Quarta-feira, 30 de setembro de 2015

(Ne 2,1-8; Sl 136[137]; Lc 9,57-62) 
São Jerônimo, presbítero.

Hoje e amanhã ouviremos (ou leremos) dois trechos do livro de Neemias, um leigo, um político da classe alta da corte de Artaxerxes, rei da Pérsia, o qual lhe permitiu, na primavera de 445 a.C., regressar a Jerusalém para reconstruir os muros da cidade e reorganizar a vida civil e religiosa. No texto de hoje aparece sua confiança a Deus, a quem reza, enquanto apresenta seu pedido.

Jesus deixa transparecer a exigência do chamado através de três situações, na primeira, para segui-lo, é preciso aceitar a realidade da confiança na providência, no segundo, não dá para protelar o seguimento, Cristo é a vida nova que se nos apresenta, rejeitá-lo é estar morto; em terceiro aparece a imagem do arado, esse frágil instrumento de arar a terra. Qualquer movimento de desatenção poderia danificá-lo. É preciso estar atento para viver a dinâmica do Reino e avançar sempre.


Podemos pedir uma confiança maior ao Senhor nesse dia, para que nossa oração alcance o seu coração. Que ele nos dê não só a coragem para o seguimento, mas o discernimento necessário para saber permanecer no que nos propomos.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça-feira, 29 de setembro de 2015 (


Dn 7,9-10.13-14; Sl 137[138]; Jo 1,47-51)
Arcanjos S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael.


A Igreja celebra os arcanjos cujos nomes se ligam ao poder divino que nos são identificados pela Sagrada Escritura a partir de suas missões específicas. Eles são essa misteriosa ponte entre o humano e o divino em sua comunicação e ação. Assim vê e fala o profeta Daniel numa de suas visões sobre o filho do homem que no evangelho é identificado como o próprio Jesus, à este servem milhares de milhares. Jesus no evangelho faz uma alusão a esta visão de Daniel ou de Jacó

Nossa tentativa de interpretá-los os fez com face suave e bela, quase feminina, lhes deu asas para significar o movimento “acima da terra”. Eles estão a serviço de Deus, a quem adoramos juntamente com os anjos. Deus, na sua imensa bondade, os coloca a nosso serviço e nos ajuda a ter o sentido maior de Sua santidade e majestade e ao mesmo tempo uma grande confiança.

Ao Senhor pedimos que nos faça compreender melhor esse mistério e que coloque seus anjos ao longo de nosso caminhar, para que como estes, também nós vivamos na Sua presença, adorando-o em espírito e verdade.


“Miguel – que significa: ‘Quem como Deus? ’ – é o campeão do primado de Deus, de sua transcendência e seu poder. Miguel luta para restabelecer a justiça divina; ele defende o povo de Deus dos seus inimigos e, sobretudo, do arqui-inimigo par excellence, o diabo. E São Miguel triunfa porque nele quem age é Deus. Esta escultura [de São Miguel] lembra, portanto, que o mal foi vencido, que o acusador foi desmascarado, que sua cabeça foi esmagada, porque a salvação foi cumprida de uma vez por todas pelo sangue de Cristo. Mesmo que o diabo esteja sempre tentando arranhar o rosto do arcanjo e o rosto do homem, Deus é mais forte; sua é a vitória, e sua salvação é oferecida a todos os seres humanos”. (Papa Francisco, discurso de 05 de julho de 2013).

Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda-feira, 28 de setembro de 2015


(Zc 8,1-8; Sl 101[102]; Lc 9,46-50)
26ª Semana do Tempo Comum.


Ainda no cenário da reconstrução da cidade de Jerusalém e o seu templo, o profeta nos oferece esse belo texto, que em tons poéticos sonha com a paz restabelecida. Nós também sonhamos com isso. Com o direito de ver nossos idosos e crianças descansando e brincado em paz. Queremos esse sonho de Deus também para nós diante da violência e sucateamento de nossas cidades e praças. E não deixaremos de pressionar aqueles que também são responsáveis pelas nossas cidades.

Os episódios que acompanhamos no evangelho de Marcos nestes dois últimos domingos aparecem aqui reunidos em Lucas. A verdadeira fraternidade nasce da humildade, não da discussão de quem é o maior. Essa insistência de Jesus no tema deve ser consequência do que ele vinha observando no dia a dia dos seus discípulos. A verdadeira grandeza está em pôr a serviço o “poder” ou a responsabilidade recebida.


Jesus quer o chamar a atenção para a necessidade da tolerância que torna possível também a fraternidade, mesmo com aqueles que não pertencem ao nosso grupo, que fazem tão bem ou até melhor o que nós tentamos fazer para o bem do ser humano. No seguimento de Cristo as pessoas não respondem nem o seguem do mesmo modo. Peçamos ao Senhor esta abertura de coração, para que em todas as comunidades cristãs a humildade, o serviço recíproco e mútua tolerância.

Pe. João Bosco Vieira Leite

26º Domingo do Tempo Comum – ano B


(Nm 11,25-29; Sl18[19]; Tg 5,1-6; Mc 9,38-43.45.47-48).


1. Para Moisés não foi fácil a condução do povo pelo deserto, o cansaço gerou o desânimo e no meio do seu desânimo Deus lhe responde concedendo um grupo de homens que sob a moção do Espírito o ajudará. Essa é a motivação da nossa 1ª leitura. Mas a ação de Deus parece ter escapado do grupo previamente escolhido gerando uma certa ciumeira. A resposta de Moisés está na base da compreensão do nosso evangelho.

2. O texto quer levar a refletir sobre a dificuldade de lidar com quem não pensa como nós ou não faz parte do nosso grupo e por esse motivo nos faz incapaz de apreciar o bem que o outro faz. Esse tipo de comportamento, se levado ao extremo, gera a violência, pois não compreende que o Espírito de Deus não está preso a nenhuma instituição.

3. A riqueza não partilhada e sua origem, às vezes, duvidosa, sempre foi alvo de crítica ao longo do texto sagrado, mas nenhum texto soa tão severo quanto este da 2ª leitura. Seu alvo não é a riqueza em si, mas uma crítica ao acúmulo irracional e a injustiça que habita por trás de muitas delas. Seu olhar é para o pobre, muitas vezes injustiçado nas relações trabalhistas.

4. O texto de Marcos que nos é oferecido hoje é uma pequena colcha de retalhos. A 1ª parte faz referência ao que meditamos na 1ª leitura. Os discípulos de Jesus estão às voltas com pessoas que praticam exorcismo em nome de Jesus sem ser necessariamente do grupo.

