitemos da alienação para ser ‘nós mesmos’, da rigidez para a vivacidade, do isolamento para uma convivência nova” (Anselm Grun, Jesus, modelo do ser humano).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 30 de março de 2016

(At 3,1-10; Sl 104[105]; Lc 24,13-35) 
Oitava de Páscoa. 

Jesus já havia prometido a seus apóstolos que a pregação dos mesmos se faria acompanhar de sinais. O paralítico é surpreendido pela força de cura que em nome de Jesus eles carregam. A expressão "levanta-te e anda" acompanhada do nome de Jesus trás a clara lembrança de quantos Jesus fez levantar-se, firmar os passos e seguir adiante. Sabemos do que a fé em seu nome é capaz. 

É ele mesmo que aos discípulos descrentes que caminham para Emaús esclarece, sob o olhar das escrituras, o que acontecera com o nazareno que foi crucificado naquela tarde da sexta feira. Tão desanimados estavam que não o reconheceram. Como nós que no abatimento desconhecemos Deus. O mistério Pascal insere em nossa vida um jeito novo de compreender e superar as dificuldades da vida. "Os discípulos insistem com Jesus, que fique com eles, 'pois a tarde está caindo; o dia começa a declinar' (Lc 24,29). Isso é uma imagem da nossa vida. Quando dentro de nós está escurecendo, quando sobre nossa alma à noite começa a cair, então podemos pedir ao ressuscitado que fique conosco. Jesus entra na casa com os discípulos. Torna-se hóspede deles, para estar junto com eles. Isso não é apenas uma imagem da Ressurreição, mas também da celebração da Eucaristia. Na celebração da Eucaristia encontramo-nos com o ressuscitado. Lá ele está conosco, nos fala, nos interpreta a escritura é nos desvela o mistério da nossa vida" (Anselm Grun, Jesus, modelo do ser humano).







Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 29 de março de 2016

(At 2,36-41; Sl 32[33]; Jo 11-18) 
Oitava de Páscoa.

O cristianismo avança sob o testemunho da pregação apostólica movida pelo despertar da fé que deve levar à conversão. O evangelho que trata dos primeiros sinais da ressurreição de Jesus, traz hoje um belo texto. É Maria Madalena que chora junto ao sepulcro pois julga terem levado o corpo de Jesus. Diferentemente dos apóstolos que ali estiveram e se foram, ela permanece numa expressão de seu afeto profundo, humano, humilde e simples que lhe cria espaço para o encontro inesperado como seu Senhor.

Quanto mais profunda é a dor experimentada, maior será a alegria quando está for superada. Jesus está ali, mas ela não o reconhece, não só porque o corpo ressuscitado de Jesus trazia em si uma nova realidade, mas porque está presa ao pensamento de terem levado o corpo de Jesus. Ela procura um morto e não um vivo. Precisa se libertar de tal ideia. Quando Jesus a chama pelo nome tudo muda; oxalá possamos experimentar esse chamado,  fossemos também tocados em nosso coração por essa voz que nos desperta para uma presença de Deus em nossa vida. 

Jesus a envia aos apóstolos chamando-os de irmãos, um tratamento que o faz ainda mais próximo de nós. Que possamos reconhecê-lo em nosso caminhar e para além dos desejos meramente humanos que nos move em nossa busca.


Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 28 de março de 2016

(At 2,14.22-32; Sl 15[16]; Mt 28,8-15) 
Oitava de Páscoa.

Esta semana que segue o domingo de páscoa é chamada de oitava porque vai até o próximo domingo, como se fosse o mesmo domingo da ressurreição. Por isso nas celebrações da semana o hino do glória aparece como elemento litúrgico e símbolo dessa alegria que se expande. Mas a palavra de Deus é própria para cada dia.

Pedro aparece na primeira leitura pregando e dando seu testemunho sobre Jesus, buscando convencer os judeus que o escutam. Enquanto isso o evangelho dá continuidade ao texto da vigília, quando as mulheres são surpreendidas pelo desaparecimento do corpo e vão até os apóstolos para comunicar o ocorrido. O próprio Jesus lhes aparece, tornando plena a sua alegria. Mas o encontro com Jesus ressuscitado é para elas ocasião de uma missão: não poderão permanecer tranquilas próximas a Jesus para gozarem de sua presença, elas devem levar a boa nova adiante. Toda experiência com Jesus deve ser comunicada, como dom também para o outro.

O evangelho se conclui com a trama encabeçada pelos sumos sacerdotes para desacreditar os apóstolos. Eles tentam esconder a verdade, ao tempo que se escondem da luz de Deus. Só quem se abre a verdade está em paz e pode seguir adiante em plena simplicidade. Abramo-nos também à luz de Deus e que sejamos disponíveis à missão que dela emana.

Catequese litúrgica:

O prolongamento da Páscoa até Pentecostes

                Quase no momento em que a Páscoa cristã entra na história, ela aparece como uma festa que se prolonga durante cinquenta dias. Todos os dias desse cinquentenário, no dizer de Tertuliano, devem ser celebrados “numa grande alegria”.
                Todo esse tempo deve ser vivido em clima de festa. Festa não porque não se trabalha, mas porque o mistério celebrado causa impressão muito forte em nós. Esse mistério é sempre o mesmo. Cristo ressuscitado (Páscoa), glorificado pelo Pai (Ascensão) nos envia o Espírito Paráclito (Pentecostes) como havia prometido.
                A oitava da Páscoa, a semana “in albis” (semana das vestes brancas), como era chamada em Roma, nasceu no século IV a partir da necessidade de dar aos neófitos uma catequese pós-batismal a respeito dos mistérios nos quais comungavam, uma catequese mistagógica.
                Em várias regiões, as festas do Espírito Santo e da Ascensão eram celebradas juntas no domingo do encerramento do cinquentenário. Mas Pentecostes não tardaria a ser consagrada exclusivamente à vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, enquanto que a Ascensão seria celebrada no quadragésimo dia depois da Páscoa. A leitura atenta dos Atos dos Apóstolos (1,4-10) justifica a festa da Ascensão quarenta dias depois.
                Liturgicamente se celebra a festa de Pentecostes como irradiação do Espírito, ele começa sua missão no mundo. Sob a ação do Espírito em nós, continuamos esta missão pelo testemunho e apostolado.  



