Sábado, 31 de outubro de 2015


(Rm 11,1-2.11-12.25-29; Sl 93[94]; Lc 14,1.7-11) 
30ª Semana do Tempo Comum

Esse tempo de resistência dos judeus em acolher o evangelho é o tempo em que os pagãos vão aderindo a essa boa nova. Paulo tem uma compreensão maior do amor divino, pois sabe que Deus não deixou de amar Israel, pois Sua aliança é irrevogável, mesmo estes não aceitando a Sua revelação em Jesus. Com esse olhar positivo encerramos nossa leitura da carta aos romanos durante essas semanas. Essa boa nova proclamada por Paulo deve nos ajudar a compreender e rezar por aqueles, que mesmo comungando a fé em Deus, não creem em Jesus. Deus tem seus meios para levá-los à salvação.

A pequena lição de humildade dada por Jesus é mais que uma mera observação de “etiqueta” social, é uma tentativa de levar-nos a refletir quão ridículo é pensarmos a nós mesmos a partir do quão bom ou importante nos achamos.  É o outro que reconhece a nossa importância, não só pelo fato de sermos amados por Deus, mas por sermos amáveis com o outro.






Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 30 de outubro de 2015


(Rm 8,9-5; Sl 147[147B]; Lc 14,1-6) 
30ª Semana do Tempo Comum

Paulo contempla a quantidade de judeus que não conseguem aceitar a Jesus como o Messias prometido, sendo ele também judeu, daí sua tristeza e desejo de ser banido do caminho da fé se por um acaso eles se convertessem a essa verdade. Não é essa a mesma tristeza que partilhamos ao perceber que os nossos não veem na fé em Jesus uma luz para suas vidas?

Enquanto isso, Jesus recorda a um dos chefes dos fariseus o absoluto valor do ser humano para Deus e que Ele não precisa de dia pré-determinado para agir. Ficaram sem resposta. Nossas atitudes e prioridades devem ser sempre revisadas à luz da Palavra, um contínuo chamado a lógica da fé que não olha tão somente o seu “umbigo”.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta, 29 de outubro de 2015


(Rm 8,31-39; Sl 108[109]; Lc 13.31-35) 
30ª Semana do Tempo Comum

Belíssimo esse texto da carta de Paulo; um convite a certeza do amor de Deus por nós em qualquer circunstância e independente do que nos aconteça, pois tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus. As imagens usadas por Paulo são claramente de sua própria experiência pessoal. Nada o separou do amor de Deus. Oxalá possamos ter essa certeza e essa firmeza em nosso caminhar na fé.

Jesus usa de uma aspereza incomum ao se dirigir a Herodes e ao mesmo tempo revela sua comunhão com os profetas que o precederam. Por trás de suas palavras se revelam a sua paixão e o amor com que veio a nós, comparando-se a uma galinha que junto seus pintainhos debaixo de suas asas. Dor e ternura se misturam em seu coração. Ao Espírito de Deus pedimos coragem e serenidade para enfrentar a vida e que saibamos também deixar-nos acolher por Deus em seu insistente convite a se deixar amar.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta, 28 de outubro de 2015


(Ef 2,19-22; Sl 18[19A]; Lc 6, 12-19)
 São Simão e Judas Tadeu. Apóstolos.

A poucos dias da celebração de todos os santos, Paulo nos lembra que passamos a fazer parte, pelo batismo, deste edifício que vai se edificando e que tem como fundamento os apóstolos e profeta, sendo Cristo a pedra fundamental ou angular. A partir de Jesus é que tudo se “edifica”, por isso, ao chamar os doze para estar consigo lhes ensinará as verdades do reino e lhes mostrará de modo prático como agir para fazer esse reino acontecer. Mal desceram da montanha e lá já estava uma multidão que os aguardava. Assim os apóstolos vão entendendo em que consiste a santidade de vida a partir do compromisso com a evangelização. Para o Cristo a tônica era o serviço e deverá ser também para eles. Essa força que emana de todos aqueles que buscam viver em comunhão com Cristo é capaz de curar, de libertar e de salvar.   São Simão e são Judas, rogai por nós!




Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 27 de outubro de 2015


(Rm 8,18-25; Sl 125[126]; Lc 13,18-21) 
30ª Semana do Tempo Comum.

Lembro de um professor que nos falava dessa realidade da fé, do “já e ainda não” de nossa salvação. É verdade que contemplando certas verdades sagradas, surge em nosso coração o desejo de que elas aconteçam de fato, que nossa vida seja plena, que tal realização se apresse. Ela já se faz presente em nossa vida de fé, mas ainda não é plena, sofre as contingências da existência. Paulo diz que toda a criação também deseja ser libertada. Não sei se Paulo tinha a consciência ecológica de nossos tempos, certamente que não, mas seu pensamento é atual diante da realidade que contemplamos. No espírito franciscano, toda a criação precisa ser libertada da ação predatória do homem.

É belo esse olhar contemplativo de Jesus do mistério da presença do Reino entre nós de forma discreta, quase insignificante, como o grão de mostrada ou mesmo o fermento na massa. O mistério que faz da pequena semente uma grande árvore, até o pouco de fermento que leveda a massa e a faz crescer, nos coloca no horizonte da graça divina operante no mundo, mas que precisa do homem que tome a semente e a atire em seu jardim, da mulher que faça a mistura. É preciso acreditar...




Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda, 26 de outubro de 2015


(Rm 8,12-17; 67[68]; Lc 13,10-17)
30ª Semana do Tempo Comum.

Sofremos com Cristo para com Cristo sermos glorificados, nos e recorda e recomenda Paulo, para que essa vida sob o senhorio do Espírito seja vivida em comunhão plena, ou seja, na escuta das propostas divinas, na obediência a Deus e na entrega da própria vida. É o caminho enveredado por Cristo que culminou em sua exaltação. Podemos rezar ao Senhor nesse dia, pedindo esse discernimento de seus caminhos para que o nosso coração se abra a plena comunhão com a sua vontade, nem sempre clara em nossa travessia.