5. Talvez eles estejam enciumados porque anteriormente não puderam expulsar um demônio de um jovem, mas antes que esse véu imperceptível da inveja, do orgulho e do ciúme, lhes tire a visão real das coisas, Jesus lhes pede olhar um pouco além. Que mal há na prática do outro se é o bem que ele busca realizar e por vezes o realiza melhor que nós? Não somos donos do bem ou do bom, e é estranho que não consigamos nos alegrar com o bem praticado pelo outro.

6. Mais uma vez Jesus adverte da ação do Espírito de Deus em sua liberdade e somos advertidos de nossa incapacidade de discernir certas coisas que em nós mais atrapalham que ajudam o projeto divino.

7. O que se segue na 2ª parte é a junção de frases ou ensinamentos de Jesus que se deram em momentos diferentes e aqui são agrupados sem aparente lógica. 1º temos um apelo a hospitalidade, o gesto pode ser mínimo, mas não ficará esquecido. Segue-se a questão do peso do escândalo por quem o provoca aos que ainda estão nos primeiros passos da fé. A imagem do afogamento tem um peso sério na mentalidade semítica, pois seria um infame sem direito a um sepultamento digno. Alguma atitude minha teria afastado alguém da fé?

8. A última demanda maléfica à nossa vida vem do nosso íntimo e se estende pelos olhos, mãos e pés. Estes podem nos afastar de Deus e nos induzirem a escolhas imorais. Quando não se pretende estragar a própria vida e a dos outros, é preciso fazer alguns “cortes”. Inferno aqui substitui a palavra “geena” local onde eram enterrados os mortos e também onde era queimado o lixo da cidade.


9. Essas analogias eram comuns no tempo de Jesus e eram usadas para levar as pessoas a uma seriedade de vida mais profunda, para sacudir a consciência do descuido das relações com Deus e com o próximo. Em Jesus elas são apenas um apelo insistente e angustiado para que não desperdicem a própria vida, que é única, que se abram ao amor de Deus. Para os homens e mulheres de todos os tempos um modo de compreender como Deus age no mundo e como podemos colaborar para que o bem seja maior e nossa vida melhor.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 26 de setembro de 2015


(Zc 2,5-9.14-15; Sl Jr 31; Lc 9,43-45) 
25ª Semana do Tempo Comum.


Para “casar” com o tema da reconstrução do templo de Jerusalém, a liturgia nos propõe a profecia de Zacarias; conforme o costume antigo de murar as cidades para se defender dos inimigos, não será necessário um muro, Deus mesmo será a proteção de seu povo. Ele mesmo habitará em meio ao seu povo.

A parte final desse texto de hoje nos remete ao mistério da encarnação, quando por meio da Virgem Santa, o Senhor entrou na nossa história, habitou entre nós. Nós somos esse povo que vive na nova cidade construída por Cristo após a ressurreição, a Igreja, cidade plena de alegria porque o Senhor está no seu meio.

O evangelho faz eco ao texto do domingo anterior. Lucas anuncia a paixão de Cristo e a perplexidade dos discípulos que não entendem e nem querem entender. A paixão é algo difícil de aceitar porque vai na contramão dos sonhos humanos, nos quais a glória se dá sem sofrimentos, enquanto Deus glorifica através da provação que transforma o ser humano para leva-lo  a união com Ele.


Juntos com Maria e José que viveram essa intensa presença do Senhor junto a eles, elevemos nossa oração desse dia pedindo ao Senhor uma compreensão sempre maior dos seus mistérios para comungarmos sempre de Sua alegria.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta-feira, 25 de setembro de 2015


(Ag 1,15—2,9; Sl 42[43]; Lc 9,18-22) 
25ª Semana do Tempo Comum


Ageu traz uma mensagem de encorajamento ao povo que havia retornado do exílio e deveria dar ao templo destruído o antigo esplendor. Eles não estariam sozinhos nessa empreitada. A vida de todos nós é marcada por mudanças bruscas e muitas vezes precisamos de uma palavra que nos faça avançar em meio aos nossos lamentos. A Palavra do Senhor é palavra certa, assim como a palavra humana é bem vinda, quando carregada dessa mesma esperança.

Para Pedro e os demais discípulos era urgente declarar a fé em Jesus, e para Jesus declarar a eles sobre o que viria pela frente. Foi nessa contínua reafirmação de caminhar com Cristo que a Igreja pôde avançar nos caminhos da fé e da história. Ele não nos disse que seria fácil, apenas pediu que confiássemos em sua Palavra e que estaria conosco até o fim dos tempos.


Talvez você esteja precisando de uma palavra de consolo nesse dia. Se não houver uma palavra humana que lhe seja aprazível, aproxime-se da Palavra escrita e sagrada. Busca um salmo, pede emprestado essa “voz” para traduzir seus sentimentos. Deixe que ela repouse em teu coração. Silencie.  Se já fez o que lhe é possível, “reza, confia e espera; a paciência é fruto do Espírito Santo que tudo supera”.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 24 de setembro de 2015


(Ag 1,1-8; Sl 149; Lc 9,7-9) 
25ª Semana do Tempo Comum


Do breve livro do profeta Ageu a liturgia nos oferece dois trechos essa semana. Sua atividade profética foi muito curta e está situada nesse período do retorno a pátria. A pregação de Ageu deixa entrever que entre os repatriados se propagou o desânimo, de modo que se limitaram a reconstruir suas casas e trabalhar seus campos, descuidando a reconstrução do templo e os anseios de independência. O profeta analisa a causa teológica do fato: o descuido do templo ou das coisas do Senhor é a causa, segundo o profeta, de tal sofrimento.

A reprovação do profeta cai como um exame de consciência sobre a nossa relação com Deus em meio às tantas coisas do nosso dia a dia. As prioridades que vão tomando todo o nosso tempo e o que verdadeiramente oferecemos dele a Deus. O amor próprio, o egoísmo e a indolência se escondem por trás das desculpas que vamos dando a nós mesmos.