Pe. João Bosco Vieira Leite

Domingo de Páscoa – 2016

(At 10,34a.37-43; Sl 117[118]; Cl 3,1-4; Jo 20,1-9)

1. A nossa liturgia da palavra será marcada nesse período Pascal pela ausência de textos do Antigo Testamento. Toda a profecia foi concretizada em Cristo Jesus, agora nos resta descobrir o significado das coisas novas realizadas por Deus. 
- Nossa fé se alimenta do testemunho que nos foi deixado pelos apóstolos. De suas experiências vamos recolhendo uma melhor compreensão do nosso caminhar na fé e do mistério de Jesus.

2. Na primeira leitura recolhemos o testemunho de Pedro sobre Jesus. Ele vê no agir de Jesus um modo de Deus transformar a história. Lembra a paixão por Ele sofrida, mas não foi abandonado por Deus que o ressuscitou.
* De tudo isso ele é testemunha. Só lhe resta comunicar essa ação de Deus, como o faz todo aquele que por ele foi tocado de alguma forma. 

3. Paulo sinaliza a vida nova que o batismo conferiu aos que acreditaram em Cristo, uma ressurreição. Que lhes resta se não uma vida condizente com essa nova condição?
* Isso não significa uma despreocupação com as realidades que nos cercam, mas vivê-las sob uma nova perspectiva. A contínua recordação das palavras de Jesus será a luz do caminhar.

4. A calma madrugada do domingo é rompida pelos apressados passos de uma mulher que vai até o sepulcro para concluir a preparação do corpo de Jesus. Ela é surpreendida com o túmulo vazio e corre a comunicar aos apóstolos o ocorrido.
* Estes também correm para ver o que de fato aconteceu. Dos três personagens brotam perspectivas diferentes. Ela pensa se alguém roubou o corpo. Pedro fica na dúvida se algo diferente aconteceu. O outro discípulo simplesmente crê que o fato se deu: o Senhor ressuscitou. 

5. Como nos aproximamos desse mistério? O que nos diz o sepulcro vazio? O que nos diz pessoalmente a ressurreição de Cristo?
* O discípulo amado é o modelo do modo como deveríamos crer e agir, mas isso não quer dizer que outras atitudes não sejam acolhidas por Deus. Cada um tem seu modo de chegar à verdade que é Deus.

6. Os caminhos que nos levam à fé são diversos, mas todos culminam, um dia, nessa mesma certeza de que a fé nos desinstala, que ela é progressiva, que ela nos restaura, e sempre pode nos trazer uma vida nova.
* Mas tudo isso depende da nossa disposição em percorrer esse caminho. Essa é a novidade revelada por Deus em Cristo Jesus: caminho, verdade e vida. 


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 26 de março de 2016 – Vigília Pascal.

O sábado ainda conserva o silêncio da quinta-feira que se “instala” ao final da celebração da Ceia do Senhor. É um dia alitúrgico (sem celebrações dos sacramentos). Hoje, a celebração da eucaristia só pode acontecer depois do sol se pôr, por causa do seu significado simbólico. Nesta noite a Igreja nos convida a reviver a aventura das mulheres que vão ao sepulcro e partilhar seus sentimentos. Elas carregam consigo o perfume que haviam preparado para embalsamar o corpo de Jesus. Maria Madalena lidera esse grupo de mulheres que carregavam também consigo a tristeza em seu coração e seu gesto é apenas uma expressão de afeto, apesar de impotente naquela circunstância.

Quando chegam ao sepulcro a pedra já estava retirada e não havia mais um corpo no mesmo. Uma desilusão ainda maior lhes toma o coração. Mas não tiveram tempo para lamentar-se, pois dois homens misteriosos lhe anunciam que Ele havia ressuscitado, recordando-lhes o que Jesus já havia partilhado com elas. E a partir daquele momento o anuncio da ressurreição jamais deixou de ecoar por todos os cantos da terra.

Na pergunta dos anjos às mulheres há um convite a mudança de atitude: não se reter no evento da morte, tendo-a como ponto final, mas perceber que ela é apenas um processo de passagem para uma vida mais plena e nova. Não atribuir demasiada importância aos acontecimentos humanos, ainda que pareçam definitivos, irremediáveis. Mas a acreditar muito mais na palavra de Jesus para superar os eventos irreparáveis e aderir a obra criadora de Deus. Converter-se a uma fé mais viva.

O que vale para essas mulheres, vale também para nós. Muitas vezes permanecemos bloqueados por acontecimentos que parecem definitivos, sem saída, ao invés de buscar na palavra de Deus e na luz de Cristo a possibilidade de olhar além e abrir a nossa existência à obra criadora de Deus. Renovemos a nossa fé, peçamos a Jesus ressuscitado que renove a nossa fé e toda a nossa vida. Que nos liberte de nossos sepulcros como ele foi libertado do seu e nos comunique sempre melhor a sua vida nova, para a glória do Pai e a alegria de todos os nossos irmãos e irmãs.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 25 de março de 2016

(Is 52,13—53, 12; Sl 30[31]; Hb 4,14-16; 5,7-9; Jo 18,1—19,42) 
Paixão do Senhor.

1. Para nossa meditação, me servi de um texto que um amigo me forneceu, retirado de um jornal italiano e devidamente traduzido para o português que tem como título: “O silêncio de Jesus no centro da história”. Ele cai como uma luva nesses dias do tríduo que celebramos o tríduo pascal e o silêncio é a tônica e atitude desse momento convidando-nos a contemplar o mistério pascal.

2. O silêncio é uma atitude muito presente no ministério de Jesus, particularmente na hora de sua paixão. É um silêncio mais denso que as palavras. Na paixão Jesus fala poucas vezes, nunca para se defender, mas apenas para explicar sua identidade. O silêncio torna-se uma palavra importante para explicar quem ele é.