Certamente não se pode limitar a ação de Deus em favor do seu povo, lembra Jesus, como também é estranho que determinemos o dia em que Deus agirá, diz o chefe da sinagoga. Soam estranho, em nosso tempo, certos convites para um “dia de milagres”, como se pudéssemos determinar a ação divina. Senhor, dá-nos o devido discernimento de não querer obrigar-te a nada, mas a saber esperar o dia em que agirás em nosso favor, porque sempre ages, ainda que não seja exatamente como esperamos.  


Pe. João Bosco Vieira Leite


30º Domingo do Tempo Comum, Ano B

(Jr 31, 7-9; Sl 125/126; Hb 5, 1-6; Mc 10, 46-52)

1. O texto que acompanhamos como 1ª leitura remonta ao retorno de Israel de um de seus exílios, desta vez de Nínive; um grupo de pessoas frágeis são conduzidas pelo deserto. O Antigo Testamento sempre teve essa preocupação de mostrar como o olhar de Deus se dirige aos mais frágeis e deles se ocupa, nessa viagem; ele não abandona ninguém. 
2. Dois caminhos de meditação se abrem: aquele da consciência de nossas fragilidades, e como Deus nos conduz, apesar de tudo; um convite a não desesperar. O outro é o da consciência da importância que realmente damos aos mais frágeis da família, do grupo, da comunidade. Que olhar dirigimos a eles? Como os ajudamos a caminhar?
3. O autor da carta aos hebreus tem um conhecimento das tradições judaicas e compara Jesus a um sacerdote. Este, na sua humanidade, é capaz de compadecer-se da fraqueza do outro. Se Jesus é um sumo sacerdote, foi o Pai que o escolheu para essa função, não tanto oferecendo sacrifícios, mas oferecendo-se a si mesmo como vítima de expiação.
4. O texto chama a atenção sobre a importância da mediação desse alguém que não atribui a si mesmo tal escolha, mas ao chamado de Deus. Muitos perguntam ao sacerdote porque ele escolheu ser padre, e, no entanto, não se trata tanto de uma escolha, mas de um chamado, de uma atitude de escuta que leva a uma decisão.
5. Assim podemos entrar no nosso evangelho. Esse é o segundo cego curado por Jesus no evangelho de Marcos. No contexto da narrativa, os estudiosos são unanimes em afirmar, que essa sua presença aqui é estratégica. Como assim? Jesus está à poucos quilômetros de Jerusalém. Ele já avisou do que lhe vai acontecer por lá, mas parece que ninguém lhe ouve, nem consegue enxergar o que está por vir.
6. Mais do que um fato, temos uma “catequese” da verdadeira atitude do discípulo que escuta e acolhe o chamado de Jesus. A cegueira pode estar dominando a multidão que o segue. Por outro lado, no caminho da fé, existe sempre o risco do comodismo. Dar-se conta que é preciso avançar, já é o primeiro passo.
7. Há uma luz que se acende internamente nos advertindo a necessidade de mudança de hábitos. Buscamos através dos companheiros de caminho responder a essa insatisfação, que podem ser um obstáculo ou uma ajuda. Mas nada substitui o contato pessoal com o próprio Jesus. A real necessidade não nos faz cessar a busca: continuamos “gritando”, até que ele nos escute e nos envie alguém que nos conduza em nossa busca.
8. O pobre homem deixa para trás seu manto e talvez algumas moedas. Conhecemos bem o que é necessário deixar para abraçar o novo que se nos apresenta. As velhas “seguranças” não condizem com o caminho proposto. Ao professar a fé em Jesus, ele percebe que a luz oferecida o desinstala e o coloca a caminho.
9. Uns enxergando e outros nem tanto, chegarão a Jerusalém. Quando os fatos se derem, enfrentarão a crise de saber se realmente eram seus discípulos. Tal drama nos é muito próximo em algumas situações diárias em que nos vemos obrigados a uma escolha que de modo sensato se aproxime de nossa fé ou não, nos deixando claro se somos seus discípulos ou não.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 24 de outubro de 2015


(Rm 8,1-11; Sl 23[24]; Lc 13,1-9) 
29ª Semana do Tempo Comum


Paulo inicia o capítulo. 8 de sua carta e com ele vem todo um discurso da vida cristã conduzida pelo Espírito: “se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós”. É sob esta linha que Paulo fala dessa vida nova conduzida não mais pela carne. É preciso ter um pouco de paciência na compreensão do discurso paulino e daí tirar algumas linhas práticas.

Certamente já nos demos conta de um discurso um pouco “pesado” de Jesus em Lucas nos convidando a vigilância e hoje a uma necessária conversão, como fruto dessa mesma vigilância. Bom, liturgicamente estamos caminhando para o fim do ano e indiretamente somos questionados dos frutos que deveríamos produzir como consequência do progresso nessa vida nova a que somos chamados sempre.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 23 de outubro de 2015


(Rm 7,18-25; Sl 118[119]; Lc 12,54-59) 
29ª Semana do Tempo Comum

Mesmo compreendendo que está sob a lei da graça, Paulo sente o quanto o pecado exerce uma força nele a ponto de humildemente admitir que o bem não habita nele. Só Deus poderá libertá-lo para que nele seja mais forte o desejo de fazer o bem. Se há essa consciência de que o mal nos ronda todo o tempo qual a saída se não estarmos atento ao bem que devemos fazer? Jesus apela para a consciência dos movimentos da vida que nos adverte sobre as mudanças climáticas. Então, o que em nós aponta para atitudes desastrosas que nos afastam ainda mais da comunhão com Deus? Tem razão Jesus de nos chamar de hipócritas, por mais doloroso que pareça. Paulo não sente tal constrangimento, pois sabe exatamente quem é, o que o move internamente.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 22 de outubro de 2015


(Rm 6,19-23; Sl 1; Lc 12,49-53) 
29ª Semana Tempo Comum

Paulo segue sua reflexão sobre a vida nova a partir da libertação do pecado pela ação da graça para o serviço a Deus. Enquanto Jesus no evangelho anseia por ver realizada a sua missão de trazer fogo à terra. Parece uma imagem do juízo final, mas também do Espírito Santo de Deus que faz novas todas as coisas. Jesus era consciente que devia passar pela dura prova da cruz e que seus discípulos enfrentariam dificuldades a partir da própria realidade familiar; nesse sentido ele veio realmente trazer a divisão. “Que os mortos enterrem seus mortos” dirá Jesus àquele que quer o seguir, mas se encontra preso aos laços familiares. Egoísmo e fechamento são contrários à dinâmica do evangelho. A paz que esse nos traz, é inquieta, sabe que essa é conquistada com muito esforço e que os conflitos são inevitáveis. A palavra nos convoca a tomar posição.



Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 21 de outubro de 2015


(Rm 6,12-18; Sl 123(124); Lc 12,39-48) 
29ª Semana do Tempo Comum

Desde o batismo fomos convidados a caminhar numa vida nova. Nesse processo de viver o batismo vamos nos libertando do pecado, de sua escravidão, para sermos agora escravo da justiça, da graça que nos santifica. Somos convidados a experimentar essa alegria que brota dessa vida em Deus. Para isso é necessário perseverar na escuta da palavra de Deus: "feliz o empregado que o patrão , ao chegar, encontrar agindo assim!". A perseverança é vivida na vigilância nos lembra Jesus, pois o muito que recebemos por pura bondade e misericórdia será pedido conta nos frutos que brotam de uma vida comprometida com a causa do reino. A prática do amor nos distingue dos demais...



Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça, 20 de outubro de 2015


(Rm 5,12.15.17-21; Sl 39(40); Lc 12,35-38) 
29ª  Semana do Tempo Comum

Paulo contrapõe Adão a Jesus num pequeno esquema sobre pecado e graça, recaindo sobre o antigo jogo que domina a nossa existência: o homem velho é homem novo a partir desses dois personagens. É a busca dessa vida nova que determinará a quem nós servimos. Segundo o nosso autor, nossa determinação por Jesus determinará a vida nova da graça que em nós deverá reinar. O salmo nos lembra que tal comunhão não se dará sem uma atitude de obediência de nossa parte para contrapor a desobediência de Adão.


A obediência para uma vida em Deus exige de nós uma vigilância constante. Adão pecou não por falta de conhecimento, mas por simples vacilo e dúvida sobre o bem que Deus queria para ele. Estar acordado é uma atitude de constante atenção a realidade de que nos cerca e uma reflexão sobre o devido valor das mesmas. Dormir é desaperceber-se que é necessário defender a liberdade conquistada. Palavra de Deus é luz. 

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda-feira, 19 de outubro de 2015

(Rm 4,20-25; Sl Lc 1; Lc 12,13-21) 
29ª  Semana do Tempo Comum.

Paulo segue sua reflexão sobre a fé sem deixar de olhar em Abraão, que para os judeus é um grande referencial, sobre como, pela fé, foi justificado. Acreditou, seguiu em frente, viu cumprir-se a promessa. Também para nós que cremos em Jesus, a quem o Pai ressuscitou, a promessa se realizará e por essa mesma fé somos justificados.

Alguém aborda Jesus pedindo ajuda a respeito de uma herança a ser dividida. Jesus toma a causa pela linha da ganância que por vezes move o coração humano e sempre cria conflito de interesses. Jesus não pode resolver o problema, apenas conduz o olhar para a verdadeira riqueza que deveria ambicionarmos: a sabedoria divina que coloca cada coisa em seu lugar (valor devido) e que a nada prende o coração. Sabe que a partilha é algo fundamentalmente libertador. Estaria ele levando a pessoa que o aborda a desistir da herança? Penso que não, mas certamente gostaria que ele fizesse bom uso da mesma.


Pe. João Bosco Vieira Leite

29º Domingo do Tempo Comum


(Is 53,2a.3a.10-11; Hb 4,14-16; Mc 10,35-45)

1. Creio já ter comentado que por três vezes Marcos apresenta o anúncio de Jesus sobre a sua paixão com as respectivas reações dos discípulos, porque não dizer, nossas também. Nos dois versículos que antecedem ao texto proclamado Jesus faz mais uma vez tal anúncio, e surpreendentemente ninguém o persuade a deixar tal caminho ou mesmo lhe faz perguntas.
2. Num total quadro de incompreensão aparece o pedido de João e Tiago a respeito dos “primeiros lugares” num possível reino a ser inaugurado por Jesus em sua subida para Jerusalém. Na realidade, eles se antecipam aos demais com relação as suas pretensões. É um risco que corre todo aquele que empreende na comunidade um caminho de liderança e não percebe a dimensão do serviço e da entrega.
3. Jesus é claro com seus discípulos e acrescenta duas imagens para ajudá-los a entender melhor o que pedem. O cálice tem sentido positivo e privilegiado da partilha com o outro da vitória, da alegria; mas negativamente pode ter o amargo fel da dor, da derrota. E é provável que esse seja o sentido usado por Jesus. A um custo para se entrar na glória. 
4. A imagem do batismo passa pelas mesmas águas da morte para se chegar à vida. Estariam eles preparados para tal? Quando Marcos compôs o seu evangelho, Tiago já havia sido martirizado. O que eles não entenderam de modo racional, compreenderão na prática e a comunidade que ouve essas palavras têm claro o sentido que Jesus lhes dava.
5. Era necessário tirar da dinâmica do reino toda forma de poder e privilégio como eles conheciam até então. O modelo a ser seguido é o do servidor, como Jesus, que lhes lavou os pés. Assim entendemos a 1ª leitura, do servo fiel de Isaias. Deus já vislumbrava o seu Messias a partir de uma visão diferente, quebrando a cadeia do poder com a imagem do servidor, ainda que para isso haja algum sofrimento.
6. Jesus continuará sendo para nós um modelo confiável, nos diz a carta aos hebreus, pois em tudo viveu a nossa condição humana: tentado, mas vitorioso, não permitindo que o pecado tivesse a última palavra.
* Objetivamente o texto se volta às comunidades cristãs lhes perguntando sobre o como a autoridade é exercida em seu meio? Como se comportam os responsáveis em suas funções?
* para além da comunidade cristã, estamos nós em nossas relações de trabalho ou mesmo matrimonial. Como servimos a partir desse modelo que Jesus nos apresenta de si mesmo?