Enquanto isso Lucas nos comenta da inquietação de Herodes com a comparação que fazem entre Jesus e João Batista. Toda forma de poder que depende da eliminação de seus críticos para se manter nunca terá sossego enquanto não admitir que pode errar nas suas escolhas. O filho repete a mesma intenção do pai em querer “ver” Jesus, mas sem fé dificilmente veremos o que Deus nos propõe, sempre nos sentiremos ameaçados por sua proposta.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 23 de setembro de 2015


(Es 9,5-9; Sl Tb 13; Lc 9,1-6) 
São Pio de Pietrelcina


Nesse segundo trecho do livro de Esdras, eis que aparece aquele a quem se atribui a autoria. Ele é um escriba, doutor da lei, enviado a Jerusalém pelo rei da Pérsia, Artaxerxes. Esdras toma consciência dos muitos compromissos que a população estava a viver: sobretudo tinha se multiplicado os matrimônios mistos entre hebreus e não hebreus. Com energia ele chama a atenção do povo para o respeito da Lei, se não quer arriscar-se a perder a própria identidade, desaparecendo na massa das outras populações submetidas ao império persa. Nesse sentido podemos compreender essa leitura. Para nossa reflexão fica esse perigo da comunhão contínua e sempre maior das coisas “do mundo” e como estas podem nos roubar a nossa identidade e nos fazer esquecer o modo como fomos resgatados pelo amor misericordioso de Deus. O nosso salmo nos ajuda nessa compreensão.


Jesus está enviando os seus apóstolos, conforme Lucas, e lhes transmite poder  e autoridade para o bem daqueles com quem deverão encontrar. Para deixar claro que sua missão tem um caráter divino, lhes pede o exercício da confiança na providência divina: não levar nada. Deus faz da insuficiência humana o fundamento de sua obra salvífica. No esvaziamento de si, peçamos ao Senhor, reconstruir em nós a Sua morada.


Pe. João Bosco Vieira Leite

Terça-feira, 22 de setembro de 2015


(Es 6,7-8.12.14-20; Sl 121[122]; Lc 8,19-21) 
25ª Semana do Tempo Comum

Essa semana teremos, como 1ª leitura, alguns textos “avulsos” do Antigo Testamento. Hoje e amanhã textos de Esdras. Esse livro gira em torno do edito de Ciro da Pérsia que permite aos hebreus, que assim o quiserem, regressar à pátria e reconstruir o Templo; o nosso texto fala da finalização dessa empreitada e da grande celebração de reinauguração (dedicação) do mesmo.

No entanto, para além da casa material que se constrói com cimento e tijolos, está a família de Deus que aí se reúne para compartilhar a sua fé. Mais que o edifício em si, importa edificar pela escuta e pela vivência da Palavra a verdadeira família de Deus. A Palavra de Deus tem esse poder de nos atrair e nos inserir nessa unidade daqueles que fazem a vontade de Deus e no tom familiar de Jesus se tornam seus irmãos, irmãs e mãe, esses são os mais profundos laços de sangue.


Como é bom perceber a comunidade que após a celebração ainda permanece no templo partilhando algo de suas vidas, procurando saber como o outro tem passado, interessando-se pelos acontecimentos da comunidade. Na nossa sede de pertença, a comunidade pode nos ajudar. Se ela não se aproximar, devemos fazer algum esforço de nossa parte de chegarmos mais próximos.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda-feira, 21 de setembro de 2015

(Ef 4,1-7.11-13; Sl 18[19A]; Mt 9,9-13) 
Festa de São Mateus

Nossa festa litúrgica nos brinda com esse texto de Paulo que nos lembra que Deus concede a cada um a graça específica para que vivamos de acordo com o chamado que Ele mesmo faz em nossa vida. Na diversidade de funções, missões, vivemos a unidade da fé “com toda humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor”, complementa o apóstolo.

O próprio Mateus nos conta como se deu o chamado de Jesus em sua vida e como ele se sentia diante de Deus: necessitado de médico que o curasse, de misericórdia que o libertasse daquele estado medíocre em que tinha se transformado a sua vida. Jesus “viu” em seu coração esse desejo de mudança, de virada significativa, e foi ao encontro do seu desejo.

Se lembramos em Lucas a festa que o pastor faz por ter encontrado a ovelha perdida, aqui é a ovelha que dá festa. Seu evangelho se tornou um testemunho vivo dessa abertura de sua casa e de sua vida a Jesus. Festa do coração agradecido.


Daquilo que nos fala Paulo e do testemunho de Mateus nos fica claro que o fundamento do apostolado é ter recebido a misericórdia do Senhor, compreendido e aceitado a própria pobreza e pequenez, e nesse espaço existencial perceber quanta coisa Deus é capaz de realizar a partir de nós. Todos podemos agradecer ao Senhor por sua infinita misericórdia, reconhecendo-nos como pecadores perdoados, exultando de alegria pela bondade divina.


Pe. João Bosco Vieira Leite

25º Domingo do Tempo Comum

(Sb 2,12.17-20; Tg 3,16 - 4,3; Mc 9,30-37)

1.  As leituras que acompanhamos se casam, em parte, com as da semana anterior, pois giram em torno dessa entrega da vida por parte de Jesus. E Jesus será morto não por ser um sujeito mau, mas o seu estilo de vida, suas palavras incomodavam aqueles que se sentiam bem no seu estado de vida atual e não estavam dispostos a mudar.

2. Assim a liturgia faz uma comparação com a vida dos Israelitas que viviam na rica e famosa cidade de Alexandria no Egito. O estilo de vida destes, sua fé, incomodava os pagãos ou materialistas daquela sociedade. Eles são colocados à prova.

* A liturgia quer nos lembrar que qualquer pessoa que leve um estilo de vida honesto e testemunhe a sua fé, não será compreendido nem aceito por quem se conduz por outros critérios. Por isso o nosso salmo ressalta sua confiança em Deus, tal como Jesus e nos convida ao mesmo pedido e louvor daquele que é bom e ampara o justo em seu caminho.

3. Nesse caminho até o evangelho passamos por Tiago que em sua carta nos lembra três coisas importantes: inveja e rivalidade nunca produziram nada de bom, seja na vida pessoal ou comunitária. A ganância, o desejo de dominar sobre os outros está na contra mão de tudo aquilo que Deus nos propõe, “que vem do alto”, diz Tiago e nos levaria a relações mais saudáveis.   Mas o problema não está só nas nossas relações com outros, também com Deus, pois às vezes transformamos em objeto de oração nossos próprios caprichos e egoísmos. Assim ele nos deixa um extenso exame de consciência, e nos damos conta que a chamada que Jesus dá aos seus apóstolos poderia ser também a nós.

