20º Domingo do Tempo Comum – Ano C

(Jr 38,4-6.8-10; Sl 39[40]; Hb 12,1-4; Lc 12,49-53).

1. Nossa liturgia da palavra se situa na dramaticidade daqueles que se comprometem com a verdade e sofrem toda forma de represália. Aspectos da vida do profeta Jeremias, servem de referência para o próprio drama vivido por Jesus. Assim podemos acolher esse texto.

2. O cerco imposto por Nabucodonosor à Jerusalém estava matando o povo de fome. Observando a situação, Jeremias recomenda a rendição. Visto como um traidor do povo é jogado numa cisterna, mas depois retirado pela intercessão de um outro homem sensato. Deus tem seus modos de agir em favor dos seus.

3. Essa espécie de luta entre o bem e o mal se repete ao longo da história e se reveste de formas diversas, nem sempre se recorrendo à violência física. A marginalização, o desprezo, a difamação e a calúnia são também métodos de conter os que criticam os poderosos e toda ordem de injustiça de uma sociedade.

4. Jeremias entra na lista do autor da carta aos Hebreus, de modo geral, ao falar daqueles que em meio as maiores dificuldades não abandonaram a fé. O autor tenta incentivar a comunidade cristã a seguir firme, pois assim se pode testemunhar a fidelidade a Cristo, a quem temos claramente a nossa frente, como referência de nossa perseverança.

5. Os textos que antecedem o evangelho nos ajudam a situar essas enigmáticas palavras de Jesus que fazem referência ao Espírito Santo como fogo renovador, fruto do seu batismo: paixão, morte e ressurreição. Por causa desse mesmo Espírito, a paz é algo que está para além de certas aparências de unanimidade, onde a mentira e a injustiça subsistem. Fogo e água podem resumir qualquer tipo de perigo.

6. A palavra de Jesus leva a repensar e quer provocar o sadio debate, onde a verdade nos liberta de falsas expectativas. Não devemos temer as divisões que a Palavra pode provocar. Ela nos deixa claro que certas mudanças devem ocorrer para uma honesta e sadia convivência e que a verdade trazida à tona gera divisões. Diante de Jesus as pessoas terão que tomar partido.

7. Assim Jesus prepara os seus discípulos para o que virá: oposição, difamação, por causa da verdade. A paz de consciência nos obriga a ser coerente com o que acreditamos. A paz de Jesus situa-se sobre um outro plano: não compactuar com o mal e a injustiça. A partir dessa realidade sabemos que as divisões são inevitáveis. Não se trata de uma guerra declarada, mas de uma consciência que temos pontos de vista diferentes e que por causa deles nos determinamos na vida.

Pe. João Bosco Vieira Leite