3. Mesmo antes da paixão, tal atitude marca seu ministério público. Há o silêncio de Jesus diante de questões espúrias ou inúteis. Há o silêncio que Jesus impõe a quem gostaria de falar com ele antes de ter um vislumbre da novidade que é a cruz.

4. É inútil responder se não houver sinceridade na busca. Jesus não se apresenta disposto a ter um diálogo fingido. Para o discípulo, o espaço do silêncio é necessário para compreender a novidade de Jesus, caso contrário, fala-se d’Ele sem comunicar a novidade que surpreende, diante da qual a indiferença não tem lugar, mas apenas o sim e o não.

5. Seu silêncio às vezes foi desconcertante, o que na realidade era um espelho do próprio silêncio do Pai, seja no horto das oliveiras, seja na cruz. A experiência do silêncio de Deus não fala da fraqueza da fé, mas sim da profundidade e da humanidade da fé; e leva para o centro do homem e da história, lá onde Deus e o homem parecem se contradizer.

6. Onde Deus parece ausente ou distraído, onde a morte parece ter a última palavra sobre a vida e a mentira, sobre a verdade. Compreendido no mistério de Cristo, o silêncio de Deus aparece na sua realidade, como uma forma diferente de Deus falar.

7. De fato, no horto das oliveiras, Deus não fala com o milagre que liberta da morte, mas com a coragem de enfrentar a morte, atravessando-a. Durante o processo de acusação muitas vezes Jesus se cala. A verdade se cala diante da violência, não porque não tenha nada a dizer, mas porque já disse tudo e é inútil dizer de novo.

8. Esse silêncio de Jesus segue diversas alusões do Antigo Testamento. A principal delas está na 1ª leitura de hoje. A figura do justo sofredor. Jesus revive e engrandece essa imagem. É uma figura sem tempo, presente em todos os momentos da história e em todos os lugares. Seu silêncio não é indiferença, mas dignidade. Seu silêncio fala mais que muitas palavras.

9. Na narrativa de Marcos há uma cena em que cobrem o rosto de Jesus; ele é golpeado e desafiado a adivinhar quem o bateu. Como numa brincadeira de cabra-cega, é o desafio ao Messias que ele diz ser. Ele permanece em silêncio e isso faz toda a diferença. Uma diferença teológica, a diferença que existe entre o modo que o homem imagina Deus e o modo como Deus realmente é.

10. No relato que acompanhamos Jesus responde às perguntas sobre a sua realeza, mas permanece em silêncio quando a sua realeza é ridicularizada e mostrada em público. O silêncio principal João reserva para a pergunta mais importante: “De onde és tu?”. Jesus deixa Pilatos sozinho diante da pergunta que o perturba.

11. Diante do mistério que o interpela e o inquieta, cada homem deve encontrar pessoalmente a resposta. É uma decisão pessoal que não pode ser delegada a ninguém, uma resposta que nem Deus pode dar no seu lugar.

12. Nos relatos de Marcos e Mateus, em torno do crucificado há muitos que falam: os transeuntes, os sacerdotes, os guardas, os dois ladrões. Todos falam de Jesus ou contra Jesus, mas ele se cala. Ao final Jesus dirige uma pergunta ao seu Deus: “Meu Deus, porque me abandonaste?”. Sua pergunta cai no silêncio. Morre num grito sem palavras.

13. O Pai falará depois, na Ressurreição. A cruz é o momento que cabe ao Filho manifestar até que ponto um filho de Deus compartilha a experiência que o homem encontra diante do seu Deus. Cabe ao crucificado revelar até que ponto chega o amor de Deus. Toda essa surpreendente revelação está contida no silêncio de Jesus na cruz.

14. O nosso silêncio comunitário ganha forma de celebração. Como diz um grupo musical de nosso tempo, parafraseando outra pessoa: “As palavras me perdoem, mas silêncio é fundamental”. Não só para o mistério de Deus, mas da própria vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quinta, 24 de março de 2016

(Ex 12,1-8.11-14; Sl 115[116B]; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15)
Ceia do Senhor.

Hoje a Igreja tem dupla celebração. Pela manhã temos a celebração dos Santos Óleos na igreja catedral. O bispo reúne seus sacerdotes para a preparação dos óleos que serão usados nos sacramentos durante o ano e também acolher deles a renovação das promessas sacerdotais e aproveita para através os mesmos, transmitir aos seus diocesanos os votos de uma feliz páscoa. A celebração termina num caráter de confraternização, uma vez que hoje também é o dia da instituição do sacerdócio. À tarde ou à noite temos a celebração do Lava pés ou da Ceia do Senhor.

A liturgia da palavra se abre no seu caráter memorial da páscoa judaica, uma memória foi instituída e traz consigo o selo da libertação acontecida não só no passado, mas sempre que se tem presente a sua identidade de povo escolhido e na constante certeza de que Deus esteve sempre ao seu lado em todas as situações.

Paulo fala também de uma outra memória instituída por Cristo na última Ceia. A Igreja conserva a memória do seu Senhor numa refeição, onde pão e vinho são sinais e presença constante daquele que caminha agora e sempre com o seu povo. Um memorial a ser repetido até a sua vinda final. Por isso continuaremos proclamando a cada Ceia: Vem, Senhor Jesus!

Tendo a memória da Instituição da Eucaristia já sido recordada por Paulo, a Igreja acrescenta um outro texto de uma memória ainda mais importante: praticar a caridade, o amor, ao estilo de Jesus, que se fez servo lavando os pés da humanidade. Levamos um tempo para compreender que cada celebração eucarística aponta para um compromisso com a vida em todas as suas dimensões.  Acolhamos o dom maior de sua presença sacramental que nos ajuda a perpetuar a sua memória na prática do amor fraterno tendo a Jesus como modelo perfeito de doação.



Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 23 de março de 2016

(Is 50,4-9; Sl 68[69]; Mt 26,14-25) 
Semana Santa

Na figura do servo que nos é oferecida por Isaias aparecem os tormentos e humilhações sofridas. No entanto, ele sabe que Deus está com ele, como veremos na sexta-feira na narrativa da paixão que João nos oferece, onde Jesus aparece em sua plena soberania durante todo o processo.