5. No domingo anterior ouvimos Pedro professar a fé em Jesus e ao mesmo tempo ser corrigido quanto a sua compreensão do Messias que era Jesus e de como eles eram convidados a comungar de sua vida. A coisa parece não ter ficado muito clara e Jesus volta ao assunto. A insistência de Jesus nesse assunto os fez recuar, pois nada perguntam.

6. Esse silêncio dos apóstolos figura a dificuldade de digerir essa nova imagem do messias com um seguimento tão exigente. De certo modo eles nos representam. A palavra de Jesus também nos incomoda. Mas nem por isso eles deixam de se preocupar com pequenas coisas, como saber quem entre eles era o mais importante, como se Jesus estivesse construindo alguma espécie de governo terreno.

7. Jesus que evitar que se construa na comunidade aquela mesma mentalidade civil com suas estruturas e divisões. Ele pede que seus apóstolos abandonem seus sonhos de grandeza. A grandeza estar em colocar os seus dons e talentos para o bem de todos. Por mais de uma vez Jesus ilustra a realidade do reino a partir de uma criança.

8. Aqui a criança aparece como o fraco e o indefeso que precisa ser acolhido pela comunidade, essa abertura aos mais frágeis, aos que muitas vezes não contam na sociedade. Como fez o próprio Jesus.


9. Numa sociedade como a nossa, fica difícil entender a proposta de Jesus se não nos abrimos a essa atenção a quem devemos abraçar. Abraçar não significa satisfazer caprichos, mas ajuda-las a crescer no amor a ponto de torna-las adultos, de libertá-las. Sob a ótica de Jesus, somos todos carentes desse abraço da comunidade, pois somos, por um lado, um pouco crianças, seja no pensar, seja no agir. A comunidade deve rever suas atitudes e tentar compreender quem está no meio dela, quem verdadeiramente necessita de uma atenção maior: o “fazer” a um desses pequeninos é o “fazer” ao próprio Jesus.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sábado, 19 de setembro de 2015


(1Tm 6,13-16; 99[100]; Lc 8,4-15) 24ª Semana do Tempo Comum


Paulo encerra sua 1ª carta a Timóteo praticamente com as mesmas recomendações que foram o fio condutor de sua mensagem para que este perseverasse e guardasse íntegro o tesouro da fé. Certamente o coração de Timóteo tornou-se terra fecunda para a Palavra de Deus e os conselhos do apóstolo.

Sob esta ótica do acolhimento da Palavra, Lucas conta a parábola do semeador. É Jesus que, de forma livre, lança sua Palavra aos quatro cantos sem conhecer a terra ou a velocidade dos ventos. Importa semear. Nosso tempo vive saturado de tantas palavras, publicidade, propaganda, jornais etc. Precisamos ser seletivos e ao mesmo tempo cuidadosos em não perder de vista aquilo que verdadeiramente importa.

Acolher a palavra de Deus em meio a tantas palavras requer de nossa parte algum discernimento. Mas não basta acolher, é necessário permitir que ela frutifique, com a paciência e a perseverança necessária. Estar atento aos obstáculos que impedem o seu desenvolvimento (cuidar da “semente”), a muita coisa que impede seu desabrochar.


Peçamos à Virgem Santa, nesse dia, a abertura que ela mesma teve à Palavra divina. Com diz o canto: “que a graça de Deus cresça em nós sem cessar, e de Ti nosso Pai, venha o Espírito Santo de amor pra gerar e formar Cristo em nós”.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta-feira, 18 de setembro de 2015


(1Tm 6,2-12; Sl 49[49]; Lc 8,1-3) 24ª Semana do Tempo Comum


Numa recomendação em parte geral e noutra, voltada para o próprio Timóteo, Paulo prossegue com seus conselhos. A ambição, a cobiça, é vista como males que afeta não só a todos em geral, mas desmerece o pregador ou o líder da comunidade, por isso Paulo recorda que ele e seus companheiros sempre preferiram a sobriedade, aprendendo a contentar-se com o necessário.

Lucas nos recorda as mulheres que seguiam Jesus assistiam a ele e aos apóstolos de maneira generosa. Certamente eles não “faziam da piedade fonte de lucro”, como nos adverte a 1ª leitura. Certamente elas foram “tocadas” por Jesus em algum momento de sua vida ou por sua palavra. Jesus não as rejeita, pois conhece a generosidade de seus corações.


Podemos rezar, hoje, a partir da Palavra para que os líderes religiosos e os cristãos do nosso tempo saibam evitar tudo aquilo que desestabiliza e desacredita a comunidade. Que saibam evitar a tentação da busca desordenada pelo dinheiro. Que todos sejam curados “de maus espíritos e doenças”, como as mulheres do evangelho e que todos alcancemos a vida eterna a que somos chamados.

Pe. João Bosco Vieira Leite

Quinta-feira, 17 de setembro de 2015


(1Tm 4,12-16; Sl 110[111]; Lc 7,36-50) 
24ª Semana do Tempo Comum.


Paulo revela a Timóteo como um jovem presbítero, numa sociedade onde a idade trazia a carga da experiência e da sabedoria, certamente depois de alguns erros cometidos. O apóstolo propõe um programa que tem por base a vivência dar virtudes teologais, a graça recebida na ordenação, a ação e a perseverança na vocação, para o próprio bem e daqueles que lhe foram confiados.  Rezemos por nossos presbíteros, particularmente pelos mais jovens, para que nossa Igreja se renove e se enriqueça com o seu ministério.


O evangelho nos lembra que tudo é dom de Deus, até mesmo a sua inciativa em perdoar. É Ele que faz por nós, não tanto nós por Ele. E se o amamos, é porque reconhecemos seu amor e sua ação misericordiosa em nosso favor. Quem se sente muito perdoado, ama muito. É esse reconhecimento que Jesus faz da mulher que está aos seus pés. Que também saibamos reconhecer o amor de Deus por cada um de nós, para que nosso coração e nossa mente sejam tomados por essa atitude de ação de graças que nos move em direção ao Seu coração.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 16 de setembro de 2015


(1Tm 3,14-16; Sl 110[111]; Lc 7,31-35) 
Santos Cornélio e Cipriano – Papa e Bispo mártires.


Retomando a leitura da carta a Timóteo, aparece a delegação do mesmo como responsável pela comunidade pelo apóstolo Paulo que aqui aparece com o nome de Igreja, não templo, mas assembleia viva dos que comungam da mesma fé.