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 17 de outubro de 2015


(Rm 4,13.16-18; Sl 104[105]; Lc 12,8-12) 
Santo Inácio de Antioquia, bispo e mártir

Paulo segue com seu discurso sobre a justificação e da herança que em Abraão todos nós recebemos, somos seus filhos na fé.  É a fé que também nos deve levar a testemunhar a pessoa de Jesus em nosso dia a dia. “Não se acende uma luz para coloca-la debaixo da mesa”. Nossa sociedade quer nos levar a silenciar nosso ponto de vista a partir da fé; essa mesma sociedade que defende o direito de expressão se contradiz a não permitir que se expresse a nossa visão do mundo e do homem a partir da fé.

Jesus se incomoda com essa nossa sujeição a certos esquemas; suas palavras são duras e põe em cheque nossa aceitação diante de Deus. Na realidade aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus saberão a hora de falar e de calar, percebendo dentro de si as ressonâncias do Espírito. Que Ele nos ajude a perceber quando devemos ir um pouco além de nossas próprias seguranças.




Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta-feira, 16 de outubro de 2015


(Rm 4,1-8; Sl 31[32]; Lc 12,1-7) 
28ª Semana do Tempo Comum

Paulo nos recorda Abraão, justificado pela sua fé em Deus e não pela prática da lei, que não conhecia. Só a fé justifica, ou seja, faz-nos santos diante de Deus, fonte de toda santidade e justiça. Abraão ainda não tinha passado pelo desafio de oferecer o filho. De consequência virá as obras, mas serão agora “obras de fé”, obras que por sua graça podemos cumprir. De certo modo ainda estamos dando volta em torno do mesmo assunto.

Em Lucas aparecem alguns traços do sermão de montanha já apresentado em Mateus. Ele chama atenção sobre a má influência da atitude dos fariseus sobre a vida dos que tentam levar uma vida religiosa verdadeira e condizente com a fé. Ao mesmo tempo nos oferecem algumas imagens para nos libertar do medo, tônica comum aos nossos tempos, de saber, em nosso coração que a nossa vida está nas mãos de Deus. Peçamos ao Senhor uma atitude de fidelidade a Deus que nos inspire coragem para seguir adiante.





Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 15 de outubro de 2015


(Rm 3,21-30; Sl 129[130]; Lc 11,47-54) 
Santa Teresa, virgem e doutora.

Ainda na contemplação do mundo judaico, Paulo fala sobre a justificação pela fé, não pela prática da lei. Assim o pagão entra nesse mundo da justificação pela fé em Jesus, em outras palavras, pela Sua graça. O fundamento de tudo é a fé, afirma Paulo e por causa da fé somos motivados a prática das boas obras, mas Deus não nos salva por causa das boas obras, mas por Sua misericórdia, para que não tenhamos como medida do Seu amor o que praticamos, como quem espera uma recompensa. Só Deus é bom e justo.

Escribas e fariseus consideravam-se justos, mas Jesus prova, por “a + b” que na realidade não são. Jesus sai cavando a história dos profetas e sua difícil relação com um Israel de cabeça dura que preferia matar a se converter.  No entanto, se venera a memória dos mesmos. Reconhecer que algo é bom e dele não participar de modo autêntico, nem permitir que outros participem é uma forma de egoísmo imperdoável, diz Jesus. E assim o quadro de sua paixão futura vai sendo construindo a partir desses embates.

Resta-nos rezar nesse dia para que compreendamos o quanto Deus nos quer salvar e nos abramos ao seu amor misericordioso, que significa não meritório, mas pura expressão do Seu coração bom. 



Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 14 de outubro de 2015


(Rm 2,1-11; Sl 61[62; Lc 11,42-46) 
28ª Semana do Tempo Comum

Paulo inicia o 2º capítulo de sua carta chamando a atenção sobre o julgamento. Provavelmente Paulo tem em seu pensamento os judeus que se achavam justos e censuravam os pagãos. Ele concorda com o pensamento de Jesus sobre a medida do julgamento: Deus retribuirá a cada um segundo as suas obras. Corremos sempre o risco de perder de vista a misericórdia nos nossos julgamentos.


Assim Jesus censura fariseus e mestres da lei de seu tempo, cada qual age sob o regime da lei sem se preocupar verdadeiramente com o outro e numa autenticidade religiosa baseada na aparência.  A busca da perfeição nas coisas exteriores nutre em nós a soberba, mas a busca interior de libertar o coração nos torna humildes, porque sabemos que nunca alcançaremos a plena libertação interior. Sem enxergar a “trave” que há em nós, nos atrevemos a querer tirar o “cisco” que está no olho do outro...


Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça-feira, 13 de outubro de 2015


(Rm 1,16-25; Sl 18/19ª; Lc 11,37-41)
28ª Semana do Tempo Comum


Passaremos um longo período na companhia de Paulo e sua carta aos Romanos como primeira leitura (quatro semanas). De certo modo Paulo ousa ao enviar uma carta para uma comunidade que ele não fundou. Essa carta é considerada uma obra-prima teológica e literária. Ela é uma apresentação articulada do evangelho anunciado por Paulo. Ele tem consciência que sua missão de evangelizador não depende da argumentação que usa, mas do poder de Deus. Ele nos recorda que o projeto de Deus, de salvar a todos, já se revelou na história de Jesus de Nazaré, e revela-se, cada dia, na história da humanidade.

Enquanto nós refletimos sobre o pensamento paulino, acompanhamos também a Jesus que entra na casa de um fariseu para uma refeição. Este observa que Jesus não lava as mãos e logo começa a julgá-lo. Ele aproveita para convidar o fariseu a passar de uma religião de pureza exterior para uma religião interior, de misericórdia, de humildade, de comunhão, de generosidade.

Os dois textos de encontram nesse apelo contínuo sobre a necessidade de mudar de mentalidade e converter-se. Quando o coração do ser humano é renovado pela conversão, torna-se bom, generoso, passa de uma religião de separação para uma religião de participação, de dom, de comunhão. Acolher sua palavra e seu convite à conversão é acolher o “poder de Deus” que nos liberta da nossa impotência ante os males que nos subjugam.