É assim que Jesus, sabendo o que lhe aconteceria, serenamente está às voltas com a preparação da última ceia e ao mesmo tempo da concretização da traição de Judas, que entra na história como instrumento facilitador de sua entrega. Somos convidados a entrar neste momento dramático de Sua vida e observar como ele leva adiante tudo isso. Ele faz de Sua morte uma fonte de vida: o seu coração vence a morte e a transforma em vida para o mundo. Abramos o nosso coração para acolher esse mistério e entrar com Ele e seus discípulos para esse momento de intimidade, que dele aprendamos a viver os momentos difíceis de nossa história pessoal.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 22 de março de 2016

(Is 49,1-6; Sl 70[71]; Jo 13,21-33.36-38) 
Semana Santa.

O servo reafirma o seu chamado, a destreza das palavras colocadas por Deus em sua boca o fez luz das nações para que a salvação de Deus chegasse aos confins da terra. E assim foi feito em Cristo Jesus o que o profeta havia vislumbrado no aparente fracasso do esforço de nosso personagem.

No evangelho se antecipa a narrativa da ceia para situar a negação de Pedro, precedida pela confirmação da traição de Judas. Um clima dramático se estabelece depois de Jesus ter lavado os pés dos discípulos. Como o servo da 1ª leitura, isso denotaria um certo fracasso por parte de Jesus, de seu esforço de amar. Mas Jesus não se deixa perturbar por esse aparente fracasso, ele compreende que nessa situação incompreensível ao olhar humano, Deus o glorificará.

Para nós também fica a lição de sermos capazes de reconhecer em meio as todas as tribulações e aparentes fracassos que passamos, que Deus tem seu modo de agir, e assim possamos passar por elas confiantes de que algum bem Ele há de tirar de tudo isso.

Pe. João Bosco Vieira Leite



Segunda, 21 de março de 2016

(Is 42,1-7; Sl 26[27]; Jo 12,1-11) 
Semana Santa.

Nesses três dias que antecedem a quinta-feira Santa, as leituras que antecedem o evangelho fazem parte dos cânticos do servo sofredor, esse ser misterioso, que alguns intérpretes julgam ser uma pessoa, outros acham que ele representa o próprio povo, mas não nos percamos nesses detalhes, tomemos os textos como protótipo da paixão de Cristo em seus aspectos gerais. Hoje temos o seu chamado, seu caráter ou personalidade, suas virtudes são anunciadas e também sua missão.

Enquanto isso, Jesus que já se encontra nas proximidades de Jerusalém, vai a Betânia visitar os amigos. Num jantar a Ele oferecido, Maria executa uma ação simbólica que prenuncia a Sua morte. A unção com óleo é uma imagem do amor: “Maria toma uma libra de puro óleo de nardo, um perfume precioso, e unge com óleo os pés de Jesus. [...] a quantidade desmesurada do óleo lembra a abundância de vinho que Jesus mandou servir nas bodas de Caná. Nesse casamento se fez menção ao novo sabor da vida. Aqui se trata de uma fragrância preciosa que entra pelas narinas. O amor de Deus que se completa na morte de Jesus exala um odor agradável. A casa toda, a Igreja toda, o mundo todo ficam cheios desse aroma e se transformam” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”).



Pe. João Bosco Vieira Leite

Missa do Domingo de Ramos 2016 – ano C

1. Nossa reflexão hoje pode começar pelo evangelho que antecede a procissão. Recordamos a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém.
* Vem montado num jumento, símbolo da simplicidade e do despojamento de qualquer pretensão de poder e força. Esse simbolismo é complementado pelos ramos de oliveira, símbolo da paz.

2. Parece que Jesus está conquistando a cidade, como um novo soberano que chega; “tomou” a cidade sem dominá-la, com seu anúncio do Reino e com seu ensinamento.
* As pessoas que o acompanham são simples e certamente trazem consigo uma história de dominação e veem em Jesus uma luz de esperança, de vida e de libertação.

3. Mas Jesus está ali para oferecer-se a si mesmo e na sua entrega comunicar o verdadeiro sentido da vida. A narrativa da paixão que lemos nesse dia já está prefigurada no texto da 1ª Leitura.
* Nesse misterioso personagem chamado de “Servo” e na sua paixão o profeta Isaías anunciou que aquele que vem montado num jumentinho, não é um vencedor, não tira a vida de ninguém, mas oferece sua própria vida.

4. De certo modo o servo já sabia o que lhe iria acontecer; então, em meio a toda adversidade ele continua confiando em Deus.
* Assim, Paulo oferece esse Jesus em todo o seu despojamento como modelo para uma comunidade envolta em seus problemas internos: quem é o maior, o mais importante...

5. São situações que também nós experimentamos de alguma forma, nas realidades em que vivemos. Mas Paulo não fica só na humilhação e na cruz.
* Paulo canta, desde já, sua glória e ressurreição.  O Pai o ressuscitou, restabelecendo sua glória primeira e deixando a nós o modelo a seguir. Aqui podemos extrair a parte prática de nossa meditação da Palavra.

6. Paulo nos conduz à compreensão que a paz que Jesus nos quer oferecer é resultado de uma luta que travamos conosco primeiramente.
* Uma guerra contínua contra tudo que na nossa vida não for de Deus: contra a soberba, a sensualidade, o egoísmo, a superficialidade, a estreiteza de coração.

7. A quaresma já nos situo nesse campo, pois facilmente esquecemos que a nosso compromisso de andar com Cristo e de sermos sal e luz, demanda contínua revisão de nosso caminhar.
* Quando deixamos de lutar, traímos os ideais de nossa fé. O amor que dizemos ter a Deus exige isso de nós.

8. Talvez tenhamos em conta nesse momento as quedas que continuamente experimentamos ao empreender tal esforço. Deus já conta com elas. “É inevitável que, ao caminharmos, levantemos poeira”.
* As quedas não são o mais importante, elas não são necessariamente sinal de fracasso, mas fazem parte de uma vitória final de Deus, de sua graça que combate conosco.