No evangelho, Jesus critica os eternos insatisfeitos, que não se movem para nada, do seu tempo e de todos os tempos a partir das atitudes de João Batista e dele mesmo: austeridade e simplicidade, severidade e alegria. Não seriamos nós essas crianças nunca contentes que nos arvoramos de criticar a tudo e a todos? Ou mesmo criticar para não mudar o que em nós precisa ser mudado?  É possível um certo imobilismo espiritual em nossa vida.


“Senhor Deus, nem sempre aceitamos a pregação do arrependimento. Às vezes, agimos como aqueles do nosso texto. É bem verdade que pregadores são humanos e também erram. Pedimos-te, porém, que nos faça ver neles os portadores da tua Palavra. Amém”. (Martinho Lutero Hoffmann)


Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça-feira, 15 de setembro de 2015


(Hb 5,7-9; Sl 30[31]; Jo 19, 19-27) 
Nossa Senhora das Dores.


“Firme, de pé, junto da Cruz estava Maria, Mãe de Jesus”. A liturgia associa ao mistério da Cruz do dia de ontem a memória da Virgem. Mais uma vez a Igreja quer enfatizar o papel de Maria na redenção, no tocante a sua particular dependência do Filho.

“Nesta mulher, cheia de graças que superam toda medida natural, as dores que não conheceu no parto, padeceu no tempo da Paixão, sentindo lacerar todo seu afeto materno; e, traspassada como que por espada, quando via ser morto, como celerado, aquele que ela sabia ser Deus quando gerou. Assim deve ser compreendida a profecia “[...] uma espada traspassará tua alma” (Lc 2,35). Mas a alegria da ressurreição cantava a divindade daquele que, ao ser morto na carne, absorveu toda dor.” ( são João Damasceno).


Peçamos à Virgem Mãe por todos os quanto padecem sofrimentos em sua vida, seja de ordem material ou espiritual; que ela também esteja junto a eles, sustentando-os, intercedendo, enquanto o sofrimento não passa.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Segunda-feira, 14 de setembro de 2015


(Nm 21,4-9; Sl 77[78]; Jo 3,13-17) 
Exaltação da Santa Cruz


A festa que hoje a Igreja celebra a remonta ao ano 335, quando da dedicação de duas basílicas constantinianas em de Jerusalém no Gólgota, a esta dedicação se liga a recordação do reencontro da Cruz sob o mandato de Helena, mãe de Constantino.

Mais do que celebrar o fato histórico os dois textos, quase como sequência do evangelho desse domingo, nos convida a levantar o olhar para a cruz de Cristo e contemplar esse mistério de sofrimento-glorificação que ela traz em si. A cruz é o símbolo e o compêndio da religião cristã.

“Será bom, para reagir contra um perigoso pessimismo, revigorar nossa fé no contato com um crucifixo francamente triunfal, ao qual pedimos algo  mais do que aumentar nossa capacidade de sofrimento, nossa possibilidade de resignação. Ela fortificará nossa debilidade, infundirá vigor a nossa coragem. O crucifixo não seria um remédio eficaz contra a desilusão, se não nos incutisse a esperança certa da glorificação, que o fiel, por mais miserável que seja, entrevê e espera contemplando docemente sua imagem. E é assim que ele nos conduzirá; mas, encaminhemo-nos na via inteiramente sobrenatural, rumo àquele amor de dileção, que é a divina caridade.” (J. G. Brousolle na Enciclopédia Cristológica)


Pe. João Bosco Vieira Leite



24º Domingo do Tempo Comum Ano B


(Is 50,5-9; Sl 114[115]; Tg 2,14-18; Mc 8,27-35)


1. Ouvindo a 1ª leitura e o Evangelho temos a impressão de estarmos no tempo quaresmal onde a figura do servo sofredor de Isaías e a menção a paixão de Cristo se casam.

* Na realidade estamos sendo levados a refletir sobre o caminho tomado por Jesus que não foi o do êxito, da fama, do poder, mas da entrega da própria vida.

2. Assim a dinâmica cristã consiste em seguir o mestre na sua forma de amor, entrega e fidelidade. Este sim, é grande aos olhos de Deus. Se foi difícil para Pedro entender, quem disse que não o seria também a nós?

* não passa também em nosso coração o desejo de fama, sucesso e poder?

3. Para Tiago, fé não é um mero raciocínio ou adesão a uma verdade revelada, mas algo que move o indivíduo em direção a um modo de ser e de viver.

* Assim a sua visão prática e sua preocupação com os pobres nos alerta a um tipo de fé que não se comprometa claramente em fazer algo para amenizar o sofrimento do outro.

4. Seguimos caminhando com Jesus pela Palestina e adjacências sob o olhar de Marcos e daqueles que seguem a Jesus. As opiniões sobre ele vão se formando.

* Ao centro do evangelho de Marcos vem a pergunta de Jesus sobre o que dizem as pessoas e o que pensam seus discípulos.  Algumas delas já foram emitidas ao longo do caminho.

5. Mas a Jesus o que interessa mesmo é o que pensam seus discípulos. Ele percebe em seus corações algumas coisas não claras e hesitações.

* É Pedro que mais uma vez fala em nome de todos. E sua resposta contém uma exatidão inesperada, tanto que em Mt Jesus elogia a Pedro (cf. Mt 16,7).

6. Já nos demos conta deste silêncio imposto por Jesus muitas vezes. Na realidade mesmo a resposta de Pedro sendo brilhante, ela está vinculada a uma visão de domínio e de poder.

* Que Messias é Jesus? Ele faz questão de esclarecer os seus discípulos. Mostra o que o espera e como ele abraça essa causa em espírito de liberdade e total obediência ao Pai.

7. É demais para eles e mais uma vez Pedro reage em nome do grupo, e talvez em nosso próprio nome também. O “chega prá lá” de Jesus a Pedro é uma tentativa de chamá-lo à razão.

* Nas palavras de Jesus que seguem se escondem o ideal cristão: “não pense somente em si mesmo”. A nossa luta com o egoísmo não é fácil. Até mesmo o amor de nossos pais, que julgamos ideal, não está livre dessa influência.

8. Carregar a cruz traz consigo experimentar o sentido da doação de Cristo: fazer o bem pode comportar algum sacrifício.

* Seguir a Jesus é tomar parte nessa sua escolha, no seu projeto, no seu modo de ser e ver a vida.

9. Talvez alguém nos pergunte sobre Jesus numa ótica pessoal; e aí todo cuidado é pouco, nos alerta Tiago, podemos falar que acreditamos, mas que não praticamos ou concordamos com o que ele nos ensina.