Pe. João Bosco Vieira Leite

N. Sra. da Conceição Aparecida, Padroeira do Brasil


(Est 5,1b-2;7,2b-3; Ap 12,1.5.13a.15-16a; Jo 2,1-11)

1. Rodrigo Alvarez fez um apanhado histórico no seu livro “Aparecida” (Globo Livros, 2014) para nos levar a uma visão ampla de como a imagem de Aparecida tornou-se um símbolo nacional. Vale conferir pela própria fluidez da narrativa. A liturgia da Palavra desse dia de hoje também segue o caminho, não histórico, mas de figuras simbólicas para nos ajudar a penetrar no sentido da festa que celebramos.

2. Um trecho do livro de Ester nos leva a encontrar-se com essa jovem judia que cresceu na Mesopotâmia, onde fora exilada e que virá a ser esposa do rei Assuero. Tal posição nunca a fez esquecer suas origens; é quando, por algumas circunstâncias políticas, se projeta um atentado contra o seu povo ali exilado.

3. Ester serve-se de sua posição de rainha, de sua inteligência e beleza para interceder junto ao rei e temos a salvação do povo graças à sua coragem e tomada de posição. Nesse livro de tons novelísticos, a liturgia vai buscar o tema da oração, lembrando do quanto essa é capaz, e de como o nosso povo tem recorrido à intercessão de Nossa Senhora em suas lidas.

4. A oração tem como objetivo alimentar a fé, a fé busca entender quem é Deus e o que ele deseja de nós e para nós. É nesse cruzamento que a nossa oração se encontra. É sabendo de suas intervenções na história que o ser humano da bíblia reza. “Em cada acontecimento, em cada escolha, mesmo na mais insensata, ele atua, não interferindo, não limitando a liberdade do homem, mas coordenando tudo para a vitória do bem”.

5. Ninguém melhor que Maria para nos ajudar nessa travessia de uma fé que muitas vezes é colocada a duras provas. Na imagem do Apocalipse eis que se nos apresenta, mais uma vez, a mulher símbolo de uma comunidade que ao gerar em si a força e a presença do Messias sente-se ameaçada por forças contrárias, mas sabe que não está sozinha, a ajuda virá para que a história prossiga.

6. Ainda que a mulher do texto não seja Maria, recolhemos do pouco que a Palavra testemunha a seu respeito, a dramaticidade que foi a sua fé assumida. A posição que o próprio filho lhe confere na história da salvação a faz irmã e companheira porque sabe o quanto difícil é viver a fé em todo o seu comprometimento.

7. A narrativa das bodas de Caná, por si só mereceria um espaço maior na nossa reflexão para compreendermos toda a teologia que se esconde nessa narrativa joanina. Um simples “milagre”, serve de base para apresentar Jesus a seus discípulos e ao mesmo tempo insere Maria como modelo na nova relação entre Deus e o seu povo.

8. O matrimônio, as núpcias, sempre foi uma imagem explorada pelo Antigo Testamento para expressar simbolicamente a relação de Deus com o seu povo. Mas na atual circunstância ou festa da vida daquele povo a quem Jesus veio ao encontro, falta a felicidade e amor, simbolizados pela ausência do vinho. A instituição religiosa de seu tempo transformou as relações entre Deus e seu povo num difícil fardo a ser carregado.

9. Jesus traz o vinho novo, novas relações entre Deus e o seu povo. Os noivos não nominados na narrativa se escondem nos protagonistas da cena: Jesus e Maria, a quem Jesus não chama de Mãe. Nesse 1º sinal realizado por Jesus, uma nova relação se estabelece, melhor que a anterior. Maria representa a noiva, a nova comunidade que apresenta ao noivo sua atual situação e conta com ele para restaurá-la.

10. Em linhas gerais, sem entrarmos nos detalhes da narrativa, compreendemos que Maria aparece aqui como intercessora, como irmã de caminhada e como modelo dessa nova relação que se estabelece com Deus. Por seu comprometimento com a causa do reino, podemos toma-la como modelo de discípula, e como intercessora, conhecedora dos difíceis caminhos da vida e da fé.

11. Na história da aparição da imagem de negra cor, alguns elementos do cotidiano da fé se misturam com a religiosidade de um povo. Mas Deus, que sabe se servir das circunstâncias históricas para comunicar a sua presença, em Aparecida deixa-nos sua mensagem de esperança, para todos os tempos: bons ou difíceis: “Fazei tudo o que ele vos disser”.



Pe. João Bosco Vieira Leite

28º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Sb 7,7-11; Sl 89[90]; Hb 4,12-13; Mc 10,17-30)


1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse texto que faz referência à escolha de Salomão. Ele poderia ter escolhido alguma outra coisa, como aquelas que para nós tem especial valor. Ao escolher a sabedoria, ele escolhe a fonte de alegria de todas as coisas: quem faz as escolhas conforme o projeto de Deus, nada perde, aproveita tudo, encontra a verdadeira felicidade.

2. Com essa pequena luz, iluminaremos a leitura do evangelho. Esse projeto divino aparece na própria Palavra que nos é oferecida como fonte de meditação e vida, nos diz o autor da carta aos hebreus. Ao escutar atentamente a Palavra sabemos de sua força, como ela sonda as intenções do coração e que por sua força divina, não voltará a Deus sem antes ter gerado algo novo naquele que a acolhe, diz o profeta Isaias. 

3. O que parece uma ameaça, é na realidade uma fonte de sabedoria. O nosso medo deve ser o de estar distraído, magoado e ferido e não escutar a Deus que nos fala, diz santo Agostinho. Para cada momento de nossa vida Ele tem algo a nos dizer, a nos ensinar.

4. O evangelho é longo e complexo, mas devemos colocá-lo no conjunto da radicalidade do seguimento que Jesus vem propondo em Marcos, em seu evangelho. Em toda e qualquer vocação a exigência é a mesma, como vimos no domingo anterior ao falar do matrimônio. Não criemos categorias de mais ou de menos santidade.

5. O jovem que se aproxima de Jesus e lhe pergunta sobre a vida eterna, tem plena consciência de que esta é um dom; Mas ele entende também que não se pode ficar de maneira estática ou levar uma vida destrambelhada e tudo dará no mesmo.