9. São João da Cruz nos diz que ao final da vida seremos julgados pelo Amor e o Amor buscará ver em nós as marcas de nossa luta.
* Tais considerações podem parecer um tanto piedosas, mas de nada nos adianta a contemplação do mistério de paixão se não olharmos para nós mesmos e não buscarmos alguma identificação com a Palavra que nos é dirigida. 

10. Toda luta exige treino e alimentação adequada. Na oração e nos sacramentos encontraremos a força necessária para seguirmos adiante.
* Morreremos lutando, combatendo o bom combate, como diz Paulo. Deixemos a avaliação da caminhada para Deus; guardemos conosco a certeza de sua misericórdia, que é eterna.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de março de 2016

(2Sm 7,4-5.12-14.16; Sl 88[89]; Rm 4,13.16-18.22; Mt 1,16.18-21.24) 
São José. Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja.

A Igreja celebra hoje um dos seus santos queridos e esposo da Virgem Maria. A figura de José atrai o nosso olhar pela especial vocação que é chamado a viver no mistério da salvação. Na liturgia da palavra se recorda a promessa feita a Davi de sua descendência estabelecida pelo próprio Deus. José é descendente da tribo davídica e é convidado a dar a Jesus esta linhagem estabelecida na promessa de um filho. É claro que o texto se aplica a Salomão, mas a liturgia contempla Jesus, o Messias, descendente de Davi. A segunda leitura faz uma referência ao ser justo de José, não pautado sobre a lei, mas sobre a fé que o leva a enxergar além e ver no filho que Maria traz no seio, a confirmação das promessas divina. De certo modo José é comparado a Abraão na sua resposta e na sua esperança. Como Abraão, aprendeu a confiar em Deus também nos momentos de incerteza e dificuldade, quando sua felicidade parecia comprometida. Conservou uma profunda fidelidade, permanecendo aberto à luz de Deus, que o iluminou, restituindo paz e alegria.  

Os dois textos nos preparam ao evangelho. A figura de José desperta em nós a admiração por assumir a responsabilidade de pai para Jesus, e tudo que concerne a essa vocação, unindo-se a Maria. Ele descobre nesse evento a vontade de Deus para ele. Não nos seria possível compreender a sua renúncia se não no campo da fé. Seu amor se eleva a uma altura sublime, pois não busca os próprios interesses, as próprias satisfações, mas se coloca completamente a serviço da pessoa amada.  

Só nos resta pedir a Deus essa mesma fé, confiança, docilidade, generosidade e pureza para nós e para todos aqueles que têm responsabilidade em nossa Igreja, mas que as maravilhas de Deus também se façam sentir no nosso tempo.


 Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta, 18 de março de 2016

(Jr 20,10-13; Sl 17[18]; Jo 10,31-42) 
5ª Semana da Quaresma.

O texto de Jeremias serve de prefácio ao clima de tensão que vai se avolumando no confronto entre Jesus e os judeus no evangelho. Ao afirmar-se filho de Deus e não ser acolhido no que significa realmente as palavras de Jesus, ele recorre a uma palavra da escritura que fala da condição privilegiada do homem criado por Deus: “vós sois deuses”.

Perceba que em meio a toda essa discussão e ameaças, pessoas acreditam em Jesus. “Nessa passagem rompe-se com a imagem por vezes negativa dos judeus no evangelho de João. Muitos judeus começam a seguir Jesus. A comunidade joanina se compõe em grande parte de judeus. Aqueles judeus que não creem representam em João o mundo que não acolhe Jesus. A tendência de rejeitar Jesus está tanto no leitor quanto nos judeus que naquele tempo se fechavam para Jesus achando que já tinha tudo. Para João tudo gira em torno da opção de crer em Jesus ou rejeitá-lo, de modo que o pecado não consiste em infringir os mandamentos, e sim em fechar-se contra Jesus. A fé é decisiva. Crer significa passar desse mundo para um outro, rompendo com o que é fútil para enxergar o que é essencial” (Anselm Grun, “Jesus, porta para a vida”)


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 17 de março de 2016

(Gn 17,3-9; Sl 104[105]; Jo 8,51-59) 
5ª Semana da Quaresma.

A figura de Abraão que aparece na 1ª leitura e com quem Deus estabelece uma aliança para sempre, é citado por Jesus no evangelho como aquele que se alegrou por ter visto o dia de Jesus. É claro que a alegria sentida por ele foi prefigurativa, talvez no mesmo momento da encarnação do Verbo, Abraão já vislumbrava o que Deus iria realizar. Mas esse mistério da vida escondido em Deus, Abraão já o tinha experimentado de alguma forma quando Deus suscitou o nascimento de Isaque, mesmo estando ele e Sara com idade avançadas. No momento de sacrificar Isaque ele também percebeu o que é a fidelidade a Deus e a perda de um filho. Sim, Abraão teve momentos de ressurreição; quando tudo parecia perdido, Deus atuou de modo a fazer novas todas as coisas: a vitória sobre a morte.  

Sim, este é o motivo também da nossa alegria: saber que é possível vencer todo obstáculo, toda dificuldade, todos os sinais de morte pela ressurreição de Cristo, último sinal deixado a nós. A vida é mais forte que a morte. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 16 de março de 2016

(Dn 3,14-20.24.49.91-92.95; Sl Dn 3; Jo 8,31-42) 
5ª Semana da Quaresma.

O casamento entre os dois textos de hoje não é tão fácil. Ouvimos Daniel contar de como Deus foi capaz de salvar os três jovens da fornalha e assim testemunhar a fé desses homens, mas também do que Deus é capaz de operar naqueles que nele confiam. O texto fala também da liberdade que Deus lhes infundiu no coração a ponto de desafiarem o mandato do rei. Na fidelidade a Deus poderemos experimentar a sua libertação das situações que nos aprisionam, muitas vezes em nós mesmos. Eles cantam porque sabem que a noite vai passar e o sol despontará em sua grandeza para tudo iluminar.