* Aí vale a proibição severa de Jesus de não falarmos a seu respeito.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 12 de setembro de 2015


(1Tm 1,15-17; Sl 112[113]; Lc 6,43-49) 
23ª Semana do Tempo Comum


Na introdução da carta, Paulo reafirma sua fé em Jesus que o resgatou de uma vida de pecado por Sua misericórdia, para que ele pudesse testemunhar o quanto a ação divina é capaz de transformar uma vida que a Ele se abre.

É essa abertura, segundo o evangelho, que nos faz capaz de produzir bons frutos. A graça de Cristo, a força de Sua palavra nos leva a uma contínua reflexão do nosso agir. Assim podemos, como Paulo, vislumbrar intimamente, sob a luz do evangelho, pelo arrependimento e por uma consciência iluminada, a distância que nos separa da perfeição de Deus.


Podemos rezar nesse dia: “Senhor, tu sabes que eu não sou bom. Mas tu és bom e as minhas ações não serão boas sem ti. Por isto te dou graças, Senhor, porque tudo que em mim há de bom eu recebi de ti”. (Albert Vanhoye)


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sexta-feira, 11 de setembro de 2015


(1Tm 1,1-2.12-14; Sl 15[16]; Lc 6,39-42) 
23ª Semana do Tempo Comum


Hoje se inicia a leitura da 1ª carta de São Paulo a Timóteo, classificada, juntamente com a segunda e a carta a Tito, como carta pastoral. Como sempre, Paulo faz sua saudação bastante afetiva e consciente do mistério da ação divina nele e na comunidade. Num estilo diferente, essas cartas pastorais nos oferecem um quadro da vida e da organização das primeiras comunidades cristãs. Na carta que iniciamos a leitura se coloca em evidência, primeiramente a ação salvífica de Deus, em segundo lugar trata da Igreja, casa de Deus, espaço onde se realiza a salvação, onde as relações sinalizam a familiaridade e o desejo de servir e por último aparece a resposta dos cristãos ao amor do Senhor, que consiste na fé, na esperança e na caridade. Tenhamos em vista esses elementos apara acolher a mensagem do nosso autor.

Falando em vivência fraterna, Jesus nos adverte que estar juntos não cria necessariamente uma fraternidade. A comunidade cristã deve buscar viver de acordo com as indicações do coração divino para viver realmente como irmãos. Ele é a luz para enxergarmos a realidade a partir de nós mesmos. Um cego não guia outro cego. No seu evangelho Jesus nos coloca atentos a nossa tendência de criticar os outros sem dar-se conta dos nossos defeitos. Meus defeitos são também um peso para o outro que deve caminhar ao meu lado. Um humilde discernimento deve me levar a refletir antes de chamar a atenção do outro, ou ao menos a considerar o modo como chegarei ao outro.

Não é atoa que a jaculatória “fazei o nosso coração semelhante ao vosso” do Apostolado da Oração é uma atitude de lembrança contínua do que deveríamos buscar: mansidão e humildade.


Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta-feira, 10 de setembro de 2015


(Cl 3,12-17; Sl 150; Lc 6,27-38) 
23ª Semana do Tempo Comum.


Os dois textos de nossa liturgia se encontram no sentido comum de nos lançar num programa de vida que é pura superação de si mesmo para realizar em nós algo que soa quase divino: “Sede perfeitos, como vosso Pai celeste é perfeito!”.
                       
Paulo compreende que a veste é uma espécie de “cartão de visita” de quem chega, nossa segunda pele, por isso nos convida a revestir-nos de uma série de sentimentos que nos ajudarão a suportar a convivência fraterna. Paulo pensa nas comunidades que pela palavra de Deus se deixarão conduzir e se reunirão para dar graças ao Senhor por essa mesma palavra e por tudo que ela tem provocado na vida deles.

O que Paulo escreve de maneira exortativa já teve sua origem na palavra do Mestre que convida a ir além, a lançar-se no desafio de viver de modo diferente as dimensões da experiência de conviver, colocando como ponto de partida e medida a nós mesmos.


E a recompensa será grande, aqui, no exercício de superação contínua e para além, no coração de Deus, onde eternamente somos esperados e seremos surpreendidos pelo modo grandioso de amar a todos os seres humanos. Hoje podemos rezar ou cantar “tão grande és tu” para o Senhor e pedir a capacidade de mudar a mim mesmo pela força renovadora da palavra ouvida. Que eu me deixe convencer pelos apelos que ela me faz.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 9 de setembro de 2015


(Cl 3,1-11; Sl 144[145]; Lc 6,20-26) 
23ª Semana do Tempo Comum


Paulo fala aos colossenses dessa vida nova do batismo, da aspiração às coisas do alto que deve mover o seu coração e elevar o estilo de vida a um modo mais excelente, pelas virtudes e atitudes inspiradas pelo Espírito e no esforço de abandonar o “velho homem” sepultado no batismo. Aliás, a vida é feita de morte e ressurreição no cotidiano das coisas que deixamos morrer para abraçar o novo e eterno.

Paulo não pretende nos afastar das realidades comuns da vida, apenas elevar a nossa condição filial e cristã, experimentando, desde já essa vida nova que nos aguarda. Por isso escutamos no evangelho, de novo, as bem-aventuranças, na versão de Lucas. Como em outros textos, Lucas tem a consciência da pobreza material que cerca a vida de muitos e convoca a uma atitude de confiança e de luta na vivência da promessa divina sem deixar que o medo tenha a última palavra e intimidar minha ação em busca de justiça.


Pobreza é vida no limite entre a sobrevivência e a carência. Sua fome pode ser outra nesse momento do seu caminhar. Mas para todas elas Deus reserva o pão da Palavra, de Si mesmo, para todas as fomes que carregamos.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Terça-feira, 08 de setembro de 2015

(Mq 5,1-4; Sl 70[71; Mt 1,1-16.18-23) 
Natividade de Nossa Senhora

Nas palavras do profeta, a liturgia nos faz vislumbrar o nascimento daquele que será chamado príncipe da paz, ao mesmo tempo que nessa história se insere a sua mãe. Ela o fará presente entre nós. A recordação do nascimento de Maria é uma compreensão do modo como amorosamente Deus foi preparando a nossa salvação num contexto de cuidado especial para com aquela que nos traria o salvador. Sim, “o poderoso fez por mim maravilhas!”.