6. Na ótica de Jesus, ao citar os mandamentos que ele deve observar, os mais importantes são aqueles relacionados ao próximo. O caminho até Deus passa pelas nossas relações, pelo nosso cuidado com o outro. A aparente felicidade dos que vivem na base do “não estou nem aí” para os processos da vida tem seu preço. Cuidar da vida não é uma fonte de recompensas, mas uma tomada de consciência.

7. Que se passa com esse jovem de uma vida impecável? Ele traz consigo o desejo de um voo mais alto. Jesus sabe o que lhe prende. Ele não tem feito o bom uso do que possui. Não tem sido sábio na administração de suas conquistas, não se deu conta de quanto tudo é passageiro.

8. Os discípulos sempre nos representam nesse espanto com as palavras de Jesus. Não se trata de uma condenação da riqueza, nem elogio da pobreza ou miséria. Para Jesus o que deve caracterizar o ser humano é a fraternidade; pecado não é ficar rico, pecado é não saber partilhar.

9. Todos carregamos uma sede de infinito que aqui e acolá ressurge e nos pergunta se estamos vivendo de modo sábio, se as escolhas são iluminadas pela Palavra de Deus; onde está o teu coração, aí está o teu tesouro. A imagem do camelo e da agulha nos diz que o desprendimento exige um ato de generosidade tão grande que só mesmo um milagre de Deus nos permite realiza-lo.

10. É fácil confundir amor com apego doentio; é fácil fechar-se no nosso mundo, deixar-se dominar por um egoísmo sem se dar conta das realidades que nos cercam. É verdade que o nosso mundo tem ficado cada vez mais violento, que a sobrevivência tem exigido mais de nós e que cada vez mais nosso ciclo de relações está diminuindo, a pergunta é: somos, de fato, em tudo isso, mais felizes e realizados?



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 10 de outubro de 2015


(Jl 4,12-21; Sl 96[97]; Lc 11,27-28)
27ª Semana do Tempo Comum


Neste trecho de Joel, o dia do Senhor acontece. O autor usa um estilo apocalíptico para transcender o juízo de Deus para além do lugar geográfico e estabelecer sob a imagem de Sião a presença do Senhor. Para nós cristãos a história e a espera não são diferentes sobre um juízo de Deus para toda forma de situações de sofrimento e injustiça que contemplamos e vivenciamos.

Nada mais adequado para esse sábado que o elogio dessa mulher do povo a Maria pelo Filho bendito que trouxe em seu seio. Sim, é verdade, a ação misericordiosa de Jesus tem dado nova dinâmica e direção a muitas vidas. Mas Jesus chama a atenção para aquilo que a faz mais bem-aventurada ainda: a capacidade que teve na escuta e na prática da Palavra. Seu sim e seu seguimento era a maior prova daquilo que Jesus põe em primeiro lugar. Sim, ela continuará sendo primeira em tudo, depois de Jesus e nosso contínuo modelo de fé que não cansamos de contemplar e pedir que nos ajude a vislumbrar o que significa uma vida completamente aberta à vontade de Deus.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta, 09 de outubro de 2015

(Jl 1,13-15; 2,1-2; Sl 9A(9); Lc 11,15-26) 27ª Semana do Tempo Comum

Temos hoje e amanhã trechos do livro de Joel, um profeta dos começos do sec. IV a. C.. No texto de hoje é apresentado um acontecimento recente, uma terrível invasão de gafanhotos, como anúncio do fim do mundo, antecipação do tremendo juízo final. Daqui um renovado convite à conversão, e a convocação de uma assembleia penitencial. Um texto adequado para sexta-feira que tem sempre o seu caráter penitencial na tradição da nossa Igreja e na prática do nosso povo.

No evangelho de Lucas, Jesus é vítima da inveja e da falta de percepção de alguém do bem praticado por Ele acusando-o de expulsar demônios por ação do próprio demônio. Parece que ele desconhece o que seja a ação demoníaca e Jesus se limita apenas a chamar a atenção de sua contradição. Certas dificuldades pessoais nos impedem de acolher o diferente no agir e no falar. Nossos preconceitos e intolerâncias podem ser “pequenos demônios” que carregamos dentro de nós e nos impedem a abertura de coração que Deus deseja. Nesse sentido temos que acolher o pedido do profeta para uma atitude de penitência. Deus lhe conceda uma percepção sempre maior de si mesmo.




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 8 de outubro de 2015


(Ml 3,13-20; Sl 1; Lc 11,5-13) 
27ª Semana do Tempo Comum


Um trecho do livro de Malaquias nos é oferecido como primeira leitura. Ele exerceu sua missão profética no séc. V a.C., alguns anos após a reconstrução do Templo. Em sua estrutura dialógica, o livro busca encorajar os seus ouvintes, convida-os a regressar à obediência aos Mandamentos do Senhor. O texto de hoje traz aquile antigo dilema de quem observa os que não têm uma vivência piedosa, vivem longe de Deus e vivem muito bem, chegando a ofender o próprio Deus. O autor sagrado tenta tirar-lhe dessa miopia, como uma criança que não está satisfeita com o que tem e vive querendo o brinquedo do outro. Há bem reservado aos que amam a Deus, diz o salmo.

Lucas nos conta uma parábola para falar da oração. Deus sempre nos escuta, afirma ele. Mas é preciso perseverar na mesma, sem desanimar, mesmo que aparentemente pareça ser rejeitada. É preciso confiar, sabendo que a bondade divina ultrapassa a bondade humana. Nós cristãos devemos invocar constantemente o Espírito Santo para que nos inspire e nos ajude a saber o que pedir.  Ele é o dom maior que Deus quer nos oferecer para caminharmos com sabedoria nos caminhos da vida.    Deus o abençoe!