Jesus segue seu embate com os judeus. Surge na conversa a filiação de Abraão cuja história remonta a origem do próprio povo. Se de fato eles fossem filhos de Abraão não atentariam contra a vida de Jesus. O verdadeiro filho (ou filiação) se expressa pelas obras que realiza. Quando nos deixamos guiar pela Palavra de Jesus experimentamos a verdadeira liberdade dos filhos de Deus, pois o pecado nos faz escravos.  

Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 15 de março de 2016

(Nm 21,4-9; Sl 101[102]; Jo 8,21-30) 
5ª Semana da Quaresma.

No seu diálogo com os judeus Jesus menciona sua morte e consequentemente sua partida. Ele usa o termo “elevado”, que nos lança a 1ª leitura, ao mencionar a serpente colocada numa haste e elevada para que aqueles que foram picados por serpentes pudessem alcançar a cura.

Para João não se trata de uma derrota, esse ser elevado, mas uma exaltação, uma glorificação. Essa concepção do evangelista exige a visão da fé, do querer de Deus, aceito por Jesus como um gesto de amor a Ele. Isso exigiu de Jesus uma confiança total, que por seu sacrifício o mundo seria salvo. Contemplando esse mistério muita coisa mudaria no coração do homem, ele encontraria cura necessária.

Só nos resta pedir a capacidade contemplativa desse grande amor de Jesus pelo Pai, juntamente com esse amor do pai pelo Filho, para que o nosso coração se dilate na alegria e na generosidade desse amor.  


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 14 de março de 2016

(Dn 13,1-9.15-17.19-30.33-62; Sl 22[23]; Jo 8,12-20) 
5ª Semana da Quaresma.

O tema do testemunho entra de forma interessante nas duas leituras de nosso dia. Na primeira, está o falso testemunho dos dois anciãos contra Susana por não se “entregar” a eles. Aqui aparece a pobre condição da mulher na sociedade judaica (o texto casa bem com o evangelho de ontem); enquanto os anciãos desviaram os olhos do alto para observarem Susana, ela eleva o olhar aos céus para implorar por socorro. Percebam esse detalhe do texto. Deus envia Daniel para fazer justiça. Jesus faz referência ao testemunho válido requisitado pelos judeus por duas testemunhas, pois Jesus dá testemunho de si ao afirmar quem ele é. Jesus dá testemunho de si e é acompanhado pelo Pai nesse testemunho porque eles são um só. Se eles conhecessem verdadeiramente a Deus, conheceriam quem é Jesus. Há muito eles desviaram o olhar do o alto e os tem preso a suas leis, não permitindo a Deus ser completamente novo ou mesmo surpreender-se com o Ele é capaz de realizar sempre de novo.

Jesus mantem a serenidade, mesmo com a aproximação de todo o processo da paixão ganhando maior dimensão. Quando as trevas parecem se avolumar, ele tem a coragem de reafirmar: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. O Senhor nos convida a nos aproximarmos não só do seu amor, mas também de sua justiça em meio às situações difíceis que atravessamos. Será ele a iluminar o nosso coração e a nossa mente nas decisões a serem tomadas. Como ele confiou no Pai, aprendamos de seu coração a confiar a seguir os seus passos: “Ainda que eu ande pelo vale das sombras nem um mal eu temerei porque sei que estás comigo”. 


 Pe. João Bosco Vieira Leite

5º Domingo da Quaresma – Ano C

(Is 43,16-21; Fl 3,8-14; Jo 8,1-11).

1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse texto de Isaias e sua tentativa de animar o povo exilado, recender a esperança e fazê-los saber que Deus não os esqueceu. Enquanto eles recordam as maravilhas do passado e de certo modo cobram por elas, o profeta lhes revela que a proposta de Deus é sempre nova, e precisamos estar abertos a esse seu modo de agir.

2. O retorno será poeticamente maravilhoso. Mas não é tanto dessa novidade que a liturgia quer nos falar, mesmo estando tão próximos da páscoa. A novidade estará no agir de Jesus no evangelho, é para ela que o texto nos prepara; o Deus que faz novas todas as coisas nos convida a rever os parâmetros de julgamento que carregamos.

3. Antes de passarmos ao prato principal oferecido nessa mesa da palavra, acolhemos o testemunho de Paulo sobre a novidade que foi Jesus em sua vida. Já um pouco mais maduro, Paulo analisa seu processo de mudança de pensamento, mesmo não sendo ainda perfeito, para abraçar o ensinamento proposto por Jesus e a salvação que nele encontrou. Nesse processo nada é simples, Paulo se lança para o novo que se apresenta em sua vida.

4. Se foi para nós uma surpresa a imagem de Deus que Jesus nos ofereceu na parábola do filho pródigo, que diremos dessa cena que poderia também ter sido escrita por Lucas? Esta página do evangelho foi alvo de muitas discussões sobre certos princípios morais de nossa sociedade, como a insinuar uma moral conjugal desleixada. Menos ainda que o filho mais novo da parábola, não se percebe nas palavras dela qualquer arrependimento.

5. Apresentam a Jesus apenas a mulher que foi surpreendida em adultério. Quem esteve com ela não aparece. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. Imaginemos os ultrajes a que foi submetida até chegar à presença de Jesus. Certamente a levam até ele por causa de sua fama de misturar-se aos pecadores e certamente na intenção de medir seus princípios morais.

6. Ainda que a vida sexual dos outros sempre nos foi fonte de curiosidade, ela não passa de um joguete nos planos contra Jesus, nas mãos daqueles pretensos puritanos. A maneira como Jesus reage a pergunta deles os deixa um tanto inseguros. Talvez Jesus não tenha escrito nada no chão, talvez só estivesse ganhando tempo ou quiçá lembrasse nossa humilde condição do pó de onde saímos. Mesmo assim nos arvoramos a sermos melhores que os outros...

7. Jesus se coloca do lado da mulher e resolve enfrenta-los. Com uma única frase responde de maneira criativa às muitas palavras dos fariseus, penetrando-lhe bem fundo no coração. Jesus os desmascara. Eles sabem que, em sua longa vida, não ficaram sem pecados. A hipocrisia deles é colocada às claras e, envergonhados, vão se afastando.