Mateus traz uma lista de nomes que precedem o nascimento de José, que será inserido nessa história do nascimento, no cuidado que ele terá com a Virgem e o menino. Nos altos e baixos da história humana Deus foi tecendo Sua história de salvação.  Nela interferiu para restaurar, dá-lhe novo sopro de vida do Seu Espírito.

Nossa prece é contemplativa num primeiro momento diante desse mistério de amor que se estende na história humana e depois é de agradecimento por essa joia particular que Ele amou desde sempre: Maria. Salve, ó mãe de Jesus, a ti nosso canto e nosso louvor, também.


 Pe. João Bosco Vieira Leite

Segunda-feira, 07 de setembro de 2015

(Cl 1,24—2,3; Sl 61[62; Lc 6,6-11) 23ª Semana do tempo Comum

Paulo dá o seu testemunho do quão exigente foi o seu trabalho missionário, admitindo que seu sofrimento comunga com o de Cristo para salvar a tanto quantos nele creem. É verdade que Cristo morreu por todos, para salvação do mundo, e sua paixão foi completa, mas em comunhão com Ele, morremos um pouco no oferecimento de nosso tempo, paciência, força física, para o bem daqueles que nos foram confiados. 

Em cada existência, uma certa dose de sofrimento se faz presente. Para o cristão ele é vivido em comunhão com Cristo, isto não só faz a diferença, mas faz fecundo o que padecemos, talvez venha daí a alegria de Paulo no seu sofrimento. É preciso pedir ao Senhor, em nossa oração, que nos ajude a reconhecer a graça escondida nos momentos difíceis.

Foi difícil para Jesus convencer aos seus contemporâneos que o ser humano estava no centro dos cuidados de Deus, e que mesmo sendo um sábado, Deus estava operando o seu amor libertador. Assim ele traz para o centro o homem de mão seca e o cura. Lucas salienta que era justamente a mão direita, que muito deveria lhe prejudicar na liberdade dos gestos necessários a um ser humano. Quando a norma ou a lei se torna mais importante que o ser humano em si, perdemos de vista a particularidade, as situações e nos tornamos cruéis.


Nossa oração pela pátria nesse dia. E temos muitas razões para rezar...


Pe. João Bosco Vieira Leite


23º Domingo do Tempo Comum – Ano B


(Is 35,4-7; Sl 145[146]; Tg 2,1-5; Mc 7,31-37)


1. Nossa liturgia da palavra se abre com esse texto que remonta ao tempo do exílio. A um povo sem coragem de reerguer-se, surdo à Palavra do Senhor, se dirige o profeta Isaías.
* essas palavras de esperança nunca se realizaram de modo pleno, mas nunca despareceram da memória do povo de Deus. Eles olham para o futuro: quando o Messias vier...
2. A liturgia lê esse texto contemplando a ação de Jesus, como veremos no evangelho. Mas mesmo depois de Jesus a profecia continua ainda por realizar-se de modo pleno, definitivo.
* somos levados a descobrir que a ação do próprio Jesus se estende na ação de cada pessoa que abraçou a fé. Nas situações de desânimo, injustiça, doença, também nós somos uma profecia por realizar-se, um modo de Deus chegar até aquela pessoa.
3. Mesmo compreendendo esse modo de relacionar-se com Deus passando pela nossa atenção com o outro, vivemos numa sociedade profundamente marcada pelas diferenças sociais, preconceitos, discriminações etc.
* Tiago entendia que pequenas comunidades são também reflexos do mundo lá fora, assim adverte as comunidades cristãs, na perspectiva do evangelho e da ação de Jesus.
4. Era preciso estar atento a toda forma de discriminação no encontro e na vida da comunidade. Pobre aqui tem a largueza da compreensão que vai além do material.
* O enfermo, o simples, o problemático, aquele que enfrenta o fracasso em sua vida, o marginalizado por ter um temperamento difícil; há um leque de pobrezas humanas que nos desafiam.
5. Tiago, como comentarista incisivo da Palavra, se ocupa várias vezes desse tema. Ele pensa no pobre concreto, em detrimento dos ricos.
* Ele entende que a abertura de coração dos pobres a Palavra do Senhor, é maior que nos abastados, porque entende que mais que salvar a si mesmo, precisamos de alguém que nos salve de nós mesmos.
6. Esse pensamento deve nos ajudar a entender o acolhimento e a cura realizada por Jesus no evangelho. Não nos prendamos demasiadamente ao método por ele utilizado, colhamos o sentido.
* A surdez leva ao isolamento, e se a fé entra pelos ouvidos, aquele homem também não podia receber o dom de Deus. 
7. Israel desde sempre foi chamado a uma atitude de escuta. Sem esta fica difícil a prática da vontade de Deus. A surdez, mais que um mal físico, pode ser a inclinação de um coração não disposto a acolher nem a mudar.
* certas atitudes de isolamento denunciam nossa recusa de escutar. Certamente já percebemos isso dentro de nossas casas e nossas comunidades de fé e de convivência.
8. A palavra de Deus tem força para curar e libertar, nos lembra Jesus, mas precisamos nos deixar tocar pela mesma. Daí o esforço da comunidade de levar o outro até esse encontro libertador.
* Na riqueza dos detalhes se esconde uma catequese do nosso autor. Marcos insiste no segredo da pessoa de Jesus e de sua ação, sempre mal interpretada.
9. Abrir-se, aqui, é mais que os ouvidos simplesmente, é a pessoa em todo o seu ser para acolher a Palavra de Jesus, fazer a experiência da vida nova e anuncia-la aos outros.

* Do seu coração, Maria, diz Lucas, fez porta aberta para a colher Jesus, fez-se nela segundo a Palavra, pela sua humildade. Peçamos também, nesse mês da Bíblia, uma abertura maior para compreender e acolher a Palavra em nossa vida.


Pe. João Bosco Vieira Leite


Sábado, 05 de setembro de 2015


(Cl 1,21-23; Sl 53[54]; Lc 6,1-5) 22ª Semana do Tempo Comum.


Paulo nos fala de como o sacrifício redentor de Cristo nos trouxe para perto de Deus. A iniciativa foi dele, de aproximar-se, de reconciliar. Estar próximo daquele que é o Santo, exige de nós o exercício inabalável da fé e da esperança, e esta graça nos vem ofertada no próprio sacrifício da cruz. Da cruz brota essa corrente de amor que vem de Deus.