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quarta-feira, 7 de outubro de 2015


(At 1,12-14; Sl Lc 1; Lc 1,26-38) 
Nossa Senhora do Rosário – Memória

A memória da Virgem do Rosário nos transporta a um domingo, dia 7 de outubro do ano 1571, quando nas águas de Lepanto, a insignificante frota cristã suplantou o exército turco, bem mais forte e numeroso. A inesperada vitória sobre o avança dos muçulmanos causou profunda impressão em todos e foi comemorada como fruto prodigioso da intervenção divina, obtida por intercessão de N. Senhora. Para perpetuar memória, em 1572, o papa dominicano são Pio V – que por ocasião dos combates havia exortado os fiéis a impetrarem o auxílio celeste com a reza do rosário – quis  instituir a “Comemoração da Bem-aventurada Virgem da Vitória”, fixando-lhe a data em 7 de outubro.

Toda a liturgia da palavra escolhida para essa memória gira em torno da oração. É Maria que junto com os apóstolos estão no cenáculo, em oração, à espera do Dom prometido. O salmo traz o magnificat, onde Lucas coloca nos lábios de Maria sua comunhão com toda prece que sobe ao longo da história da salvação àquele que a partir de instrumentos frágeis vem construindo a história da salvação. Por fim, é Maria que no recolhimento do seu coração, acolhe a mensagem do anjo sobre sua missão. É nesse estado de recolhimento (oração), ela pode refletir e responder positivamente ao chamado de Deus. Seria muito dizer que é na oração individual e comunitária que alimentamos nossa comunhão com Deus e nossa vida de fé?

“Se todos sabem o que é um rosário, somente os que gostam de rezá-lo com fé conhecem o segredo que encerra aquela sequência de ‘ave-marias’, em forma de cacho ao redor dos mistérios da nossa salvação, tendo ao centro a pessoa e a obra de Cristo. Os santuários marianos estão repletos de ave-marias: murmuradas ou gritadas, misturadas a esperança ou a desespero, frequentemente carregadas de necessidades materiais e espirituais, ou então leves por ‘graças recebidas’, elas espelham fielmente o íntimo de quem as pronuncia”. (Corrado Maggioni, in Maria na Igreja em oração – Paulus)




Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça-feira, 6 de outubro de 2015


(Jn 3,1-10; Sl 129[130]; Lc 10,38-42) 
27ª Semana do Tempo Comum

Deus surpreende ao pobre Jonas com a conversão dos ninivitas.  E também a nós, sempre desconfiados de que nos que nos são estranhos não resida também um desejo de conversão e de encontro com Deus. Nessa perspectiva de encontro, entra Jesus na casa de Marta e Maria e elas se ocupam de forma diferente do Senhor. O texto parece nos “obrigar” a uma escolha, mas as coisas não são tão simples assim.

Gostaríamos de ter esse tempo de nos dedicar a uma escuta atenta e tranquila da Palavra e a disposição de Marta para oferecer a Deus o nosso melhor em nossas atividades diárias. Por vezes quando temos um, desejamos o outro. Às vezes nos é difícil ser inteiros naquilo que fazemos. Quem quer ser fiel a Deus deve aproveitar todos os momentos da vida para oferecer a Deus o seu melhor e manter-se em comunhão com Ele. O grande desafio é não buscarmos a nós mesmos, seja no repouso ou na atividade. Tudo em nossa vida deve ser orientado para Deus, talvez esse seja o segredo de não ficarmos a sentir saudade somente de Maria...



Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda-feira, 5 de outubro de 2015


(Jn 1,1—2,1.11; Sl Jn 2; Lc 10,25-37) 
27ª Semana do Tempo Comum

Entre os livros proféticos, o de Jonas tem um “sabor” especial, apreciado por muitos leitores. Mais do que uma narrativa profética, encontramos um episódio que envolve o próprio Jonas. É uma espécie de parábola que contém uma mensagem. Jonas resiste ao chamado de Deus porque não acredita que os inimigos de Israel possam se converter, temos uma aventura de perseguição e por fim de resignação à vontade de Deus. Jonas não compreende porque, mas Deus lhe revela seu amor por todos os homens.

Essa melhor compreensão do amor divino pela humanidade transparece na parábola do bom samaritano, onde o próximo é mais que simplesmente quem está próximo ou quem é da mesma nação, mas sim aquele que precisa da minha ajuda. Podemos esperar o pior daquele que desconhecemos, mas também podemos ser surpreendidos por gestos de humanidade e fraternidade dos quais não somos capazes.


Uma leitura particular desse texto vê naquele homem caído na estrada a si mesmo e a Jesus que nos socorre, o bom samaritano que nos restaura as forças quando somos “abatidos” no caminho. Assim Jesus nos dá a dimensão do que significa amar o outro como a si mesmo: o que não queres para você... Nunca poderemos prever quando no caminho da vida precisaremos de ajuda, mas é possível fazer algo por quem “atravessa” o meu caminho. A misericórdia com o outro nos possibilita a comunhão com Deus.


Pe. João Bosco Vieira Leite


27º Domingo do Tempo Comum Ano B


(Gn 2,18-24; Hb 2,9-11; Mc 10,2-16)

1. O tema central da liturgia da palavra nesse domingo é a vida a dois e o projeto comum que Deus sonhou para o homem e a mulher. Tudo começa com o olhar para aquela antiga história da criação; uma vez que tudo havia sido criado e o homem coroava, por assim dizer, a criação divina; o autor sagrado se dá conta de que algo está faltando.
2. Ele entende que o ser humano não foi feito para a solidão. Toda a criação ao seu redor é bela e o serve, mas não é igual a ele, não interage com ele. A criação da mulher tem como fim tirar o homem de sua solidão. O destino de ambos é encontrar-se, dialogar, completar-se reciprocamente. A felicidade de um casal depende do preenchimento desses espaços.
3. Ser uma só carne transcende o campo da sexualidade, do mero estar juntos, para chegar ao terreno de um projeto comum, sem competições e no amor recíproco. E poderíamos elencar aqui várias situações da vida a dois onde a solidão não foi de fato ainda superada.
4. A relação homem e mulher vêm continuamente repensada em nossa sociedade e em muitas situações que conhecemos ela ainda está longe de responder ao que Deus pensou e desejou. Refletir sobre as intuições do autor sagrado pode nos levar à mesma admiração de Adão: “Desta vez sim, é osso dos meus ossos...”. A gratidão a Deus por nos ter tirado da solidão seria cuidar dos que nos foi confiado.
5. A carta aos hebreus nos acompanhará neste final de ano litúrgico, não trata de questões práticas e diretas como Tiago, mas aprofunda o mistério da pessoa de Jesus. No pequeno trecho que nos é oferecido transparece um pouco do mistério de sua encarnação, nos diz de sua grandeza e ao mesmo tempo do quanto viveu de nossa própria vida para nos guiar nesse caminho de comunhão com Deus, fazendo-nos seus irmãos.
6. A questão do divórcio no tempo de Jesus é colocada em discussão pelos fariseus. Para Marcos, entender a exigência da fidelidade conjugal, absoluta e incondicional depende de colocá-la na ótica do amor de Cristo, na lógica do próprio dom da vida.
7. O problema não se resolveu no tempo de Jesus, nem no nosso. Moisés apenas tentou regularizar uma situação de fragilidade que deixava a mulher à mercê do homem. Ontem e hoje, o convite de Jesus é reler o que estava escrito no princípio. A separação é apenas um atestado destruidor da obra de Deus.
8. Os discípulos ficaram também embaraçados com a resposta de Jesus, e nós também ficamos cada vez que deparamos com o fracasso de uma relação e a exigência de Suas palavras. Mas isso não nos faz juízes dos outros. A meta proposta por Jesus não é pequena, mas depende do tempo de cada um compreender o seu significado e valor.