8. De repente eles estão a sós. Diz santo Agostinho: “Dois ficaram para trás, a miserável e a misericórdia, a coitada e aquele que tem um coração para a coitada”. Jesus se dirige a ela, tirando-a daquele embaraço. Não faz questão de que ela se confesse culpada. Apenas pergunta por seus acusadores.

9. Um peso cai do seu coração em sua resposta. Jesus a perdoa e a encoraja a não pecar mais. Jesus não está desculpando o seu comportamento, pede-lhe que não volte a pecar. Ele lhe transmite a confiança que ela o fará, que é capaz de viver de outra forma. Transmite-lhe confiança e otimismo para o caminho futuro.

10. Esse ano da misericórdia, e essa cena do evangelho nos diz que temos muito ainda a aprender. Sobre esse desejo mórbido de comentar e divulgar os erros e desacertos dos outros. De desferir nossos juízos; de rapidamente condenar os outros esquecidos de nós mesmos. Quanto mais tempo vivemos, mais pecamos. Ninguém é totalmente sem culpa. Ninguém.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 12 de março de 2016

(Jr 11,18-20; Sl 07; Jo 7,40-53) 
4ª Semana da Quaresma.

O profeta Jeremias como que empresta voz a Jesus a partir do seu drama interior e sua oração a Deus. O salmo reforça esse quadro dramático do inocente perseguido. Enquanto isso, João nos oferece mais um quadro da polêmica entre Jesus e os judeus. Estão divididos entre o que captam das palavras e do testemunho de Jesus e dos esquemas pré-estabelecidos que carregam da fé e da tradição. Até os próprios guardas que iriam prendê-lo se vêm confusos em meio a essa discussão. “Mas esta palavra tem tanto poder que toca e convence até aqueles que lutam contra ela, Jesus irradia uma força à qual ninguém consegue subtrair-se. Quando os fariseus reclamam dos criados e do povo ignorante. Nicodemos toma partido de Jesus [...]. Os criados e o povo são uma imagem dos primeiros cristãos que vieram das classes mais humildes e não tinham instrução. Nicodemos, porém, argumenta a partir da dogmática judaica. Ele quer ver respeitada a ordem judaica. Ele representa o judeu que faz um esforço sincero para entender Jesus e vê-lo corretamente. Nicodemos convida os judeus a optarem por Jesus. Quem lê as escrituras de maneira correta pode descobrir nelas que em Jesus se cumprem todas as promessas” (Anselm Grun – “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite



Sexta, 11 de março de 2016

(Sb 2, 1.12-22; Sl 33[34]; Jo 7,1-2.10.25-30) 
4ª Semana da Quaresma. 

A figura do justo, sob o olhar do ímpio, que aparece no livro da Sabedoria delineia todo o processo da paixão de Cristo. E nos prepara ao texto do evangelho. No clímax das discussões já colocado por João, a decisão de matar Jesus já está tomada, a multidão já sabe da decisão das autoridades, como se cartazes de “procura-se” tivessem sido espalhados pela cidade. Jesus até parece um dos profetas perseguidos do Antigo Testamento. O nosso texto é entrecortado, omite vários elementos para salientar no seu final a continuidade da discussão iniciada no capítulo 5. Eles julgam saber exatamente como o Messias se manifestará. Jesus se aborrece com sua presunção e deixa claro que só Deus pode revelar a quem ele o quiser. Não o podem prender, pois a hora de Jesus está determinada pelo Pai. Somos convidados a nos envolver em toda essa trama: “o leitor se vê confrontado com as suas dúvidas e objeções a respeito de Jesus. As suas próprias dúvidas são expressas nas palavras dos judeus. E é o próprio Jesus que responde a essas dúvidas” (Anselm Grun – “Jesus, porta para a vida”).

Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta, 10 de março de 2016

(Ex 32,7-14; Sl 105[106]; Jo 5,31-47). 
4ª Semana da Quaresma.

O discurso sobre a incredulidade dos judeus aberto pelo evangelho de ontem tem um pouco a ver como texto do Êxodo que a liturgia hoje nos oferece. O episódio do rápido esquecimento do povo da ação de Deus para tirá-los do Egito é algo que nos custa a crer, mas que toca a nossa frágil humanidade. Facilmente perdemos o rumo quando se trata de saber esperar.

O discurso de Jesus iniciado pela falta de fé dos judeus permite a João aprofundar ainda mais sua visão do próprio Jesus. O próprio texto de João já é um testemunho sobre Jesus e sua missão, mas ele acrescenta o testemunho de João Batista e as obras que Jesus realizou em comunhão com o Pai. Mas eles estão tão fechados em si mesmos, no próprio sistema religioso que criaram, que se encontram cegos para perceber a luz que é Jesus. O texto insiste sobre a necessidade de crer nele, pois nisso consiste a salvação do ser humano. Creiamos também nós.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta, 09 de março de 2016

(Is 49,8-15; Sl 144[145]; Jo 5,17-30). 
4ª Semana da Quaresma.

O profeta Isaias eleva sua voz para expressar a ação de Deus em favor do seu povo. Ele é aquele que nos salva a partir de várias ações libertadoras convidando-nos a dar esse passo que vai de encontro a Ele e se expressa na confiança de que Deus nunca nos abandonará.

A cura do paralítico num dia de sábado abriu uma página de discussão entre Jesus e os judeus, ao mesmo tempo permitiu que Jesus revelasse essa comunhão entre ele e o Pai, sua natureza e sua missão. Ele trabalha também pela nossa salvação toda sua obra está em comunhão com o querer de Deus. Mas a obra maior será a Sua ressurreição e nela também a nossa. Jesus parece fazer uma alusão a Lázaro e ao mesmo tempo ao juízo final. Não é fácil captar todo o sentido do que escreve João. Crer, por si só já é o grande passo que damos para a vida que Cristo quer nos oferecer.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 08 de março de 2016

(Ez 47,1-9.12; Sl 45[46]; Jo 5,1-16) 
4ª Semana da Quaresma.