Nossa fé em Jesus vem também dessa igualdade que ele comunga com o Pai, nos diz o evangelho. Ele é também Senhor do sábado. Se o sábado foi dado, conforme o Gênesis, por um ato de amor, então era necessário tirar essa “camisa de força” colocada nele pela não compreensão do seu fim. Em cada mandamento divino, reside para nós um desafio de descobrir a expressão amorosa por trás do mesmo.


Nós que caminhamos sob a luz de Cristo, precisamos continuamente renovar essa nossa fé em sua Palavra. “Crer em Cristo é crer no seu amor, crer no Filho de Deus que me amou ao ponto de dar a própria vida por mim. Cristo é verdadeiramente digno de fé, porque muito nos amou. Contemplando-o na cruz, renovemos a nossa fé no seu amor e assim caminharemos na santidade”. (Albert Vanhoye)

Pe. João Bosco Vieira Leite

Sexta-feira, 04 de setembro de 2015


(Cl 1,15-20; Sl 99[100]; Lc 5,33-39) 22ª Semana do Tempo Comum


Estamos acompanhando a carta aos colossenses versículo a versículo e hoje nos é apresentada um belo retrato do mistério de Jesus, remontando ao momento da criação, por ele foram criadas todas as coisas e nele tudo é recriado, particularmente o ser humano, em seu amor redentor. Como não amar e ser agradecido?

Quando uma experiência de vida é completamente nova, inédita, não é possível exprimir de modo satisfatório, faltará palavras; só pouco a pouco se consegue adaptar a linguagem à realidade vivida. Assim foi na prática para Paulo e os apóstolos que nos deixaram seus testemunhos escritos do que puderam contemplar no homem Jesus. Também para nós não é fácil responder aquela pergunta do próprio Jesus: “Quem sou eu para você?”. É preciso uma vida e quando com Ele estivermos de forma definitiva, não precisamos responder mais nada.

O evangelho nos leva a entender que essa compreensão do mistério de Jesus nunca foi fácil. Ele mesmo enfrenta a incompreensão contínua e nos deixa claro que sem um coração novo ou que se deixe renovar, podermos abarcar a grandeza da luz que Ele trás à nossa vida. Hoje, particularmente, suplicamos um coração novo para um mundo novo.

“Jesus, teu nome soa tão doce para nós que nem podemos suspeitar da tua tão grande infinita glória, muito menos da infinita natureza da tua pessoa. Apesar da cruz, tudo subsiste em ti e Tu és o começo de tudo. Amém.” (Martinho Lutero Hoffman)


Pe. João Bosco Vieira Leite




Quinta, 03 de setembro de 2015


(Cl 1,9-14; Sl 97[98]; Lc 5,1-11) 22ª Semana do Tempo Comum


O autor da 1ª leitura, em sua carta, segue com suas recomendações pontuais para a vida da comunidade: que eles produzam frutos em toda boa obra. Certamente Paulo tinha consciência da inserção dos cristãos em sua sociedade e das atividades que desenvolviam. Ele acreditava nesse testemunho que brotava do fazer bem as coisas que lhes eram confiadas como sinal da vida nova abraçada em Cristo Jesus. No cotidiano de nossa existência, Deus recolhe os frutos de nosso desejo de servi-lo, servindo ao próximo e à sociedade.

É no meio dos serviços diários dos pescadores que Jesus se aproxima, faz de suas barcas um púlpito para proclamar a boa nova. Nosso dia pode ser iluminado pela Palavra que nos motiva a avançar para águas mais profundas e lançar as redes. Ela pode ser uma pequena luz que se acende na jornada, trazendo força e confiança, e fará frutuoso o nosso trabalho, mesmo não percebendo os seus frutos. Em Deus nada se perde.


Sempre que possível inicie o seu dia numa atitude de escuta. Deixe que a Palavra faça parte da sua jornada; confiando, ela iluminará o necessário para tornar frutuoso esse novo dia, que parece com tantos outros, mas esconde a força da semente que foi lançada no solo do coração.

Pe. João Bosco Vieira Leite


Quarta-feira, 02 de setembro de 2015


(Cl 1,1-8; Sl 51[52]; Lc 4,38-44) 22ª Semana do Tempo Comum.


Agora iniciamos a Carta aos Colossense, alguns textos mais significativos nos acompanharão até a 23ª semana. A autoria de Paulo com relação a esta carta é colocada em questão devido a sua linguagem e seu conteúdo teológico, mas para além disso, recolhemos a saudação do nosso autor e constatação do resultado do trabalho evangelizador realizado por Paulo e seus companheiros.

Voltemos nosso olhar sobre o evangelho e a ação desenvolvida por Jesus após o incidente da sinagoga. A notícia da recuperação da sogra de Pedro levou outros a busca-lo. Com extrema bondade e paciência cura aqueles que o buscavam. Logo cedo busca um momento de solidão, interrompido pela multidão que quer fazer dele uma propriedade pessoal e em benéfica. Ele tem que seguir adiante, cumprido a vontade de Deus, anunciado o mistério do Reino.


Aqui transparece esse desejo divino de salvar a todos, mesmo com todo o risco que essa forma de amar comporta. Essa atitude de Jesus deve nos levar a pensar e desejar que o evangelho chegue a todos os povos, como nos fala a 1ª leitura; que a sua presença salvadora, no envio dos discípulos, nos inclua também nessa atenção para com os enfermos que estão próximos de nós, esta é também uma forma de levar a boa nova.

Terça-feira, 01 de setembro de 2015


(1Ts 5,1-6.9-11; Sl 26[27]; Lc 4,31-37) 22ª Semana do Tempo Comum.


Depois de falar do mistério da ressurreição, e de que um dia estaremos todos com Cristo, surge a pergunta do quando se dará o fim dessa história ou desse mundo. Paulo usa algumas comparações um tanto dramáticas, mas nos lembra que sendo nós filhos da luz, nele somos continuamente renovados e transformados; permaneçamos vigilantes no discernir sempre qual a vontade de Deus para nós, que não nos reserva a sua ira, mas a sua salvação.


E por falar em luz, é a palavra de Jesus que começa a iluminar a obscura presença do mal em nosso meio, sua palavra e sua autoridade vai denunciando e expulsando a presença demoníaca que nos escraviza e nos rouba a condição de filhos. Nem sempre é fácil discernir essa presença, mas aquele que abre os ouvidos e o coração à sua palavra de vida, saberá o que ela deseja expulsar de nós. Nós sabemos, acreditamos e este é o fundamento da nossa esperança e segurança em Deus. “Este é meu Filho amado, escutai-o!”.

Pe. João Bosco Vieira Leite