9. A imagem da criança ao fim do texto nos desafia a descer de nossa própria lógica e sabedoria e deixar-nos questionar pelas palavras de Jesus. Ser criança é deixar-se penetrar por uma sabedoria nova, aquela de Deus que fez Adão e Eva também crianças, mas que aos poucos perderam de vista o paraíso que Deus sonhou para eles. 


Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 03 de outubro de 2015


(Br 4,5-12.27-29; Sl68[69]; Lc 10,17-24) 
Beatos André e Ambrósio, presbíteros e mártires.


Hoje temos esse pequeno trecho do livro de Baruc, filho de Nerias, o secretário do profeta Jeremias. O autor do livro viveu por meados do sec. I a.C. Pelo texto que nos é oferecido, o exílio permanece o símbolo da atual condição do povo de Deus na diáspora e em Jerusalém. A situação pode mudar reconhecendo e confessando as próprias culpas.  Uma imagem que vale também para nós que muitas vezes nos afastamos de Deus e precisamos encontrar força e coragem para fazer o caminho de volta.

No evangelho Lucas fala da alegria dos 72 que retornam da missão de preparar os caminhos por onde Jesus iria passar. O Reino se fazia presente com a colaboração deles, mesmo sendo instrumentos frágeis. Jesus pretende conduzir a alegria destes às verdadeiras fontes que dão sentido ao nosso comprometimento com as causas do Reino: pertencer a Deus, saber que Ele está próximo a nós e nos ajuda no combate contra o mal.

Peçamos à Virgem Santa essa “dor do coração” que nos faz ver o quanto precisamos voltar ao aconchego divino para colaborar de alguma forma com sua obra salvífica e sermos gratos pelo modo como nos conduz pelos caminhos da vida e por seu grande amor pela humanidade.



Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 02 de outubro de 2015


(Ex 23,20-23; Sl 90[91]; Mt 18,1-5.10) 
Santos Anjos da Guarda


A festividade deste dia foi estendida à Igreja universal por Paulo V, em 1608, mas já um século antes era celebrada à parte da dos Arcanjos Gabriel, Miguel e Rafael.

A 1ª leitura nos oferece algumas indicações da relação e da função dos anjos em nossa vida. Eles nos protegem e guiam e como não podemos ver a Deus, o anjo é como um intermediário, que faz caminhar na Sua direção, até chegarmos à Sua presença. Ele nos faz escutar a voz de Deus. Se somos dóceis a esta voz interior, que é a voz mesma de Deus, somos conduzidos progressivamente a uma união sempre mais profunda com o Senhor, simbolizada por essa entrada na terra prometida.

O nosso salmo expressa esse cuidado de Deus para com o justo. Se pensarmos que cada pessoa é assim amada e cuidada, não desprezaríamos nenhum ser humano, nos diz o evangelho, e teríamos uma atitude mais positiva com relação ao outro: mais paciência, mais compreensão, mais amor. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer sobre rezar ao anjo da guarda de “fulano”, para que o acalme, der mais serenidade...

Os anjos oferecem a Deus as nossas esmolas, recolhem até nossos desejos, fazem valer diante de Deus também nossos pensamentos. Sejamos felizes por ter amigos assim pressurosos, intercessores assim fiéis, intérpretes assim caridosos” (Bossuet).




Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 01 de Outubro de 2015


(Ne 8,1-12; Sl 18[19]; Lc 10,1-12) 
Santa Teresinha do Menino Jesus.


Na sua empreitada Neemias encontra o apoio de Esdras, como vimos na semana anterior, enviado a Jerusalém para ver como andava o povo na reconstrução da cidade. Não sabemos qual livro exatamente foi lido para o povo, mas o choro indica que o texto trazia ameaças e repreensões, era um gesto de pesar próprio dos ritos penitenciais. Mas eles são chamados a alegar-se no Senhor, sua força. “A força e a alegria vêm da Palavra de Deus que é alimento e luz, a mais preciosa, a grande consolação que temos sobre a Terra”.

Lucas apresenta o envio dos 72 discípulos. Um texto que lhe é próprio e que nos informa o crescimento do número dos que se comprometem com a divulgação do Reino. O texto é caracterizado pelo modo como acontecerá a missão. Os perigos são constantes, tanto quanto a ameaça da rejeição da mensagem salvífica. Depender da caridade alheia exigia-lhes muita humildade.

Muitas comunidades propõem nesse dia a adoração ao Santíssimo Sacramento. É diante do Senhor, também em espírito e verdade, que elevamos nossa prece pelas vocações sacerdotais e religiosas, que pelo compromisso abraçado saibam reconhecer na missão de cada dia, uma resposta ao chamado divino. Que Santa Teresinha, padroeira das missões, faça “chover”, por sua intercessão, força e alegria para o caminho de todos os missionários e missionárias.



Pe. João Bosco Vieira Leite