Esse princípio vivificante que nos escapa entre os dedos que é a água, serve de base para visão simbólico/poética do profeta que vê emanar água do Templo; por onde ela passa a vida é transformada. O poeta fala da água como princípio de nova vida.

Assim é Jesus que entra na história humana, princípio de vida nova, mais que as águas do Templo. Nesse local aonde chega Jesus há cegos, coxos e paralíticos. Doenças que significam uma limitação não só física, mas também psicológica: “Somos cegos. Os nossos olhos estão fechados quando se trata de enxergar a verdadeira realidade, a nossa própria verdade. Temos pontos cegos e nos recusamos a vê-los. Estamos paralisados de medo. Temos medo de cometer algum erro e, por isso, ficamos bloqueados. E somos aleijados. Queríamos ser diferentes do que somos. Muita coisa em nós fica impedida de crescer deixando de se desenvolver. E assim ficamos mutilados. Vivemos apenas uma parte daquilo que está dentro de nós. Os nossos traumatismos bloquearam parte de nossa alma e impediram de desenvolver-se. Podemos identificar-nos com todos esses doentes”. (Anselm Grun – “Jesus, porta para a vida”).

A palavra e o querer de Jesus são capazes de curar, desde que também desejemos. O que faríamos para conseguir a cura? Para além daquilo que confiamos como instrumento da graça, está Jesus com sua Palavra e seu desejo que nos reergamos dos limites que a vida nos impôs.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 07 de março de 2016

(Is 65,17-21; Sl 29[30]; Jo 4,43-54) 
4ª Semana da Quaresma.

Entramos agora numa segunda fase da quaresma a partir dos textos da liturgia. A proximidade da páscoa vai nos deixar aos cuidados do evangelista João que vai aprofundando a imagem do Messias e o processo que desencadeará na sua condenação e morte.

Enquanto o profeta Isaias sonha com um novo céu e uma nova terra a partir da palavra recriadora do próprio Deus, Jesus inaugura um novo tempo cujo sinal será a fé em Sua palavra. O nosso crescimento na confiança em Jesus passa por esse teste, como passou o funcionário do rei e assim abraçou a fé. É preciso primeiro crer para depois vê. Se acreditamos, progredir na fé é possível. Em meio a tudo que esperamos que Deus faça em nós e por nós, peçamos a Ele esse progresso necessário à fé, que reza, confia e espera.


Pe. João Bosco Vieira Leite

4º Domingo da Quaresma – Ano C

(Js 5,9a.10-12; Sl 33[34]; 2Cor 5,17-21; Lc 15,1-3.11-32)

1. Estamos nos aproximando da celebração da Páscoa e a liturgia nos apresenta esse texto em que o povo, depois da travessia do deserto, celebra outra vez a Páscoa. Um memorial da libertação e dos dons de Deus. Cada domingo é para nós um memorial dessa Páscoa de Jesus e nossa. Na travessia que fazemos, a Eucaristia é nosso alimento celeste. Um dia, ele também cessará para nós, pois de Páscoa em Páscoa, queremos chegar a Páscoa definitiva, a plena posse de tudo aquilo que desde o batismo nos foi prometido: a vida plena em Deus.

2. Na linha dessa mesma proximidade celebrativa da Páscoa, é de Paulo a exortação e o convite à reconciliação com Deus. É função da Igreja proclamar essa necessidade não apenas ritual, mas vital. Permitir que a nossa mente e o nosso coração se abram para o dom que lhe é oferecido. É o mesmo apelo que o papa Francisco dirige a nós nesse ano da misericórdia e nada melhor que a parábola da misericórdia por excelência.

3. Um texto que particularmente abre um leque de indagações e dar-lhe um título não é fácil. Há a história de dois filhos, da relação entre eles e da relação de ambos com o pai. Há um pai que está no centro da história, deve lidar com os dois filhos para ajuda-los a lidar com a dinâmica do amor, da misericórdia, que deveria reger a nossa relação com Deus e com os outros.

4. São muitas as lacunas na narrativa que nos obriga a preenchê-las com o nosso ponto de vista ou com aquilo que vai em nosso coração. O que mais assusta na parábola é o senso de justiça que parece falhar no trato desse pai com os seus filhos. Na realidade eles representam aqueles com quem Jesus faz refeição e aqueles que os criticam. 

5. Na decisão de partir do filho mais jovem se delineia o respeito que Deus tem pela liberdade humana, tanto quanto deveríamos ter em relação aqueles que amamos, por mais difícil que isso seja. Às vezes se parte não só pelo direito a liberdade ou pelo desejo de aventura. Às vezes se busca a paz em situações de conflito, às vezes, para crescer, amadurecer, é preciso tomar distância.

6. Mas parece que ao nosso jovem faltou o equilíbrio necessário; nem sempre estamos prontos para partir, particularmente se não medimos as consequências de nossos atos. É impossível saber se havia um sério arrependimento ou a necessidade falou mais alto. O pai não se importa com nada disso, porque ele ama aos dois filhos. Só o amor ou bem pode resgatar quem está perdido, dirá Jesus.

7. Essa atitude do pai pode dar um nó em nossa cabeça, se pensamos em quem está certo, se agir de maneira irresponsável dá no mesmo... A parábola não faz tais afirmações, mas nos leva a refletir nas situações trágicas que nos cercam. O que parece uma festa pode acabar em prantos...

8. Não deveríamos ficar na torcida para que Deus faça justiça, mas alentar a esperança de que ele, de alguma forma, recupere seus filhos. Como na história, há muitas coisas que nos escapam... A dificuldade do filho mais velho é entrar nessa dinâmica do pai, que vê para além dos simples fatos e nos convida a comungar do seu desejo de recuperar, não de condenar.

9. O filho mais velho, às vezes fala por nós, em outras, nos sentimos o caçula que deu um passo em falso e precisamos de aconchego. O que importa é que não fiquemos de fora desse amor que Deus tem por nós. A parábola pode não ter um final para nós, que ainda nos posicionamos pró ou contra a atitude do pai; isso é um problema nosso; Deus continua amando e muito preocupado em salvar, oxalá pensássemos como ele...



Pe. João Bosco Vieira Leite